quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Guia da segunda divisão: maior, sim, melhor, nem tanto

O De Graafschap do recém-chegado Danzell Gravenberch já passou duas temporadas seguidas de decepção. Quer acabar com isso e, enfim, superar a segunda divisão (Pro Shots)


NAC Breda, Excelsior, Volendam, Roda JC, De Graafschap... sobram clubes tradicionais na segunda divisão do futebol dos Países Baixos. Quis o destino que clubes como ADO Den Haag e VVV-Venlo também fossem rebaixados para a Eerste Divisie. Bastou para que despontasse o discurso comum nessas situações, dando conta de que a temporada 2021/22 do campeonato de acesso seria "o maior", ou "o melhor" da história da Eerste Divisie. Maior, no sentido de esbanjar tradição, ele pode até ser. Mas no sentido de ser o melhor, de indicar uma disputa ainda mais empolgante do que já existe pelas duas vagas diretas à primeira divisão (campeão e vice), talvez não seja bem assim. Há favoritos claros. Dois deles são clubes que tiveram a pior decepção que se pode imaginar no futebol neerlandês: chegar perto do acesso à Eredivisie, via repescagem, e morrer na praia. São eles De Graafschap e NAC Breda

O De Graafschap talvez seja o principal candidato ao título da segunda divisão holandesa. Até pela vontade de superar o drama: já são duas temporadas seguidas de decepções. Em 2019/20, os Superboeren vinham perto do acesso, na vice-liderança, quando a pandemia de COVID-19 eclodiu, tornando impossível que o campeonato continuasse. Na temporada passada, foi ainda pior para o clube de Doetinchem. Por 37 das 38 rodadas, ficou na segunda posição, que garantia a subida à elite. Porém, tropeços nas rodadas finais permitiram a chegada do Go Ahead Eagles - e na última rodada, o drama absoluto: o Go Ahead Eagles o superou em pontos, virou o vice-campeão. Ficaria pior: logo na primeira fase da repescagem de acesso/descenso, o Roda JC o eliminou. Sobrou para o técnico Mike Snoei, treinador nessas duas decepções, demitido. Caberá a Reinier Robbemond treinar um time que tem dois símbolos do De Graafschap (o goleiro Hidde Jurjus e o zagueiro Ted van de Pavert), mais alguns bons reforços - principalmente no ataque, com Danzell Gravenberch, Joey Konings e Giovanni Korte.

O NAC Breda perdeu dois destaques. Passou por turbulências. Mas tem um time sólido, que tentará de novo o acesso (Pro Shots)

O NAC Breda também foi outro clube a sentir a dor de perder a chance de voltar à Eredivisie, após dois anos: perdeu a decisão da vaga para o NEC, em casa. Depois, perdeu até mais destaques da equipe: o meio-campista Lex Immers encerrou sua carreira, e o atacante Sydney van Hooijdonk (sim, filho de Pierre) conseguiu a transferência que tanto desejava - no caso, para o Bologna-ITA. Além do mais, a decepção da torcida foi tamanha que a virulência dos protestos levou o técnico Maurice Steijn e o diretor técnico Ton Lokhoff (ídolo do clube enquanto jogador) a deixarem o clube aurinegro do sul neerlandês. Ex-jogador da equipe, Edwin de Graaf receberá no NAC Breda sua primeira chance como treinador. E terá uma base relativamente inalterada para dar uma das duas vagas na elite ao time de Breda: o goleiro Nick Olij, o meia Thom Haye, o atacante Mario Bilate. Além do mais, alguns reforços trazem qualidade técnica - como o atacante Ralf Seuntjens, tirado do... De Graafschap.

E dos times que caíram? Segundo questionamento da revista Voetbal International com os técnicos dos 18 clubes da segunda divisão, o Emmen é o maior candidato ao bate-e-volta rumo à primeira divisão. É até compreensível que se pense assim, pela ótima impressão que o time causou nas três temporadas em que ficou na Eredivisie. De mais a mais, o técnico Dick Lukkien, considerado o maior responsável pela boa fase dos Emmenaren, segue por lá. Mas o grupo de jogadores se reformulará à força: afinal, destaques como Michael de Leeuw e Sergio Peña já não estarão mais lá. Assim, convém não ter muitas expectativas com o time alvirrubro. 

