sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Por que acreditar no Feyenoord? E por quê não?

Feyenoord tem de matar um leão por jogo para provar que merece valor. Contra Fenerbahçe, não conseguiu (ANP/Pro Shots)

No domingo passado, o Feyenoord enfrentou o Roda JC, pela sétima rodada do Campeonato Holandês. E a goleada de 5 a 0 imposta aos visitantes da cidade de Kerkrade, em De Kuip, representou a sétima vitória para a equipe de Roterdã nesta temporada da Eredivisie. Ter 100 por cento de aproveitamento nas primeiras sete rodadas da liga só acontecera quatro vezes ao Stadionclub: em 1967/68, 1969/70, 1971/72 e 1993/94.

Marca elogiável. Porém, há um pequeno detalhe: ao final de todas essas temporadas supracitadas, o campeão holandês foi... o Ajax. Uma prova de como esse bom início pode ser facilmente posto a perder. Além do mais, após um começo primoroso pela Liga Europa, contra o Manchester United, a equipe de Roterdã “foi trazida de volta à Terra” (palavras do diário Algemeen Dagblad). Jogando contra o Fenerbahçe, teve uma atuação excessivamente tímida na parte ofensiva – e isso inviabilizou o sonho de conseguir a segunda vitória na fase de grupos. Sorte do Fener, que fez 1 a 0.

Tudo isso mostra que é preciso muita, mas muita calma antes de falar que pintou o campeão da Eredivisie. Talvez dê até razão a quem acha que o Feyenoord sucumbirá, cedo ou tarde, ao longo das 34 rodadas. Todavia, é preciso reconhecer que, pelo menos em termos “domésticos”, a equipe treinada por Giovanni van Bronckhorst exibe nível de concentração, velocidade e técnica invejáveis para uma temporada ainda em estágio inicial. Talvez até melhor do que o PSV, no momento.

Não que a equipe de Eindhoven tenha decaído de produção. Muito ao contrário: ela se mantém nas primeiras posições da tabela (para não falar das ascensões notáveis de AZ, Heerenveen e Ajax). Ainda assim, a prova mais clara como o Feyenoord está focado neste começo de campeonato foi exatamente a vitória no clássico, em pleno Philips Stadion - coisa que não acontecia desde a temporada 2003/04. A palavra é exatamente essa: foco. 

Porque o Feyenoord não é um time tecnicamente exuberante. Tem qualidades técnicas, claro: não as tivesse, e não teria duas goleadas para exibir (além dos 5 a 0 no Roda JC, houve os 4 a 1 sobre o Excelsior). Todavia, o que mais salta aos olhos em relação ao time de Giovanni van Bronckhorst é a concentração. Como se todos os jogadores passassem os 90 minutos tendo em mente que não podem cometer erro algum, se realmente querem convencer a torcida das qualidades que têm. E isso tem aumentado a produção dos jogadores. As principais provas estão na defesa e no meio-campo.

Na linha de trás, o goleiro Brad Jones segue seguro, deixando fortes dúvidas sobre a possibilidade do titular Kenneth Vermeer retornar tão logo complete sua recuperação. Sem contar os zagueiros: Eric Botteghin e Jan-Arie van der Heijden exibem solidez notável na marcação, justificando plenamente que o Feyenoord tenha sofrido apenas dois gols até agora. Nas laterais, Rick Karsdorp e Terence Kongolo equilibram melhor apoio e marcação – e até são “premiados” com isso (contra o Roda JC, Karsdorp deu uma assistência, e Kongolo fechou a goleada).

Mas é no meio-campo que estão, talvez, os dois grandes exemplos do belo início do Feyenoord. Nem se fala de Dirk Kuyt: o esforço que o capitão Feyenoorder mostra em campo, ajudando até nas finalizações, já é conhecido e amado pela torcida. Karim El Ahmadi e Tonny Vilhena é que surpreendem positivamente, mostrando velocidade para roubar a bola, armar, voltar para marcar... e ainda marcarem gols. Vilhena foi o autor do tento na vitória sobre o Manchester United; El Ahmadi, com um belo chute de bate-pronto no ângulo, fez bonito na rodada passada do Holandês. Fica até curioso notar que o líder de assistências da equipe é um... atacante, Jens Toornstra – que também coloca a bola nas redes, junto de Nicolai Jorgensen.

