sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O desespero continua


Robben deixa o jogo: a seleção holandesa não resistiu aos dois fatos que a perturbaram, e segue em desespero (VI Images)
“Ísland! Ísland!". A seleção holandesa até compreendera escutar isso na vitória dos islandeses, por 2 a 0, em outubro do ano passado, no turno do grupo A das eliminatórias para a Euro 2016. Mas sabia: em casa, tinha de se esforçar para afastar o som incômodo da torcida adversária, vencer a primeira das "quatro finais" e se aproximar da classificação para o torneio continental de seleções. Só que o destino, e as decisões erradas a partir das peças que ele pregou, deixaram a Holanda novamente em apuros. E em situação pior do que antes: se a derrota em Reykjavik ainda tinha como ser revertida com resultados posteriores, agora a Oranje só tem a vaga na repescagem como objetivo possível. Pior: praticamente a decidirá com a Turquia, no confronto direto do próximo domingo.

Curiosamente, o temor de um novo vexame era pequeno, na primeira parte do jogo em Amsterdã. O time treinado por Danny Blind não jogava bem, é verdade. Se estivesse melhor, o 4-3-3 mantido pelo técnico não seguiria deixando desprotegida a insegura defesa. Prova disso foi o gol perdido por Jón Dadi Bödvarsson, logo aos três minutos de jogo: ele só recebeu a bola escorada porque Daley Blind, atrasado na linha de quatro defensores, deu condições para que Johann Berg Gudmundsson desviasse. Fosse como fosse, aos poucos a posse de bola tornou-se majoritariamente holandesa (chegaram a ser 70%), a defesa se recompôs, Depay e Robben criaram algumas chances, o ataque participava de jogadas coletivas... enfim, parecia tudo sob controle.

Mas a tentativa de levar o jogo pragmaticamente foi destruída em oito minutos. Primeiro, aos 26, com a lesão na virilha sofrida pelo capitão Arjen Robben, que forçou a troca dele por Luciano Narsingh. Não bastasse a liderança natural que o fizera dono da braçadeira, os arremates do camisa 11 vinham sendo perigosos, como sempre. Só restou a ele lamentar: "Os especialistas dirão agora que eu não estava bem, mas eu me sentia totalmente em forma. Num curto período de tempo, eu havia chegado duas vezes à grande área. Mas na segunda, algo se distendeu nas minhas costas. Daí foi para a virilha, e eu tive de sair. Para mim, ficou claro que eu não poderia continuar. Não dá para acreditar...”. 

Depois, aos 33 minutos, veio a expulsão de Bruno Martins Indi. Justamente o defensor holandês que mais estava seguro, sem errar tantos botes como Stefan de Vrij (que, aliás, já até tomara o cartão amarelo). Porém, a ingenuidade do quarto-zagueiro foi imperdoável. Está certo que a decisão do árbitro Milorad Mazic em dar o vermelho é até polêmica, já que Kolbeinn Sigthórsson também veio forte na disputa de corpo. Ainda assim, o zagueiro holandês se arriscou demais ao dar uma cotovelada que podia ser (e foi) interpretada como agressão. E a imprudência foi criticadíssima por Robben (“Como capitão, eu devo proteger meus jogadores. Mas não tenho mais nada a fazer além de dizer que [a cotovelada] foi estúpida. Ele deixou o time na mão, e condeno isso”) e Danny Blind (“Ele estava razoavelmente bem no jogo, não havia razão nenhuma para fazer aquilo”).

Os dois acontecimentos fortuitos haviam jogado a Holanda num cenário temível. E Blind, o técnico, não colaborou muito para melhorar a situação, ao tomar uma decisão criticada até agora na Holanda. Tendo de remontar a defesa, precisou queimar a segunda alteração, colocando Jeffrey Bruma no miolo de zaga. Até compreensível. Só que o substituído foi... Klaas-Jan Huntelaar, que seria a única referência de ataque da seleção a partir dali. Foi a senha para trazer a seleção da Islândia mais e mais perto da defesa holandesa, permitindo os contragolpes, principal qualidade da equipe de Lars Lagerbäck e Heimir Hallgrímsson. Ainda assim, o treinador defendeu a substituição (“Não me arrependo, eu precisava tornar o time defensivo”.

