quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Um positivo, dois negativos

Na semana passada, quando terminou a quinta rodada das fases de grupos dos torneios europeus, um leve otimismo tomou conta dos times holandeses. Afinal de contas, só pensar na hipótese de quatro clubes dos Países Baixos avançarem às fases eliminatórias - um na Liga dos Campeões, três na Liga Europa - já era agradável, ainda mais sendo um país cujas participações em competições continentais andavam decepcionando muito, há algumas temporadas. Assim como era temeroso pensar na hipótese de três dos neerlandeses (o PSV já chegava a esta última rodada classificado) caírem. Bem, entre o melhor e o pior dos cenários, houve uma leve desvantagem para o último. Primeiro, pela decepção do Ajax na Liga dos Campeões. Depois, porque, se o PSV mostrou categoria em seu grupo, AZ e Feyenoord decepcionaram por razões diferentes, em suas respectivas eliminações na Liga Europa.

As tantas chances perdidas no ataque e a fragilidade na defesa cobraram a eliminação como preço duro ao AZ. Nos minutos finais dos jogos, só para doer mais e aumentar as turbulências (ANP) 

Se é possível dizer que alguma delas doeu mais, foi a da equipe de Alkmaar. Precisando da vitória contra o Rijeka croata, para ter uma das vagas do grupo F na segunda fase, o time holandês cumpriu o que o técnico Pascal Jansen (sucessor do demitido Arne Slot) prometeu: pressão desde o início. Myron Boadu teve duas chances de cabeça, aos 11' - o goleiro Nevistic pegou - e aos 23' - para fora. Jesper Karlsson também perdeu uma chance, num arremate cruzado aos 29'. Aos 41', quem mandou a bola pela linha de fundo foi Yukinari Sugawara. E nos acréscimos', Nevistic agarrou uma cobrança de falta de Teun Koopmeiners. Se o Napoli "ajudava" o AZ ao vencer momentaneamente a Real Sociedad, a equipe holandesa precisava de uma vantagem para se pacificar de vez. O 0 a 0 era perigoso, porque do nada, o Rijeka podia mostrar eficiência nos raros avanços. 

Aos 53', isso se comprovou: um descuido da defesa do AZ (já desfalcada pela saída de Bruno Martins Indi) e Luka Menalo recebeu passe, ficou livre na área e tocou na saída de Marco Bizot para o 1 a 0 da equipe croata. Pior do que a desvantagem, foi o time da Holanda seguir perdendo chances - uma delas, de Albert Gudmundsson, aos 55', incrível (livre, na pequena área). Porém, aos 59', a salvação pareceu vir, com o chute preciso de Owen Wijndal que empatou o jogo. Com o Napoli mantendo sua vitória, a vaga parecia próxima, mesmo com alguns sustos da defesa. Todavia, o sofrimento aumentou aos 81', com a expulsão - um tanto exagerada - de Karlsson, num pé alto. O AZ teria de se segurar na defesa. Mas num espaço de poucos segundos, nada disso valeu a pena. Em Nápoles, aos 89', William José empatou a partida para a Real Sociedad - e isso já eliminaria os Alkmaarders de qualquer jeito. Mas o Rijeka ainda jogou sal na ferida aberta: quase simultaneamente, aos 90' + 3, após jogada de Tibor Halilovic pela esquerda, Ivan Tomecak ficou livre na pequena área para o 2 a 1 do Rijeka. A incompetência ofensiva do AZ cobrava seu preço, da maneira mais cruel possível. E, de certa forma, aumentava a turbulência aberta pela polêmica demissão de Arne Slot.

