sábado, 1 de outubro de 2016

Entrevista: Eric Botteghin

Não faltam razões para Eric Botteghin comemorar na atual temporada (ANP/Pro Shots)

Difícil dizer qual tem sido o melhor ponto do Feyenoord neste bom início de temporada do clube holandês. O meio-campo, com a velocidade de Karim El Ahmadi e Tonny Vilhena - e a liderança costumeira de Dirk Kuyt? O ataque, em que Jens Toornstra se responsabiliza pelos passes para os gols de Nicolai Jorgensen, enquanto Steven Berghuis aparece bem na esquerda (como Eljero Elia já aparecia)? E na defesa? Há a segurança do goleiro Brad Jones, e o entrosamento da linha de quatro defensores. 

No miolo dessa zaga, há um personagem cada vez mais querido da torcida do Stadionclub. Há um ano e dois meses em Roterdã, o zagueiro brasileiro Eric Botteghin vive possivelmente a melhor fase de uma carreira com um longo capítulo holandês. Há nove anos no país - após passagens pelas categorias de base de Internacional e Grêmio Barueri, o zagueiro transferiu-se para o Zwolle em 2007 -, Botteghin segue com uma clara evolução: passou bem por NAC Breda e Groningen, e estabeleceu-se como titular absoluto em Roterdã. Apenas uma lesão, em meados da temporada passada, o tirou dos jogos.

Recuperado, Eric voltou. Participou da recuperação do Feyenoord rumo ao terceiro lugar na Eredivisie passada - e principalmente, do título na Copa da Holanda, primeira conquista do clube desde 2007/08. Na atual temporada, desnecessário descrever a satisfação da torcida e dos jogadores com o ótimo começo na Eredivisie e na Copa da Holanda - e a confiança que segue na Liga Europa, mesmo com a derrota para o Fenerbahçe. O camisa 33 tornou-se até um personagem de destaque, ao marcar o gol da vitória no clássico contra o PSV, pela sexta rodada. Até por isso, Eric Fernando Botteghin, paulistano de 29 anos, exala confiança na entrevista exclusiva cedida ao Espreme a Laranja. Confira.

Sete vitórias nos primeiros sete jogos pela Eredivisie, algo que o Feyenoord não conseguia desde 1993; classificação na Copa da Holanda; um começo promissor na Europa League; um gol seu definindo a vitória no importante clássico contra o PSV. Podia estar melhor? (risos) Falando sério: esse ótimo início de temporada tem animado os trabalhos do Feyenoord? Qual o principal mérito da equipe, neste momento, em sua opinião?

É verdade, acho que não poderia ser melhor (risos). Acho que por termos mantido praticamente o mesmo time da temporada passada, só com algumas contratações mais pontuais, se nota o entrosamento e o porquê de já estarmos bem logo no começo da temporada. Com certeza, deu ânimo e confiança também para uma temporada promissora.  

A reação da temporada passada, quando o time ficou invicto por onze partidas na Eredivisie (chegando ao terceiro lugar) e ainda ganhou a Copa da Holanda, já serviu para animar mais o ambiente rumo aos campeonatos atuais?

Esse foi um fator importante também para essa temporada, pois resgatamos a nossa força e ganhamos um título. Isso deixou um gostinho de que podemos mais.

Com os maus resultados numa parte da temporada passada, chegou a haver alguma conversa especial entre o elenco, ou mesmo do técnico com os jogadores, durante a recente pré-temporada feita na Áustria?

Sim, tivemos muitas conversas com a comissão técnica e com nosso grupo. Queríamos sair dessa situação o mais rápido possível.

Você tem sido (sempre foi, aliás) muito elogiado pelas atuações e pelo profissionalismo. Numa reportagem de jornal, um colega seu de Feyenoord (Rick Karsdorp) até comentou que você é querido no grupo, faz brincadeiras etc. É uma preocupação sua manter essa boa imagem ou é algo natural?

Algo natural. Procuro ser eu mesmo, me dou bem com todos e procuro ser o mais profissional possível. Quando acabar minha carreira, quero olhar para trás e ver que fiz tudo o que pude para tirar ainda mais do meu futebol.

Falemos mais de futebol. Na temporada passada, dentro do time, a defesa teve várias formações. Ao longo dos torneios, você dividiu a zaga com Van der Heijden, Kongolo ou Van Beek. Agora, a escalação é mais estável: em geral, você fica junto de Van der Heijden no miolo, enquanto Kongolo joga na esquerda, ou atua com o próprio Kongolo a seu lado. Isso tem facilitado a rapidez do entrosamento entre vocês? Afinal, o Feyenoord só tomou dois gols na liga...

Cada vez que jogamos mais juntos nos entrosamos, independente de quem joga. Já se nota a confiança que temos um no outro, mas o fato de termos tomado apenas dois gols mostra a boa fase do time e a maneira que todos tem se dedicado na marcação também.

