quarta-feira, 29 de março de 2017

Pelo menos isso

A Holanda implora por um rumo a seguir, e lamenta as sucessivas decepções. Como Martins Indi fez durante o amistoso contra a Itália (Maurice van Steen/VI Images)
Depois de tudo que aconteceu após a derrota para a Bulgária, o amistoso contra a Itália, nesta terça, na Amsterdam Arena, era o menos importante para a seleção holandesa. Tão logo veio a notícia esperada da demissão de Danny Blind, torcida e imprensa se consumiram no debate sobre quem poderia ser o substituto. Com as opções cada vez mais diminutas (Frank de Boer está longe de ser unanimidade; Giovanni van Bronckhorst e Phillip Cocu seriam apostas; Ronald Koeman não quer, e repetiu isso à revista Voetbal International - "Eles já tiveram a chance deles"), começaram os pedidos para que Louis van Gaal aceitasse deixar a ideia do fim oficioso de sua carreira, para treinar a Laranja pela terceira vez. Num ambiente assim, a única coisa que se esperava era que a Holanda, pelo menos, não desse vexame, já que uma derrota era mais do que previsível. 

A homenagem a Clarence Seedorf, por seu histórico como jogador da equipe (recebeu o título e o broche de "embaixador" da federação, após 87 partidas pela Oranje, entre 1994 e 2008), só trouxe mais lembranças do que a seleção holandesa um dia já foi. Assim como a presença de Louis van Gaal no estádio, que só aumentava o alarido sobre o interesse da KNVB em sua volta. Ninguém estava ligando muito para as mudanças até surpreendentes feitas pelo interino Fred Grim em relação ao time que jogara em Sófia. Na zaga, a esperada escalação de Wesley Hoedt, já que a experiência com Matthijs de Ligt dera muito errado; na lateral direita, Kenny Tete ganhava uma chance; no ataque, a grande alteração, com Memphis Depay experimentado no meio da área, enquanto Jeremain Lens assumia a ponta direita - Arjen Robben ficou no banco.

No primeiro tempo, com uma Itália mais fechada, a Holanda teve o espaço para atacar. Até começou mais perigosa, trocando passes e chegando pelos lados do campo. E mereceu o primeiro gol, aos 11', quando Alessio Romagnoli desviou acidentalmente para as redes uma finalização de Quincy Promes. Porém, bastaram apenas 67 segundos para que outra falha crônica da seleção holandesa se fizesse sentir: o espaço dado para contra-ataques, e a liberdade dada aos jogadores adversários. Assim Éder teve a possibilidade de ajeitar a bola, após Wesley Hoedt tirar parcialmente, e finalizar de fora da área, com precisão, no canto direito de Jeroen Zoet, para o 1 a 1.

Bastou: a Azzurra pôde se colocar organizada na defesa, enquanto a Oranje ficaria no seu estilo infrutífero de troca de passes, para tentar achar um espaço, que não aparecia.Só apareceu numa bola aérea, quando Bruno Martins Indi completou um escanteio cabeceando no travessão, aos 25'. Minutos depois, os italianos deixarem claro qual era a melhor equipe, aos 32', virando o jogo também numa bola parada: após escanteio, Marco Parolo cabeceou, Zoet rebateu, mas Leonardo Bonucci estava lá para conferir o rebote.

No segundo tempo, com a entrada de Tonny Vilhena, periodicamente a Holanda teve a bola, e até voltou a rondar a área - quase conseguindo o empate num chute colocado de Promes, bem defendido por Gianluigi Donnarumma, aos 58'. Mas, de modo geral, seguia a roda-viva: toques para achar espaço na frente, espaço para contra-ataques adversários atrás. Num desses contra-ataques, Andrea Belotti (outra grande expectativa da Azzurra) bateu forte para boa defesa de Zoet, aos 70'; noutro, aos 81', Leonardo Spinazzola quase fez o terceiro gol transalpino, forçando o goleiro holandês a rebater. Nos minutos finais, entre outras alterações, Sneijder entrou em campo. E dele partiram as tentativas derradeiras para o empate: dois chutes, aos 85' e 87', que já serviram para justificar a escalação de Donnarumma, realmente destinado a ser o camisa 1 da Azzurra após Gianluigi Buffon.

Restou a Fred Grim (que não sabe se ficará na próxima comissão técnica holandesa) elogiar pontualmente: "Jogamos com fluência e vontade, mas cedemos os gols com muita facilidade". Restou a Kevin Strootman, que começou como capitão, elogiar o demissionário Danny Blind ("Quando ele foi demitido, contou a todos nós, e nos disse belas palavras. Não é algo comum com técnicos demitidos, voltar para falar com o elenco"). E resta à federação encontrar um técnico, para as próximas datas FIFA, em junho (amistosos contra Costa do Marfim e Marrocos, além do jogo contra Luxemburgo, pelas eliminatórias da Copa de 2018). Inclusive, talvez, com a ajuda dos dois veteranos principais do grupo - claro, Sneijder e o autor da ideia, Robben: "Já falei que queremos estar envolvidos [na escolha]. Estamos na seleção há 14 anos, e sabemos do que o grupo precisa, e o que se quer do novo treinador".

Finalmente, resta um consolo inútil à seleção holandesa: se o fim destas datas FIFA foi com sofrimento, pelo menos não houve vexame.

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