terça-feira, 10 de junho de 2025

Obrigação bem feita

Expectativas cumpridas: a Holanda (Países Baixos) goleou Malta, começa bem as eliminatórias para a Copa de 2026, e de quebra ainda teve Memphis Depay igualando recorde (Roy Lazet/Soccrates/Getty Images) 

Após o começo seguro contra Finlândia, nas eliminatórias da Copa de 2026, a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) tinha um jogo planejado para ter clima festivo. A volta a um estádio em Groningen, após 42 anos; Malta, um adversário facilmente superável; um time se mostrando promissor; com esses fatores, era praticamente obrigatório conseguir uma vitória - e quanto mais gols, melhor. Se era quase uma obrigação vencer, foi bem feita: a goleada por 8 a 0 deixa a Laranja em ótimas condições para a sequência das eliminatórias. Mais do que isso: dá a impressão de que a campanha de qualificação tem tudo para ser tranquila, ao contrário do fracasso rumo a Rússia-2018 e das turbulências até o final feliz rumo a Catar-2022.

Em algumas análises da imprensa holandesa, constava que Malta era uma seleção que não ficava somente na defesa, mas dava espaços generosos nas laterais. Algo temerário, contra uma Laranja com Denzel Dumfries na direita e (nesta terça) Micky van de Ven na esquerda. E a seleção neerlandesa já aproveitou no começo: logo aos 4', Xavi Simons cruzou e Justin Kluivert completou para fora. Mais alguns minutos, e em jogada iniciada por Van de Ven, Memphis Depay ajeitou, e Justin Kluivert foi atingido por trás pelo lateral Juan Corbolan. Pênalti - o VAR ainda chamou o juiz Ricardo de Burgos para rever, mas ele manteve a decisão -, e Memphis Depay fez seu 49º gol pela Laranja. Só um abaixo do recorde de Robin van Persie. As condições estavam postas para que a marca fosse igualada. Foi, e nem demorou tanto assim: aos 16', Dumfries cruzou, Xavi Simons fez o corta-luz, e o espaço ficou aberto para o camisa 10 holandês bater forte, fazer 2 a 0 e se tornar um dos maiores goleadores da história da Laranja.

Memphis Depay agradece os aplausos da torcida. Aplausos merecidos, não só pelo recorde, mas por sua boa atuação (Marcel ter Bals/DeFodi Images/DeFodi/Getty Images)

Vantagem aberta, bem que Malta ainda tentou avançar (chutes de fora da área, quase em sequência, por Alexander Satariano e Matthew Guillaumier). Mas essas tentativas foram neutralizadas pelo terceiro gol, aos 20', com um dos jogadores mais festejados do dia em Groningen: Virgil van Dijk, de volta ao estádio em que começou a carreira para valer, chutando de fora após passe de Frenkie de Jong, aproveitando a sobra de chute de Kluivert. Com tamanha velocidade pelas pontas, era só aproveitar as chances, para que a goleada já fosse estabelecida. Mas elas não foram aproveitadas: De Jong chutou por cima aos 26', Stefan de Vrij (titular nesta terça) cabeceou para fora aos 36', Denzel Dumfries completou para fora cruzamento de Van de Ven que passara por toda a área, aos 38'... e independente disso, o ritmo da Holanda ficou mais lento à medida que o primeiro tempo transcorria. A torcida em Groningen ainda estava satisfeita. Mas deixaria de estar, se a partida seguisse assim.

Mesmo com algumas mudanças no intervalo (Mats Wieffer e Noa Lang foram a campo), o começo do segundo tempo também não foi lá de se entusiasmar. Xavi Simons cabeceou para fora aos 47', Van de Ven mandou arremate perigoso aos 51', Wieffer quase marcou após bate-rebate em escanteio aos 54'... mas disso não se passava. Começou a passar somente aos 61', com o quarto gol completando jogada entrosada entre três (Kluivert ajeitou, Memphis Depay passou em profundidade, Xavi Simons chutou em diagonal na área - a alguns, a jogada lembrou até o gol decisivo de Marco van Basten na semifinal da Euro 1988).

