Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina.
É preciso marcar, no meio-campo? Ela é a opção preferencial para volante, no banco de reservas da seleção da Holanda. É preciso atacar, também no meio? Bem, ela era meio-campista ofensiva no começo da carreira, e pode ajudar, mesmo que não jogue assim faz tempo. As lesões de Van der Gragt são um problema na zaga? Pois bem, nos últimos anos ela tem sido recuada para a defesa das Leoas, sendo titular costumeira do setor ao lado de Merel van Dongen. Assim, Anouk Dekker vai para sua segunda Copa do Mundo trazendo várias opções táticas para a técnica Sarina Wiegman, além da experiência.
Nascida em Almelo, Dekker começou a jogar aos seis anos de idade, nas equipes amadoras de base do SVZW, clube de Wierden, cidade próxima a Almelo. No SVZW mesmo, começou a chamar a atenção da federação holandesa, nos programas de prospecção de jogadoras - o que bastou para que ela passasse a jogar em todas as seleções femininas de base, já a partir da categoria sub-12. O tempo passou, Dekker se converteu em meio-campista, mostrou talento para seguir carreira no futebol... mas ainda não havia nem campeonato feminino na Holanda quando sua adolescência terminava. Restou se transferir para a vizinha Alemanha, para jogar no FFC Heike Rheine, a partir de 2005. E lá Dekker começou a carreira, ficando por duas temporadas como opção frequente no banco da equipe feminina do clube da Westfália.
Em 2007, as coisas começaram a mudar. Com o advento da liga feminina holandesa, alguns clubes (re)criaram departamentos para as mulheres jogarem. O Twente foi um desses. E Dekker se transferiu para o clube de Enschede (outro município perto de Almelo), para participar da primeira edição da Eredivisie Vrouwen. Em 2007/08, já teve uma boa atuação: 17 jogos na liga, 6 gols, parte do grupo campeão da Copa da Holanda. Mais uma temporada, e a meio-campista já era titular absoluta dos Tukkers: 24 partidas, 4 bolas na rede. Foi jogando assim, mais ofensiva no meio-campo, que Dekker recebeu a primeira convocação para a seleção da Holanda: a técnica Vera Pauw a colocou em campo no empate em 1 a 1 com Belarus, pelas Eliminatórias da Copa de 2011.
Em junho de 2010, vieram os primeiros gols da meio-campista: contra a Bélgica (vitória por 4 a 1, em amistoso no dia 13) e contra a Noruega (2 a 2, pelas Eliminatórias da Copa, no dia 19). A Holanda ficou de fora do Mundial de 2011, mas já estava claro: Dekker era nome de seleção, já ganhando experiência e espaço pouco a pouco ao lado de nomes então já tradicionais na Laranja, como a zagueira Daphne Koster, a volante Anouk Hoogendijk e a meio-campista Chantal de Ridder (a quem a novata Dekker geralmente substituía, vinda do banco).
No Twente, Dekker começaria a fazer parte do primeiro grande momento da história da equipe feminina do clube. Tal momento começou com o título da Eredivisie, em 2010/11. Na temporada seguinte, a Eredivisie se fundiu ao campeonato belga feminino, na formação da BeNeLeague - e o Twente foi o melhor holandês da BeNeLeague por três temporadas seguidas, de 2012/13 a 2014/15. O desempenho ofensivo da meio-campista só melhorava: na liga do Benelux em 2013/14, Dekker chegou a fazer 20 gols em 24 jogos.
Tudo isso garantia mais convocações para a seleção holandesa - e, finalmente, a primeira chamada para um torneio grande, a Euro 2013. Nem uma fratura na face, sofrida no último amistoso antes daquela Euro, tirou Dekker da competição. A Holanda foi mal (eliminada na fase de grupos), e a meio-campista ainda ficou na reserva, só entrando no decorrer dos jogos contra Islândia e Alemanha. Mas o tempo seguiu passando. E já a partir daquela Euro, se notava uma mudança tática no papel de Dekker na seleção. Se até 2013 era quase uma atacante, contra a Alemanha, ela entrou no lugar de uma colega de geração: Sherida Spitse, uma... volante.