Não se esperava muito do Feyenoord contra o Wolfsberger - e de fato, o Stadionclub ficou longe da vitória que lhe daria a classificação na Liga Europa (BSR Agency)

Se o AZ decepcionou porque teve muitas chances para se tranquilizar e desperdiçou todas (até literalmente, em campo), o Feyenoord cumpriu, de certa forma, a expectativa pessimista que a torcida tinha sobre o que ele podia fazer contra o Wolfsberger austríaco, também fora de casa. O tom negativo já começava a partir de mais uma reclamação do técnico Dick Advocaat sobre a falta de reforços para o Stadionclub: "Não acho que o Feyenoord seja um clube do topo, no momento. Clube do topo escolhe quem quer comprar e compra, como o Ajax". E o pessimismo foi justificado pelo que se viu no gramado. Não que o Wolfsberger fosse amplamente superior. Mas estava mais no campo de ataque - e até mesmo criava chances (como num chute de Dario Vizinger, aos 7'). A única vez em que os visitantes de Roterdã foram mais ameaçadores foi aos 23', quando Jens Toornstra chegou à área e arrematou, para a defesa de Alexander Kofler.

Logo depois, porém, novamente o Wolfsberger trouxe perigo, num arremate de Vizinger que o goleiro Nick Marsman espalmou, aos 27'. Logo depois, o gol do time da casa: aos 31', Matthäus Taferner ganhou de Orkun Kökcü na área, tocou para o lado, e Dejan Joveljic ficou livre para o 1 a 0 na pequena área. De quebra, aos 34', Vizinger quase fez o segundo - Marsman defendeu seu chute. E o marasmo começou ali, se espalhando por todo o segundo tempo. Porque o Wolfsberger foi bem pouco ao ataque na etapa final, só tentando o gol em chutes esparsos de Eliel Peretz e Michael Liendl. E nem precisava se preocupar com a defesa, tal a inação ofensiva do Feyenoord. Só num voleio de Luis Sinisterra, aos 84', pego por Kofler, a equipe holandesa trouxe algum perigo. O erro de Nicolai Jorgensen aos 88' (na pequena área, o atacante dominou e... chutou alto e sem rumo a ponto da bola sair pela linha lateral) foi um símbolo apropriado para a desoladora atuação dos Rotterdammers no jogo de sua eliminação.

Malen pode ter brilhado com mais um gol, mas Piroe também se destacou no fim da goleada do classificado PSV (BSR Agency)

A rigor, o time holandês que melhor jogou na rodada final da fase de grupos da Liga Europa foi justamente o que não precisava: o PSV. Recebendo o já eliminado Omonia Nicósia em casa, os Boeren foram dominantes sobre os visitantes do Chipre. Só Donyell Malen teve duas boas chances, aos 4' e aos 22'. Logo depois, Philipp Max também teve sua oportunidade, defendida pelo Fabiano. E foram justamente esses dois destaques os artífices da jogada do primeiro gol, aos 34': Max cruzou, Malen concluiu na pequena área, fazendo seu sétimo gol no torneio. A única razão a se lamentar foi a lesão aparentemente séria no joelho de Richard Ledezma - o meio-campista norte-americano, nome certo no time B dos Eindhovenaren, ganhava mais uma chance entre os titulares.

Ainda assim, o PSV se deu ao luxo de poupar titulares como o próprio Malen, já com substituições após o intervalo. Teve sua superioridade intacta durante todos os 90 minutos. Ainda mais após os 63', quando Denzel Dumfries converteu o pênalti que ele mesmo sofrera do recém-entrado zagueiro Jan Lecjaks para o 2 a 0. Se a vitória já estava garantida, Joël Piroe pôde ganhar boas razões para se lembrar do jogo - afinal, nos acréscimos, o atacante marcou duas vezes em dois minutos para transformar o triunfo em goleada e se tornar mais um nome a fazer dois gols em sua estreia num torneio europeu.

Se AZ e Feyenoord deixaram a Holanda (Países Baixos) no déficit pela Liga Europa, pelo menos o PSV estará vivo na segunda fase, junto ao Ajax. Caberá a ambos aumentar o saldo que ficou ligeiramente deficiente.

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