Malen acelerou de novo o ritmo da Laranja (Koen van Weel/ANP/Getty Images)

Mas o ritmo da Holanda só voltou a ficar alto com a entrada de Donyell Malen, aos 73'. Até porque ele participou dos três gols seguintes. O primeiro, marcando, em seu primeiro toque na bola, após cruzamento de Van de Ven; o segundo, cruzando para Noa Lang fazer, aos 78'; e o terceiro, marcando de novo - e em grande estilo, driblando antes do chute que estufou as redes do goleiro Henry Bonello. A festa já estava completa, mas Van de Ven ainda quis colocar a cereja no bolo, marcando seu primeiro gol pela seleção, nos acréscimos.

Um fim digno da boa impressão que a Laranja causou, corroborada por ser este seu melhor começo de sempre em eliminatórias de Copas masculinas (dois jogos, duas vitórias, +10 gols de saldo). Tendo em vista que a Polônia foi vencida pela Finlândia (2 a 1 em Helsinque), que já caiu para a Laranja, a expectativa é de que, cumprido o bom começo, os neerlandeses cumpram o que é considerada a "obrigação" seguinte: alcançar a primeira posição do grupo G e ir à Copa de 2026.

Eliminatórias para a Copa de 2026 - Europa - Grupo G

Holanda 8x0 Malta
Data: 10 de junho de 2025
Local: Euroborg (Groningen)
Juiz: Ricardo de Burgos (Espanha)
Gols: Memphis Depay, aos 9' e aos 16', Virgil van Dijk, aos 20', Xavi Simons, aos 61', Donyell Malen, aos 74' e aos 80', Noa Lang, aos 78', e Micky van de Ven, aos 90' + 3

HOLANDA
Mark Flekken; Denzel Dumfries (Lutsharel Geertruida, aos 79'), Virgil van Dijk, Stefan de Vrij e Micky van de Ven; Ryan Gravenberch (Mats Wieffer, aos 46'), Justin Kluivert (Wout Weghorst, aos 62') e Frenkie de Jong; Xavi Simons, Memphis Depay (Donyell Malen, aos 73') e Cody Gakpo (Noa Lang, aos 46'). Técnico: Ronald Koeman

MALTA
Henry Bonello; Juan Corbolan (Basil Tuma, aos 46'), Gabriel Mentz, James Carragher e Ryan Camenzuli (Jake Azzopardi, aos 81'); Matthew Guillaumier e Alexander Satariano (Myles Beerman, aos 81'); Teddy Teuma (Jedi Felice Jones, aos 60'); Adam Overend (Kurt Shaw, aos 46'), Paul Mbong e Joseph Mbong. Técnico: Emilio de Leo

sábado, 7 de junho de 2025

Tranquilo

Gakpo e Memphis comemoram o primeiro gol de uma vitória tranquila para a Holanda (Países Baixos) nas eliminatórias da Copa de 2026 (Maurice van Steen/ANP/Getty Images)

"Eu estava um pouco nervoso antes do jogo. Era o começo das eliminatórias." Foi o que o técnico Ronald Koeman confessou ao repórter Jeroen Stekelenburg, da emissora NOS, pouco depois da vitória por 2 a 0 sobre a Finlândia, primeiro jogo da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) na qualificação da Copa de 2026. De certa forma, tinha lá seus motivos: a Laranja precisa vencer nestes jogos iniciais, para ocupar o terreno e tomar da Polônia (já com seis pontos) a liderança e a vaga direta no Mundial que todos imaginam para ela. Se esse era o medo, acabou logo: mesmo fora de casa, os neerlandeses dominaram, se impuseram rapidamente, deixaram claro que têm condições de manterem atenção nas partidas e cumprirem os prognósticos para as eliminatórias.

