Janssen (nº 9) foi promissor no ataque. Mas a defesa de Zoet e Bruma (último à direita) falhou. E a Holanda decepcionou (Koen van Weel/ANP) |
Já se disse aqui que a seleção holandesa - cuja renovação está quase completa - tem, sim, jogadores de alguma qualidade, que podem levar a Laranja à Copa do Mundo de 2018. As vitórias contra Polônia e Áustria, em amistosos, indicavam uma tímida evolução, o nascimento de um esboço de time. O começo do amistoso desta quinta, em Eindhoven, contra a Grécia, também mostrava algumas razões para esperança, principalmente no setor de ataque. Mas... a defesa pôs tudo a perder, com suas desatenções - também cometidas pelo meio-campo, é justo dizer. Por elas, aconteceu a derrota por 2 a 1, tão desalentadora que parece ter colocado tudo de volta à estaca zero na Oranje.
O pior é que os primeiros minutos de jogo no Philips Stadion (após cinco anos distante da cidade do PSV) indicavam mais uma atuação promissora. Claro, a Grécia jogava como a maioria das pessoas esperava que ela jogasse: um 4-5-1 extremamente compactado, com Kostas Mitroglou isolado na frente, tentando encurtar os espaços. Só que os jogadores holandeses conseguiram vencer a fechada equipe helênica treinada pelo alemão Michael Skibbe, graças a algo que já se via aos poucos: uma troca mais rápida de passes no ataque. E essa aceleração na posse de bola também fazia crescer o desempenho de alguns jogadores.
Vincent Janssen dava razões para otimismo: não só servia de referência na frente, mas também voltava para fazer jogadas com os meio-campistas. Por sinal, no meio, Georginio Wijnaldum assumia papel importante de liderança técnica: criava jogadas, e até avançava para finalizar - mais do que Wesley Sneijder, que apenas ajudava com rapidez no toque. Enquanto isso, Kevin Strootman cuidava da proteção à defesa com a eficiência e a dedicação que todos esperam (e a seleção precisa) dele. Sem contar as pontas, onde Steven Berghuis e - principalmente - Quincy Promes ajudavam Janssen. Por tudo isso, a Holanda começou melhor. Merecia as chances criadas, como chutes de Sneijder (aos 8', em chute travado defendido pelo goleiro Orestis Karnezis) e Wijnaldum (aos 13', de longe). E mereceu, enfim, o primeiro gol, aos 14': o zagueiro Stelios Manolas saiu mal e entregou a bola nos pés de Berghuis. Este deu a Janssen, que driblou outro defensor na linha de fundo, cruzou na pequena área, e a bola bateu em Wijnaldum, autor "sem querer" do 1 a 0.
Era o cenário perfeito: com o gol sofrido, a compactação da Grécia estava ferida. Os visitantes estavam forçados a avançar. Porém, aí também se abriu algum espaço no meio-campo, com Strootman sobrecarregado. De quebra, a linha de quatro marcadores já dava mostras de uma temerária e excessiva falha de posicionamento: algumas inversões gregas de jogo deixavam os atacantes livres. Na primeira chance da "Ethniki" (a seleção grega), aos 21, Kostas Fortounis arrematou de fora da área, e forçou Jeroen Zoet a fazer boa defesa, em mais uma chance recebida como titular da Laranja. Na segunda, aos 29', as falhas não tiveram perdão: passe errado de Sneijder, Fortounis dominou e inverteu com Vassilis Torosidis. O capitão grego cruzou, Joël Veltman - escalado como lateral direito - falhou ao não seguir Mitroglou, e o atacante ficou livre para empatar, de cabeça. Mais uma falha de Veltman... e também de Jeffrey Bruma, que não se antecipou na zaga.
A partir daí, o jogo ficou moroso demais em grande parte do tempo. E isso continuou no segundo tempo, até pelas quatro alterações que a Grécia fez - três delas já no intervalo, uma por lesão (Fortounis teve dores no tornozelo aos 55', e deu lugar a Giannis Gianniotas). Aos poucos, Danny Blind também foi mudando o time, com alterações duplas - entraram Davy Pröpper e Jorrit Hendrix, depois Luciano Narsingh e Davy Klaassen. E parecia que a partida caminhava para um empate. Já seria decepcionante, mas pelo menos a defesa holandesa ia se mantendo. Além do mais, dava para testar alguns jogadores que começaram bem a temporada, como o estreante Hendrix, que poderia usar na Oranje o entrosamento que esbanja com Pröpper no PSV.
A situação atual da Oranje merece o olhar duro de Van Basten, ainda auxiliar - e das reclamações de Danny Blind (Photo News) |
Isso, até os 74'. Porque mais uma desatenção rendeu o gol da vitória para a Grécia: quando o meio-campo e ataque ainda se reagrupavam após as entradas de Klaassen e Narsingh, dois minutos antes, Jeffrey Bruma tentou dar um carrinho para trás contra um grego. Falha decisiva: com a defesa holandesa desguarnecida, Mitroglou ficou livre com a bola. Chegou à área, chutou cruzado, Zoet também falhou (rebateu para o meio da área), e Gianniotas confirmou a virada no placar. Mais uma derrota. Para a Grécia, lanterna de seu grupo nas eliminatórias da Euro 2016, com derrotas para Ilhas Faroe e Luxemburgo. O quinto revés da Laranja sob o comando de Danny Blind, em onze partidas - o quarto SEGUIDO em terras holandesas.
Nada bom. E pior ainda quando se nota que o técnico holandês apela para outros modos táticos mais no desespero do que como algo pensado - algo comprovado com a entrada de Bas Dost em lugar de Jetro Willems, aos 80', configurando um 3-4-3 estranho e improvisado. A torcida puniu com as justas vaias ao final do jogo, e Sneijder reconheceu as falhas à SBS6, emissora holandesa de tevê: "Após fazermos 1 a 0, devíamos ter matado o jogo. Perdemos essa chance. Nós demos espaço. Dar os gols de presente como demos, neste nível, é inaceitável". A Zoet, restou lamentar, também à SBS6: "Poderia ter sido um bom dia para mim".
Pelo menos, foram mais lúcidos do que Daley Blind, que sugeriu: "Precisamos confiar no que mostramos durante o primeiro tempo. Sim, este jogo foi uma decepção. Mas se perdermos agora e ganharmos da Suécia, todo mundo fica feliz de novo". Eis o problema: com tanta desatenção defensiva, dá para pensar que a Holanda terá dificuldades até contra uma equipe sueca desfalcada definitivamente de várias estrelas. Na frente, até há perspectivas, de fato. Mas falta confiança (e sobram falhas) atrás.
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