sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Mais uma prova de força

Deixar a Alemanha no chão, na casa dela: quantas vezes a Holanda pôde fazer isso? Pois esta geração fez (Getty Images)
Enfrentar a seleção da Alemanha, ainda mais em jogos importantes, sempre dá sensações mistas à Holanda. Por um lado, a vontade de ganhar do maior (e mais detestado) rival é gigantesca, e a vitória, quase um atestado de que a Laranja está em boa fase. Por outro, a impressão incômoda é de que os alemães quase sempre estão mais fortes, estão em mais condições de vencer. Mas este não é o caso atual. Sim, a geração atual da seleção holandesa é forte. Tão forte quanto a da Mannschaft alemã. E provou isso, com mudanças que propiciaram um segundo tempo valente da Oranje em Hamburgo, alcançando a virada para 4 a 2 - primeira vitória da Holanda em território alemão, desde 2002 - e mostrando que ela virá muito forte para a reta final das eliminatórias da Euro 2020.

Tais alterações foram necessárias, diante do que se viu no primeiro tempo. Não que a Holanda tenha ido muito mal - até criou a primeira chance, aos 8', num chute de Memphis Depay que Manuel Neuer defendeu em dois tempos. Entretanto, logo depois desta oportunidade de Memphis, notou-se o de sempre: quando a Alemanha teve sua chance, foi eficiente. Aos 9', um belo lançamento de Joshua Kimmich deixou Lukas Klostermann na cara do gol, ele chutou, o goleiro Jasper Cillessen rebateu, mas Serge Gnabry mandou para o 1 a 0. Era uma vantagem valiosa para o time da casa no Volksparkstadion. Porque a Holanda, mesmo tendo a posse de bola, estava sem espaço para os ataques: a bola passava de Matthijs de Ligt para Virgil van Dijk para Frenkie de Jong... e nada de espaço. Que dirá passes para Quincy Promes, ou Memphis Depay, ou Ryan Babel.

Basta dizer que a única chance de gol para o lado laranja veio só aos 24', num cabeceio de De Ligt para fora, após escanteio de Daley Blind. A Alemanha nem brilhava tanto, mas era segura na defesa. E aproveitava os erros - como aos 26 minutos, quando Gnabry tentou surpreender o adiantado Cillessen num chute (o goleiro voltou e pegou). Aproveitava também os largos espaços nas laterais, atrás de Denzel Dumfries e Blind. Foi assim que, aos 42', Toni Kroos aproveitou a sobra após uma primeira tentativa, lançou para a área e deixou Timo Werner livre na área. O segundo gol só foi perdido porque Cillessen fez tremenda defesa.

O gol de Gnabry foi o sinal do mau primeiro tempo da Laranja (European Press Agency)
Pelo modo como o segundo tempo começou, a Alemanha parecia mais perto de ampliar a vantagem. Já aos 50', Marco Reus ficou livre para chutar em diagonal, e De Ligt deu alguma sorte: na pequena área, desviou a bola, e ela subiu acima da trave. Sempre útil nos avanços, Nico Schulz também dava algum trabalho. Porém, aos poucos, a Holanda tentava ser mais eficiente com a bola nos pés. Quase conseguiu aos 56', quando Dumfries cruzou, Depay ajeitou e Georginio Wijnaldum finalizou para ótima defesa de Neuer. Todavia, as mudanças decisivas só viriam dali a dois minutos: aos 58', entravam Davy Pröpper e o estreante Donyell Malen.

Foi a mudança mais válida possível. Com Marten de Roon já tendo um cartão amarelo, Pröpper poderia proteger melhor o trio de defesa (De Ligt, Van Dijk e Blind), liberando Frenkie de Jong e Wijnaldum, que haviam aparecido pouco. Bingo: aos 59', De Jong teve espaço livre para avançar, aproveitar que a defesa da Alemanha fora enganada pelo quique da bola, após cruzamento de Babel, chegar à área e fazer 1 a 1, em seu primeiro gol pela seleção. Com um meio-campo mais protegido (até pelo auxílio do recuado Quincy Promes) e um ataque mais veloz (Babel aparecia mais, enquanto a dupla Depay-Malen chamava a bola nos pés), a Holanda enfim encurralou a Alemanha. E o 2 a 1, aos 66', veio por sorte - Jonathan Tah desviou e cometeu gol contra, após grande defesa de Neuer em cabeceio de Van Dijk. Mas foi muito merecido.

Malen aplaude - e também merece aplausos, por uma entrada cheia de velocidade no ataque (BSR Agency)

Tão merecido quanto injusto foi o pênalti marcado por Artur Soares Dias, possibilitando o empate da Alemanha aos 73'. É certo que De Ligt teve alguma desatenção - olhou para todos os lados, menos para a bola caindo em sua mão. No entanto, foi daqueles claros toques de bola na mão, sem intenção. Azar holandês, porque Toni Kroos cobrou, mandando Cillessen para um lado e a bola para o outro. Além do mais, se a Holanda mostrara destemor e mobilidade suficiente para fazer dois gols na Alemanha, teria isso para fazer 3 a 2, aos 79', numa bela jogada: de Depay para Blind, de Blind para Wijnaldum, de Wijnaldum para Malen coroar sua ótima atuação com um gol logo em sua estreia na Oranje adulta. Logo depois, Ronald Koeman fez mais uma mudança útil: aumentou a força na defesa, com Nathan Aké indo para a lateral esquerda e possibilitando a ida de Blind para a zaga. Bastou um contra-ataque veloz, nos acréscimos, e o gol de Wijnaldum, para coroar uma etapa final primorosa.

Foi apenas um jogo, é verdade. De nada adiantará a virada se a Holanda decepcionar em Tallinn, na próxima segunda, contra a Estônia. Entretanto, não poderia haver melhor prova de que a Holanda estará firme nas eliminatórias da Euro do que impor quatro gols ao maior arquirrival, em sua própria casa. Mais uma prova da força que esta promissora geração tem.

Eliminatórias da Euro 2020
Alemanha 2x4 Holanda
Local: Volksparkstadion (Hamburgo)
Data: 6 de setembro de 2019
Árbitro: Artur Soares Dias (Portugal) 
Gols: Serge Gnabry, aos 9'; Frenkie de Jong, aos 59', Jonathan Tah (contra), aos 66', Toni Kroos, aos 73', Donyell Malen, aos 79', e Georginio Wijnaldum, aos 90' + 1

Alemanha
Manuel Neuer; Matthias Ginter (Julian Brandt), Niklas Süle e Jonathan Tah; Lukas Klostermann, Joshua Kimmich, Toni Kroos e Nico Schulz; Serge Gnabry, Marco Reus (Ilkay Gündogan) e Timo Werner (Kai Havertz). Técnico: Joachim Löw

Holanda
Jasper Cillessen; Denzel Dumfries (Davy Pröpper), Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Daley Blind; Georginio Wijnaldum, Marten de Roon (Donyell Malen) e Frenkie de Jong; Quincy Promes, Memphis Depay e Ryan Babel (Nathan Aké). Técnico: Ronald Koeman

Nenhum comentário:

Postar um comentário