Bastaram os primeiros minutos de jogo para ficar claro o que seria o jogo: a Holanda com a posse de bola, a Finlândia esperando por uma chance para contra-atacar (apostando no talento de Oliver Antman, no meio-campo, e quem sabe numa finalização de Joel Pohjanpalo). Contudo, as perspectivas finlandesas foram por água abaixo com um erro: após passe de Jeremie Frimpong parcialmente afastado, o meio-campo Kaan Kairinen tentou recuar a bola para a defesa. Faltou ver que Memphis Depay estava à espreita, pronto para fazer o que fez: dominar o "presente", entrar na área e tocar no canto esquerdo do goleiro Lukas Hradecky - completando 100 jogos pela Finlândia - para fazer 1 a 0, o 48º gol de Memphis vestindo laranja.

Se estava difícil achar espaços com o toque de bola, pelo chão, os neerlandeses acharam espaço nos cruzamentos. No primeiro, aos 11', Cody Gakpo cruzou da esquerda, Frimpong cabeceou e Hradecky evitou o gol em cima da linha. No segundo, aos 15', Frimpong mandou a bola do outro lado, mas Dumfries mandou para fora. No terceiro, aos 20', Hradecky saiu do gol e pegou a bola após novo cruzamento de Gakpo. E no quarto, aos 20', enfim o 2 a 0: Gakpo cruzou, Dumfries entrou e finalizou de primeira.

Mesmo com Dumfries presente, Frimpong seguiu na ponta direita. E seguiu bem (Roy Lazet/Soccrates/Getty Images)

Vantagem segura no placar, a Holanda controlou mais o ritmo da partida em Helsinque. Deixou de pressionar tanto, até cedeu alguns espaços, mas a Finlândia só tentou aproveitá-los uma vez: aos 25', quando Oliver Antman veio pela esquerda com a bola, chutou, e o goleiro Mark Flekken pegou, após desvio em Dumfries. Mas eram só momentos esporádicos: a Laranja seguia mantendo o domínio, e tentou o terceiro gol em momentos como chutes de Memphis Depay (aos 27') e Gakpo (aos 33', com desvio), ambos para fora.

No segundo tempo, a Holanda já começou em ritmo de administração de resultado. Baixou a guarda um pouco demais - tanto que a Finlândia teve espaço para um contragolpe com Pohjanpalo, aos 50', após jogada individual (Nathan Aké afastou o cruzamento do atacante). Contudo, sempre que os finlandeses ousavam, a Laranja mostrava quem mandava. Foi assim aos 55', quando quase o terceiro gol saiu - Tijjani Reijnders tabelou com Memphis Depay, recebeu de volta, mas finalizou para fora. E no minuto seguinte, após erro finlandês na defesa, um passe de Virgil van Dijk deixou Memphis livre para chutar, mas Hradecky rebateu seu chute.

Com as alterações que vieram, os dois times ficaram algo descaracterizados. Mas a Finlândia não conseguia a finalização, por mais que rondasse o ataque mais vezes do que no primeiro tempo. E bastava a Holanda chegar para criar chances. Aos 68', arremate de Cody Gakpo, na rede pelo lado de fora; aos 73', Hradecky rebateu tentativa de Micky van de Ven; e aos 83', Gravenberch lançou em profundidade, Wout Weghorst ajeitou, e Frenkie de Jong bateu em diagonal, para fora. Só depois disso, aos 86', enfim a Finlândia tentou, num chute - fraco - de Antman (o melhor finlandês em campo). Que Flekken pegou, tendo a segurança que às vezes lhe faltou na reposição de bola com os pés.

Nada que perturbasse um jogo tranquilo para a Holanda, garantindo bom começo nas eliminatórias da Copa. A expectativa é que isso continue contra Malta, inferior (até bastante) à Finlândia, no segundo jogo, na próxima terça. Até porque a Laranja se mostrou capaz de facilitar as coisas e se impor.

