Desde que saiu o sorteio dos grupos da Eurocopa feminina, as perspectivas sobre a seleção da Holanda (Países Baixos) são mistas. Ao mesmo tempo em que enfrentar Inglaterra (atual campeã) e França já será certeza de grandes desafios desde a fase de grupos, ficavam as esperanças de que as Leoas Laranjas teriam, sim, condições de vencerem o equilíbrio e irem às quartas de final, por terem um time entrosado, com boas jogadoras - a começar do gol, com Daphne van Domselaar em ótima forma, e seguindo até a esperança de que Vivianne Miedema se livre das lesões. Pois é: as esperanças diminuíram bastante, com as últimas rodadas da fase de grupos da Liga das Nações. Já teriam diminuído só com os 4 a 0 sofridos para a Alemanha, na sexta-feira passada. O empate em 1 a 1 com a Escócia - lanterna do grupo 1 da Liga A, sem pontos até esta terça-feira - apenas deixou mais dúvidas sobre as capacidades neerlandesas. Dúvidas despertadas desde o primeiro minuto de bola rolando contra as alemãs.
Nem demorou tanto assim para a Alemanha começar a acelerar a troca de passes, começar a envolver a defesa holandesa, começar a chegar perto do gol. Foi assim já aos 8', quando Giulia Gwinn recebeu passe de calcanhar de Klara Bühl e chutou. Daquela vez, Dominique Janssen bloqueou. No minuto seguinte, após rebote parcial de escanteio, não houve jeito: Bühl cruzou, Janina Minge ajeitou, e Linda Dallmann completou com precisão, no ângulo esquerdo de Lize Kop, para fazer 1 a 0. Era só o começo: as alemãs acuavam as holandesas na defesa, tentavam cruzamentos pelos dois lados, não davam espaço para a Holanda tentar a troca de passes (e nem a Holanda tentava, a bem da verdade). Jeroen Elshoff, narrador da emissora NOS, lamentava: "Het is bijna niet te stoppen" - em holandês, "quase não dá para parar".
A única menção leve de ataque holandês foi aos 21': em escanteio cobrado por Jill Roord, a zagueira Buurman cabeceou, mas a goleira Ann-Katrin Berger pegou. Nada que a Alemanha não restabelecesse rapidamente. Primeiro, aos 23', quando Lea Schüller cabeceou para fora. Depois, com o segundo gol, aos 25': Kerstin Casparij (atuação muito frágil na marcação) perdeu a bola, Sjoeke Nüsken passou para Jule Brand, esta cruzou, e Lea Schüller desviou rasteiro. E foram mais jogadas alemãs, diante de uma Holanda frágil na defesa - principalmente nas laterais, com Casparij e Esmee Brugts sem conseguirem conter nem Minge, nem Gwinn, nem Bühl (talvez o nome do jogo). Com a fragilidade, vieram os espaços que normalmente vêm quando as Leoas Laranjas jogam mal. E foram aproveitados no último minuto do primeiro tempo, quando Minge lançou e Sarai Linder veio da lateral esquerda para, livre, correr com a bola até a área, tocar na saída de Kop e fazer 3 a 0.
Vieram alterações ao final do intervalo. Sherida Spitse para, quem sabe, fortalecer a saída de bola da defesa; Lynn Wilms para fortalecer a marcação na direita, no lugar de Casparij; e Victoria Pelova tentando manter a bola no meio-campo, nas poucas vezes em que a Holanda a tivesse. Mudanças? Antes mesmo que elas talvez tivessem efeito, Dallmann deu passe de calcanhar que deixou Gwinn livre para cruzar a bola na cabeça de Schüller, superando Spitse na marcação para transformar a vitória por 3 a 0 em goleada (4 a 0). Goleada que poderia ter ficado maior ainda aos 56', quando Bühl, onipresente, cobrou escanteio, e Roord tirou em cima da linha para evitar o gol olímpico. Ou mesmo aos 65', quando Kop rebateu chute da meio-campista alemã. Chances, para a Holanda, somente nos minutos finais - mais precisamente, nos acréscimos, quando Wilms cruzou e Daniëlle van de Donk (substituta de Roord) completou para fora. Notas de rodapé numa goleada que fez das alemãs semifinalistas antecipadas da Liga das Nações.
A goleada fez mais: mostrou como a seleção feminina neerlandesa seguia com alguns pontos frágeis rumo à Eurocopa. Claro, haveria mudanças na escalação contra a Escócia, dentro de um cenário em que a preparação para a Eurocopa era mais importante. Tão importante que Vivianne Miedema foi desligada da delegação, nesta segunda, com o técnico Andries Jonker antecipando: a atacante já entrará em preparação, combinada e preparada com o fisiologista da delegação, para chegar ao dia 19, data da apresentação das convocadas para a Euro, em condições de participar do torneio continental. Andries Jonker até evocou uma lembrança masculina: Arjen Robben, machucado no último amistoso holandês antes da Copa de 2010, que só jogou aquele torneio ao se preparar, dia e noite, na semana anterior. "Vivianne é do mesmo tipo dele, e vai fazer de tudo para estar lá no dia 19. Acho que vai dar certo. Ela quer muito estar na Euro, e isso mostra a jogadora de alto nível que é".
