sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Algo pode dar errado?

Koeman teve poucos problemas a responder: a Holanda parece pronta, muito perto da vaga na Euro 2020 (Pro Shots)

São as últimas datas FIFA deste 2019 para as seleções masculinas de futebol. São as últimas duas rodadas das eliminatórias da Euro 2020. E a Holanda (ou Países Baixos, como o governo do país passou a preferir) está em uma situação muito cômoda. Neste sábado, em Belfast, terá jogo duro contra a Irlanda do Norte, mas as possibilidades estão com a Laranja: um empate ou uma vitória dão a vaga para a participação no primeiro torneio grande desde a Copa de 2014. Mesmo se houver derrota para os norte-irlandeses, um triunfo contra a Estônia (na terça-feira, dia 19, em Amsterdã) traz grandes chances de vaga, até porque a Irlanda do Norte enfrentará a Alemanha fora de casa. E mesmo se tudo der errado e os holandeses ficarem de fora das duas primeiras posições do grupo C, ainda haverá a repescagem por uma vaga na Euro a que têm direito, como finalistas da Liga das Nações. A sensação é de que nada pode dar errado.

E isso foi expressado em tudo que circunda os treinamentos da Oranje, no centro da federação, em Zeist. Para se ter uma ideia, a tradicional entrevista coletiva do técnico Ronald Koeman só ocorreu na terça-feira, ao invés da segunda, quando os convocados habitualmente se reúnem. E nela, Koeman teve de falar mais de assuntos externos do que de suas expectativas para os jogos contra norte-irlandeses e estonianos. A começar pela polêmica cláusula de seu contrato com a federação holandesa: se o Barcelona (e só o Barcelona) chegar com oferta que Koeman julgue agradável, ele larga a Laranja logo após a Euro 2020, para realizar o sonho pessoal de treinar a equipe catalã. Assunto visivelmente desconfortável para o treinador: "Não saio antes da Euro, mas acho impressionante ter de falar do Barcelona, treinando a seleção dos Países Baixos".

O técnico ainda comentou sobre a preferência do badalado Sergiño Dest por defender a seleção dos Estados Unidos: "Não fiquei triste. Mas minha informação é de que, quando ele jogava no time B do Ajax, muitos desconfiavam dele. A evolução surpreendeu. Se alguém tem de receber críticas, seria Erwin van de Looi [técnico da seleção sub-21 da Holanda], mas acho injustiça com ele". Sobre um ganho para a seleção da Holanda - Mohamed Ihattaren, revelação do PSV, que seguirá defendendo a Holanda na idade adulta, mas ficou de fora da convocação: "Ele não estava garantido, e sabia disso". Sobre o goleiro Jeroen Zoet, barrado no PSV de modo polêmico: "O que aconteceu foi uma dor para ele. E ele me falou isso. Convocá-lo foi como dar um apoio a ele. Sempre foi meu goleiro reserva, mas depois vemos".

Brilhando no AZ, Boadu (à esquerda) e Stengs são as novidades da convocação (Eric Verhoeven/Soccrates)

A única ponderação estrita de Koeman sobre a sua convocação foi elogiosa. E justamente elogiosa: grandes símbolos da boa temporada que o AZ faz, vice-líder do Campeonato Holandês e perto da classificação na Liga Europa, Myron Boadu e Calvin Stengs ganharam a primeira convocação para a seleção adulta. E entraram pela porta da frente, com as saudações do treinador: "As coisas transcorreram rápido com os garotos. Por outro lado, eles já conhecem muita gente, das seleções de base. Chegaram com um sorriso no rosto, e espero que continuam assim". Boadu, em especial, mereceu destaque:  Boadu já disputará posição. Eu disse antes que ainda era cedo para ele, mas aí Malen e Memphis se machucaram, e depois Bergwijn. Aí, você precisa olhar além. Nesta altura da temporada, os jogadores sentem algumas dores".

Por sinal, são essas dores que podem dificultar mais o trabalho de Koeman na escalação. Grande nome do ataque da seleção, Memphis Depay já chegou do Lyon com lesão na coxa, sofrida contra o Benfica, na Liga dos Campeões - e passou a semana treinando à parte. No decorrer dos trabalhos em Zeist, Georginio Wijnaldum (grande nome na vitória contra Belarus) sentiu os efeitos de uma gripe, e teve de ficar apenas nos trabalhos internos de academia. Koeman já indicava isso ainda em território holandês, e confirmou na entrevista coletiva desta sexta, em Belfast: só decidirá a escalação de ambos na manhã do dia do jogo: "'Gini' só fez meio treino, Memphis só partes. Trata-se de uma decisão sobre a forma física do jogador. Não é simples".

Em caso de Memphis Depay ficar ausente, as possibilidades se abrem: jogar Boadu aos leões? Dar chance a Wout Weghorst, enfim convocado após as boas atuações no Wolfsburg? Experimentar Luuk de Jong, decisivo na virada difícil sobre os norte-irlandeses em Roterdã? Ou colocar Ryan Babel no meio da área? Enfim, é a única dúvida que perturba a seleção da Holanda. Além da desconfiança que cresceu um pouco, após atuações apenas razoáveis contra Irlanda do Norte e Belarus. De resto, a vaga na Euro está perto. Perto demais para falhas atrapalharem. Seria a coroação da recuperação que o futebol dos Países Baixos vive, há mais ou menos um ano. Algo pode dar errado?

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