Eliminatórias para a Copa de 2026 - Europa - Grupo G

Finlândia 0x2 Holanda
Data: 7 de junho de 2025
Local: Estádio Olímpico (Helsinque)
Juiz: Daniel Siebert (Alemanha)
Gols: Memphis Depay, aos 6', e Denzel Dumfries, aos 23'

FINLÂNDIA
Lukas Hradecky; Nikolai Alho (Ilmari Niskanen, aos 70'), Robert Ivanov (Onni Valakari, aos 76'), Arttu Hoskonen e Jere Uronen; Matti Peltola e Miro Tenho (Glen Kamara, aos 70'); Oliver Antman, Kaan Kairinen e Robin Lod (Fredrik Jensen, aos 55'); Joel Pohjanpalo (Benjamin Källman, aos 55'). Técnico: Jacob Friis

HOLANDA
Mark Flekken; Denzel Dumfries, Virgil van Dijk, Jan Paul van Hecke (Stefan de Vrij, aos 46') e Nathan Aké (Micky van de Ven, aos 62'); Ryan Gravenberch, Tijjani Reijnders (Justin Kluivert, aos 69') e Frenkie de Jong; Jeremie Frimpong, Memphis Depay (Wout Weghorst, aos 69') e Cody Gakpo (Xavi Simons, aos 84'). Técnico: Ronald Koeman


quarta-feira, 4 de junho de 2025

Futuro do passado

Malen, Frimpong, Noa Lang, Xavi Simons (da esquerda para a direita): a nova geração parece pedir passagem na Holanda, e é isso que muitos querem (KNVB Media/Divulgação)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) terminou as datas FIFA de março deixando ótima impressão na torcida. Certo, perdeu as quartas de final da Liga das Nações para a Espanha. Ainda assim, jamais se rendeu: levou as duas partidas a empates, teve momentos de superioridade sobre os espanhóis, mostrou espírito ofensivo e promissor como poucas vezes se viu nesta segunda passagem de Ronald Koeman no comando da Laranja. E é assim que torcida e imprensa locais esperam ver a equipe neerlandesa no caminho das eliminatórias da Copa de 2026, que começa nestas datas FIFA, contra Finlândia (sábado, 7, às 15h45 de Brasília, em Helsinque) e Malta (terça, 10, também às 15h45 do horário brasileiro, em Groningen - que volta a receber uma partida da seleção masculina, após 42 anos). Porém, já há a desconfiança de que não será assim.

A convocação de Ronald Koeman já foi criticada antes mesmo da bola rolar, por algumas opções consideradas conservadoras demais. No gol, trouxe algum burburinho a chamada de Kjell Scherpen, que há algum tempo perdeu a aura de "revelação" que tinha anos atrás, quando titular da seleção holandesa sub-21 (e jogando aqui e ali pelo Ajax). Mas foi um burburinho menor, até porque Scherpen será o terceiro goleiro: com o titular usual Bart Verbruggen poupado, por lesão leve, terá chances Mark Flekken, como o coroamento de uma boa fase, com a confirmação da transferência para o Bayer Leverkusen e a inclusão entre os 10 melhores goleiros do mundo em lista da IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol) - lista que incluiu o brasileiro João Ricardo, do Fortaleza.

O alarido ficou maior nas opções de linha feitas por Koeman. Na lateral esquerda, nada de Ian Maatsen; no meio, nada de Kenneth Taylor ou mesmo o jovem Sem Steijn, jamais convocado, goleador do Campeonato Holandês (24 gols pelo Twente - desde Jari Litmanen pelo Ajax, em 1993/94, um meio-campista não fazia tantos gols pela Eredivisie), rumando agora para o Feyenoord. E no ataque, nada de chances a nomes como Mexx Meerdink (AZ), Joël Piroe ou Zian Flemming, destaques em dois clubes que acabam de subir à primeira divisão inglesa - Piroe no Leeds United, Flemming no Burnley. Por mais que mereçam - e até merecem, pois têm experiência que não pode ser descartada -, Memphis Depay ou Wout Weghorst não encantam mais a torcida.