![]() |
Jill Roord foi quem mais apareceu nos (poucos) bons momentos das Leoas Laranjas contra a Escócia (Alex Bierens de Haan/Getty Images) |
O alto nível até começou sendo visto no time holandês que enfrentou a Escócia, em Tilburg. Curiosamente, duas conhecidas apareciam mais nas jogadas de ataque: Van de Donk (agora titular) e, principalmente, Jill Roord. Que, desta vez, abriu o placar, aos 10', após tentar uma primeira vez - a goleira Lee Alexander Gibson rebatera a primeira, mas Van de Donk cruzou na sobra. Tendo em vista os espaços que a Holanda tinha para avançar e chutar da entrada da área - Esmee Brugts fez isso aos 16', e Roord, aos 21' e aos 26', com Gibson pegando as duas tentativas -, era de se prever vitória tranquila das Leoas Laranjas.
Previsão que se acabou aos 27', num erro da defesa: Caitlin Dijkstra mandou a bola nos pés de Emma Lawton, que cruzou com precisão para Kathleen Mary McGovern cabecear e fazer 1 a 1 (de volta ao gol, Daphne van Domselaar tentou rebater, mas a bola entrou). A partir dali, a Escócia começou a avançar mais, como se notou no chute cruzado de Mia McAuley, aos 38', para fora, em jogada originada de mais um erro de passe. Pelo menos, a Holanda ainda teve chances na reta final da etapa inicial: novo chute de Roord aos 34', um desvio de Romée Leuchter completando escanteio aos 38', um cabeceio de Victoria Pelova (aniversariante do dia) aos 39', todos rebatidos pela goleira escocesa.
Ficaria pior, para a Holanda. Porque se a Escócia atacou mais nos contragolpes durante os primeiros 45 minutos, no segundo tempo ela dominou. A começar aos 49', quando McAuley forçou Van Domselaar a defender seu chute. Aos 63', Erin Cuthbert arrematou, e com um desvio, a bola passou perto da trave esquerda. E Van Domselaar mostrou a boa fase que vive no gol, na reta final: aos 83', defendeu o arremate de Kirsty Howat, e aos 88', após Brugts errar mais um passe, gerando contra-ataque escocês, Martha Thomas bateu para a camisa 1 holandesa evitar à queima-roupa. A Holanda? Só teve chance digna de nome aos 80', num chute de Roord rente à trave.
Nada que evitasse a incômoda impressão de que a esperança de uma boa Eurocopa ficou menor para a Holanda, após estas datas FIFA. E que o sinal está praticamente vermelho. Só se espera que, após alguns dias de férias, a preparação a partir do dia 19 volte a abri-lo.
Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1
Alemanha 4x0 Holanda
Data: 30 de maio de 2025
Local: Weserstadion (Bremen)
Árbitra: Alina Pesu (Romênia)
Gols: Linda Dahlmann, aos 9', Lea Schüller, aos 25' e aos 48', e Sarai Linder, aos 45'
ALEMANHA
Ann-Katrin Berger; Giulia Gwinn (Carlotta Wamser, aos 81'), Janina Minge (Kathrin Hendrich, aos 56'), Rebecca Knaak e Sarai Linder; Elisa Senss (Sara Däbritz, aos 68') e Sjoeke Nüsken; Jule Brand, Linda Dallmann e Klara Bühl (Selina Cerci, aos 68'); Lea Schüller (Giovanna Hoffmann, aos 57'). Técnico: Christian Wück
HOLANDA
Lize Kop; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 46'), Dominique Janssen, Veerle Buurman e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 46'); Jackie Groenen, Wieke Kaptein e Damaris Egurrola Wienke (Victoria Pelova, aos 46'); Chasity Grant, Jill Roord (Daniëlle van de Donk, aos 69') e Romée Leuchter (Katja Snoeijs, aos 84'). Técnico: Andries Jonker
Holanda 1x1 Escócia
Data: 3 de junho de 2025
Local: Koning Willem II Stadion (Tilburg)
Árbitra: Silvia Gasperotti (Itália)
Gols: Jill Roord, aos 10', e Kathleen Mary McGovern, aos 27'
HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 74'), Sherida Spitse (Dominique Janssen, aos 68'), Caitlin Dijkstra e Esmee Brugts; Victoria Pelova (Katja Snoeijs, aos 85'), Wieke Kaptein e Jackie Groenen; Daniëlle van de Donk (Chasity Grant, aos 68'); Jill Roord (Damaris Egurrola, aos 85') e Romée Leuchter. Técnico: Andries Jonker
ESCÓCIA
Lee Alexander Gibson; Emma Louise Lawton, Sophie Howard (Rachel MacLauchlan, aos 46'), Jenna Clark e Amy Muir; Kirsty MacLean (Emma Watson, aos 90' + 4), Erin Cuthbert e Caroline Weir; Mia McAuley (Kirsty Howat, aos 56'), Kathleen Mary McGovern (Martha Thomas, aos 56') e Freya Gregory (Kirsty Smith, aos 46'). Técnico: Melissa Andreatta
Nenhum comentário:
Postar um comentário