Pior ainda é a situação do ADO Den Haag: o importante para o clube tradicional de Haia nem é disputar o acesso, mas continuar existindo. E nem se sabe qual será o comprador do clube, já que a empresa chinesa United Vansen quer vendê-lo. Enquanto um grupo norte-americano e um grupo de advogados (liderados por Martin Jol, bandeira do clube, ex-jogador e ex-treinador) disputam o comando, nomes como Michiel Kramer e Nasser El Khayati deixaram o clube de Haia. Restará a nomes como o goleiro Luuk Koopmans e o atacante Vicente Besuijen manterem as esperanças.

Por enquanto, o VVV-Venlo segura Giakoumakis. Se o grego ficar, pode ser muito útil na tentativa de voltar à Eredivisie (Pro Shots)

Se há um clube rebaixado da Eredivisie que tem mais chance de subir imediatamente, é o VVV-Venlo. Não só por ter um técnico acostumado a trabalhar em campanhas de acesso na Alemanha (Jos Luhukay, que chegou já nas últimas rodadas do Holandês passado), mas também por manter nomes experientes, como o meio-campista Danny Post. Principalmente, talvez, por ter segurado o grande destaque na campanha do rebaixamento. Não que falte vontade de vender Georgios Giakoumakis, mas enquanto ninguém chega com dinheiro, os Venlonaren mantêm o grego, artilheiro da primeira divisão no ano passado, com 26 gols. 

Robert Mühren foi o destaque do campeão Cambuur em 2020/21. Ficará na segunda divisão para tentar o destaque de novo, no Volendam (fcvolendam.nl)

Por falar em artilheiro, um goleador é o principal candidato a catapultar o Volendam a, enfim, conseguir o retorno à elite, após 13 anos. Desde a temporada passada, a "Outra Laranja" é considerada um dos times mais agradáveis de serem vistos na segunda divisão, pelo estilo ofensivo pregado pelo técnico Wim Jonk. Aí, não bastassem nomes como o zagueiro Micky van de Ven (cogitado pelo... Olympique de Marselha) e o meio-campo Kevin Visser, quem chegou foi simplesmente o goleador da Eerste Divisie passada. E não é um simples goleador: Robert Mühren foi o segundo jogador a deixar mais bolas na rede numa só temporada, em toda a história da segunda divisão neerlandesa, com 38 gols em 37 jogos. Preferiu deixar o Cambuur na Eredivisie e retornar ao Volendam, para tentar levá-lo de volta à primeira divisão, para possibilitar que o apelido "Heen-en-Weer" (mal traduzindo, "clube iô-iô", sobe e desce) pelo menos possa ser lembrado. Nessas possíveis surpresas, também são passíveis de serem citados Excelsior - em que pese ter perdido seu destaque, Elias Mar Ómarsson - e Roda JC, que jogou a repescagem de acesso.

Nos times B dos clubes grandes, Van Nistelrooy terá a primeira chance como treinador, com a equipe de aspirantes do PSV (psv.nl)

E os times B? De certa forma, os técnicos deles são mais badalados do que os jogadores. Que o digam Jong Ajax e Jong PSV, tendo como respectivos treinadores John Heitinga e Ruud van Nistelrooy, no que será a primeira experiência de ambos no comando de uma equipe profissional. No time B Ajacied, os destaques - Calvin Raatsie, Youri Regeer, Kenneth Taylor, Kian Fitz-Jim, os brasileiros Danilo e Giovanni - devem se alternar com o grupo do time principal. Na equipe de aspirantes em Eindhoven, convirá prestar atenção em nomes como o zagueiro brasileiro Luis Felipe e o atacante Fodé Fofana. Sem contar os times B de AZ e Utrecht, também em disputa.

No entanto, até por serem proibidos de jogar a primeira divisão, os times B de clubes grandes são meros coadjuvantes da segunda divisão. E mesmo na disputa do título e do acesso, em que pesem os vários clubes tradicionais, a possibilidade é menos democrática do que parece. Será a maior "segunda divisão", sim. A melhor, nem tanto.

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