O PSV apostou alto para contratar Hirving Lozano. E o mexicano tem justificado plenamente (Maurice van Steen/VI Images) |
Você está se aproximando dos 30 anos? Assistia ao “Piores clipes do mundo”, programa que o apresentador Marcos Mion popularizou na fase antiga da MTV brasileira, entre 2000 e 2002, espicaçando videoclipes pra lá de obscuros? Então talvez conheça uma das “vítimas” preferidas de Mion: “Segura o Chucky”, do duo Manymais, cujo refrão era “Alguém segura o Chucky, alguém amarra o Chucky/O boneco assassino ‘tá querendo me matar”. Bem, o mexicano Hirving Lozano talvez não seja tão perigoso quanto o personagem do cinema. Mas seu começo no PSV é tão fulgurante que o torna o grande protagonista da fase inicial do Campeonato Holandês.
Não é para menos. Apelidado “Chucky” pela imprensa de seu próprio país, exatamente por sua fisionomia evocar o brinquedo que protagoniza a série “Brinquedo Assassino”, Lozano foi responsável por seis gols nas seis partidas que fez pelo time de Eindhoven na Eredivisie, da qual já é um dos goleadores (junto de Steven Berghuis, do Feyenoord, e Wout Weghorst, do AZ). Mais do que isso: simboliza a reformulação inesperadamente exitosa feita por Phillip Cocu. Que resultou numa equipe que já ocupa a liderança do Campeonato Holandês – ainda que aos trancos e barrancos.
Por enquanto, Lozano vai pagando a aposta que o PSV fez nele. Aposta tão confiante que os Boeren mal pestanejaram: números não foram revelados, mas o mexicano foi contratado junto ao Pachuca, numa disputa com outros grandes clubes europeus, e assinou contrato para longos seis anos. De quebra, ambiente mais apropriado para despontar na Europa, “Chucky” não poderia encontrar: poucos times europeus têm mais tradição com mexicanos do que o PSV. Há pelo menos dez anos as equipes dos Eindhovenaren têm um compatriota fazendo sucesso: de Carlos Salcido a Francisco “Maza” Rodríguez, passando pelo destaque anterior, Andrés Guardado.
Lozano chegou ao PSV após ter disputado a Copa das Confederações pela seleção mexicana. E voltou das férias num ambiente que poderia ter estragado tudo: em meio à vexatória eliminação na terceira fase preliminar da Liga Europa, para o Osijek, da Croácia. Escalado imediatamente como titular na primeira rodada da Eredivisie, na ponta esquerda, contra o AZ, o camisa 11 já teria um respeitável desafio pela frente. Pois passou bem por ele.
Na estreia pelo Campeonato Holandês, Lozano foi constante opção de desafogo das jogadas de ataque do PSV. Na primeira vez em que teve a bola nos pés, já teve espaço para seguir em velocidade e empatar um jogo que estava difícil. Minutos depois, ainda chutou a bola no travessão dos visitantes de Alkmaar. E se converteu num dos destaques da virada para 4 a 2 que diminuiu um pouco a crise que se avizinhava em Eindhoven, após a eliminação precoce que a deixou sem torneios continentais para jogar nesta temporada.
A velocidade de Lozano acabou oferecendo um caminho. E Phillip Cocu apostou nele para mudar a equipe. Sobrou para Luuk de Jong: após as más atuações contra o Osijek, foi para o banco e esteve a um passo de deixar o PSV (só não saiu porque o Bordeaux, à última hora, desistiu de negociação avançada). Seja como for, Luuk perdeu muito espaço nos Boeren – e quando o recuperou, começando como titular no clássico contra o Feyenoord, foi vitimado por um choque acidental numa dura dividida com Berghuis, na qual foi golpeado no peito pelo joelho do adversário, sofrendo lesões leves na região dos pulmões. Já retornou do retiro forçado, mas segue sem muitas chances de jogo.
