terça-feira, 14 de novembro de 2017

Quem sabe?

Babel marcou, Memphis Depay (à direita) também, mas o abraçado Berghuis foi o destaque numa vitória que devolveu algum ânimo à Holanda (ANP)
A lentidão vista na seleção da Holanda que disputou o amistoso contra a Escócia, quinta-feira passada, foi aterradora. Quase um símbolo de todas as falhas - táticas e técnicas - que deixaram a Laranja fora da Copa de 2018. Outra dessas, no jogo desta terça, contra a Romênia, que fecharia o 2017 da equipe, seria um teste de paciência (ou de amor, no caso do simpatizante). Eis que, quando menos se esperava, saiu alguma coisa. Nada excelente: a atuação da Oranje foi apenas para o gasto. Mas foi o suficiente para uma vitória categórica por 3 a 0. Mais importante: uma vitória que revelou algumas perspectivas deixadas para o sucessor de Dick Advocaat.

No começo do jogo, até que os romenos tentaram algo na Arena Nationala de Bucareste. Num erro da defesa, como sói acontecer: aos 10', Daley Blind perdeu a bola no meio-campo para Eric Bicfavi, que arriscou de longe tentando surpreender Jasper Cillessen (previdente, o goleiro voltou rápido e agarrou a bola). Mas aos poucos, a Holanda se impôs. Graças a dois dos melhores jogadores na partida: Memphis Depay e Nathan Aké, ativos pela esquerda. Aos 13', Memphis cobrou falta perto da área, o goleiro Costel Pantilimon rebateu, e Aké mandou para fora na sobra.

Mais quatro minutos, e outra boa jogada surgiu da dupla Aké-Depay: o primeiro lançou o segundo, que cruzou rasteiro para o bom complemento de Davy Pröpper, de primeira, freado por defesa ainda melhor de Pantilimon. Aos 20', o goleiro da Romênia brilhou mais: espalmou para fora chute à queima-roupa de Ryan Babel (atuação levemente promissora), que roubara a bola de Vlad Chiriches. Só aos 23', a Romênia voltou ao ataque com perigo: Constantin Budescu recebeu livre na esquerda e cruzou para difícil defesa de Cillessen, que precisou disputar a bola com George Tucudean. Todavia, a Oranje seguia tranquila em campo. Poderia ter feito o gol aos 38', quando um lançamento longo de Pröpper deixou Memphis Depay em boas condições de chute (Pantilimon saiu bem do gol para pegar). Ou aos 41': após troca de passes, Aké chegou à linha de fundo, mandou a bola para o meio da área, e Babel tentou cabeceio fraco, que Chiriches tirou. Ou principalmente aos 45': Berghuis cruzou, e Babel cabeceou para as redes, mas estava impedido.

Saudado pelos auxiliares Fred Grim e Ruud Gullit, também demissionários, Advocaat pelo menos se despediu com motivos para alegria (Pro Shots)
Sem problemas: a jogada foi para valer logo no começo do segundo tempo, aos 47'. E revelou a melhor atuação na partida: com os espaços deixados na lateral esquerda da Romênia, Steven Berghuis (titular) deitou e rolou. Foi o jogador do Feyenoord que recebeu de Veltman aos 47', andou livre e cruzou da direita para Memphis Depay completar livre para as redes, na segunda trave. Depay ainda tentou retomar o protagonismo aos 54', dominando a bola na entrada da área, mas sua finalização saiu à direita de Pantilimon. Coube a Berghuis tranquilizar de vez a situação para a Holanda: de novo, fez a jogada de um gol. Aos 56', apareceu pela direita, cruzou, e Babel entrou pelo meio da pequena área para marcar seu primeiro gol pela Laranja em dez anos.

Com algumas alterações - e os óbvios espaços que Veltman e Berghuis deixavam na direita -, a Romênia enfim arriscou algo. Aos 68', Cillessen voltou a aparecer: defendeu chute colocado de Gheorghe "Gicu" Grozav, que recebeu na entrada da área após troca de passes. Outro reserva romeno que entrara na equipe de Cosmin Contra chegou perto do gol aos 79': Deniz Alibec recebeu pela esquerda, trouxe a bola para o meio, e arriscou. Passou perto.

Só que a Holanda também havia feito algumas mudanças. E de uma delas saiu o terceiro gol, aos 81’. De novo, com Berghuis participando: o jogador do Feyenoord mandou a bola para a área em falta, e Luuk de Jong cabeceou no canto de Pantilimon para resolver a vitória. Certo, Luuk perdeu gol quase certo aos 88' (estava livre, após lateral cobrado por Aké, mas tocou por cima do gol). Certo, o final do jogo teve o relaxo típico de um fim de ano, com várias entradas: Wesley Sneijder, Marco van Ginkel, Tonny Vilhena, até o estreante Donny van de Beek. E repita-se: a atuação holandesa não foi de encher os olhos.

Parar com a seleção? Por enquanto, Sneijder nem pensa nisso (ANP/Pro Shots)
Mas, pelo menos, serviu para fechar 2017 com alguma honra: ora, uma sequência de cinco vitórias seguidas. Ora, uma vitória que isolou Dick Advocaat como o técnico sob quem a Oranje mais venceu (37 vitórias, superando o inglês Bob Glendenning). Ora, uma vitória que permitiu a Advocaat confirmar sua demissão em paz: "Agora, a nova geração precisa tomar conta", conforme justificou à emissora SBS6. Pois bem: que a "nova" geração - Aké, De Ligt, Berghuis, Memphis, todos destaques no amistoso - jogue melhor e faça merecer confiança. Terá, pelo menos por enquanto, a ajuda do veterano Wesley Sneijder, 133 jogos e contando: "Estou feliz por estar aqui. Se o novo técnico continuar me convocando, continuarei aceitando". E que o novo técnico seja escolhido com o cuidado que não houve na federação entre 2014 e 2018.

Quem sabe, assim, a Holanda tenha mais motivos para sorrir, daqui a alguns anos.

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