sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Guia do Campeonato Holandês - Parte III (o Trio de Ferro)

Chegou a hora. O mundo inteiro ansiava por este dia. Os atletas se prepararam com muita dedicação. E enfim, nesta sexta-feira, dia 5 de agosto, teve início a festa de abertura da 31ª edição dos Jogos Olímp... ops, desculpa! Tudo bem, os Jogos têm importância suficiente para merecerem atenção, mas aqui é espaço para falar de outra coisa que começa nesta sexta. Tudo bem, tem importância incomparavelmente menor do que os dias de competições no Rio, é um campeonato previsível, mas... às 15h, no estádio De Goffert, em Nijmegen, NEC e Zwolle empataram em 1 a 1, fazendo o primeiro jogo do Campeonato Holandês da temporada 2016/17, na 61ª edição de sua história.

E naquela que será a temporada comemorativa dos 60 anos da Eredivisie, não há muito mistério em relação aos favoritos à conquista da Eredivsieschaal, a salva de prata entregue ao campeão. Ou melhor, ao favorito: afinal de contas, pelos resultados na pré-temporada e pelo que aconteceu até agora na janela de transferências, dá para dizer que o PSV larga em boa posição para tentar o tricampeonato. Prova disso foi a atuação na Supercopa da Holanda, domingo passado: os Boeren dominaram o meio-campo no primeiro tempo, se deram até ao luxo de perder um pênalti, e ainda assim fizeram 1 a 0, com Davy Pröpper. Na etapa complementar, o Feyenoord melhorou, e até mereceu o empate. Ainda assim, foi insuficiente para evitar mais um título em Eindhoven: a 11ª conquista da Johan Cruyff Schaal, segunda consecutiva.

Se o Feyenoord viu que ainda precisa melhorar para alcançar o atual bicampeão nacional, o Ajax ganhou dois motivos para se animar. O primeiro, dentro de campo, foi a classificação até surpreendente aos play-offs por vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões, que deu tempo para que, pelo menos, o time se entrose com pressão um pouco menor rumo à fase inicial da liga holandesa e para os play-offs por vaga na fase de grupos da Champions, contra o promissor Rostov-RUS. O segundo motivo? Fica para o paragráfo do guia...

Enfim, sem maior perda de tempo, vamos à conclusão do guia da Eredivisie 2016/17, com as perspectivas do trio de grandes. Com o PSV destacado, em relação a Ajax (menos) e Feyenoord (mais).

Jogador (posição, clube)
Transferência definitiva
[transferência definitiva após empréstimo]
Empréstimo
[retorno de empréstimo]

Dirk Kuyt liderará um Feyenoord mais entrosado na busca do fim do jejum sem títulos na Eredivisie (Matty van Wijnbergen)
Feyenoord

Técnico: Giovanni van Bronckhorst
Destaque: Dirk Kuyt (atacante)
Fique de olho: Eric Botteghin (zagueiro), Tonny Trindade de Vilhena (meio-campista) e Steven Berghuis (atacante)
Temporada passada: 3º colocado
Copas europeias: Liga Europa (fase de grupos)
Objetivo: Título/vaga nas competições europeias
Principais chegadas: Brad Jones (G, NEC Nijmegen), Nicolai Jorgensen (A, Kobenhavn-DIN) e Steven Berghuis (A, Watford-ING)
Principais saídas: Calvin Verdonk (D, Zwolle), Lex Immers (M/A, Cardiff City-GAL), Anass Achahbar (A, Zwolle) e Jari Schuurman (A, Twente)

Depois de uma temporada irregular, a sensação é que o Feyenoord podia estar até pior. Bem ou mal, após a péssima sequência que impediu sonhar com um novo título da Eredivisie depois de 17 anos, o time de Roterdã se recompôs, reagiu e alcançou a terceira posição na liga. Mais: com o título da Copa da Holanda, primeira conquista depois de oito anos, o Stadionclub terá a chance de voltar à Liga Europa, na fase de grupos. E até terá direito à presença de torcedores nos jogos, mesmo depois da estupidez cometida por idiotas em Roma, nos jogos da segunda fase da Liga Europa em 2014/15.