Enquanto Luuk de Jong caiu, outros membros do PSV subiram de produção. Como Marco van Ginkel: em seu terceiro empréstimo do Chelsea, o meio-campista ficou com a braçadeira de capitão. E é titular absoluto: partindo do meio-campo para criar as jogadas e até finalizar, Van Ginkel é o coadjuvante perfeito para Lozano. Tanto que a dupla foi destaque em duas das goleadas que o líder da Eredivisie conseguiu até agora: o 4 a 1 fora de casa no NAC Breda, na segunda rodada, e outro 4 a 0, sobre o Roda JC, na rodada passada, há quase duas semanas.
Pela goleada mais extravagante – o 7 a 1 sobre o Utrecht, há duas rodadas -, foram responsáveis outros dois destaques nascentes no PSV. Enfim jogando na sua posição preferencial, como atacante no meio da área, Jürgen Locadia ganhou a preferência sobre Luuk de Jong. E a tem justificado: já são cinco gols em sete jogos, vivendo provavelmente a fase mais promissora da carreira (isso após quase ter se transferido para o Wolverhampton). Assim como Steven Bergwijn: o ponta-direita é um dos únicos jovens holandeses a merecer alguma atenção.
No entanto, o ocupante da outra ponta do PSV tem sido o destaque indubitável deste começo de Eredivisie: Lozano. Basta dizer que, ao marcar nas três primeiras rodadas, o mexicano igualou uma marca só conseguida antes por outro atacante que despontou em Eindhoven e hoje faz sucesso num campeonato maior da Europa: Dries Mertens. E só não marcou na quarta, talvez, por ter sido expulso na derrota por 2 a 0 para o Heerenveen, único revés do time nesta temporada.
Revés que, por sinal, mostrou algumas fragilidades da equipe. Assim como a atuação decepcionante no clássico contra o Feyenoord, quando até correu riscos de sofrer o empate, mesmo com um homem a mais. O miolo de zaga não tem oferecido muita resistência, com desconfianças sobre o nível técnico de Nicolas Isimat-Mirin e Daniel Schwaab. E a lateral esquerda ainda traz dúvidas. Contra o AZ, na estreia, Joshua Brenet (suposto ocupante, após a saída de Jetro Willems) foi tão mal que saiu no primeiro tempo, para a entrada de Kenneth Paal, vindo da base. Só nas últimas rodadas Brenet recupera a posição, aos poucos. Absolutos, só mesmo o goleiro Jeroen Zoet e o lateral direito Santiago Arias.
Ainda assim, com a reformulação continuando, o PSV consegue ser mais regular do que o Feyenoord e o Ajax. Por isso, lidera a Eredivisie. E também pelo promissor começo de Hirving Lozano. Que daria aos marcadores razão para cantarem, se português soubessem falar: “Alguém segura o Chucky, alguém amarra o Chucky/Cuidado com o boneco, ele pode te furar”.
Enfim, o sétimo gol
Em 16 de outubro de 2015, esta coluna comentou o vexame da Holanda nas Eliminatórias da Euro 2016. E terminou assim: “(...) A ausência da Euro 2016 não é o 7 a 1 holandês, ainda: o ‘sétimo gol’ seria ficar de fora da Copa de 2018. Mas a Holanda está, sim, perdendo de goleada. Um 6 a 0, digamos assim. E parafraseando o lema já histórico aqui no Brasil, 6 a 0 está sendo pouco”.
Pois bem: veio o “sétimo gol”. As razões para a crise do futebol holandês já foram tão debatidas aqui que citá-las novamente é ser repetitivo. Mas só fica um pensamento: é a oportunidade que falta para a Holanda se repensar. Ou então, viver do passado. E de um passado nem tão glorioso, já que só há a Euro 1988 na galeria de honra da KNVB.
(Coluna originalmente publicada pela Trivela, em 13 de outubro de 2017)
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