Pois foi ao mudar de papel que a nativa de Almelo virou, enfim, titular na seleção da Holanda. No Twente, até continuou ofensiva: ainda fez 14 gols em 21 jogos, na temporada 2014/15 (última da BeNeLeague, antes da liga holandesa feminina voltar a ser disputada isoladamente). Mas nas Leoas, foi como volante que ela foi convocada para a primeira Copa do Mundo feminina da Holanda, em 2015. Melhor: com uma séria lesão tirando a experiente Anouk Hoogendijk de combate naquela Copa, Dekker foi titular em todos os minutos das holandesas no Mundial do Canadá. Agradou, usando a força física na marcação e dando qualidade à saída de bola.
Bastou para que, após a Copa, Dekker virasse titular absoluta da Holanda, já com muita experiência na bagagem. No Twente, uma ótima temporada em 2015/16, com a "dupla coroa" vinda com os títulos na copa e no campeonato holandeses. E veio uma chance fora de seu país natal: em 2016, veio a transferência para o Montpellier, da França. Na primeira temporada pelo MHSC, a holandesa ainda ficou na reserva: só quatro jogos. Em 2016/17, todavia, a agora volante embalou na equipe francesa: 18 jogos, 6 gols. Mas seu grande momento na carreira ainda chegaria.
Em 2017, Dekker foi convocada para a segunda Euro de sua carreira. No torneio europeu de seleções, começou jogando no meio-campo, como habitual. Mas uma lesão da zagueira Mandy van den Berg - e um posterior desentendimento entre Van den Berg e a técnica Sarina Wiegman - forçou Dekker a ficar na zaga, ao lado de Stefanie van der Gragt. Seguiu como titular absoluta. E tudo terminou como num sonho: a Holanda ganhou o título em casa, teve a defesa menos vazada da competição (três gols sofridos), e Dekker entrou para a seleção da Euro, considerada uma das melhores jogadoras da competição.
De lá para cá, Dekker seguiu frequente nas convocações da Holanda. Mesmo sem tanto ritmo de jogo no Montpellier, sua experiência e sua versatilidade tática continuaram de grande valia nas Eliminatórias da Copa de 2019. É certo que os 32 anos já se fizeram sentir: mais lenta, Dekker pode ter mais dificuldades na zaga - chegou a ser expulsa aos cinco minutos de jogo, contra a Suíça, na decisão da vaga neste Mundial. Além do mais, no meio-campo, há outras opções mais confiáveis, fisicamente. No entanto, pelos dez anos de seleção e pela capacidade técnica nas posições, Marieke Anouk Dekker foi nome previsível na convocação para a Copa do Mundo feminina. Quando é titular, é também a capitã holandesa. E se a Holanda precisar, ela está lá. Na defesa, no meio-campo, no ataque, marcando, fazendo gols...
Ficha técnica
Mais recuada, no meio-campo. Mais ofensiva, também no meio-campo. Ajudando no miolo de zaga. A veterana Anouk Dekker tem muita utilidade tática na seleção holandesa (onsoranje.nl) |
Nascida em Almelo, Dekker começou a jogar aos seis anos de idade, nas equipes amadoras de base do SVZW, clube de Wierden, cidade próxima a Almelo. No SVZW mesmo, começou a chamar a atenção da federação holandesa, nos programas de prospecção de jogadoras - o que bastou para que ela passasse a jogar em todas as seleções femininas de base, já a partir da categoria sub-12. O tempo passou, Dekker se converteu em meio-campista, mostrou talento para seguir carreira no futebol... mas ainda não havia nem campeonato feminino na Holanda quando sua adolescência terminava. Restou se transferir para a vizinha Alemanha, para jogar no FFC Heike Rheine, a partir de 2005. E lá Dekker começou a carreira, ficando por duas temporadas como opção frequente no banco da equipe feminina do clube da Westfália.
