sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Holanda na Copa feminina - as 23 convocadas: Pelova

 
Acabou a fase de ser "promessa": a evolução que viveu nos últimos anos e as circunstâncias farão de Victoria Pelova titular da Holanda num grande torneio (KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Victoria Pelova
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 3 de junho de 1999, em Delft (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2016 a 2019), Ajax (2019 a 2023) e Arsenal-ING (desde 2023)
Desempenho na seleção: 39 jogos e 3 gols, desde 2018
Torneios pela seleção: Copa de 2019 (não jogou), torneio olímpico de 2020+1 (4 jogos, 2 gols) e Euro 2022 (4 jogos, 1 gol)

(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Copa de 2019)

Chegou a hora. Por muito tempo, Victoria Pelova fazia parte das convocações da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) como uma "promessa", uma aposta, alguém que poderia ser destaque no futuro. Assim ela foi convocada para a Copa de 2019. Assim ela foi convocada para o torneio olímpico, nos Jogos de Tóquio - embora já ganhasse mais espaço. Dois anos se passaram, seu salto de desempenho foi notável, ela atingiu o topo que o nível técnico do Campeonato Holandês permite, quis evoluir mais... e em 2023, enfim, Pelova é titular da seleção. Está num campeonato de ponta, num time de ponta, e sua evolução salta aos olhos dentro de campo. É considerada figura-chave para uma mudança tática importante feita pelo técnico Andries Jonker. No segundo Mundial de sua carreira, terá um ponto importante no amadurecimento que mostra.

Filha de um holandês com uma búlgara (da mãe vem o sobrenome típico daquele país), Pelova começou a jogar ainda criança: aos sete anos de idade, já batia sua bola nas equipes infantis do DSV Concordia, clube amador de Delft, cidade natal. E lá ficou, após ser levada pelo avô Piet. No Concordia, a meio-campista desenvolveu o estilo técnico, baseada nos dribles e na rapidez. Porém, sem conseguir espaço nos clubes profissionais holandeses, a meio-campista começou a cuidar da formação fora do futebol, conseguindo um diploma no ensino técnico, em Matemática, numa universidade em Delft.

Todavia, antes mesmo de começar a vida profissional fora dos campos, enfim o futebol ficou mais sério na vida de Victoria. Em 2016, o ADO Den Haag contratou a meio-campista - e o Concordia celebrou a pupila que ganhava a chance para despontarDe nada adiantaria, porém, se Pelova fracassasse na primeira temporada pelo time de Haia. Ocorreu o contrário: a novata aproveitou e já se tornou titular no Den Haag, em 2016/17 (26 jogos, 7 gols).

Pelova passou um longo tempo no futebol amador, conseguiu um diploma fora do futebol, mas o ADO Den Haag abriu as portas do profissionalismo para ela (Angelo Blankespoor)

Em 2017/18, foi ainda melhor: 24 jogos, 11 gols, goleadora do Den Haag na Eredivisie feminina. Com tal desempenho, Pelova foi convocada pela primeira vez para a seleção adulta, entrando durante a derrota para a Espanha (2 a 0), num amistoso, em 20 de janeiro de 2018. Mais: ela foi convocada para a seleção feminina sub-20 da Holanda, classificada para o Mundial da categoria. Pois bem: na campanha razoável das holandesas sub-20, indo às quartas de final, a meio-campista fez dois gols.

Pelova voltou do Mundial sub-20 já vista como uma promessa holandesa. Voltou a ser lembrada nas convocações da seleção adulta, fazendo mais duas partidas na Copa Algarve, já neste 2019. No ADO Den Haag, fez outra boa temporada (17 partidas, 9 gols). E vieram as recompensas. Na seleção, a convocação definitiva para a Copa do Mundo feminina; e em clubes, a poucos dias de se integrar para o primeiro torneio pela seleção adulta, veio a confirmação da transferência para o Ajax, a partir da próxima temporada. À época, Pelova comemorou, falando ao site do clube a que chegava: "Estou superfeliz por jogar no Ajax. Escolhi o clube por ser torcedora dele, desde criança, e por querer dar um passo além na carreira". 

Era quase óbvio que a ida à Copa serviria apenas para ela ganhar experiência. Foi exatamente o que aconteceu: na campanha do vice-campeonato mundial na França, Pelova passou todos os minutos no banco de reservas. Mas só estar numa Copa, e só a chegada ao Ajax, indicava o que viria nos anos seguintes para a meio-campista. Pelo menos em Amsterdã, isso já começou a se confirmar na temporada 2019/20: Pelova já começou a se consolidar ali como a principal criadora das jogadas de ataque do Ajax. E bem ou mal, já apareceu mais vezes - todas saindo da reserva - na seleção feminina da Holanda (foram duas partidas, todas pelas eliminatórias da Euro de mulheres). O desenvolvimento só não foi mais acelerado por causa da interrupção dos jogos, forçada pela pandemia de COVID-19.

Pelova evoluiu gradativamente, até se tornar a melhor jogadora do Ajax nos últimos tempos (Patrick Goosen/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images)

Em 2021, Pelova deu mais alguns passos para deixar de ser apenas uma promessa. No Ajax, continuando como titular absoluta, enfim participou de seu primeiro título, a Eredivisie Cup. E na seleção, enfim, teve um pouco mais de tempo jogando. Convocada para o torneio olímpico de futebol feminino, entrou em todas as quatro partidas dos Países Baixos no Japão. Mais do que isso: fez seus dois primeiros gols vestindo laranja, em duas goleadas - os 10 a 3 da estreia, contra Zâmbia (marcou o décimo), e os 8 a 2 sobre a China (fez o sétimo), ambos na fase de grupos.

