Haller ajudou muito o Utrecht na temporada regular da Eredivisie. E pode ajudar mais nos play-offs (Gerrit van Keulen/VI Images) |
Desde a temporada 2005/06, o Campeonato Holandês não acaba com a sua 34ª rodada. Não bastassem os play-offs de acesso e descenso entre a primeira e a segunda divisões, houve então o advento da Nacompetitie (em holandês, "Nacompetitie" = depois da competição) pelas vagas holandesas nas competições continentais. Até 2007/08, houve Nacompetities para todos os torneios europeus: para definir vaga na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões, na terceira fase preliminar da então Copa Uefa e até por um lugar na hoje falecida Copa Intertoto.
Os clubes reclamaram, e a liga fez a mudança para o cenário vigente até hoje. Desde 2008/09, o campeão da Eredivisie segue com vaga direta na fase de grupos da Liga dos Campeões (pelo menos até a próxima temporada...), o vice-campeão ganha o lugar na terceira fase preliminar da Champions League, o terceiro colocado fica com a vaga nos play-offs da Liga Europa... e a Nacompetitie ficou restrita aos play-offs entre 4º e 7º colocado, por mais um lugar na Europa League, desta vez na terceira fase preliminar.
Só que o terceiro colocado em 2015/16 já está com seu lugar garantido na competição continental (como campeão da Copa da Holanda, o Feyenoord entrará diretamente na fase de grupos da LE). Assim, a vaga nos play-offs do torneio europeu foi para o AZ, dono da quarta posição ao final das 34 rodadas. E os play-offs ficam entre 5º e 8º colocado, começando nesta quinta, com os jogos de ida. Em jogos de ida e volta, enfrentam-se quinto contra oitavo, sexto contra sétimo, e os vencedores decidem o lugar na terceira fase preliminar da Europa League.
Portanto, melhor irmos logo para a perspectiva dos jogos. Porque, de certo modo, a Eredivisie ainda não acabou.
Utrecht x Zwolle
Jogo de ida: nesta quinta, no estádio Ijsseldelta, em Zwolle
Jogo de volta: domingo, 15.05, no estádio Galgenwaard, em Utrecht
Utrecht (5º colocado na Eredivisie regular)
Até pela posição na tabela ao final das 34 rodadas, os Utregs são os favoritos. Não só para superarem o Zwolle e irem à decisão, mas para a própria vaga. Afinal de contas, a equipe mostrou um estilo de jogo muito agradável e ofensivo durante a temporada regular - não à toa, o técnico Erik ten Hag foi premiado com o Troféu Rinus Michels, eleito como melhor treinador da Holanda em 2015/16. Com isso, Sébastien Haller, destaque habitual, aumentou ainda mais sua importância - com 17 gols, o francês já é alvo de clubes de centros mais competitivos. Mas ao longo da temporada, outros jogadores chegaram para ajudar Haller.
Recuperado de lesão, Ruud Boymans vinha geralmente do banco para marcar: sua média é de um gol a cada 79 minutos de jogo, a menor entre todos os atletas da Eredivisie. No meio-campo, Yassin Ayoub e Nacer Barazite também começaram a aparecer. E foi o suficiente para a chegada aos play-offs. É verdade que a derrota para o AZ, na última rodada, trouxe duros desfalques: a zaga titular, Timo Letschert e Ramon Leeuwin, lesionou-se, e dificilmente jogará os play-offs. Ainda assim, o ataque tem todas as qualidades para superar o Zwolle e levar o clube alvirrubro à primeira competição continental desde 2009/10.
Zwolle (8º colocado na Eredivisie regular)
Era demais pedir que os Zwollenaren repetissem o desempenho irrepreensível das duas últimas temporadas. Em 2013/14, houve o histórico título na Copa da Holanda, com direito a goleada no Ajax na decisão (5 a 1). Em 2014/15, novo triunfo sobre o Ajax e novo título, agora na Supercopa da Holanda; participação fugaz mas inesquecível na Liga Europa; e mais uma final na Copa da Holanda (desta vez, derrota para o Groningen). Nada mal para o projeto do presidente Adriaan Visser, ex-diretor de uma empresa de reciclagem da região de Zwolle, que decidiu erguer o clube. E mesmo que fosse demais pedir repetições, os "Dedos Azuis" seguiram com um desempenho elogiável.