E o técnico Giovanni van Bronckhorst terá à disposição um grupo de jogadores melhor entrosado. Na defesa, aparentemente, Eric Botteghin e Terence Kongolo ficarão estáveis no miolo de zaga; no meio, Vilhena chegou a cancelar negociações para renovar contrato e até anunciou que deixaria o Feyenoord, mas voltou atrás, renovou e tem tudo para ser o principal armador. No ataque, novamente não há segredos: líder da equipe, o capitão Kuyt tem presença certa, junto de Michiel Kramer e Eljero Elia.

Aliás, as poucas contratações que o clube fez foram promissoras. Se Kenneth Vermeer lesionou o tendão de Aquiles e não joga mais em 2016, foi uma aposta segura a contratação do goleiro australiano Brad Jones, experiente, de boa passagem pelo NEC. E trazer por empréstimo o atacante Steven Berghuis pode até dar mais espaço a ele, que se destacou nos amistosos recentes da seleção holandesa. Ressabiados, torcida e imprensa ainda acreditam menos no título. E o Feyenoord, de fato, ainda parece furos abaixo de Ajax e PSV – contra os de Eindhoven, na Supercopa da Holanda, Kuyt jogando no meio-campo mostrou-se um erro. Ainda assim, dá para pensar numa temporada mais regular e calma. Se não houver muitos pontos perdidos bobamente, quem sabe o sonho fica mais vivo...

Klaassen é visto pela torcida como o grande protagonista de um Ajax em reformulação (Maurice van Steen/VI Images)
Ajax

Técnico: Peter Bosz
Destaque: Davy Klaassen (meio-campista)
Fique de olho: Jaïro Riedewald (defensor, volante) e Mateo Cassierra (atacante)
Temporada passada: Vice-campeão
Copas europeias: Liga dos Campeões (disputando play-offs por vaga na fase de grupos)
Objetivo: Título
Principais chegadas: Danilho Doekhi (D, Excelsior), Davinson Sánchez (D, Atlético Nacional-COL), Heiko Westermann (D, Real Betis-ESP), [Sheraldo Becker (M, Zwolle)], [Lucas Andersen (M/A, Willem II)] e Mateo Cassierra (A, Deportivo Cali-COL)
Principais saídas: Ricardo van Rhijn (D, Club Brugge-BEL), Mike van der Hoorn (D, Swansea City-GAL), Leeroy Owusu (D, Excelsior), Django Warmerdam (D, Zwolle), Nicolai Boilesen (D, não renovou contrato), Queensy Menig (M, Zwolle), Lucas Andersen (M/A, Grasshopper-SUI), Viktor Fischer (A, Middlesbrough-ING), Zakaria El Azzouzi (A, Sparta Rotterdam) e Arkadiusz Milik (A, Napoli-ITA)

Há pouco tempo, a coluna comentou que seria interessante ver o Ajax nesta temporada. De fato, está sendo. Tanto pela maior variedade tática que o time de Amsterdã tenta mostrar sob Peter Bosz, quanto pela velocidade da montanha-russa que os Ajacieden já viveram, nem bem iniciada a temporada. Nos amistosos de pré-temporada, só uma vitória; no jogo de ida contra o PAOK, pela terceira fase preliminar da Liga dos Campeões, a novidade tática até foi elogiada (um 4-1-4-1, com Riedewald elogiado como volante), mas as falhas na defesa causaram um empate em Amsterdã: 1 a 1. Mais um golpe no ânimo da torcida, que esperava um vexame, como em 2015/16.

Desse desalento, as coisas mudaram um pouco. Não, o Ajax não jogou bem na volta, em Tessalônica, na quarta passada: sofreu o primeiro gol, e jogando num 3-5-2 pouco experimentado, com os laterais Kenny Tete e Mitchell Dijks avançando demais, os Amsterdammers sofreram muito com os contragolpes – principalmente com a lentidão do contratado Heiko Westermann, que estreava como titular. Porém, o PAOK não aproveitou as chances. O Ajax, sim. E de modo até dramático, com o gol de Davy Klaassen aos 43 minutos do segundo tempo, veio a vaga nos play-offs.