Ainda assim, Koeman defende a continuidade já estabelecida em seu time, a partir da coletiva de imprensa da terça passada, se referindo especialmente ao caso de Steijn: "Não depende só de quantos gols se faz, mas também é importante que o pessoal saiba que temos um grupo fixo. Se eu convocasse novos nomes, como ficariam os convocados contra a Espanha [na Liga das Nações]? O desafio para Steijn é mostrar na próxima temporada o que mostrou nesta". A postura causa polêmicas. Ainda mais porque a seleção sub-21 da Holanda (Países Baixos) se prepara para a Euro da categoria, na Eslováquia, a partir do dia 11, com uma geração considerada muito promissora - tendo até nomes como os citados Maatsen e Taylor -, e vinda de 100% nas eliminatórias (10 jogos, 10 vitórias), sob o comando do técnico Michael Reiziger. Sim, a Laranja Jovem pode não ter jovens badalados como França ou Portugal, mas tem tudo para boa campanha nesta Eurocopa juvenil.

Mas as polêmicas ainda são controladas. Bem ou mal, Koeman deixou claro que quer o que todos quantos acompanhem a Laranja querem: a repetição do padrão visto nos jogos de março contra a Espanha ("Se conseguimos jogar assim contra uma das melhores seleções do mundo, isso dá muita confiança"). E sabe que isso é possível, tendo em vista que se a Holanda perdeu na Liga das Nações, ganhou ao cair num grupo dos mais acessíveis nas eliminatórias europeias da Copa - o G, com Polônia, Finlândia, Lituânia e Malta ("É obrigatório terminarmos o grupo [das eliminatórias] em primeiro lugar. Mas primeiro, não devemos subestimar ninguém. Agora, que jogamos bem contra a Espanha, parece fácil, mas precisamos mostrar o que mostramos nos últimos jogos").

Todos "amam" Tijjani Reijnders. O Manchester City, ainda mais: contratação próxima para o meio-campista, tão titular da Laranja quanto Frenkie de Jong (KNVB Media/Divulgação)

E a Holanda é capaz disso, de fato. Se antes a fartura de opções se via mais na defesa - e ela continua assim: Denzel Dumfries, Virgil van Dijk (estes dois, absolutos em suas posições), Nathan Aké (voltando de lesão), o veterano Stefan de Vrij, Micky van de Ven, Jan Paul van Hecke -, agora a Laranja também não reclama de meio-campo. Se antes o setor parecia depender demais de Frenkie de Jong (que sofria com lesões), agora ele não só se mostrou redivivo em boa temporada europeia do Barcelona, como tem mais nomes de boa qualidade a seu lado. Como Ryan Gravenberch, também recuperado no Liverpool - a ponto de ter sido eleito o melhor jovem da temporada na Inglaterra (mesmo já tendo sete anos desde sua aparição no Ajax, em 2018/19). Ou como o badalado Tijjani Reijnders, cada vez mais titular holandês, cada vez mais perto de uma transferência para o Manchester City ("Eles ainda estão conversando com o Milan, nem me importo muito, quem cuida disso é meu pai. Mas claro que jogar na Premier League seria um sonho de criança").