Os recordes se avolumaram. Entre fevereiro e abril, o Zwolle conseguiu cinco vitórias seguidas em casa - nunca acontecera na história do clube. Ron Jans tornou-se o treinador que obteve mais triunfos pelo clube alviazul (39). E nunca a equipe deixou as dez primeiras posições, durante as 34 rodadas. Tudo graças a um esquema regular: no 4-2-3-1, a defesa é protegida pelas boas atuações dos volantes Ouasim Bouy e Wout Brama. E no meio-campo, pelos lados, Queensy Menig e Sheraldo Becker ajudaram o atacante Lars Veldwijk a chegar aos 14 gols (terceira maior marca da história do clube na Eredivisie). Há falhas: o time enfraquece se os meio-campistas são neutralizados, e o "plano B" não está bem definido caso o 4-2-3-1 falhe. Ainda assim, convém não ignorar os Zwollenaren. Não foram campeões de nada, mas seguem com boas campanhas. O conto de fadas continua, de certa forma.
Heracles Almelo x Groningen
Jogo de ida: nesta quinta, no estádio Euroborg, em Groningen
Jogo de volta: domingo, 15.05, no estádio Polman, em Almelo
Heracles Almelo (6º colocado na Eredivisie regular)
Ah, se Tannane tivesse continuado... quando o primeiro turno terminou, os Heraclieden ocupavam uma quarta posição mais do que honrosa, diante das circunstâncias. Em 2014/15, a equipe de Almelo escapara por pouco da repescagem e do rebaixamento. E nesta temporada, mostrou um estilo de jogo fluido: embora jogando no 4-3-3 habitual do futebol holandês, a aceleração e a chegada rápida ao ataque tornava o Heracles uma das equipes mais atraentes do campeonato. Tanto é que foi uma das únicas equipes a vencer o PSV em toda a Eredivisie (2 a 1 no turno, em Almelo, na 6ª rodada). Tudo isso, com o ponta-direita Oussama Tannane como grande destaque.
Só que a janela de transferências levou Tannane para o Saint-Étienne, em janeiro. E o Heracles sentiu o baque. Até se manteve na quarta posição, mas a metade do returno viu uma sequência que deixou o time a perigo: quatro derrotas consecutivas fizeram-no despencar da quarta para a nona posição. Poderia ter sido fatal, numa disputa equilibrada como a das vagas no play-off. Mas aí reapareceram os destaques. Sem Tannane, Iliass Bel Hassani assumiu no meio-campo o protagonismo que já andava tendo, ainda com o ponta marroquino no elenco dos Heraclieden. No ataque, Wout Weghorst voltou a fazer gols (foram 12 na temporada regular). Brahim Darri, enfim, se entrosou no lugar de Tannane. E o Heracles chegou à Nacompetitie pela Liga Europa. É favorito, mas precisará lembrar o time que foi no turno para aumentar suas possibilidades, diante de um Groningen renascido.
Groningen (7º colocado na Eredivisie regular)
Nem parecia que seria possível. Ao final do primeiro turno, o técnico Erwin van de Looi já sofria com fortes críticas ao estilo demasiadamente defensivo da equipe e às incertezas na escalação. Nestas, as vítimas eram justamente os dois principais destaques do elenco: o ponta-de-lança Albert Rusnák e o atacante Michael de Leeuw ficavam ora na reserva, ora entre os titulares. E o começo do returno só piorou as coisas: entre fevereiro e março, o time do norte holandês perdeu seis jogos consecutivos, igualando recorde negativo ocorrido em 1974. Com a queda para a 12ª posição, o técnico Van de Looi anunciou sua saída ao fim da temporada. Pois foi justamente na fase de mais dificuldade que as coisas se assentaram para que os Groningers fossem aos play-offs.
De Leeuw e Rusnák conseguiram lugar fixo entre os titulares. Vindo da base do "Orgulho do Norte", Oussama Idrissi ganhou espaço entre os titulares, trazendo rapidez na ponta-direita. De Leeuw marcou gols suficientes para deixar o clube (sai ao fim da temporada) como o maior goleador do Groningen na história pela Eredivisie (46 gols, superando os 45 do argentino Mariano Bombarda). Na marcação, pelo meio, o experiente Hedwiges Maduro era ajudado pelo jovem sueco Simon Tibbling. E, vez por outra, o goleiro Sergio Padt fazia partidas incríveis - sem contar o crescimento do zagueiro Rasmus Lindgren nas últimas rodadas. Resultado: aquelas seis rodadas de derrotas foram eclipsadas por uma sequência de cinco vitórias nas últimas rodadas. Sequência que colocou o Groningen na Nacompetitie - e que indica ascensão, que pode ajudar a chegar à decisão da vaga na Liga Europa. Pode ser o caso de "tudo bem quando acaba bem".
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