Tanto nos treinos quanto nos jogos, você e os colegas de zaga conversam bastante, se alertam? Ou isso é mais espontâneo, vai aos poucos, de jogo em jogo? Como você descreveria o estilo de jogo de Kongolo e Van der Heijden?

Com certeza, acho que uma das principais características de um zagueiro é a comunicação, tem que partir de nós lá atrás, e manter todos ligados no jogo. São dois grandes jogadores, o Van der Heijden com mais experiência e o Kongolo como um dos grandes talentos do Feyenoord.

O Feyenoord tem um ídolo em campo: Dirk Kuyt, capitão do time. E um ídolo no banco: o técnico, Van Bronckhorst. Qual a importância deles, na sua opinião? Eles ajudam na relação do grupo com a torcida, que os admira tanto?

Ajudam e muito, não só com a torcida, mas também na relação do grupo. Todos tem um respeito muito grande por eles. 

Depois da vitória sobre o Manchester United, as expectativas sobre o Feyenoord cresceram muito. Como o time trabalha para segurar isso?

Na realidade, sempre tem uma grande expectativa aqui no Feyenoord, e já estamos acostumados com isso. Então, o trabalho continua o mesmo. Sabemos que temos que jogar sempre em alto nível todos os jogos, independentemente do adversário.

São nove anos jogando na Holanda. Inevitável perguntar: nos tempos de categorias de base, no Grêmio Barueri e no Internacional, ainda aqui no Brasil, passava pela sua cabeça ficar tanto tempo no futebol europeu?

Eu sonhava sim em jogar na Europa, mas não imaginava ficar tanto tempo em um só país.

Você já respondeu a essa pergunta em outra entrevista, mas repito aqui. Sua trajetória dentro da Holanda é bem regular: a chegada em 2007, para ficar quatro anos no Zwolle, um clube pequeno, que ainda estava na segunda divisão. Depois, uma passagem de dois anos pelo NAC Breda, um pouco maior, então ainda se mantendo no meio da tabela. Em 2013, você vai para o Groningen, clube médio, onde vira ídolo da torcida, titular absoluto, e coroa com o título da Copa da Holanda em 2015. Agora, o Feyenoord, um grande e tradicional clube, onde você também se estabeleceu. Essa evolução foi coincidência ou você pensava nela ao longo da carreira?

Sempre tomei minhas decisões pensando no melhor passo a ser tomado para o clube onde eu teria mais chances de crescer e de jogar. Graças a Deus fico muito feliz e orgulhoso por ter dado passos sempre à frente, e hoje jogo por um grande time da Holanda.

Outra vez, é preciso repetir a pergunta: você tem passaporte italiano. E nunca atuou por seleções nacionais - nem pela brasileira, nem pela italiana. Seleção é uma possibilidade que passa por sua cabeça?

Quem não sonha em um dia jogar na seleção brasileira né? Sei que pelo Feyenoord estou mais na vitrine, mas sei também que o campeonato holandês não é muito visto no Brasil e que a briga por uma vaga é muito grande. 

Juntando suas partidas nos quatro clubes holandeses em que esteve (mais precisamente, 301 jogos), você já marcou 24 gols. Dá para escolher algum mais marcante?

Difícil escolher um gol mais marcante. Por cada time teve a sua importância dependendo do jogo e da situação da equipe. Na temporada passada fiz um gol na prorrogação, que nos deu a classificação para a final da Copa da Holanda [nota: contra o Roda JC, na prorrogação da semifinal]. Esse foi bem legal.   

Nesses nove anos jogando na Holanda, você teve uma pessoa que lhe ajudou muito em seus primeiros tempos no país, atuando pelo Zwolle: Ria Dijk, dona de um café na cidade. No começo deste ano, ela faleceu, e você a homenageou no Instagram. Por favor, comente um pouco sobre ela - e a ajuda que lhe deu, em seu começo no Zwolle.

Ela foi uma pessoa muito importante para mim aqui na Holanda. Quando cheguei com dificuldades na comunicação e por não conhecer nada, ela e sua família me receberam com muito carinho e facilitaram minha adaptação. Sou muito grato, e eles vão estar sempre no meu coração.

Sabe-se que a sua família acompanha sua carreira. No entanto, é mais difícil que os jogos do Feyenoord passem na tevê brasileira, já que Ajax e PSV são mais falados. Como eles fazem, quando a tevê demora mais?

Eles acompanham mesmo. Assistem a todos os jogos. Quando não passa na TV brasileira, eles acompanham por sites que passam jogos do mundo todo e também pela Watch ESPN, que transmite todos os jogos do Feyenoord pelo Campeonato Holandês. E no caso da Liga Europa, que os canais brasileiros transmitem ao vivo.

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