sábado, 26 de dezembro de 2015

Entrevista: Rodrigo Bueno (3ª parte)

Pela Folha, você cobriu as Copas de 2006 e 2010 (afinal, 2002 não tinha a Oranje); pela FOX Sports, trabalhou na Copa de 2014. Conseguia alguma pauta para trabalhar acompanhando as delegações holandesas?

Cobri a Copa de 2002 in loco também e acabei torcendo pelo Brasil pelas circunstâncias. É bem mais legal cobrir Copa quando a Holanda está presente e quando ela está ainda na competição. Trabalho normalmente de olho em todas as seleções, não posso profissionalmente cobrir apenas a seleção da Holanda. Fiz em 2006 os jogos contra Sérvia e Montenegro e Costa do Marfim (duas vitórias), fiz em 2010 os jogos contra Camarões, Japão, Eslováquia e Espanha (só perdemos a final) e em 2014 comentei a virada sensacional sobre o México nas oitavas. Costumo dar sorte para a Laranja, mas atuei nesses jogos com todo o profissionalismo possível, escrevendo e comentando como um jornalista deve fazer, com isenção. É normal colegas de profissão me perguntarem muita coisa da Holanda porque sabem que acompanho muito o time, acho até que pauto muitos dos meus companheiros. Pautas legais que eu poderia fazer eu acabo terceirizando (risos).   


2014. Copa do Mundo no Brasil. A Oranje chegou meio desacreditada (tanto que você palpitou eliminação na primeira fase), mas conseguiu uma honrosa terceira colocação. Algum momento marcante da campanha da equipe de Louis van Gaal, para você? E qual a análise sobre a campanha? As perspectivas para a qualificação rumo à Copa de 2018 são ruins?

Foi a segunda Copa seguida que a Holanda queimou a minha língua. Ainda bem (risos). Em 2010, também não via a Holanda com muitas chances de ir à final, mesmo tendo consciência de que aquela equipe era muito competitiva. Na verdade, entendo que nesses dois últimos Mundiais a Holanda tinha apenas três craques: Robben, Sneijder e Van Persie. Em 2010, Van Persie não foi bem. Em 2014, Sneijder é quem ficou abaixo. Apesar disso, quem poderia ter nos dado o título mundial foi Robben, que perdeu duas grandes chances na final contra a Espanha em 2010 e a grande chance do jogo contra a Argentina na semifinal de 2014. 

Meu grande momento em 2014 com a Holanda foi o jogo contra o México, o único que comentei da equipe na Copa. Fui para Fortaleza muito animado com a chance de comentar meu primeiro jogo de mata-mata de Copa do Mundo. Sabia que seria um jogo enroscado: o México tem feito duras partidas contra a Holanda e vinha de fato jogando bem. Contra a Holanda, fez boa partida, mas perdeu a vaga nos minutos finais. Na transmissão, foi tudo bem. É claro que me empolguei com o golaço de Sneijder no fim e a virada no pênalti de Huntelaar. Fiz bons amigos mexicanos e os respeitei bastante, até porque eles se sentiram lesados pela arbitragem (não concordaram com o pênalti em cima de Robben de uma forma geral).Eu pude ver boa parte do estádio laranja, a torcida da Holanda é normalmente bem animada, e houve uma grande euforia pelo lado da chave em que a Holanda ficou na Copa. 

Depois de passar por um grupo difícil, o caminho ficou bem acessível até a semifinal. Minhas dúvidas antes da Copa sobre esse elenco da Holanda viraram certeza de que o time renderia bem até o fim, como acabou acontecendo. Era para termos vencido a Costa Rica no tempo normal ainda. Era para termos vencido a Argentina com um gol de Robben no final. E era para termos sido campeões do mundo em cima da Alemanha para vingar 1974. Era... (risos).

Sobre a classificação para a Copa de 2018, estou temeroso. A renovação da equipe se faz necessária e não temos tanto material humano bom assim, tanto que ficamos fora de uma Eurocopa de 24 seleções, algo vergonhoso. Ainda caímos num grupo duro, em que há uma França favorita e uma Suécia perigosa com Ibrahimovic. Não será nada fácil. Corremos sim risco considerável de terminarmos em terceiro lugar.

Depois da bonança de 2014, a tempestade, com a ausência na Euro 2016. Algum comentário do jornalista/torcedor para explicar o vexame nas eliminatórias?

Não há muito como explicar esse vexame. A Holanda precisou se esforçar muito para nem ir à repescagem. Perder da República Tcheca é algo até normal ao longo da história, mas ser derrotado duas vezes pela Islândia foi demais. Perder fora para a Turquia também é algo que dá para entender na fase atual de transição do time, mas a própria Turquia vacilou muito e deu todas as chances para a Holanda ficar ao menos em terceiro lugar. Após a Copa, alguns jogadores caíram muito de produção. É o caso de Blind e Van Persie, por exemplo. Houve troca no comando técnico, o que não é recomendável, e a sucessão do Van Gaal não foi bem conduzida. Alguns jogadores importantes se lesionaram, caso de Robben na reta final. 

Creio que a Holanda também se deixou levar muito pela boa campanha na Copa e pela suposta fragilidade do grupo. Em alguns jogos, parecia achar que venceria naturalmente. Foi assim contra a Islândia e a própria Turquia em casa. Teve um pouco de salto alto também porque parecia fácil demais a classificação. O time se deu ao luxo de mudar o esquema da Copa, em que a defesa contava com cinco homens e muita proteção, para ficar mais ousada, mais adequada ao sistema holandês. O time não melhorou na frente e piorou muito atrás. Não temos grandes defensores. Esses foram bem antes porque estavam bem protegidos. Que a experiência sirva de lição para os próximos anos. E que a Holanda rapidamente produza novos craques.


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