terça-feira, 28 de maio de 2019

As 23 Leoas: Groenen

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Jackie Groenen já tinha uma trajetória longa no futebol (e no esporte) antes de 2016. Ali, uma lacuna se abriu na seleção da Holanda. Ela aproveitou, e virou titular absoluta no meio-campo (onsoranje.nl)

Em certos momentos, há um "vácuo" numa equipe de futebol. A lacuna se abre numa posição, e quem estiver no lugar e na hora certos, fazendo a coisa certa, do jeito certo, se tornará a dona da posição na equipe. Foi exatamente isso que aconteceu com Jackie Groenen: até que demorou para ela chamar a atenção na seleção feminina da Holanda. Entretanto, na época de sua estreia pelas Leoas, havia um problema tático a ser resolvido no meio-campo. Groenen aproveitou a chance, agradou a técnica Sarina Wiegman, e hoje é uma fundamental meio-campista na equipe holandesa.

Mas ao invés de meio-campista holandesa, Jackie Groenen poderia ter sido uma judoca belga. Afinal de contas, por mais que tivesse nascido na Holanda (mais precisamente, na cidade de Tilburg), Groenen morava com a família na cidade de Poppel, na Bélgica. E passou toda a infância em Poppel. Entretanto, na hora de começar a jogar, era mais cômodo cruzar a fronteira, como a meio-campista comentou numa série de entrevistas ao jornal De Volkskrant: "Morávamos na Bélgica, mas na Holanda, você podia jogar num time de garotos até os 19 anos". E lá se foram duas irmãs Groenen, Jackie e Merel, jogarem no GSBW (Goirlese Sportvereniging Blauw-Wit), clube amador da cidade de Goirle. Ambas motivadas também pelo pai, um amante de futebol. E a dupla Jackie-Merel seguiu por mais dois clubes amadores da Holanda, o VV Riel e o Wilhelmina Boys. Nas seleções de base, o caminho de Jackie começou em 2009, com a primeira convocação para a equipe sub-17 da Holanda -foram seis jogos pela equipe, até 2010.

Enquanto começava no futebol, Jackie Groenen também fazia bonito no judô. Mas as lesões no tatame e o amor pela bola a levaram a deixar a modalidade de lado (judoinside.com)
Só que Jackie também começava a subir de nível no judô. Isso mesmo: o projeto de meio-campista também se revelava judoca promissora nas categorias menores, conquistando o tricampeonato holandês sub-15 na categoria feminina até 32 kgs (2007, 2008 e 2009). Em 2010, Groenen subiu de categoria no judô - passou a competir entre as judocas até 40kgs -, e continuou tendo grandes resultados. Na categoria até 44kgs, foi vice-campeã holandesa sub-20; até 40kgs, foi campeã holandesa e terceira colocada no campeonato europeu sub-17 de judô. Mais um ano, e em 2011, veio outro troféu: campeã holandesa sub-20 de judô, na categoria até 44kgs.

Em 2011, chegou a hora de escolher um caminho. No futebol, ainda com a irmã Merel Groenen, Jackie começou a carreira profissional, indo para a Alemanha, jogar no SGS Essen - fez seis jogos na temporada 2010/11. Logo que a temporada se encerrou, Groenen acertou a transferência imediata para o FCR Duisburg. Todavia, continuava acumulando a carreira no judô. Até que, um dia antes de uma rodada do Campeonato Alemão feminino, a jogadora sofreu uma fratura lombar numa luta no tatame. Ficou de fora, e foi repreendida pela direção do clube de Duisburg. Ali, Jackie Groenen tomou sua decisão profissional. A judoca encerrava a carreira, e o futebol virava prioridade. De certa forma, era a antecipação do que ocorreria, mais cedo ou mais tarde: Jackie disse à revista inglesa She Kicks que sempre preferiu o futebol, e que seria a sua opção definitiva.