Tal cenário é imperfeito. Mas, pelo menos, dá mais tempo a Peter Bosz para trabalhar novas possibilidades táticas com o time que tem em mãos, mais os contratados: Davinson Sánchez, campeão da Libertadores com o Nacional de Medellín, poderá se entrosar com os companheiros – bem como Mateo Cassierra, outro colombiano, que já até foi útil contra o PAOK. Sem contar outra grande razão para otimismo: os 35 milhões de euros que o Napoli pagou ao Ajax pela contratação de Arkadiusz Milik. Valor inesperado (até porque Milik não mostrou valer tanto), mas muito bem vindo, que até oferece uma doce pergunta: gastar tudo num sonho possível, como Mario Balotelli parece ser, ou contratar mais para mais posições? Enfim, enquanto segue montando seu time, o Ajax já sabe: nem tudo está perdido. Ainda dá para fortalecer a equipe e tentar voltar a ganhar.

PSV já ganhou um título no começo desta temporada (a Supercopa). Espera terminá-la com outro (a Eredivisie) (ANP)
PSV

Técnico: Phillip Cocu
Destaque: Luuk de Jong (atacante)
Fique de olho: Jorrit Hendrix (meio-campista)
Temporada passada: Campeão
Copas europeias: Liga dos Campeões (fase de grupos)
Objetivo: Título
Principais chegadas: Hidde Jurjus (G, De Graafschap), Daniel Schwaab (D, Stuttgart-ALE), Pablo Rosario (D/M, Almere City), [Rai Vloet (M, Cambuur)] e [Marcel Ritzmaier (M, NEC)].
Principais saídas: Jeffrey Bruma (D, Wolfsburg-ALE), Stijn Schaars (M, Heerenveen), [Marco van Ginkel (M, Chelsea-ING)] e [Maxime Lestienne (A, Al Arabi-QAT)]

Se o otimismo rumo à temporada já estava grande no PSV (dentro do possível para um time holandês, claro), a situação ficou até melhor nesta semana que passou. Afinal de contas, o título da Supercopa da Holanda mostrou o que já se supunha: a equipe de Eindhoven segue bem entrosada, e impõe seu nível técnico naturalmente em campo. Não impressionou a conquista da Johan Cruyff Schaal, muito menos impressionaria um bom começo no Campeonato Holandês. É fato: hoje, a equipe de Eindhoven caminha esperançosa, favorita destacada ao tricampeonato nacional.

De única mudança na equipe que conquistou o bicampeonato em 2015/16, só a saída de Bruma rumo ao Wolfsburg. Sem problemas: não só Nicolas Isimat-Mirin pode tranquilamente jogar ao lado do mexicano Héctor Moreno (aliás, já jogaram juntos na temporada passada), mas também foi providencial a contratação do zagueiro alemão Schwaab – que até jogou na Supercopa da Holanda. Mesmo se houver a esperada saída de Jetro Willems (disse ter propostas de Inglaterra e Espanha), Joshua Brenet também já está suficientemente experimentado na lateral esquerda que Willems ainda ocupa.

No meio-campo, além da presença experiente de Andrés Guardado, Jorrit Hendrix surpreendeu positivamente: volante marcador, após ficar fora do fim da temporada por uma lesão, Hendrix não só não perdeu um minuto dos jogos de pré-temporada, como também mostrou protagonismo contra o Feyenoord, na Supercopa da Holanda: constantemente avançou ao ataque – como continua fazendo Davy Pröpper, aliás. Na frente, o de sempre: Luciano Narsingh e Jürgen Locadia criam pelas pontas, enquanto cabe a Luuk de Jong fazer os gols esperados. Deu certo em 2015/16. Pelo visto, continua dando certo. O que dá a sensação de que o PSV pode continuar dominando o futebol holandês.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 05.08.2016. Atualizada)

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