Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina.
Pode-se dizer que há quatro veteranas na seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo. Quatro jogadoras cujas idades nem são tão altas, mas que carregam vários anos de Laranja nas costas. A goleira Loes Geurts e a meio-campista Anouk Dekker têm lá sua importância, mesmo que já não sejam titulares absolutas. A atacante Shanice van de Sanden, então, vive grande fase, já há alguns anos. Entretanto, dá para ser definitivo: nenhuma das outras 22 jogadoras holandesas que estarão na França sabem tão bem o que é atuar pela seleção feminina, e o significado disso, quanto a meio-campista e capitã da equipe. Afinal, Sherida Spitse é a recordista de jogos pelas Leoas, com suas 161 partidas.
A trajetória de Spitse mostra precocidade que já indicava a possibilidade dela ganhar a importância e a liderança que tem na Holanda. Já na infância, Spitse começou a jogar nas equipes infantis do VV Sneek, clube amador de sua cidade. Lá ficou também durante a adolescência. E ainda durante seus anos de juventude, a meio-campista recebeu sua primeira convocação e fez seu primeiro jogo pela seleção feminina adulta: em 31 de agosto de 2006, aos 16 anos e 92 dias, ainda como atleta do VV Sneek, Spitse estreou pela Oranje, substituindo a volante Anouk Hoogendijk no decorrer da derrota por 4 a 0 para a Inglaterra, nas Eliminatórias da Copa de 2007. Mais do que isso: ainda em 2006, num amistoso contra a Rússia, em 22 de novembro, a meio-campista marcou o primeiro gol pela seleção.
Começo tão fulgurante já serviu para que Sherida ganhasse chance num time profissional logo em 2007, ano do início da primeira edição profissional do Campeonato Holandês feminino. Quando a temporada 2007/08 da Eredivisie Vrouwen começou, a novata promissora já jogava no Heerenveen. E já se consolidava como uma volante firme e regular: foram poucos gols (3), mas 20 jogos que a deixaram como titular absoluta do clube da Frísia. Isso ficou ainda mais claro na temporada 2008/09, quando o desempenho melhorou: 24 jogos, 5 gols.
Paralelamente, Spitse garantia cada vez mais o lugar na seleção, nas convocações da técnica Vera Pauw. Na ótima campanha da Euro 2009, quando a Holanda foi semifinalista, ela já estava lá, aos 19 anos, aprendendo no banco de reservas em que ficou durante toda a campanha. Nas partidas do ciclo seguinte, Spitse já começou a ser titular com mais frequência. Quando o técnico Roger Reijners substituiu Vera Pauw, em 2010, a jovem entrou definitivamente para a base das escalações. E mesmo nova, já se impunha - até demais: chegou a ser expulsa num amistoso contra o Brasil, em 2010, no Torneio Internacional Cidade de São Paulo. Mas ao jogar, a meio-campista deixava claro com a bola nos pés: logo ela seria uma titular indiscutível da seleção da Holanda. Logo, imporia tanto respeito quanto impunham as titulares com quem aprendia: a lateral direita Dyanne Bito, a zagueira e capitã Daphne Koster, Anouk Hoogendijk, a meio-campista Annemieke Kiesel-Griffioen, as atacantes Sylvia Smit e Manon Melis.
No Heerenveen, Spitse seguia imperando no time titular, mostrando as qualidades que têm: bom porte físico, firmeza nas divididas, boa técnica nas saídas de bola, precisão nas cobranças de falta. Mas faltavam os títulos. Eles só passaram a vir no passo seguinte de sua carreira: a ida para o Twente, em 2012, exatamente o mesmo ano do advento da BeNeLeague, o campeonato conjunto entre times femininos de Bélgica e Holanda. Foi o passo certo: o Twente se tornou bicampeão da BeNeLeague (2012/13 e 2013/14). Jogando mais adiantada, Spitse foi simplesmente a goleadora dos Tukkers na temporada 2012/13, com 16 gols em 25 jogos.
