Twente precisará de mais união do que esperava para evitar um destino terrível na temporada (fctwentenieuws.nl) |
A estreia na temporada serviria como bom augúrio: empate por 1 a 1 contra o Groningen, campeão da Copa da Holanda, com elogios ao desempenho da nova dupla de zaga, formada por Bruno Uvini (ele mesmo, ex-São Paulo, ex-Santos, emprestado pelo Napoli) e o grego Giorgos Katsikas. Enfim, a sensação era de que o bicho não era tão feio.
Bastaram três rodadas para a sensação mudar. Três derrotas depois, a equipe de Enschede está na 16ª posição, antepenúltima do campeonato. Antes desta, somente em três temporadas (1982/83, 1987/88 e 2002/03) os Tukkers haviam conseguido apenas um ponto nas quatro primeiras rodadas – em 2002/03, a equipe foi rebaixada e esteve à beira da falência. Pior: a última derrota deu-se no clássico da região do Twente (província do Overijssel), contra o Heracles Almelo, há duas semanas (2 a 0).
Não houve jeito de manter Alfred Schreuder: pressionado pela torcida desde o fim da temporada passada, ele foi demitido. E será sob o comando do interino René Hake que os Tukkers enfrentarão um grande desafio nesta quinta rodada do Campeonato Holandês: jogar contra o líder Ajax, ainda invicto, neste sábado. Ainda assim, a confiança é pequena para a sequência da temporada.
Primeiramente, porque a situação financeira continua aflitiva. No fim da temporada passada, o presidente Joop Munsterman deixou o clube, com uma história de 12 anos em que o Twente conheceu o auge (título holandês em 2009/10, participação em Liga dos Campeões etc.) mas também fez muitas dívidas. E a responsabilidade de rolar essas dívidas, e pagá-las, ficou para Aldo van der Laan.
Sem muito dinheiro para ousar, restaram duas opções: liberar quem recebesse uma oferta razoavelmente polpuda, e povoar o elenco com gente vinda da base. A primeira alternativa foi posta em prática, quando possível. O volante Kyle Ebecilio recebeu proposta de empréstimo para o Nottingham Forest? Que vá. Sem espaço nos titulares, Younes Mokhtar recebeu uma proposta de 1 milhão de euros, do Al Nassr, da Arábia Saudita? Até logo. Jesús Corona, cada vez mais titular na seleção mexicana, é cobiçado pelo Porto? Pois bem, o clube português pagou 10 milhões de euros para o meio-campista vestir a alviazul tripeira, e ele se foi para o Dragão sem problemas.
Restou a René Hake remontar a base da equipe em torno dos remanescentes, com muitos novatos (isso, até quando ele comandar o Twente – cogita-se a volta de Fred Rutten, de boas memórias no Grolsch Veste). No meio-campo, cuidarão da marcação Renato Tapia e Kamohelo Mokotjo, enquanto armam as jogadas Felipe Gutiérrez (em alta, presença certa na seleção do Chile) e Hakim Ziyech (principal destaque da equipe, líder de assistências em 2014/15). E no ataque, nem referências há: apenas dois reforços que aspiram a tal posto, o alemão (de ascendência nigeriana) Chinedu Ede e Michael Olaitan – este, nigeriano de nascimento e nacionalidade.
De resto, cada vez mais a garotada toma conta da equipe. Até por força das circunstâncias, são ou serão titulares o lateral direito Hidde ter Avest, 18 anos (titular da seleção holandesa sub-19); os zagueiros Peet Bijen (20 anos), Joachim Andersen (19 anos) e Jeroen van der Lely (19 anos); e o atacante Alessio da Cruz, 18 anos. Além do mais, antes da partida contra o Ajax, Joel Drommel, 19 anos, titular da seleção holandesa sub-19, foi escolhido como novo goleiro titular, barrando Nick Marsman, que retornara. Cada vez mais, é com eles que a espinha dorsal da equipe do Twente será feita.
Não que a transição esteja sendo regular. Na primeira derrota desta má sequência atual (4 a 1 para o ADO Den Haag, em pleno Grolsch Veste), ficou clara a ingenuidade dos defensores e a lentidão excessiva do time, que pelejou para marcar o bom ataque dos Hagenaren. Isso também ficou claro na derrota para o rival Heracles: contando com Oussama Tannane, um dos principais destaques deste início de temporada, a rapidez do ataque Heraclied destruiu a inexperiência dos Tukkers.
Obviamente, o Twente ainda pode crescer. Conta com jovens promissores, mais a crescente experiência internacional de gente como Gutiérrez (destaque dos 3 a 2 chilenos contra o Paraguai, em amistoso, com dois gols). Mas o time já sabe: o buraco é mais embaixo. Precisará se esforçar caso queira preencher seu potencial e ficar seguro no meio da tabela, para minorar os impactos da crise nas finanças. E tem oportunidade para isso contra o Ajax, como bem disse Gutiérrez: “Seria fantástico se alcançássemos um bom resultado neste sábado. Isso nos dará um impulso, e confiança para continuarmos”. É tudo que a equipe deseja.
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 11 de setembro de 2015)
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