Equipe feminina do Twente foi um bálsamo para o clube em 2015/16: campeã da Eredivisie (fctwente.nl) |
A ausência no torneio olímpico de futebol feminino é um caso daqueles clássicos em que se fica pensando no "e se...". Afinal de contas, por um gol as Leoas Laranjas perderam a chance de viajarem ao Rio de Janeiro, no quadrangular europeu disputado em março. Os devaneios sobre as perspectivas só aumentam quando vem a lembrança de que a Suécia, dona da vaga, hoje se gaba honrosamente de ter a medalha de prata no peito. Além do mais, estar nos Jogos Olímpicos aumentaria a sensação já presente de que, na Holanda, o futebol feminino tem alguma perspectiva, por menos popularidade que tenha.
Prova dessa perspectiva é a segunda temporada seguida de independência da Eredivisie Vrouwen, a versão feminina do Campeonato Holandês, iniciada nesta sexta. Com a presença de um clube a mais (o amador Achilles '29 agora tem uma equipe de mulheres), o regulamento também foi mudado: ao invés do formato de liga visto em 2015/16, em que sete times se enfrentavam em 24 rodadas - cada time enfrentou seus concorrentes por quatro vezes -, agora cada um dos oito participantes enfrentará seus competidores por três vezes, totalizando 21 rodadas. Terminadas elas, os quatro melhores da tabela farão um quadrangular final para definir o campeão holandês de futebol feminino.
Talvez isso seja melhor para o Ajax. Se o clube de Amsterdã já viveu um final traumático na Eredivisie masculina, perdendo o título na rodada derradeira, as coisas não foram melhores na versão feminina: as Ajacieden lideravam até a penúltima rodada, quando tinham um confronto direto contra o Twente. Eis que a equipe de Enschede aprontou: fez 1 a 0, e igualou sua pontuação, mas tendo um maior saldo de gols. E ambos venceram os compromissos na última rodada, mas a vantagem gigante das Tukkers no critério mencionado de desempate (+58 contra +35) deu a elas a salva de prata para comemorar o título.
Um título que merece aplausos. Afinal de contas, com a aflitiva situação que lhe deixou ameaçadíssimo de ser punido com o rebaixamento no futebol masculino, o Twente teve de tirar investimentos de onde podia e não podia. Porém, ao contrário do que se pensa, quem sofreu com isso primeiro foram os times juvenis - até porque a equipe B (Jong Twente) desistiu de disputar a Eerste Divisie (segunda divisão masculina). A direção confiou na equipe feminina, que respondeu com a conquista da Eredivisie Vrouwen.
Além de representar um bálsamo num ano dificílimo da história do clube vermelho, as jogadoras também deram outra pista para notar como o futebol feminino holandês vive certa evolução, aos trancos e barrancos. Dois dos maiores destaques da equipe treinada por Arjan Veurink representam uma mudança de geração, até em termos de seleção holandesa. Desde 2005 defendendo a Laranja, possivelmente a melhor jogadora holandesa na histórica participação pela Copa do Mundo de 2015, a meio-campista Kirsten van de Ven capitaneou o Twente na campanha premiada - e anunciou o fim da carreira profissional logo depois, aos 31 anos. Sem problemas: principal goleadora da Eredivisie feminina em 2015/16, com 20 gols, a atacante Jill Roord (19 anos) também esteve na Copa, e é esperança certa para a Oranje treinada por Arjan van der Laan.
Oranje feminina não conseguiu chegar aos Jogos Olímpicos. Mas otimismo segue (KNVB Media) |
Pois é: uma nova geração vai assumindo o lugar das veteranas, que param de jogar aos poucos, até por terem outra carreira para lhes prover o que o futebol feminino ainda não rende, financeiramente. No caso do Twente, Van de Ven (que chegou até a jogar um torneio amistoso internacional pela seleção, no Brasil, em dezembro de 2010) e Roord simbolizam essa transição. Pelo Ajax, também parou a zagueira Petra Hogewoning, antiga capitã da Oranje, destaque na primeira aparição importante da seleção holandesa (a semifinal na Eurocopa feminina de 2009). Sem problemas: o Ajax também revelou a meio-campista Tessel Middag, já titular da seleção, e agora atuando pelo Manchester City.
Mesmo nas figuras mais midiáticas da seleção, essa transição é clara: se a admirada volante Anouk Hoogendijk já se direciona para o fim da carreira, já pede passagem a sucessora Sherida Spitse. Se Manon Melis, maior goleadora da seleção feminina (55 gols, entre 2005 e 2016), já se retirou das convocações para a Laranja, Vivianne Miedema vai crescendo para enfim se tornar a protagonista de fato - já o é de direito, apenas aos 20 anos, já atuando pelo time feminino do Bayern Munique.
Aliás, o fato de Miedema atuar no futebol alemão também exibe certa integração da Holanda com centros mais avançados no futebol feminino. Seja na própria Alemanha; seja na Suécia, onde joga a meio-campista Lieke Martens, colega de Marta no Rosengard; seja na ascendente Premier League, onde estão a supracitada Middag, a goleira titular Sari van Veenendaal (Arsenal) e a atacante Shanice van de Sanden (Liverpool). Paralelamente, aos poucos chegam jogadoras espanholas e inglesas para a Eredivisie feminina.
Definitivamente, não é à toa que, mesmo ainda em crescimento, sem atrair muito interesse, a Holanda cresce. Neste setembro, enfrentará os Estados Unidos (dia 18, em amistoso na Geórgia). Ganhou uma posição no ranking da FIFA (12º). Atual campeão, o Twente já garantiu vaga na fase de grupos da Liga dos Campeões feminina. Tudo isso deixa a Holanda esperando que seu futebol feminino desponte em 2017, ao sediar a Eurocopa das mulheres. Quem sabe uma boa campanha torne mais fácil para que as holandesas continuem a jogar, alcançando Alemanha, França, Inglaterra...
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