Àquela altura, Spitse já correspondia às expectativas na seleção: era titular inquestionável também nas Leoas. E assim foi à segunda Euro da carreira, em 2013. O resultado foi fraco, com a queda holandesa na fase de grupos, como lanterna de sua chave. Ainda assim, a volante não teria do que reclamar daquele momento. No segundo título holandês do Twente, fez menos partidas, mas uma média de gols bem melhor: 10, em 13 jogos. E ela só fez menos jogos porque saiu no meio da campanha. O que rendeu mais um feito: em janeiro de 2014, Sherida se transferiu para o Lilleström, da Noruega, na primeira transferência de uma jogadora holandesa a envolver um pagamento na história do futebol feminino no país. E Spitse chegou com tudo ao LSK Kvinner: ao final daquele 2014, o clube conquistara o campeonato e a copa noruegueses. E a jogadora, por sua vez, fora incluída na seleção dos melhores da temporada da Toppserien, 22 jogos e dois gols depois.
De quebra, Spitse tinha mais o que comemorar no fim daquele ano. A seleção da Holanda garantira vaga na primeira Copa do Mundo feminina em sua história, ao superar a Itália na repescagem. É claro, a volante seguiu como nome certo nas Leoas. Tanto que, em 7 de fevereiro de 2015, num amistoso contra a Tailândia, ela celebrou sua 100ª partida pela seleção, com apenas 24 anos. Foi nome certo na convocação de Roger Reijners para o Mundial do Canadá. E atuou em cada minuto das quatro partidas que a Holanda fez na Copa de 2015, já como volante, mais recuada.
A boa fase seguiu quando Sherida voltou à Noruega para o Lilleström: emplacou a "dupla coroa" por mais duas vezes, com o tricampeonato tanto na liga quanto na copa nacionais, em 2015 e 2016. Diante de um cenário vitorioso assim, parecia retração inesperada quando Spitse anunciou a volta ao Twente, no começo de 2017, para o returno do Campeonato Holandês. Era só o começo do auge de sua carreira. Nem tanto nos Tukkers, que viram o Ajax campeão da Eredivisie feminina no fim daquela temporada 2016/17. Mas na seleção, qualquer frustração foi plenamente compensada.
Spitse seguiu absoluta nas Leoas durante todo aquele tempo. Foi convocada para a disputa da terceira Eurocopa feminina de sua carreira, em 2017, justamente na Holanda. Foi titular - e se tornou capitã da seleção no decorrer da campanha, quando a zagueira Mandy van den Berg se lesionou (e depois, brigou com a técnica Sarina Wiegman, descontente por não voltar ao time titular). Fez dois gols, na fase de grupos. Finalmente, Spitse se valeu de uma qualidade técnica sua no momento mais importante da campanha holandesa na Euro. Foi numa cobrança de falta precisa que ela colocou a Holanda na frente do placar, na final contra a Dinamarca, fazendo 3 a 2 e abrindo o caminho do histórico título europeu das Leoas, celebrado com ela erguendo o troféu junto a Van den Berg. Claro, o desempenho teve o prêmio justo: Spitse foi incluída na seleção da competição.
A volante terminou o vitorioso 2017 ainda no Twente, com nove jogos e três gols pelo clube na Eredivisie da temporada 2017/18. Mas antes do returno, no fim de 2017, Sherida já voltou à Noruega: assinou contrato por dois anos com o Valerenga. Mais importante: passara a ser dona definitiva da braçadeira de capitã na seleção. Assim, foi titular na conquista da amistosa Copa Algarve, em 2018. Seguiu previsivelmente como nome decorado pela torcida, na campanha das Eliminatórias que renderam o lugar nesta Copa do Mundo. E finalmente, neste 2019, Spitse alcançou mais uma façanha: durante a Copa Algarve, contra a Espanha (derrota por 2 a 0), superou a marca de Annemieke Kiesel-Griffioen e chegou a 157 partidas pela Holanda, se tornando a recordista de aparições pela seleção feminina.
