Berghuis até se esforça num Feyenoord vitimado por lesões. Mas só uma vitória no Klassieker aliviaria o ambiente (Pim Ras Fotografie) |
É curioso constatar que, entre os dois arquirrivais, quem precisa mais da vitória no Klassieker é o Feyenoord, que ocupa a vice-liderança da Eredivisie pelo melhor saldo de gols (+13 contra +10). Nem tanto pelo resultado em si, mas para provar a muita gente que não perdeu a determinação da histórica temporada 2016/17. Uma suspeita que veio após as duas partidas mais recentes do Stadionclub. A primeira, pela liga: na rodada passada da liga, com De Kuip lotado como sempre, a equipe martelou durante o segundo tempo inteiro contra o Zwolle. Mas não conseguiu sair do 0 a 0. Pior: no primeiro tempo, vira os visitantes até mais ofensivos em busca do gol.
E nesta semana, parecia que a via-crúcis que se passa na Liga dos Campeões teria fim. O Feyenoord começou jogando até melhor contra o Shakhtar Donetsk. Criava chances, e abriu merecidamente o placar – com aquele que talvez seja o melhor jogador Feyenoorder nesta fase inicial de 2017/18, Steven Berghuis (goleador da Eredivisie, com 6 gols, junto de Jürgen Locadia). Porém, as falhas defensivas permitiram ao time ucraniano começar a se impor. Houve tempo para empatar, ainda no primeiro tempo, com Bernard. E no segundo tempo, o atacante mineiro virou para o 2 a 1 que deixou ainda mais diminutas, próximas do zero, as perspectivas do clube de Roterdã para a temporada, em termos de competições continentais.
Justo citar que as falhas defensivas supracitadas ocorrem em grande parte pela necessidade de jogar com uma escalação inesperada, pelas várias lesões. Giovanni van Bronckhorst pensara numa zaga com Kevin Diks e Ridgeciano Haps nas laterais, com a dupla Eric Botteghin e Jan-Arie van der Heijden ocupando previsível e entrosadamente os lugares no miolo de zaga. Só que o zagueiro brasileiro lesionou os ligamentos do joelho, e só voltará a campo a partir do returno. Van der Heijden, por sua vez, teve problemas musculares que o tiram dos gramados por algumas semanas. O técnico foi forçado, então, a usar os reservas Renato Tapia e Jeremiah “Jerry” St. Juste. Pior: contra o Zwolle, o peruano Tapia também sofreu lesão muscular, forçando Sven van Beek, recentemente recuperado de grave contusão, a apressar sua volta. Pior ainda: com dores no pé, Van Beek também está fora do Klassieker. E só agora Diks voltará à lateral direita - também machucado, Diks tem sido substituído por Sofyan Amrabat (de boas atuações).
Se fosse só na defesa, ainda seria possível controlar os danos. Porém, a onda de problemas musculares também vitimou aquele de quem mais se espera: Nicolai Jorgensen, lesionado antes mesmo das datas Fifa. Sem o atacante dinamarquês, escalou-se forçosamente Sam Larsson, e se improvisou Jean-Paul Boëtius no meio do ataque – ainda mais forçosamente, já que Boëtius assume que “é ponta”. Não houve muito sucesso. Jorgensen tem retornado cuidadosamente: jogou 30 minutos contra o Zwolle, 67 contra o Shakhtar, e deverá começar como titular. Um alívio para o Feyenoord. Afinal de contas, o capitão Karim El Ahmadi (um dos únicos pontos de segurança da equipe) assumiu: “Ainda estamos de mãos vazias”.
De certa forma, o Ajax poderia dizer o mesmo. Talvez seja estranho falar isso, diante de um clube que conseguiu duas goleadas nas duas rodadas recentes: 4 a 0 tanto em Heerenveen, na 7ª rodada, quanto no Sparta Rotterdam, no sábado passado. Fica menos estranho, no entanto, ao se notar que o time de Amsterdã não revela muitos avanços em suas atuações. Continua tendo muita posse de bola, continua demorando para atacar... de mais a mais, dos quatro gols contra o Sparta, dois foram contra. Por coisas assim, a torcida segue desconfiada, sem esquecer vexames como os 2 a 0 sofridos para o Vitesse em plena Amsterdam Arena. Tal resultado até deixou o técnico Marcel Keizer a perigo, mas ele conseguiu respiro no cargo com as duas goleadas.
David Neres era preterido no time do Ajax. Mas mostrou velocidade, tem marcado gols - e por isso recuperou a vaga (Pro Shots/Ajax.nl) |
E elas se devem às soberbas atuações de três jogadores. No meio-campo, Hakim Ziyech parece não saber o que é crise, pessoalmente: o camisa 10 do Ajax esbanja técnica – prova são as cinco assistências, que o tornam aquele que mais passes para gol deu na temporada. E por causa dessa capacidade, Ziyech ganha até certa ascendência dentro do time, cobrando todas as bolas paradas e desenvolvendo certa liderança que lhe tem sido muito útil para recuperar o merecido espaço na seleção de Marrocos, para a qual voltou após resolver sua briga com o técnico Hervé Renard.
Com Ziyech pensando as jogadas, cabe a David Neres ser um diferencial de que os Amsterdammers precisavam. No começo da temporada, o atacante brasileiro foi preterido na direita: pela capacidade de voltarem para marcar, tanto Justin Kluivert quanto Vaclav Cerny eram mais escalados. Mas Kluivert se machucou, Marcel Keizer escalou Neres, o paulistano deu muito mais velocidade ao ataque (e melhorou na marcação). Resultado: três gols feitos nas duas partidas mais recentes – quatro no campeonato -, além da postura atenta em campo, tornando o oriundo são-paulino querido pela torcida, cada vez mais respeitado no grupo, um destaque Ajacied. E poucos jogadores poderiam ser tutores melhores para David Neres do que Klaas-Jan Huntelaar. Na experiência, o atacante vai ganhando a disputa de posição com Kasper Dolberg – e sabe ajudar o jovem time a manter a cabeça em momentos difíceis.
E a desconfiança segue pesada sobre Ajax e Feyenoord. Nada melhor do que a vitória num Klassieker para desempatar, literalmente, a situação de ambos – e tornar o vencedor o principal antagonista do PSV. Que, por sua vez, também tem interesses: um empate pode deixá-lo sete pontos na frente, transformando-o num precoce favorito ao título holandês.
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 20 de outubro de 2017)
Nenhum comentário:
Postar um comentário