A impressão é de que só falta um atacante de alto nível, como os de tempos idos, para a Holanda subir de prateleira definitivamente entre as seleções europeias. E o pedido é de que Ronald Koeman passe cada vez mais a notar que pode ousar mais, para que a Laranja não tenha somente o futuro do passado entre seus jogadores

Os 23 convocados da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiros: Mark Flekken (Bayer Leverkusen-ALE), Nick Olij (Sparta Rotterdam) e Kjell Scherpen (Sturm Graz-AUT)

Defensores: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Jeremie Frimpong (Liverpool-ING), Lutsharel Geertruida (RB Leipzig-ALE), Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Jan Paul van Hecke (Brighton-ING), Stefan de Vrij (Internazionale-ITA), Micky van de Ven (Tottenham Hotspur-ING), Nathan Aké (Manchester City-ING) e Jorrel Hato (Ajax)

Meio-campistas: Frenkie de Jong (Barcelona-ESP), Tijjani Reijnders (Milan-ITA), Xavi Simons (RB Leipzig-ALE), Ryan Gravenberch (Liverpool-ING), Mats Wieffer (Brighton-ING) e Justin Kluivert (Bournemouth-ING)

Atacantes: Memphis Depay (Corinthians), Cody Gakpo (Liverpool-ING), Wout Weghorst (Ajax), Noa Lang (PSV) e Donyell Malen (Aston Villa-ING)

terça-feira, 3 de junho de 2025

Sinal fechado

A cabeça baixa de Romée Leuchter indica: as últimas rodadas da Liga das Nações deixaram muita preocupação sobre a seleção feminina da Holanda, com vistas à Euro (Stan Oosterhof/Soccrates/Getty Images)

Desde que saiu o sorteio dos grupos da Eurocopa feminina, as perspectivas sobre a seleção da Holanda (Países Baixos) são mistas. Ao mesmo tempo em que enfrentar Inglaterra (atual campeã) e França já será certeza de grandes desafios desde a fase de grupos, ficavam as esperanças de que as Leoas Laranjas teriam, sim, condições de vencerem o equilíbrio e irem às quartas de final, por terem um time entrosado, com boas jogadoras - a começar do gol, com Daphne van Domselaar em ótima forma, e seguindo até a esperança de que Vivianne Miedema se livre das lesões. Pois é: as esperanças diminuíram bastante, com as últimas rodadas da fase de grupos da Liga das Nações. Já teriam diminuído só com os 4 a 0 sofridos para a Alemanha, na sexta-feira passada. O empate em 1 a 1 com a Escócia - lanterna do grupo 1 da Liga A, sem pontos até esta terça-feira - apenas deixou mais dúvidas sobre as capacidades neerlandesas. Dúvidas despertadas desde o primeiro minuto de bola rolando contra as alemãs.

Nem demorou tanto assim para a Alemanha começar a acelerar a troca de passes, começar a envolver a defesa holandesa, começar a chegar perto do gol. Foi assim já aos 8', quando Giulia Gwinn recebeu passe de calcanhar de Klara Bühl e chutou. Daquela vez, Dominique Janssen bloqueou. No minuto seguinte, após rebote parcial de escanteio, não houve jeito: Bühl cruzou, Janina Minge ajeitou, e Linda Dallmann completou com precisão, no ângulo esquerdo de Lize Kop, para fazer 1 a 0. Era só o começo: as alemãs acuavam as holandesas na defesa, tentavam cruzamentos pelos dois lados, não davam espaço para a Holanda tentar a troca de passes (e nem a Holanda tentava, a bem da verdade). Jeroen Elshoff, narrador da emissora NOS, lamentava: "Het is bijna niet te stoppen" - em holandês, "quase não dá para parar".