O recorde foi celebrado com uma camisa comemorativa entregue à jogadora, e dois vídeos feitos pela federação: um mais institucional, com antigas companheiras de seleção a festejarem Spitse, e outro mais gozador, com as colegas atuais de Holanda brincando com os maneirismos da capitã nos vestiários. A convocação para a segunda Copa do Mundo da carreira foi quase óbvia. E quem acompanha futebol feminino na Holanda sabe: poucos merecem tanta confiança na seleção quanto Sherida Spitse, a poucos dias de fazer 29 anos. Força no meio-campo (para marcar e atacar) e liderança na equipe não lhe faltam. Se ela quiser, ainda terá muita história para fazer na seleção.
Ficha técnica
Capitã, recordista de jogos pela seleção, habilidosa e firme no meio-campo, precisa nas cobranças de falta, espírito de liderança: Spitse é indispensável à Holanda (onsoranje.nl) |
A trajetória de Spitse mostra precocidade que já indicava a possibilidade dela ganhar a importância e a liderança que tem na Holanda. Já na infância, Spitse começou a jogar nas equipes infantis do VV Sneek, clube amador de sua cidade. Lá ficou também durante a adolescência. E ainda durante seus anos de juventude, a meio-campista recebeu sua primeira convocação e fez seu primeiro jogo pela seleção feminina adulta: em 31 de agosto de 2006, aos 16 anos e 92 dias, ainda como atleta do VV Sneek, Spitse estreou pela Oranje, substituindo a volante Anouk Hoogendijk no decorrer da derrota por 4 a 0 para a Inglaterra, nas Eliminatórias da Copa de 2007. Mais do que isso: ainda em 2006, num amistoso contra a Rússia, em 22 de novembro, a meio-campista marcou o primeiro gol pela seleção.
Começo tão fulgurante já serviu para que Sherida ganhasse chance num time profissional logo em 2007, ano do início da primeira edição profissional do Campeonato Holandês feminino. Quando a temporada 2007/08 da Eredivisie Vrouwen começou, a novata promissora já jogava no Heerenveen. E já se consolidava como uma volante firme e regular: foram poucos gols (3), mas 20 jogos que a deixaram como titular absoluta do clube da Frísia. Isso ficou ainda mais claro na temporada 2008/09, quando o desempenho melhorou: 24 jogos, 5 gols.
Paralelamente, Spitse garantia cada vez mais o lugar na seleção, nas convocações da técnica Vera Pauw. Na ótima campanha da Euro 2009, quando a Holanda foi semifinalista, ela já estava lá, aos 19 anos, aprendendo no banco de reservas em que ficou durante toda a campanha. Nas partidas do ciclo seguinte, Spitse já começou a ser titular com mais frequência. Quando o técnico Roger Reijners substituiu Vera Pauw, em 2010, a jovem entrou definitivamente para a base das escalações. E mesmo nova, já se impunha - até demais: chegou a ser expulsa num amistoso contra o Brasil, em 2010, no Torneio Internacional Cidade de São Paulo. Mas ao jogar, a meio-campista deixava claro com a bola nos pés: logo ela seria uma titular indiscutível da seleção da Holanda. Logo, imporia tanto respeito quanto impunham as titulares com quem aprendia: a lateral direita Dyanne Bito, a zagueira e capitã Daphne Koster, Anouk Hoogendijk, a meio-campista Annemieke Kiesel-Griffioen, as atacantes Sylvia Smit e Manon Melis.
