segunda-feira, 10 de outubro de 2016

É isso aí

Strootman lamenta após fim do jogo: Holanda se esforçou? Sim. E não pode fazer mais do que faz (ANP/Pro Shots)

Quando terminou o jogo desta segunda-feira, na Amsterdam Arena, era unânime: os dois melhores jogadores da seleção da Holanda haviam sido Rick Karsdorp, um lateral direito, e Memphis Depay, um ponta esquerda. Se isso mostra alguma coisa boa, mostra muito mais um defeito que a Oranje tem atualmente: a incapacidade de encontrar outro caminho de jogo que não seja pelos lados, trocando passes infrutíferos e criando apenas chances esporádicas de gol. Esporádicas até demais, aliás.

Sorte da França: tendo espaço de sobra para jogar no meio-campo, os Bleus nem precisaram brilhar para vencerem por 1 a 0, na terceira rodada das eliminatórias para a Copa de 2018. Por mais que a atuação francesa, de certa forma, também tenha decepcionado (para citar apenas dois nomes, Antoine Griezmann e Dimitri Payet decepcionaram em Amsterdã), a atuação segura serviu para provar que a Laranja está alguns degraus abaixo das principais seleções europeias - se é que alguém duvidava disso, ainda, após a ausência na Euro 2016.

A prova disso tudo começou desde o primeiro minuto de jogo, a bem da verdade. Porque a Holanda segue como um exemplo do que não se deve fazer, taticamente, dentro de um campo de futebol. Simplesmente não há a chamada "compactação", a proximidade entre as linhas de defesa, meio-campo e ataque - bem, sequer há unidade dentro das próprias linhas. Basta dizer que, não raramente, defensores saem à toa com a bola dominada para armarem o jogo da Oranje - como Virgil van Dijk fez, numa ocasião, já no segundo tempo.

Ataque? Só pelos lados. Tanto nos avanços (mais raros) de Daley Blind pela esquerda, quanto pela ousadia do já citado Karsdorp, constante opção de ataque pela direita. Até incrível ver o tanto que o camisa 2 apareceu para tabelas e triangulações, quando sabe-se que ele jogou no sacrifício. Após a partida, o lateral confessou: "Eu não consigo levantar meu ombro. Estou cheio de analgésicos, provavelmente um osso está quebrado", referindo-se à escápula.

No meio da área, Vincent Janssen fazia o de sempre: corria, também aparecia para fazer as jogadas, arriscava finalizações (como no primeiro minuto do segundo tempo, quando usou o corpo para se livrar de Raphaël Varane e chutar na rede pelo lado de fora), enfim, se esforçava. E Memphis Depay substituiu bem o lesionado Quincy Promes: tentou criar jogadas, trouxe algum perigo com a bola nos pés, quase empatou o jogo aos 88'. Quem sabe tenha dado algum ânimo a Memphis, em sérias dificuldades no Manchester United. Tudo isso, sem contar o pênalti (involuntário, mas existente) de Laurent Koscielny, aos 35', colocando as mãos na bola ao escorregar após chute de Janssen - que não perdeu a chance de lamentar a terceira polêmica de arbitragem da Oranje nas eliminatórias: "Três jogos e três falhas dos árbitros", lembrando o gol anulado de Bas Dost contra a Suécia e o impedimento que anulou um tento de Van Dijk contra Belarus.

Mas de nada adianta um ataque com relativo perigo, ajudado pelas laterais, se o meio-campo fica apagado. E foi o que se viu na Laranja: Georginio Wijnaldum foi apagado antes da lesão que o tirou de campo, Davy Pröpper não aproveitou a chance que teve para substituir Wesley Sneijder, e Kevin Strootman pode até ter qualidade na saída de bola, mas tem sido excessivamente lento nos passes e na recomposição defensiva. Mesmo podendo armar jogadas, Davy Klaassen também não fez coisa que valesse. Tal lentidão força Virgil van Dijk e Jeffrey Bruma a adiantarem, sozinhos, a linha de marcação. Tudo isso, feito espaçadamente.

Sabendo aproveitar os grandes espaços que tinha, a França criou várias chances no primeiro tempo. Justamente no meio-campo residia sua força: a volúpia de Moussa Sissoko nos desarmes, a superioridade de Paul Pogba na criação... não impressionam as várias vezes que os atacantes foram colocados na cara do gol de Maarten Stekelenburg. Como aos 13', quando Kévin Gameiro (bem no jogo) arriscou de fora da área, exigindo ótima defesa do goleiro holandês. Ou no segundo tempo, precisamente aos 55', quando um passe em profundidade colocou de novo Gameiro às portas do gol - Stekelenburg defendeu, e Griezmann mandou a bola sobrada por cima.

Finalmente, foi por esse espaço que Pogba sentiu-se à vontade para arriscar o chute que mandou a bola nas redes, aos 30', definindo o jogo. E contando com a inegável falha de Stekelenburg: surpreendido na distância, o goleiro não conseguiu voltar a tempo, apenas desviando fracamente a bola, sem evitar que ela balançasse as redes. O próprio reconheceu, à NOS, emissora holandesa: "O chute era difícil, mas era defensável. Precisava ter agarrado e não agarrei. Falhei, pronto". Nem mesmo Danny Blind aliviou: "Maarten podia ter pego, ele sabe disso. Nos treinos, defende uma dessas sem dificuldades".

Novamente derrotada por um jogo de eliminatórias de Copa (não perdia há 15 anos - precisamente, desde 1º de setembro de 2001, com o 1 a 0 da Irlanda em Dublin que praticamente definiu a ausência holandesa na Copa de 2002), a Laranja sabe que se não dá para ganhar dos franceses, dá para melhorar, como espera Van Dijk: "Jogamos bem, mas saímos de mãos vazias. É muito chato, mas há perspectivas nesse time". Strootman foi até mais prático à NOS: "Queremos nos classificar. Como isso vai acontecer, não me interessa, mas precisamos nos classificar". 

Para isso, a Holanda precisa vencer os jogos acessíveis. Três deles, em sequência: em novembro, contra Luxemburgo, e os dois seguintes, contra a Bulgária. Por pior que o time seja, é possível. Mas não dá para exigir muito mais do que se tem visto dessa geração em campo. A Oranje é isso aí.

Ficha do jogo

Eliminatórias para a Copa de 2018 - Europa
Holanda 0x1 França
Data: 10 de outubro de 2016
Local: Amsterdam Arena, em Amsterdã
Juiz: Damir Skomina (ESN)
Gol: Paul Pogba, aos 30' 

Holanda
Maarten Stekelenburg; Rick Karsdorp, Jeffrey Bruma, Virgil van Dijk e Daley Blind;
 Davy Pröpper (Jetro Willems, aos 84'), Kevin Strootman e Georginio Wijnaldum (Bas Dost, aos 62'); Quincy Promes (Memphis Depay, aos 16'), Vincent Janssen e Davy Klaassen. Técnico: Danny Blind

França
Hugo Lloris; Djibril Sidibé, Laurent Koscielny, Raphaël Varane e Layvin Kurzawa; Paul Pogba, Blaise Matuidi, Moussa Sissoko e Dimitri Payet (Anthony Martial, aos 67'); Antoine Griezmann (N'Golo Kanté, aos 90'); Kévin Gameiro (André-Pierre Gignac, aos 79'). Técnico: Didier Deschamps

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