sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Um respiro

Goleada sobre Belarus fez Oranje respirar (Pim Ras)
Pressão de todos os lados. Pressão pela falta de Arjen Robben, que mostra talento e liderança sempre que as contusões dão uma trégua; pressão sobre o técnico Danny Blind, que precisa mostrar ter aprendido a lição após "terminar" o fracasso nas eliminatórias da Euro; pressão sobre os jogadores, que têm de provar que esta nova geração holandesa pode ser, pelo menos, razoável; pressão, pressão, pressão. A seleção holandesa tem vários olhos negativos - no mínimo, desconfiados - sobre ela atualmente, e cada jogo é uma tentativa de recuperar um pouco do crédito. Pelo menos nesta sexta, conseguiu: se impôs, e conseguiu fazer 4 a 1 em Belarus sem muitas dificuldades, pela segunda rodada das eliminatórias da Copa de 2018.

A atuação da Laranja em Roterdã tornou a vitória fácil porque foi, surpreendentemente, mais calma do que se viu na estreia pelas eliminatórias, contra a Suécia. Ao invés de atacar desde o começo como fez em Solna, com inversões rápidas de jogo e lançamentos longos, a equipe trabalhou na manutenção da posse de bola. Desacelerou o ritmo, com recuos de bola para a defesa e mais toques no meio-campo - aí entraram a capacidade que Kevin Strootman e Georginio Wijnaldum têm para ditarem o andamento de uma partida. Isso até poupou trabalho de Wesley Sneijder, discreto na criação de jogadas, talvez por causa da lesão muscular que novamente sentiu, precisando sair no intervalo.

Coube, então, a Davy Klaassen (bem no jogo) armar mais as jogadas. Para a sorte dele, contou com os dois grandes destaques da partida. Vincent Janssen credencia-se mais e mais como o atacante titular da Oranje, de fato e de direito. É tão corpulento quanto Bas Dost ou Luuk de Jong, mas oferece algo que esses dois ainda não dão ao time de Danny Blind: capacidade de voltar, de ajudar o meio-campo a desenvolver jogadas. Claro, Janssen é meio desengonçado no andar. Mas isso não o impede de ser um bom pivô (como Luuk de Jong), nem de saber criar com a bola nos pés (é melhor nisso do que Dost).

Maior capacidade técnica com a bola nos pés faz Vincent Janssen se firmar cada vez mais como titular (Maurice van Steen/VI Images)

Até por isso, o atacante fez jogadas como a primeira chance real da Holanda no jogo, aos 7', recebendo de Quincy Promes, girando e finalizando para Andriy Gorbunov - ou Harbunow, dependendo da fonte - espalmar. Ou então, marcou seu gol, o mais bonito da partida, aos 63', aproveitando falha de Sergei Politevich para correr com a bola dominada e chutar forte no ângulo. Otimista, Janssen desejou à NOS, tevê holandesa, no fim do jogo: "Sempre fico alegre quando marco, e espero fazer isso também pelo Tottenham". Chances para isso, ele está tendo, com a lesão de Harry Kane. Quanto mais marcar pelos Spurs, mais Janssen será indiscutível como titular da seleção.

Se Janssen foi sempre uma opção na área, Quincy Promes era a opção correndo pelo campo. Partindo da ponta direita, o camisa 11 justificou porque tem merecido a confiança de Blind, sendo titular constante na ausência de Robben. Correu, dominou a bola, apareceu para finalizar, mostrou confiança... também não foi à toa que arriscou o chute para abrir o placar, aos 15', marcando seu primeiro gol pela Oranje - e abraçando Memphis Depay no banco de reservas. Nem impressionou que o jogador do Spartak Moscou-RUS tenha crescido ainda mais em campo, a ponto de aproveitar hesitação de Politevich para chutar de voleio e fazer 2 a 0, aos 31'.

Se tivesse ficado nessa parte do meio-campo e do ataque, a Holanda poderia ter somente otimismo. Todavia, a defesa voltou a ter suas costumeiras panes no final do primeiro tempo. Impressiona a falta de compactação da equipe: raras vezes se vê nitidez nas linhas do 4-3-3 com que a Laranja é escalada. Isso abre espaços; e basta ao time adversário aproveitá-los com passes longos para sempre chegar na frente, principalmente pelas pontas, trazendo perigo. Foi o que aconteceu com Belarus: Sergei Kornilenko quase marcou; depois foi Mikhail Gordeychuk, que superou Jeffrey Bruma na corrida e só não fez o gol porque Maarten Stekelenburg (surpreendentemente, o titular - mas cumpriu seu papel) fechou bem o ângulo na saída de gol. Finalmente, tão logo começou o segundo tempo, Aleksei Rios diminuiu para 2 a 1 entrando livre no meio da área, sem que Virgil van Dijk o acompanhasse. Isso, em jogada surgida pela lateral direita, onde Rick Karsdorp, outro titular pela primeira vez, cedeu muitos espaços.

Por mais que os gols de Klaassen e Janssen tenham tranquilizado, Danny Blind não deixou passar tais erros, e ralhou na entrevista coletiva: "Vi coisas boas, mas também vi coisas ruins. Por quinze minutos, jogamos muito mal. Se cometermos esse tipo de falha contra a França, será fatal. Abrimos espaço, deixamos o adversário chegar". Pior: dificilmente Sneijder estará disponível, conforme antecipou o técnico ("A chance dele jogar [contra a França] é muito, mas muito pequena"). Caberá à nova geração, já consolidada - com Janssen, Promes, Klaassen -, superar os Bleus na próxima segunda-feira, na Amsterdam Arena. E quem sabe, aumentar o respiro na pressão sobre eles, como fez a goleada nos bielorrussos.

Ficha do jogo

Eliminatórias para a Copa de 2018 - Europa
Holanda 4x1 Belarus
Data: 7 de outubro de 2016
Local: De Kuip, em Roterdã
Juiz: Craig Thomson (ESC)
Gols: Quincy Promes, aos 15' e aos 31', Davy Klaassen, aos 55', e Vincent Janssen, aos 64'; Aleksei Rios, aos 46'

Holanda
Maarten Stekelenburg; Rick Karsdorp, Jeffrey Bruma, Virgil van Dijk e Daley Blind; Davy Klaassen, Kevin Strootman (Jordy Clasie, aos 79') e Georginio Wijnaldum; Quincy Promes, Vincent Janssen (Bas Dost, aos 83') e Wesley Sneijder (Davy Pröpper, no intervalo).Técnico: Danny Blind

Belarus
Andriy Gorbunov; Denis Polyakov, Mikhail Sivakov, Sergei Politevich e Maksim Bordachev; Mikhail Gordeychuk (Maksim Volodko, aos 74'), Ivan Maevski (Aliaksandr Hleb, no intervalo), Nikita Korzun e Aleksei Rios; Sergei Krivets (Sergei Kislyak, aos 67'); Sergei Kornilenko. Técnico: Aleksandr Khatskevich

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