Em 2007, as coisas começaram a mudar. Com o advento da liga feminina holandesa, alguns clubes (re)criaram departamentos para as mulheres jogarem. O Twente foi um desses. E Dekker se transferiu para o clube de Enschede (outro município perto de Almelo), para participar da primeira edição da Eredivisie Vrouwen. Em 2007/08, já teve uma boa atuação: 17 jogos na liga, 6 gols, parte do grupo campeão da Copa da Holanda. Mais uma temporada, e a meio-campista já era titular absoluta dos Tukkers: 24 partidas, 4 bolas na rede. Foi jogando assim, mais ofensiva no meio-campo, que Dekker recebeu a primeira convocação para a seleção da Holanda: a técnica Vera Pauw a colocou em campo no empate em 1 a 1 com Belarus, pelas Eliminatórias da Copa de 2011.
Em junho de 2010, vieram os primeiros gols da meio-campista: contra a Bélgica (vitória por 4 a 1, em amistoso no dia 13) e contra a Noruega (2 a 2, pelas Eliminatórias da Copa, no dia 19). A Holanda ficou de fora do Mundial de 2011, mas já estava claro: Dekker era nome de seleção, já ganhando experiência e espaço pouco a pouco ao lado de nomes então já tradicionais na Laranja, como a zagueira Daphne Koster, a volante Anouk Hoogendijk e a meio-campista Chantal de Ridder (a quem a novata Dekker geralmente substituía, vinda do banco).
Dekker foi uma das protagonistas do primeiro grande momento da história do time feminino do Twente (Reprodução/Wikipedia) |
Tudo isso garantia mais convocações para a seleção holandesa - e, finalmente, a primeira chamada para um torneio grande, a Euro 2013. Nem uma fratura na face, sofrida no último amistoso antes daquela Euro, tirou Dekker da competição. A Holanda foi mal (eliminada na fase de grupos), e a meio-campista ainda ficou na reserva, só entrando no decorrer dos jogos contra Islândia e Alemanha. Mas o tempo seguiu passando. E já a partir daquela Euro, se notava uma mudança tática no papel de Dekker na seleção. Se até 2013 era quase uma atacante, contra a Alemanha, ela entrou no lugar de uma colega de geração: Sherida Spitse, uma... volante.
Pois foi ao mudar de papel que a nativa de Almelo virou, enfim, titular na seleção da Holanda. No Twente, até continuou ofensiva: ainda fez 14 gols em 21 jogos, na temporada 2014/15 (última da BeNeLeague, antes da liga holandesa feminina voltar a ser disputada isoladamente). Mas nas Leoas, foi como volante que ela foi convocada para a primeira Copa do Mundo feminina da Holanda, em 2015. Melhor: com uma séria lesão tirando a experiente Anouk Hoogendijk de combate naquela Copa, Dekker foi titular em todos os minutos das holandesas no Mundial do Canadá. Agradou, usando a força física na marcação e dando qualidade à saída de bola.
A participação na Copa de 2015 marcou uma mudança no papel tático de Dekker: de meio-campista ofensiva, passou a ser volante (Getty Images) |
Dekker começou jogando a Euro 2017 no meio-campo. Teve de ir para zaga. E continuou fundamental na Holanda campeã (TF Images/Getty Images) |
De lá para cá, Dekker seguiu frequente nas convocações da Holanda. Mesmo sem tanto ritmo de jogo no Montpellier, sua experiência e sua versatilidade tática continuaram de grande valia nas Eliminatórias da Copa de 2019. É certo que os 32 anos já se fizeram sentir: mais lenta, Dekker pode ter mais dificuldades na zaga - chegou a ser expulsa aos cinco minutos de jogo, contra a Suíça, na decisão da vaga neste Mundial. Além do mais, no meio-campo, há outras opções mais confiáveis, fisicamente. No entanto, pelos dez anos de seleção e pela capacidade técnica nas posições, Marieke Anouk Dekker foi nome previsível na convocação para a Copa do Mundo feminina. Quando é titular, é também a capitã holandesa. E se a Holanda precisar, ela está lá. Na defesa, no meio-campo, no ataque, marcando, fazendo gols...
Ficha técnica
Nome: Marieke Anouk Dekker
Posição: Meio-campista (volante)/defensora
Posição: Meio-campista (volante)/defensora
Data e local de nascimento: 15 de novembro de 1986, em Almelo (Holanda)
Clubes na carreira: Heike Rheine-ALE (2005 a 2007), Twente (2007 a 2015) e Montpellier-FRA (desde 2016)
Desempenho na seleção: 77 jogos e 6 gols, desde 2009
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