Guardado deixa o campo sério após a eliminação na Copa da Holanda: o PSV sabe que precisa melhorar (Pim Ras) |
“Zij wel” – em holandês, numa tradução livre, “eles passaram”. Esta foi a manchete do “Sportwereld”, o caderno de esportes do diário holandês Algemeen Dagblad, na edição desta quinta que passou. Descrevia bem o rumo de Ajax e Feyenoord, que deram sequência aos seus bons momentos, nesta semana, pela segunda fase da Copa da Holanda. O Feyenoord passou tranquilamente pelo Excelsior, rival de cidade: mesmo poupando gente como Dirk Kuyt e Tonny Vilhena, impôs 4 a 0. Para o Ajax, as coisas foram até mais fáceis: com um time cheio de jovens, 6 a 1 no amador Kozakken Boys, da terceira divisão – destaque para o novato atacante Pelle Clement, com dois gols.
E o PSV? Eis aí a razão do “eles passaram” que virou manchete: a equipe de Eindhoven caiu na terça passada, para o Sparta Rotterdam, por 3 a 1. A inesperada eliminação na KNVB Beker é mais um ponto que mostra a forte instabilidade vivida atualmente pela equipe de Eindhoven na temporada. Afinal de contas, vale lembrar que os Boeren já se veem a sete pontos de distância do líder Feyenoord no Campeonato Holandês. Sem contar a Liga dos Campeões: certo, o time holandês ainda pode ganhar a vaga na Liga Europa, mas está em último lugar no grupo, não venceu ainda, nem chegou perto de impressionar quem quer que seja.
O mais curioso é que dizer que o PSV está jogando irremediavelmente mal é exagerado. Foi superado facilmente pelo Bayern na rodada passada da Liga dos Campeões, ao sofrer o 4 a 1 em Munique? Foi, e muito – é o caso de dizer que ficou barato, diante da goleada que se avizinhava nos primeiros 20 minutos de jogo, quando os bávaros fizeram 2 a 0, deram 13 chutes a gol e encurralaram os Eindhovenaren em sua própria área de defesa. Ainda assim, depois da blitz que os sufocou, os visitantes aproveitaram os espaços naturalmente deixados pelo time mandante, diminuíram para 2 a 1, e até criaram chances de empatar, no início do segundo tempo, antes que Robert Lewandowski deixasse nas redes o terceiro do time vermelho, resolvendo o jogo.
Então, o que acontece? Como é natural supor, são várias as razões. A primeira delas é o cansaço, que tem levado à visível queda de produção de jogadores-chave para o esquema de Phillip Cocu. No meio-campo, Jorrit Hendrix lesionou o joelho, como já ocorrera no final da temporada passada. Andrés Guardado também já teve alguns problemas musculares há algumas semanas – e mesmo atuando em campo, não mostra mais o protagonismo que já teve no setor. Compreensível: em dois anos e meio de clube, o mexicano de 30 anos atuou em 130 partidas. Uma hora, o corpo cobra a conta. Com tudo isso, Davy Pröpper se vê cada vez mais sobrecarregado na tarefa de desarmar e sair para o jogo – já que o reforço Siem de Jong, além de também ter se lesionado, ainda não engrenou no clube novo.
Se fosse só no meio-campo, as lesões ainda teriam impacto menor. Mas elas também atingiram o ataque: sem Jürgen Locadia, ainda em recuperação de problema muscular na coxa, têm jogado pela esquerda tanto o novato Steven Bergwijn quanto Gastón Pereiro – nenhum deles com grandes atuações, até agora. Na defesa, a bruxa pegou Jeroen Zoet, que lesionou o tornozelo – e até por isso, ficou fora da pré-convocação de Danny Blind para os próximos jogos da seleção holandesa. Enfim, as lesões atrapalham. Mas não são a única razão da visível queda do PSV.
A ineficiência da equipe nas finalizações tem sido assustadora. Principalmente nas últimas rodadas do Campeonato Holandês. Nas últimas três partidas do clube na Eredivisie, foram 39 arremates, dos quais 25 foram chutes a gol, mas apenas três bolas efetivamente balançaram o filó adversário. Claro, ninguém pode controlar as boas atuações dos goleiros adversários – e o PSV encarou dois deles: Bram Castro, do Heracles Almelo, fechou o gol no 1 a 1 em Eindhoven, há duas rodadas, e Roy Kortsmit, do Sparta Rotterdam, ia pelo mesmo caminho na rodada passada. Só um gol tardio de Bart Ramselaar, enfim, fez o PSV voltar a ganhar, após três rodadas sem vitórias pela liga. E ainda há a aflitiva sequência de quatro pênaltis perdidos – 12, nos últimos 19 que o PSV teve a seu favor. Sobra para Luuk de Jong: com apenas três gols na temporada, em todas as competições, o goleador e capitão tem ouvido bastante os apupos da torcida, antes raros.
Dá para mencionar como razão da má fase, também, uma irregularidade maior na defesa. Zoet até melhorou em relação à temporada passada, no gol (progrediu até no jogo com os pés, seu grande defeito), mas Héctor Moreno ainda não conseguiu com ninguém uma parceria tão entrosada quanto a que desenvolveu com Jeffrey Bruma. Nicolas Isimat-Mirin tem sido o titular costumeiro, mas estão cada vez mais frequentes as escolhas de Phillip Cocu pelo alemão Daniel Schwaab entre os titulares. Nas laterais, Joshua Brenet demonstra hesitação na marcação, e Jetro Willems tem sido tímido nos cruzamentos, justamente onde mais oferecia ajuda nas últimas temporadas. E algumas desatenções têm sido punidas: como contra o Heracles, que marcou o gol no empate pela Eredivisie após Siem de Jong bobear na saída de bola.
Mesmo que não signifique uma crise profunda (ainda), a eliminação na Copa da Holanda calou fundo nos jogadores. Após a derrota para o Sparta, Narsingh saiu de campo reconhecendo: “Devemos nos envergonhar”. Luuk de Jong usou palavras diferentes para trazer a mesma dureza: “Já odeio perder, e odeio ainda mais se for dessa maneira. Esse não é o PSV”. Coube a Phillip Cocu um diagnóstico mais preciso: “Nosso ritmo de jogo foi muito lento, nos movimentamos pouco e trabalhamos mal com a bola nos pés. Isso não pode acontecer. É inaceitável. Vamos conversar sobre isso”.
Cabe, pois, ao PSV se recuperar. Na Liga dos Campeões, ainda há o jogo direto contra o Rostov-RUS: perder até a vaga na Liga Europa seria vexaminoso. E no Holandês, o jogo deste sábado, contra o Vitesse (de campanha razoável), pode encurtar a distância para o Feyenoord – e manter a equipe perto do vice-líder Ajax. Porque, por enquanto, o PSV é que olha os dois se destacarem. Acredite se quiser.
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 28 de outubro de 2016)
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