Ao invés do estádio, a volta para o hotel. O pesadelo também chocou o ônibus da Oranje (Vincent Jannink/ANP) |
De fato, o cenário antes do jogo era de reanimação. Tanto pela vitória contra Gales, quanto pela mensagem simpática lida por Danny Blind, na segunda, ainda sob a gigantesca e justificada consternação pelos atentados terroristas vistos em Paris. Vale repetir trechos dela aqui: "Num momento como esse, você se toca mais uma vez que há coisas mais importantes do que o futebol. E automaticamente vem a pergunta sobre se o jogo deveria ser realizado. Sabemos todos que a seleção alemã teve um fim de semana de muita comoção. Também respeitamos muito o fato de que eles queiram jogar amanhã [terça]. E é o que nós queremos, também".
Até pela proximidade entre holandeses e alemães nos clubes, o clima de ajuda era mútuo. Notou-se isso nas palavras de Klaas-Jan Huntelaar, ao diário De Telegraaf, comentando contato com um colega de Schalke 04 que estava no Stade de France, durante as duas explosões no estádio: "No dia, eu tinha falado com Leroy [Sané] por mensagem de texto sobre a ameaça de bomba no hotel deles. Ele disse que passaram a noite no estádio, e só queria uma coisa: voltar para casa o mais rápido possível. (...) Nunca se pode baixar a cabeça para o terror, mas compreendo se a federação alemã decidir cancelar o jogo. Agora o futebol é um assunto secundário".
Afinal, a confirmação do jogo veio no domingo. O que até dificultou o trabalho de Danny Blind. Pois logo após o 3 a 2 sobre os galeses em Cardiff, Riechedly Bazoer (dores musculares na coxa) e Virgil van Dijk (lesão no joelho) foram mais duas baixas na delegação holandesa, e não tiveram substitutos exatamente pela incerteza quanto à realização da partida na HDI-Arena de Hannover. Também no domingo, foi a vez de Eljero Elia ser dispensado. Aí, Jürgen Locadia foi chamado às pressas, em sua primeira convocação para a seleção principal.
Seria curioso vê-lo recebendo uma chance durante os 90 minutos - mesmo caso de Marko Vejinovic.. Com relação aos titulares, com a ausência de Arjen Robben já prevista, como Memphis Depay voltaria a campo? Bas Dost, surpresa agradável em Cardiff, daria lugar a Huntelaar - mostraria o veterano faro de gol? E Joël Veltman, como substituiria Van Dijk como "líbero" no 5-3-2? Do lado alemão, seria curioso ver o escolhido para substituir Manuel Neuer, entre Kevin Trapp, Bernd Leno e Ron-Robert Zieler. Assim como seria de bom tom ter visto Holanda e Alemanha abrindo mão da execução de "Het Wilhelmus" e "Deutschland über alles", os respectivos hinos, em favor da execução única d'A Marselhesa, antes do jogo - algo combinado pelas duas federações.
Só que nada disso aconteceu, pela ameaça crescente descoberta na HDI-Arena, pouco antes do jogo. Pouco antes mesmo: a delegação já estava a caminho do estádio quando o cancelamento foi anunciado. A mudança brusca de caminho chocou os jogadores, primeiro levados a uma delegacia, e depois trazidos de volta ao hotel - em cuja entrada, policiais armados fizeram a ronda. Até agora, não está certo se realmente havia explosivos, muito menos se estavam numa ambulância, como informou Volker Kluwe, chefe de polícia da cidade (Thomas de Maizière, ministro alemão de assuntos internos, negou os explosivos na ambulância, mesmo alertando que não podia dar mais detalhes).
Restou a Veltman acalmar, em mensagem de texto enviada à AT5, emissora de tevê local em Amsterdã: "Estamos seguros agora! Esperando rápido pelo que acontecerá". Restaram as declarações de Bert van Oostveen, citadas no primeiro parágrafo. Restaram os agradecimentos à federação alemã, em nota da federação holandesa, que lamentou por "um jogo tão bonito não ter sido realizado". Restou a decepção pela Oranje não ter podido tentar a primeira vitória desde 2002, contra uma das grandes adversárias. E ficou, acima de tudo, a sensação depressiva de que um jogo perturbado e cancelado por razões lamentáveis foi um fim tristemente apropriado para o péssimo 2015 que a seleção holandesa teve em campo.
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