sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Um jogo para simbolizar o impasse

O Zwolle tentou, se esforçou, até foi melhor... mas quem terminou ganhando foi mesmo o PSV (Pim Ras Fotografie)
Desnecessário detalhar novamente aqui a apatia assustadora por que passa o futebol holandês, na atualidade. Também é desnecessário lembrar a situação da seleção. E finalmente, a derrota do Feyenoord na Liga dos Campeões (atuação até honrosa, mas superada pelo 1 a 0 do Manchester City) e o empate do Vitesse na Liga Europa (outro desempenho até melhor do que o esperado, no 1 a 1 com a Lazio) decretaram: não haverá clubes holandeses nas fases eliminatórias dos torneios continentais europeus. Todos eliminados, nas fases preliminares ou na fase de grupos. Não acontecia desde a temporada 1998/99. 

Já não é mais o caso de lutar por vaga direta na fase de grupos da Liga dos Campeões, a partir de 2018/19 (esta já foi perdida): é lutar para que o campeão da Copa da Holanda mantenha seu lugar direto nos grupos da Liga Europa. Claro, o desânimo é notório entre imprensa e torcida. É como se a esperança apenas existisse porque tem de existir. E uma partida na 12ª rodada do Campeonato Holandês simbolizou essa incômoda tendência de a realidade sempre se impor para o futebol do país: a derrota do Zwolle para o PSV, que manteve o time de Eindhoven seguro na liderança – 33 pontos, oito à frente dos empatados Ajax e AZ (os Ajacieden ficam na segunda posição pelo saldo de gols).

Aparentemente, Zwolle e PSV jogavam só uma partida. Mas seu significado se ampliava pela campanha que fazem os Zwollenaren: a situação já descrita nesta coluna só melhora, com a equipe alviazul tendo desempenhos primorosos, não só ocupando as primeiras posições da tabela, mas também desafiando os três grandes do país. Já havia sido assim contra o Feyenoord: em pleno De Kuip, os “Dedos Azuis” tiveram empate por 0 a 0, e até jogaram melhor diante da lentidão do atual campeão da Eredivisie. Com tais resultados – e recebendo os visitantes de Eindhoven sabendo que uma vitória os levaria à segunda posição -, já virara lugar comum falar que os jogadores treinados por John van’t Schip protagonizavam um “conto de fadas”. Falava-se até na possibilidade de igualar a façanha do Leicester City – e por que não dizer, de Twente e AZ.

Sabendo disso, o PSV foi ao estádio Mac³Park para tentar conter os ataques mais frequentes do Zwolle – e, controlando-os, tentar ser eficiente nos contragolpes, para conseguir a vitória. Assim, o 4-3-3 dos Boeren não seria nada ofensivo. Exatamente o inverso do time da casa – que tentaria ser bem mais acelerado, além de manter a troca de passes. Jogadores para isso, o Zwolle tinha: nas duas pontas do ataque, com Younes Namli e Youness Mokhtar. Na armação, ajudava bastante o trabalho do neozelandês Ryan Thomas. E pelas laterais, ainda ofereceriam ajuda ofensiva Kingsley Ehizibue, na direita, e Bram van Polen, na esquerda.

Por esse ponto de vista, deu muito certo. O PSV até teve a chance de gol mais perigosa no primeiro tempo – aos 18 minutos, Luuk de Jong chutou após escanteio escorado, e Thomas tirou em cima da linha. De resto, o Zwolle despontou no final dos primeiros 45 minutos, fazendo o goleiro trabalhar, criando chances, agradando. Algo provado até pelas estatísticas – o Zwolle tinha mais posse de bola, mais chutes a gol, e menos faltas do que os Eindhovenaren.

No segundo tempo, continuou assim. Chances sucessivas criadas: por Namli, por Erik Israelsson (o atacante), por Mokhtar. Um estilo de jogo acelerado, que atacava, mas também neutralizava um lento PSV. Que só tentou algo no final, em cabeceio de Marco van Ginkel. Ryan Thomas e Van Polen quase conseguiram, nos minutos finais. Parecia ficar no placar um 0 a 0 altamente honroso para o Zwolle. Aí, faltando alguns segundos para o final dos três minutos de acréscimo, o gol que surpreendeu quem assistia ao jogo: Jürgen Locadia cruzou da esquerda, Luuk de Jong cabeceou, o goleiro Diederik Boer defendeu, e o zagueiro Nicolas Isimat-Mirin estava a postos para completar no rebote, fazendo o 1 a 0 do PSV praticamente no último lance do jogo.

Sim, o time de Eindhoven foi eficiente. Sim, aproveita as chances. Sim, merece a larga vantagem que já o deixa tranquilo na liderança do campeonato. Todavia, o estilo de jogo lento é algo que não tem agradado no futebol holandês – exatamente o oposto do que se viu no Zwolle, cujos jogadores têm sido cada vez mais paparicados pela imprensa holandesa. A dupla de Younes – o Namli e o Mokhtar – foram muito ouvidos nesta semana, e a análise do jornalista Marco Timmer, da revista Voetbal International, foi simples e definitiva: “O Zwolle foi melhor do que o PSV, em todos os aspectos”.

Um nível tático mais acelerado e moderno, mas que ainda não vence. Enquanto isso, o trio de grandes atua com lentidão e falta de imaginação (e nível técnico) assustadoras. Os torneios continentais, mais cruéis e realistas, já despacharam esse baixo nível técnico. Segue o impasse entre o antigo e o novo. E se, ainda assim, o PSV já desponta como destacado líder do Campeonato Holandês, é sinal de que a temporada será desagradavelmente longa, desanimada, arrastada. 

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 24 de novembro de 2017)

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