A única menção leve de ataque holandês foi aos 21': em escanteio cobrado por Jill Roord, a zagueira Buurman cabeceou, mas a goleira Ann-Katrin Berger pegou. Nada que a Alemanha não restabelecesse rapidamente. Primeiro, aos 23', quando Lea Schüller cabeceou para fora. Depois, com o segundo gol, aos 25': Kerstin Casparij (atuação muito frágil na marcação) perdeu a bola, Sjoeke Nüsken passou para Jule Brand, esta cruzou, e Lea Schüller desviou rasteiro. E foram mais jogadas alemãs, diante de uma Holanda frágil na defesa - principalmente nas laterais, com Casparij e Esmee Brugts sem conseguirem conter nem Minge, nem Gwinn, nem Bühl (talvez o nome do jogo). Com a fragilidade, vieram os espaços que normalmente vêm quando as Leoas Laranjas jogam mal. E foram aproveitados no último minuto do primeiro tempo, quando Minge lançou e Sarai Linder veio da lateral esquerda para, livre, correr com a bola até a área, tocar na saída de Kop e fazer 3 a 0.

Vieram alterações ao final do intervalo. Sherida Spitse para, quem sabe, fortalecer a saída de bola da defesa; Lynn Wilms para fortalecer a marcação na direita, no lugar de Casparij; e Victoria Pelova tentando manter a bola no meio-campo, nas poucas vezes em que a Holanda a tivesse. Mudanças? Antes mesmo que elas talvez tivessem efeito, Dallmann deu passe de calcanhar que deixou Gwinn livre para cruzar a bola na cabeça de Schüller, superando Spitse na marcação para transformar a vitória por 3 a 0 em goleada (4 a 0). Goleada que poderia ter ficado maior ainda aos 56', quando Bühl, onipresente, cobrou escanteio, e Roord tirou em cima da linha para evitar o gol olímpico. Ou mesmo aos 65', quando Kop rebateu chute da meio-campista alemã. Chances, para a Holanda, somente nos minutos finais - mais precisamente, nos acréscimos, quando Wilms cruzou e Daniëlle van de Donk (substituta de Roord) completou para fora. Notas de rodapé numa goleada que fez das alemãs semifinalistas antecipadas da Liga das Nações.

A goleada fez mais: mostrou como a seleção feminina neerlandesa seguia com alguns pontos frágeis rumo à Eurocopa. Claro, haveria mudanças na escalação contra a Escócia, dentro de um cenário em que a preparação para a Eurocopa era mais importante. Tão importante que Vivianne Miedema foi desligada da delegação, nesta segunda, com o técnico Andries Jonker antecipando: a atacante já entrará em preparação, combinada e preparada com o fisiologista da delegação, para chegar ao dia 19, data da apresentação das convocadas para a Euro, em condições de participar do torneio continental. Andries Jonker até evocou uma lembrança masculina: Arjen Robben, machucado no último amistoso holandês antes da Copa de 2010, que só jogou aquele torneio ao se preparar, dia e noite, na semana anterior. "Vivianne é do mesmo tipo dele, e vai fazer de tudo para estar lá no dia 19. Acho que vai dar certo. Ela quer muito estar na Euro, e isso mostra a jogadora de alto nível que é".

Jill Roord foi quem mais apareceu nos (poucos) bons momentos das Leoas Laranjas contra a Escócia (Alex Bierens de Haan/Getty Images)

O alto nível até começou sendo visto no time holandês que enfrentou a Escócia, em Tilburg. Curiosamente, duas conhecidas apareciam mais nas jogadas de ataque: Van de Donk (agora titular) e, principalmente, Jill Roord. Que, desta vez, abriu o placar, aos 10', após tentar uma primeira vez - a goleira Lee Alexander Gibson rebatera a primeira, mas Van de Donk cruzou na sobra. Tendo em vista os espaços que a Holanda tinha para avançar e chutar da entrada da área - Esmee Brugts fez isso aos 16', e Roord, aos 21' e aos 26', com Gibson pegando as duas tentativas -, era de se prever vitória tranquila das Leoas Laranjas. 