A partir dali, como jogadora, Groenen se consolidou. No FCR Duisburg, ainda jogava pouco, mas já fazia seus gols: foram dois pela Bundesliga feminina em 2012/13, e mais dois em 2013/14. Ainda pelas seleções de base, a jogadora fez mais partidas pelo time sub-19 da Holanda. Porém, o clube de Duisburg dissolveu seu departamento de futebol feminino. A carreira profissional poderia ter acabado ali, até porque ela já começara o curso de Direito, na Universidade de Tilburg. Aí entrou o Chelsea: após entrar e sair do MSV Duisburg sem jogar oficialmente por ele, Groenen foi contratada pelos Blues, estreando em abril na Women Super League inglesa, num jogo do Chelsea contra o Bristol City (2 a 0 Chelsea). Foram poucas aparições defendendo o time de Stamford Bridge, em duas temporadas da liga inglesa: 14 jogos e 2 gols em 2014, 6 jogos e nenhum gol em 2015.

Só mesmo dentro de campo a sorridente Groenen mantém a seriedade (Simon Hofmann/Getty Images)
Foi ao voltar para a Alemanha que a carreira de Groenen deslanchou de vez. Em 2015, ela foi contratada pelo FFC Frankfurt. E só na equipe feminina de Frankfurt é que ganhou sequência como titular: na Bundesliga das mulheres pela temporada 2015/16, já foram 21 jogos, marcando um gol, exibindo qualidade na criação de jogadas (principalmente pelos lados). Paralelamente, chegava a hora de jogar por uma seleção feminina adulta. Pelos tempos passados na Bélgica, a meio-campista pensou em defender as Diablets. Nada feito: não tinha o passaporte belga. Mas a experiência nas seleções de base da Holanda foi lembrada: a jogadora foi chamada pelo técnico Arjan van der Laan, e teve sua primeira partida pelas Leoas num amistoso contra a Dinamarca, em 22 de janeiro de 2016.

Na temporada 2016/17, Groenen evoluiu pelo FFC Frankfurt: foram 22 jogos e 4 gols no campeonato alemão. Ao mesmo tempo, a seleção da Holanda vivia a tal "lacuna" de que o começo deste texto falava. Sarina Wiegman assumiu o comando da Laranja, e via a zagueira Stefanie van der Gragt sofrer com lesões, tendo de recuar costumeiramente a meio-campista Anouk Dekker para a defesa. Abria-se um espaço no meio-campo. Jackie estava a postos. Virou titular da Holanda, na reta final de preparação para a Euro 2017. Eis que tudo se acertou: Groenen se entrosou à perfeição com as colegas Sherida Spitse e Daniëlle van de Donk, a Holanda conquistou o título europeu, e Jackie foi escolhida entre as melhores jogadoras da Euro.

O título consolidou Jackie Groenen como destaque. De volta ao FFC Frankfurt, foram 20 jogos e 6 gols na temporada 2017/18 da Bundesliga feminina. Na seleção, veio mais um título, na amistosa Copa Algarve de 2018, e a titularidade absoluta na campanha das Eliminatórias da Copa. Groenen só se ausentou da repescagem que decidiu a vaga da Holanda no Mundial, por lesão no joelho. Nem isso freou sua utilização como um dos "símbolos" das Leoas na mídia: sorridente e bem-humorada, Jackie foi alvo de várias fotos e entrevistas - por exemplo, na série de preparação para a Copa feminina que o De Volkskrant está fazendo, desde março.

Nem a lesão no joelho que a tirou da repescagem que pôs a Holanda na Copa tirou o sorriso da cara de Groenen (Geert van Erwen/Soccrates/Getty Images)
De nada adiantaria, se Groenen não oferecesse qualidade nos ataques da Holanda, criando as jogadas pelos lados e se alternando bem com Van de Donk nas ajudas ao trio ofensivo das Leoas. Por isso, ela já terminou a temporada 2018/19 de contrato assinado para estrear no Manchester United, logo que o Mundial termine. Groenen chega à Copa como titular absoluta da seleção. E é candidata a destaque holandês. Se a chance aparecer, ela pode aproveitar. Já aproveitou uma vez.

Ficha técnica
Nome: Jackie Noëlle Groenen
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 17 de dezembro de 1994, em Tilburg (Holanda)
Clubes na carreira: SGS Essen-ALE (2011), FCR Duisburg-ALE (2011 a 2014), MSV Duisburg-ALE (2014), Chelsea-ING (2014 a 2015), FFC Frankfurt-ALE (2015 a 2019) e Manchester United-ING (desde 2019 - contrato já assinado, estreará depois da Copa do Mundo feminina)
Desempenho na seleção: 46 jogos e 2 gols, desde 2016

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