Pela Folha,
você cobriu as Copas de 2006 e 2010 (afinal, 2002 não tinha a Oranje); pela FOX
Sports, trabalhou na Copa de 2014. Conseguia alguma pauta para trabalhar
acompanhando as delegações holandesas?
Cobri a Copa de 2002
in loco também e acabei torcendo pelo Brasil pelas circunstâncias. É bem mais
legal cobrir Copa quando a Holanda está presente e quando ela está ainda na
competição. Trabalho normalmente de olho em todas as seleções, não posso profissionalmente
cobrir apenas a seleção da Holanda. Fiz em 2006 os jogos contra Sérvia e
Montenegro e Costa do Marfim (duas vitórias), fiz em 2010 os jogos contra
Camarões, Japão, Eslováquia e Espanha (só perdemos a final) e em 2014 comentei
a virada sensacional sobre o México nas oitavas. Costumo dar sorte para a
Laranja, mas atuei nesses jogos com todo o profissionalismo possível,
escrevendo e comentando como um jornalista deve fazer, com isenção. É normal
colegas de profissão me perguntarem muita coisa da Holanda porque sabem que
acompanho muito o time, acho até que pauto muitos dos meus companheiros. Pautas
legais que eu poderia fazer eu acabo terceirizando (risos).
2014. Copa do Mundo
no Brasil. A Oranje chegou meio desacreditada (tanto que você palpitou
eliminação na primeira fase), mas conseguiu uma honrosa terceira colocação.
Algum momento marcante da campanha da equipe de Louis van Gaal, para você? E
qual a análise sobre a campanha? As perspectivas para a qualificação rumo à
Copa de 2018 são ruins?
Foi a segunda Copa
seguida que a Holanda queimou a minha língua. Ainda bem (risos). Em 2010, também
não via a Holanda com muitas chances de ir à final, mesmo tendo consciência de
que aquela equipe era muito competitiva. Na verdade, entendo que nesses dois últimos
Mundiais a Holanda tinha apenas três craques: Robben, Sneijder e Van Persie. Em
2010, Van Persie não foi bem. Em 2014, Sneijder é quem ficou abaixo. Apesar
disso, quem poderia ter nos dado o título mundial foi Robben, que perdeu duas
grandes chances na final contra a Espanha em 2010 e a grande chance do jogo
contra a Argentina na semifinal de 2014.
Meu grande momento em 2014 com a
Holanda foi o jogo contra o México, o único que comentei da equipe na Copa. Fui
para Fortaleza muito animado com a chance de comentar meu primeiro jogo de
mata-mata de Copa do Mundo. Sabia que seria um jogo enroscado: o México tem
feito duras partidas contra a Holanda e vinha de fato jogando bem. Contra a
Holanda, fez boa partida, mas perdeu a vaga nos minutos finais. Na transmissão,
foi tudo bem. É claro que me empolguei com o golaço de Sneijder no fim e a
virada no pênalti de Huntelaar. Fiz bons amigos mexicanos e os respeitei
bastante, até porque eles se sentiram lesados pela arbitragem (não concordaram
com o pênalti em cima de Robben de uma forma geral).Eu pude ver boa parte do
estádio laranja, a torcida da Holanda é normalmente bem animada, e houve uma
grande euforia pelo lado da chave em que a Holanda ficou na Copa.
Depois de
passar por um grupo difícil, o caminho ficou bem acessível até a semifinal.
Minhas dúvidas antes da Copa sobre esse elenco da Holanda viraram certeza de
que o time renderia bem até o fim, como acabou acontecendo. Era para termos
vencido a Costa Rica no tempo normal ainda. Era para termos vencido a Argentina
com um gol de Robben no final. E era para termos sido campeões do mundo em cima
da Alemanha para vingar 1974. Era... (risos).
Sobre a classificação para a Copa de
2018, estou temeroso. A renovação da equipe se faz necessária e não temos tanto
material humano bom assim, tanto que ficamos fora de uma Eurocopa de 24
seleções, algo vergonhoso. Ainda caímos num grupo duro, em que há uma França
favorita e uma Suécia perigosa com Ibrahimovic. Não será nada fácil. Corremos
sim risco considerável de terminarmos em terceiro lugar.
Depois da bonança de
2014, a tempestade, com a ausência na Euro 2016. Algum comentário do
jornalista/torcedor para explicar o vexame nas eliminatórias?
Não há muito como
explicar esse vexame. A Holanda precisou se esforçar muito para nem ir à
repescagem. Perder da República Tcheca é algo até normal ao longo da história,
mas ser derrotado duas vezes pela Islândia foi demais. Perder fora para a
Turquia também é algo que dá para entender na fase atual de transição do time,
mas a própria Turquia vacilou muito e deu todas as chances para a Holanda ficar
ao menos em terceiro lugar. Após a Copa, alguns jogadores caíram muito de
produção. É o caso de Blind e Van Persie, por exemplo. Houve troca no comando
técnico, o que não é recomendável, e a sucessão do Van Gaal não foi bem
conduzida. Alguns jogadores importantes se lesionaram, caso de Robben na reta
final.
Creio que a Holanda também se deixou levar muito pela boa campanha na
Copa e pela suposta fragilidade do grupo. Em alguns jogos, parecia achar que
venceria naturalmente. Foi assim contra a Islândia e a própria Turquia em casa.
Teve um pouco de salto alto também porque parecia fácil demais a classificação.
O time se deu ao luxo de mudar o esquema da Copa, em que a defesa contava com
cinco homens e muita proteção, para ficar mais ousada, mais adequada ao sistema
holandês. O time não melhorou na frente e piorou muito atrás. Não temos grandes
defensores. Esses foram bem antes porque estavam bem protegidos. Que a
experiência sirva de lição para os próximos anos. E que a Holanda rapidamente
produza novos craques.
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