Se a saída precoce de Robben e a expulsão de Martins Indi haviam sido lances fortuitos, a evolução até o gol foi mérito claro da Islândia. O time manteve a compactação admirável de seu esquema tático: sem a bola, as linhas do 4-4-2 eram visíveis e próximas uma da outra, impedindo a Oranje de chegar ao gol de Hannes Thor Halldórsson por outras maneiras que não chutes de fora da área e inversões de jogo.

Mas o mérito realmente decisivo para a vitória islandesa foi ter calma e saber esperar o momento certo de mais um erro holandês. Mesmo com um 4-2-3 torto, em que Memphis Depay jogava forçosamente na área, a defesa continuava insegura e aberta. O que forçou o exagero de Gregory van der Wiel, arriscando o carrinho em Birkir Bjarnason em que foi marcado o pênalti. Outro ato desesperado que mereceu críticas de Danny Blind (“Ele é experiente o suficiente para saber que você precisa ficar em pé ali. Não dá para dar carrinho naquela situação, é o primeiro ensinamento”). Gylfi Sigurdsson converteu, como já convertera outro penal nos 2 a 0 em Reykjavik. E o azar de Cillessen seguiu: 26 pênaltis contra ele, 25 convertidos. Está certo que, com Cillessen no gol, o Jablonec até perdeu um pênalti contra o Ajax, nos play-offs da Liga Europa. Mas a bola foi na trave. Ou seja, o arqueiro nativo de Groesbeek continua sem defender penais, na prática... 

Depois, restaram as tentativas esparsas e até valorosas, com Memphis Depay, Narsingh e Sneijder. Mas todas indo nas mãos de Hannes Thór Halldórsson. Isso, sem que Blind arriscasse trazer uma referência de ataque de volta, colocando Van Persie ou até Luuk de Jong em campo. Luuk, aliás, poderia levar a uma reedição do trio de ataque tão exitoso na temporada passada, jogando pelo PSV. Todavia, somente em jogadas individuais pelas pontas e chutes de fora a Islândia sofria. 

E veio a derrota. Primeira da Oranje em partidas de eliminatórias em casa desde o 2 a 0 de Portugal, na qualificação para a Copa de 2002. Segundo revés doméstico na história da equipe em eliminatórias para a Eurocopa – a primeira derrota fora num longínquo 30 de novembro de 1963, 2 a 1 para Luxemburgo, em De Kuip. Ainda assim, pelo gol de Valerijs Sabala, que manteve Turquia e Letônia no empate por 1 a 1, a Holanda seguiu na terceira posição do grupo A. Ou seja: por mais que esteja justificando eventual ausência da Euro 2016, a Oranje ainda depende de suas próprias forças. Só que, agora, terá de enfrentar uma pressão incrível dos turcos, no jogo em Konya, na nova Torku Arena - mudança de sede criticada, aliás ("muito longe, muito cara, muito escondida", comentou o chefe da associação de torcedores da seleção, Theo Ponk, ao diário "Algemeen Dagblad").

Mas restou isso à Holanda. Como a própria torcida gritou na parte final do jogo desastroso desta quinta, é tudo ou nada. Veteranos (Van Persie jogará?) e novatos terão de mostrar valentia, calma e talento para tentar salvar a via-crucis, assegurando ao menos o terceiro lugar que leva à repescagem (“Primeiro e segundo lugares não são mais alcançáveis”, reconheceu Blind). Ou então, é esperar pelo desastre supremo: ficar fora de um grande torneio, pela primeira vez desde 2002. O desespero continua. Sonorizado pelo grito das torcidas adversárias: se os turcos já haviam encoberto os holandeses no empate em 1 a 1, em março, na mesma Amsterdam Arena, agora o pesadelo tem os gritos de "Ísland, Ísland...".

Um comentário:

  1. Meu professor de Teclado costuma falar: "nunca está ruim o bastante que não possa ficar ainda pior" a Holanda está numa faze realmente tenebrosa... Quero só ver o jogo de domingo

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