Previsão que se acabou aos 27', num erro da defesa: Caitlin Dijkstra mandou a bola nos pés de Emma Lawton, que cruzou com precisão para Kathleen Mary McGovern cabecear e fazer 1 a 1 (de volta ao gol, Daphne van Domselaar tentou rebater, mas a bola entrou). A partir dali, a Escócia começou a avançar mais, como se notou no chute cruzado de Mia McAuley, aos 38', para fora, em jogada originada de mais um erro de passe. Pelo menos, a Holanda ainda teve chances na reta final da etapa inicial: novo chute de Roord aos 34', um desvio de Romée Leuchter completando escanteio aos 38', um cabeceio de Victoria Pelova (aniversariante do dia) aos 39', todos rebatidos pela goleira escocesa.

Ficaria pior, para a Holanda. Porque se a Escócia atacou mais nos contragolpes durante os primeiros 45 minutos, no segundo tempo ela dominou. A começar aos 49', quando McAuley forçou Van Domselaar a defender seu chute. Aos 63', Erin Cuthbert arrematou, e com um desvio, a bola passou perto da trave esquerda. E Van Domselaar mostrou a boa fase que vive no gol, na reta final: aos 83', defendeu o arremate de Kirsty Howat, e aos 88', após Brugts errar mais um passe, gerando contra-ataque escocês, Martha Thomas bateu para a camisa 1 holandesa evitar à queima-roupa. A Holanda? Só teve chance digna de nome aos 80', num chute de Roord rente à trave.

Nada que evitasse a incômoda impressão de que a esperança de uma boa Eurocopa ficou menor para a Holanda, após estas datas FIFA. E que o sinal está praticamente vermelho. Só se espera que, após alguns dias de férias, a preparação a partir do dia 19 volte a abri-lo.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Alemanha 4x0 Holanda
Data: 30 de maio de 2025
Local: Weserstadion (Bremen)
Árbitra: Alina Pesu (Romênia)
Gols: Linda Dahlmann, aos 9', Lea Schüller, aos 25' e aos 48', e Sarai Linder, aos 45'

ALEMANHA
Ann-Katrin Berger; Giulia Gwinn (Carlotta Wamser, aos 81'), Janina Minge (Kathrin Hendrich, aos 56'), Rebecca Knaak e Sarai Linder; Elisa Senss (Sara Däbritz, aos 68') e Sjoeke Nüsken; Jule Brand, Linda Dallmann e Klara Bühl (Selina Cerci, aos 68'); Lea Schüller (Giovanna Hoffmann, aos 57'). Técnico: Christian Wück

HOLANDA
Lize Kop; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 46'), Dominique Janssen, Veerle Buurman e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 46'); Jackie Groenen, Wieke Kaptein e Damaris Egurrola Wienke (Victoria Pelova, aos 46'); Chasity Grant, Jill Roord (Daniëlle van de Donk, aos 69') e Romée Leuchter (Katja Snoeijs, aos 84'). Técnico: Andries Jonker


Holanda 1x1 Escócia
Data: 3 de junho de 2025
Local: Koning Willem II Stadion (Tilburg)
Árbitra: Silvia Gasperotti (Itália)
Gols: Jill Roord, aos 10', e Kathleen Mary McGovern, aos 27'

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 74'), Sherida Spitse (Dominique Janssen, aos 68'), Caitlin Dijkstra e Esmee Brugts; Victoria Pelova (Katja Snoeijs, aos 85'), Wieke Kaptein e Jackie Groenen; Daniëlle van de Donk (Chasity Grant, aos 68'); Jill Roord (Damaris Egurrola, aos 85') e Romée Leuchter. Técnico: Andries Jonker

ESCÓCIA
Lee Alexander Gibson; Emma Louise Lawton, Sophie Howard (Rachel MacLauchlan, aos 46'), Jenna Clark e Amy Muir; Kirsty MacLean (Emma Watson, aos 90' + 4), Erin Cuthbert e Caroline Weir; Mia McAuley (Kirsty Howat, aos 56'), Kathleen Mary McGovern (Martha Thomas, aos 56') e Freya Gregory (Kirsty Smith, aos 46'). Técnico: Melissa Andreatta