Até por toda essa volúpia demonstrada no campeonato nacional, decepcionou tanto a atuação tímida contra o Fenerbahçe, pela Liga Europa. Van Bronckhorst não poupou palavras: “No primeiro tempo, não fomos nós mesmos. Senti falta da autoconfiança. Contra um time como o Fenerbahçe, você precisa ter segurança. Segurança de si e do que vai fazer com a bola nos pés. Nós mal tivemos a bola, não saímos da pressão [que exerceram]”. O curioso é que o Fener também não chegava a pressionar demais a meta defendida por Brad Jones. Mas teve mais velocidade no ataque, com Michael Emenike e Jeremain Lens. Por isso, ficou mais fácil aproveitar uma saída errada de bola (justo do homenageado Kuyt...) para fazer o gol da vitória no Sükrü Saraçoglu.

Enfim, o Feyenoord soube de novo que não é um favorito inquestionável. Se tropeçar contra o Willem II, fora de casa, no domingo, pela 8ª rodada, certamente crescerá a voz dos desconfiados sobre as possibilidades do Stadionclub. E mesmo a maior parte da torcida Feyenoorder provavelmente só acreditará no título se vir o capitão Dirk Kuyt erguer a Eredivisieschaal. Todavia, se há razões para duvidar, justiça seja feita: também há razões para acreditar que o time tem mais forças para disputar o título holandês até o fim. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

PSV continua bem na temporada. Até chegar a hora de cobrar um pênalti... (Erwin Spek/ANP/Pro Shots)

Kut strafschoppen! (tecla SAP: malditos pênaltis!)

Como já dito, não é por ter perdido para o Feyenoord que o PSV deixou de ser um time respeitável. Longe disso: segue tendo qualidade suficiente para superar facilmente os médios e pequenos da Eredivisie (prova disso veio no 3 a 1 infligido ao Excelsior, na rodada passada). E mesmo na Liga dos Campeões, o time de Eindhoven tem tido atuações honrosas. Foi assim contra o Atlético de Madrid, e na quarta passada.

Contra um Rostov novamente elogiável, com Dmitri Poloz e Sardar Azmoun rápidos no ataque, os Boeren começaram mal. Phillip Cocu novamente escalara o time num 5-3-2, mas ele se mostrou desorganizado dessa vez, e o time russo abriu o placar sem dificuldades, logo aos 8'. Aí veio a sorte, no chute de Davy Pröpper que desviou em Vladimir Granat e foi direto para as redes, empatando o placar apenas cinco minutos depois do gol sofrido. Foi o marco para uma reação em campo que tornou o jogo mais equilibrado - até por isso, ficou justificado o 2 a 2. Que poderia ter virado uma vitória para os visitantes com o pênalti (para alguns, controverso) sobre Luuk de Jong, aos 57'.

Mas aí, mostrou-se o principal trauma atual do PSV: os chutes a 9,15m do gol. Davy Pröpper perdeu o segundo penal seguido dos Boeren na Champions. Pior: em nenhuma das quatro cobranças que teve nesta temporada, o PSV acertou a rede. Pior ainda: dos últimos 19 chutes, 12 foram perdidos. O que já dificulta a classificação às oitavas de final do torneio continental: poderia ter quatro pontos (“empate” contra o Atlético de Madrid e “vitória” contra Rostov), mas tem apenas um. De fato, como criticou ironicamente o técnico Phillip Cocu, “parece que converter pênaltis é difícil demais para nós”. Tão difícil que mesmo algo mais sério, como a lesão no joelho que tirou Jorrit Hendrix da partida (e o tirará de alguns jogos), passou em branco.

Pode parecer um problema pequeno numa temporada razoável, mas é um problema. Que está cada vez maior, como se depreende das palavras de Jetro Willems após a partida em Rostov do Don: "Eu preciso ser sincero: não vi a cobrança. Não tive coragem de olhar". E que, no fundo, só tem uma solução, como bem frisou Cocu nesta sexta: "Recebemos tantos convites de psicólogos que poderíamos encher um salão, mas não faremos isso. É necessário tratar o pênalti como uma chance para marcar. Quando convertermos um de novo, podemos recomeçar". Até lá, o PSV continuará na marca do pênalti - quase literalmente.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 30 de setembro de 2016. Atualizada)

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