A sorte ajudou claramente o PSV. Só que o time também mostrou qualidades conhecidas (Andrew Couldridge/Reuters) |
Muito se falou a respeito de como a fratura do lateral esquerdo Luke Shaw mudou o destino da estreia do PSV pela Liga dos Campeões, na terça passada, contra o Manchester United. Só que a partida anterior da equipe também tivera um momento capital para o placar final. Precisamente no sábado passado, contra o Cambuur, pela quinta rodada do Campeonato Holandês, aos oito minutos do primeiro tempo.
Após rápida jogada de ataque, Luciano Narsingh chegou à área, pela direita, e tentou cruzar. O goleiro Harm Zeinstra desviou, só que a bola foi para o meio da área, limpa para o chute de Luuk de Jong. E não restou outra alternativa a Sander van de Streek, lateral esquerdo dos Leeuwarders, a não ser desviar para a linha de fundo, com a mão. Não deu outra: o árbitro Kevin Blom marcou o pênalti, deu o cartão vermelho a Van de Streek, e De Jong cobrou para fazer o primeiro de seus três gols na partida. E para abrir a goleada por 6 a 0 – a maior que o Cambuur já sofreu em sua história na Eredivisie.
Foi um lance fortuito. Mas nem por isso apaga as qualidades que os Boeren exibiram, tanto contra o Cambuur, quanto (e principalmente) contra o United, na surpreendente vitória por 2 a 1, no primeiro jogo pela Champions League. Qualidades que já eram vistas na temporada passada. E que resistiram até às saídas de Memphis Depay e Georginio Wijnaldum. São o entrosamento que o time esbanja em campo e a velocidade na saída para o ataque.
A principal delas, na verdade, é o entrosamento, mais até do que a habilidade. Enquanto a linha de quatro marcadores joga de modo muito concentrado, evitando avanços desnecessários, o meio-campo tem a chave para evitar dores de cabeça. No 4-3-3 com que Phillip Cocu arma a equipe, Andrés Guardado mantém, e até amplia, sua importância maciça para os Eindhovenaren. É o controlador do jogo: numa posição central, cuida de ditar a postura dos meio-campistas. Algo que também é exibido pela escalação. Se o caso é ter um time mais ofensivo e criativo, Adam Maher joga (assim foi contra o Cambuur). Para mais cuidados na marcação, entra o volante Jorrit Hendrix.
Seja como for, os destaques estão mais na armação, mesmo. Se Guardado consolida-se como o principal jogador de meio-campo, Davy Pröpper ameniza bastante, pelo menos por enquanto, a ausência de Wijnaldum. Com toques rápidos, o meio-campista vindo do Vitesse facilita a velocidade nas chegadas ao ataque. Certo, não é tão forte na função de “elemento-surpresa”, como era o atual meio-campista do Newcastle. Mas faz com que a bola chegue mais rápido ao trio de ataque.
Por sua vez, no trio de ataque a única mudança foi de nomes. Luuk de Jong segue como um dos principais atacantes do futebol holandês. Não significa muito, mas para quem fracassara em Alemanha e Inglaterra, não só era necessário, mas também significa maior facilidade. Tanto que Luuk já fez cinco gols na temporada. É algo semelhante ao processo por que Klaas-Jan Huntelaar passou: fracassado em Real Madrid e Milan, enfim achou no Schalke 04 – e na Bundesliga – um campeonato de nível mais acessível a ele.
Mas a prova de que só mudaram os nomes, não o jeito de jogar, veio na ponta esquerda. Parecia que a ausência de Memphis Depay seria a maior dificuldade por que o PSV teria de passar. Pois Maxime Lestienne consegue dar a impressão de que joga há tempos na equipe, seja por talento ou pelo baixo nível técnico dos adversários na Eredivisie. Em algumas partidas, foi até decisivo para as vitórias do time. Bons exemplos são as viradas sobre o Feyenoord, na quarta rodada do Holandês, e… contra o Manchester United.
E aqui, é preciso retomar o início da coluna. De fato, a séria fratura de Shaw mudou o jogo – curiosamente, em falta cometida pelo mesmo Héctor Moreno que fraturou a fíbula ao cometer suposto pênalti em Arjen Robben, no final do primeiro tempo de Holanda x México, na Copa do Mundo. É justo supor que a teórica superioridade técnica dos Red Devils lhes daria a vitória, por mais que o time inglês ainda sofra com a irregularidade em campo. Em suma: o 2 a 1 teve seu lado injusto.
O que não necessariamente precisa tirar os méritos do PSV, até porque o gol do Manchester United veio após a lesão. Só que aí foi a vez do segundo momento de sorte de Moreno: escapara do cartão vermelho que merecia, e ainda empatou o jogo. Aí, o time holandês se esforçou para praticar o que Luciano Narsingh explicou à emissora de tevê SBS6, ainda na zona mista do Philips Stadion, após o jogo: “Vimos os vídeos e sabíamos que os laterais avançariam, e que poderíamos marcar nos contragolpes”. Dito e feito: com a velocidade de Lestienne e do próprio Narsingh, veio a virada.
O PSV ainda precisa provar muito, obviamente. Na Eredivisie, já chegou ao quarto lugar, a dois pontos do líder Ajax, mas teve tropeços desnecessários. Na Liga dos Campeões, só eventuais vitórias contra CSKA Moscou e, principalmente, Wolfsburg tirarão a sensação de que o triunfo da estreia foi “sorte de principiante”. Ainda assim, por tudo que mostra em campo, o atual campeão holandês já deixou claro: está vivo na temporada. Convém não ignorá-lo.
(Coluna originalmente publicada na Trivela. em 18 de setembro de 2015)
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