No Heerenveen, Spitse seguia imperando no time titular, mostrando as qualidades que têm: bom porte físico, firmeza nas divididas, boa técnica nas saídas de bola, precisão nas cobranças de falta. Mas faltavam os títulos. Eles só passaram a vir no passo seguinte de sua carreira: a ida para o Twente, em 2012, exatamente o mesmo ano do advento da BeNeLeague, o campeonato conjunto entre times femininos de Bélgica e Holanda. Foi o passo certo: o Twente se tornou bicampeão da BeNeLeague (2012/13 e 2013/14). Jogando mais adiantada, Spitse foi simplesmente a goleadora dos Tukkers na temporada 2012/13, com 16 gols em 25 jogos.
Spitse impulsionou a carreira na Holanda, mas explodiu de vez na Noruega, com muito a comemorar no Lilleström (Digitalsport) |
De quebra, Spitse tinha mais o que comemorar no fim daquele ano. A seleção da Holanda garantira vaga na primeira Copa do Mundo feminina em sua história, ao superar a Itália na repescagem. É claro, a volante seguiu como nome certo nas Leoas. Tanto que, em 7 de fevereiro de 2015, num amistoso contra a Tailândia, ela celebrou sua 100ª partida pela seleção, com apenas 24 anos. Foi nome certo na convocação de Roger Reijners para o Mundial do Canadá. E atuou em cada minuto das quatro partidas que a Holanda fez na Copa de 2015, já como volante, mais recuada.
A boa fase seguiu quando Sherida voltou à Noruega para o Lilleström: emplacou a "dupla coroa" por mais duas vezes, com o tricampeonato tanto na liga quanto na copa nacionais, em 2015 e 2016. Diante de um cenário vitorioso assim, parecia retração inesperada quando Spitse anunciou a volta ao Twente, no começo de 2017, para o returno do Campeonato Holandês. Era só o começo do auge de sua carreira. Nem tanto nos Tukkers, que viram o Ajax campeão da Eredivisie feminina no fim daquela temporada 2016/17. Mas na seleção, qualquer frustração foi plenamente compensada.
A liderança - e alguns gols - de Spitse foram propulsores na campanha do título europeu da Holanda, em 2017 (ANP) |
A volante terminou o vitorioso 2017 ainda no Twente, com nove jogos e três gols pelo clube na Eredivisie da temporada 2017/18. Mas antes do returno, no fim de 2017, Sherida já voltou à Noruega: assinou contrato por dois anos com o Valerenga. Mais importante: passara a ser dona definitiva da braçadeira de capitã na seleção. Assim, foi titular na conquista da amistosa Copa Algarve, em 2018. Seguiu previsivelmente como nome decorado pela torcida, na campanha das Eliminatórias que renderam o lugar nesta Copa do Mundo. E finalmente, neste 2019, Spitse alcançou mais uma façanha: durante a Copa Algarve, contra a Espanha (derrota por 2 a 0), superou a marca de Annemieke Kiesel-Griffioen e chegou a 157 partidas pela Holanda, se tornando a recordista de aparições pela seleção feminina.
O recorde foi celebrado com uma camisa comemorativa entregue à jogadora, e dois vídeos feitos pela federação: um mais institucional, com antigas companheiras de seleção a festejarem Spitse, e outro mais gozador, com as colegas atuais de Holanda brincando com os maneirismos da capitã nos vestiários. A convocação para a segunda Copa do Mundo da carreira foi quase óbvia. E quem acompanha futebol feminino na Holanda sabe: poucos merecem tanta confiança na seleção quanto Sherida Spitse, a poucos dias de fazer 29 anos. Força no meio-campo (para marcar e atacar) e liderança na equipe não lhe faltam. Se ela quiser, ainda terá muita história para fazer na seleção.
Ficha técnica
Nome: Sherida Spitse
Posição: Meio-campista
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 29 de maio de 1990, em Sneek (Holanda)
Clubes na carreira: Heerenveen (2007 a 2012), Twente (2012 a 2013 e 2017), Lilleström (LSK Kvinner)-NOR (2014 a 2017) e Valerenga-NOR (desde 2018)
Desempenho na seleção: 161 jogos e 30 gols, desde 2006
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