quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Comemoração... e preocupação

´PSV superou nervosismo em campo para garantir classificação elogiável na Champions (Olaf Kraak/ANP)
Quando o árbitro espanhol David Fernández Borbalán apitou o fim do jogo entre PSV e CSKA Moscou, no Philips Stadion, em Eindhoven, nesta terça-feira, pela última rodada do grupo B da Liga dos Campeões, a explosão de alegria foi notável, na torcida e entre os jogadores dos Boeren. Na verdade, notável em todo o futebol holandês: clubes como NEC e Heerenveen parabenizaram os Eindhovenaren pela classificação às oitavas de final, via perfis oficiais no Twitter. Era uma massagem no ego, após o vexame da seleção e temporadas invariavelmente decepcionantes nas competições continentais.

É de se lamentar que o futebol holandês, dono de seis títulos europeus, "apenas" comemore passar às oitavas de final. Mas diante da mudança de paradigma por que ele passa nas últimas décadas, é compreensível. Afinal de contas, desde a temporada 2006/07 não havia holandeses "passando do inverno" na maior  e mais tradicional competição europeia. Sem contar os ganhos que isso traz no coeficiente da UEFA - que podem retardar uma perda de vaga direta na Champions, algo cada vez mais provável. E ainda há o lado financeiro: os resultados da fase de grupos e a classificação renderão ao PSV 22,5 milhões de euros, no total.

Tudo bem quando termina bem, certo? Errado. Afinal de contas, como um dos 16 classificados, algum objetivo o PSV precisa mostrar na temporada, agora que falou grosso. E a atuação vista contra o time russo mostrou que, se tem qualidades técnicas inegáveis, a equipe holandesa ainda sofre com uma certa falta de poder de decisão nas horas mais cruciais. Falta de poder de decisão que, aliás, ainda lhe coloca no terceiro lugar do Campeonato Holandês, um ponto atrás do Feyenoord, exatamente pelos tropeços contra times pequenos.

E foi exatamente isso que vitimou os PSV'ers no Philips Stadion, na terça. Até pelo fato do "Exército Vermelho" não ter mais o que fazer na Liga dos Campeões, desde o princípio o 4-3-3 velho de guerra de Phillip Cocu criou mais chances em campo. Não só com o trio de atacantes (Gastón Pereiro, Luuk de Jong e Jürgen Locadia), mas também com Davy Pröpper e Jorrit Hendrix: vindos do meio-campo, chegavam com a bola dominada, criavam jogadas... enfim, foram talvez os dois melhores da partida.

Isso se traduziu em maior posse de bola, e mais perigo no ataque. Mas o avanço excessivo dos laterais - principalmente Héctor Moreno, improvisado na esquerda - possibilitou vários contragolpes perigosos do CSKA. E graças ao ponta-de-lança Ahmed Musa e ao atacante Seydou Doumbia, as finalizações também davam o que trabalhar ao goleiro Jeroen Zoet. O desastre só não aconteceu porque Jeffrey Bruma teve atuação estupenda: seguro no miolo de zaga, foi quem mais desarmou (duas vezes), mais interceptou (oito vezes) e mais carrinhos na bola (seis) deu em campo.

Só que o segundo tempo foi ampliando essa tensão em campo. O CSKA Moscou até queria ganhar, mas não haveria muito problema em caso de derrota, pois o pior já acontecera; o PSV precisava vencer, se quisesse avançar independentemente do que ocorria em Wolfsburg x Manchester United (o empate temporário por 2 a 2 ajudava, até). E essa necessidade visivelmente enervou os Boeren.

Aí, Joshua Guilavogui cometeu gol contra, empatando o jogo para os Diabos Vermelhos. E quase ao mesmo tempo, foi marcado o pênalti para o CSKA Moscou, aos 31 minutos. Inexistente, a bem da verdade: Zoran Tosic mal foi alcançado pelo carrinho de Andrés Guardado, mas caiu na área e iludiu o árbitro, que deu o cartão ao mexicano - e também a Luuk de Jong, que reclamou. Sergei Ignashevich bateu, fez 1 a 0 e deu a impressão de que a falta de firmeza e de eficiência do PSV seria punida duramente, por menos que o United merecesse avançar.

Aí, só restava o abafa. E no rebote de uma falta cruzada para a área, Hendrix devolveu a bola para a área, o CSKA formou mal a linha de impedimento, e Luuk de Jong empatou já aos 33 minutos. Esse gol salvou as coisas: afinal, permitiu recuperar rápido o ânimo após o baque de ficar atrás. No entanto, a tranquilidade só veio com o belíssimo gol de Pröpper, completando de primeira o pivô de Locadia para justificar por que foi tirado do Vitesse para a temporada 2015/16: justamente numa de suas qualidades, avançar ao ataque, fez o gol da vitória, aos 41 minutos do segundo tempo. 

Quase simultaneamente, o gol de Naldo em Wolfsburg definiu a vitória contra o Manchester United. A vaga nas oitavas estava garantida, e a torcida comemorou balançando as bandeirolas da cidade de Eindhoven. O espírito de ter superado um gigante europeu como o clube inglês para conseguir a segunda vaga foi resumido numa frase de Hendrix: "Dinheiro não é tudo no futebol". E também se lembrou: ao saber equilibrar bem base (Zoet, Locadia, Hendrix) e compras baratas (Bruma, Moreno, Guardado, Pröpper, Luuk de Jong), o PSV conseguira em uma temporada o que o Ajax, pró-base, não conseguira nas cinco anteriores: passar da fase de grupos.

Mas a preocupação, ainda que eclipsada pela vitória, está aí. Com o cartão amarelo, Luuk de Jong estará suspenso para o primeiro jogo das oitavas de final, em fevereiro ("Eu lamento, devia ter me lembrado antes", comentou o atacante à imprensa após o jogo). E agir nervosamente em jogos decisivos pode ampliar a já clara desvantagem em relação a rivais mais fortes, por mais que eles até sejam desejados ("Eu espero o Barcelona", comentou Joshua Brenet). 

No entanto, de fato, o mais correto atualmente é fazer como Phillip Cocu - que deu inegável salto na incipiente carreira de técnico, ao formar um time consciente e consistente, superando as perdas na janela de transferências. Após o jogo, o ex-volante - que estava na campanha de 2006/07, seu último ano nos Eindhovenaren como jogador - foi indagado na entrevista coletiva sobre seus possíveis adversários nas oitavas. E indagou: "Posso comemorar um pouquinho, antes?". O PSV tem todo o direito, de fato. Mereceu.


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