Contudo, pode-se dizer que a virada definitiva da meio-campista na carreira começou no ano passado. Em 2022, pelo Ajax, foram cinco gols e nove passes para gol dentro do Campeonato Holandês feminino - e, principalmente, o título da Copa da Holanda, também colaborando com passe para um dos gols na vitória na final, com 2 a 1 no PSV. Pela seleção, sob o comando do técnico Mark Parsons, enfim Pelova passou a ter mais espaço. Teve sua primeira partida começando como titular (o 2 a 0 em Belarus, ainda em 2021, pelas eliminatórias da Copa). 

Mas o principal símbolo da entrada numa nova fase da carreira veio na Euro feminina. Convocada para ela, Pelova veio do banco de reservas em todos os jogos da fase de grupos. Num deles, foi decisiva: nos 4 a 1 contra a Suíça, última partida no grupo, a camisa 12 deu a bola para o gol de Romée Leuchter, que colocou as Leoas Laranjas na frente, num jogo difícil - e ainda fez o dela, o terceiro naquela vitória. Convenceu Mark Parsons: nas quartas de final, contra a França, Pelova jogou os 120 minutos como titular. Mesmo com a eliminação, mais a mudança de técnico decorrente dela na seleção, a meio-campista deixava claro: estava pronta para mais oportunidades.

Na Euro feminina do ano passado, Pelova começou a virar destaque para valer na seleção da Holanda (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images)

Já merecendo olhares de clubes fora da Holanda, Pelova até renovou contrato por mais um ano com o Ajax. Mas a hora de sair estava cada vez mais perto. Até porque - depois se saberia -, a meio-campista tinha conversas decisivas com uma colega de seleção de muita ascendência: Vivianne Miedema. Talvez tenha influído na opção da jovem, que começava bem a temporada no Ajax (três gols e três passes para gol, nas dez primeiras rodadas da liga holandesa feminina). Porque, em janeiro de 2023, Pelova deu a cartada mais decisiva na carreira até agora: rumou para o Arsenal. Recebeu despedidas carinhosas do clube de Amsterdã. E recebeu saudações na mesma moeda, na chegada a Londres. Até porque Pelova evocou a forte ligação entre o clube inglês e jogadores holandeses, tanto no futebol feminino quanto no masculino: "Estou feliz por assinar com o Arsenal, sempre admirei o clube".

Bastaram poucas semanas para Pelova notar o tamanho do salto que estava dando. Já em fevereiro, ela se espantava com a diferença de nível entre o futebol feminino na Holanda (Países Baixos) e na Inglaterra, ao diário Algemeen Dagblad: "Nas duas primeiras semanas [no Arsenal] eu estava acabada depois do treino. Realmente tive de me acostumar. Estava até um pouco nervosa: 'Será que eu consigo aguentar [o ritmo]?'. Tinha acabado de ficar doente. Só após a terceira semana eu senti que conseguia". De todo modo, justificando a transferência à ESPN holandesa na mesma época, Pelova descreveu seu amadurecimento - e aproveitava para elogiar dois treinadores com quem esteve na seleção: "Eu era faladora. Agora sou mais amável, sigo as regras. Sarina [Wiegman] cuidou disso. Ela ficava brava comigo, no bom sentido. Só para me tornar melhor. Eu precisava disso. Agora, tenho a disciplina, vivo para o esporte. Andries [Jonker] pode me ajudar a me desenvolver tecnicamente".

Pelova chegou ao Arsenal sentindo a diferença brusca de intensidade. Superou-a rapidamente, já sendo destaque nos Gunners (Alex Burstow/Arsenal/Getty Images)

Pelova nem precisou de Andries Jonker para evoluir bastante no Arsenal. Se começou cautelosamente no clube, ganhou importância no decorrer da temporada 2022/23. A partir de março, pelo mérito próprio - e pelas lesões de algumas colegas -, virou titular no clube. Começou a mostrar ainda mais talento na criação de jogadas, com destaque para os passes em profundidade. Participou de um título, a Copa da Liga Inglesa. E principalmente, terminou absoluta no meio-campo dos Gunners, na marcante campanha até as semifinais na Liga dos Campeões. Merecendo até uma cançoneta dos torcedores - paródia de "Nel blu dipinto di blu (Volare)", célebre canção do italiano Domenico Modugno: "Pelova, oh, oh/Pelova, ooooh/She comes from Amsterdam/She is an Arsenal fan" ("Ela vem de Amsterdã/Ela é torcedora do Arsenal").

E na seleção? Além de ter se convertido em titular sob Andries Jonker, passou a ser usada em mais uma posição, além da habitual no meio-campo. Nos amistosos de abril, contra Alemanha e Polônia, com Andries Jonker testando novamente o esquema tático com três zagueiras, Pelova passou a ser experimentada como ala pela direita, indo e voltando do meio-campo. Para ela, sem problemas, de acordo com as palavras à revista Voetbal International: "Sempre gosto de estar em campo, mas realmente gostei dessa posição (...) No futebol moderno, é importante jogar em mais esquemas". Para Jonker, sem meias palavras, "foi uma aposta".

Titular num dos clubes mais conhecidos do futebol feminino no mundo. Nome de importância crescente na seleção feminina da Holanda (Países Baixos). De fato, Victoria Pelova aprendeu muito neste ciclo entre uma Copa e outra. A promessa está virando realidade, e pode confirmar isso em Austrália/Nova Zelândia. Repetindo a primeira frase do texto: chegou a hora.

(Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images)

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