Ziyech (de frente) foi bem recebido pelo Ajax (Louis van de Vuurst/Ajax.nl) |
Por mais que esteja distante dos bilhões circulando nas transferências envolvendo clubes do Campeonato Inglês (e por Espanha, França, Itália e Alemanha), o Campeonato Holandês notou que também não tem valor tão baixo assim. Pelo menos, foi o que revelou a janela de transferências recém-encerrada. De acordo com dados oficiais da Fifa, via sistema de registro da entidade, fora as supracitadas ligas – mais a segunda divisão inglesa, em sexto lugar -, a Eredivisie apareceu na tabela de renda obtida com vendas de atletas: com 150 jogadores negociados, pingaram 128,1 milhões de dólares, somados, nos cofres dos 18 clubes da primeira divisão holandesa.
Contribuíram para isso os altos números gastos em gente como Arkadiusz Milik - com bônus, 34 milhões de euros (repita-se, a maior transferência da história do Ajax); Jasper Cillessen, com 13 milhões de euros gastos nele pelo Barcelona; e Vincent Janssen, que só foi para o Tottenham quando este deixou 22,1 milhões na mesa do AZ. Assim, esse dinheiro colaborou para o cenário que os clubes têm em vista para o resto da Eredivisie, a partir da 5ª rodada a ser disputada neste fim de semana. Quem busca o título – ou, pelo menos, competições continentais -, poderá sonhar com isso: ficou com um grupo de jogadores cuja qualidade é elogiável, para os padrões do futebol holandês.
Até mesmo o Ajax, amuado por mais um vexame passado nas fases preliminares da Liga dos Campeões, parece mais otimista. Nem tanto pelo resultado da 4ª rodada (3 a 0 no Go Ahead Eagles), mas principalmente por ter gasto dinheiro generoso, enfim, num reforço respeitável. Que nem era previsto: aparentemente, os Ajacieden contentar-se-iam com o empréstimo de Tim Krul para o gol, a vinda do veterano Heiko Westermann para a zaga e as apostas em Davinson Sánchez (também defesa), Mateo Cassierra e Kasper Dolberg (estes, para o ataque). Até por isso, o clube de Amsterdã anunciara que não tentaria mais contratar Hakim Ziyech.
Nada como um dia após o outro. Bastaram duas coisas para mudar de ideia: cair sem pena nem glória para o Rostov-RUS nos play-offs da Liga dos Campeões, e ver Ziyech despedir-se do Twente com mais uma prova do tamanho da importância que teve pelo clube de Enschede nas últimas temporadas (dois gols nos 3 a 1 dos Tukkers sobre Sparta Rotterdam). A decisão foi tomada: o Ajax voltou com tudo para tentar trazer o meio-campista do Twente.
E mesmo com uma ofensiva de última hora do Swansea, Ziyech tomou o caminho da Amsterdam Arena, por 11 milhões de euros. Não entrará de imediato: o técnico Peter Bosz alertou que “primeiro ele precisa saber de cor e salteado o nosso estilo de jogo”. Mas assim que o fizer, certamente o agora camisa 22 do Ajax promete dar boa ajuda a Davy Klaassen na criação das jogadas. Se der certo, é homem para ser titular absoluto.
Siem de Jong chega a um PSV já bastante entrosado - enfim, com o irmão Luuk como companheiro (Joep Leenen/ANP) |
Se a contratação de Ziyech turbinou mais as expectativas do Ajax, antes abúlico, no Campeonato Holandês, o PSV confia na manutenção do grupo de jogadores como seu principal trunfo. Havia muito tempo, um clube campeão holandês – no caso, bicampeão – não passava relativamente incólume pelo mercado de transferências. Pois bem: de perdas, o time de Eindhoven só contabilizou a venda de Jeffrey Bruma ao Wolfsburg. Cogitavam-se as vendas de Jetro Willems e Luciano Narsingh, mas eles ficarão, no mínimo, mais seis meses em De Herdgang, o centro de treinamentos do clube.
Como se não bastasse, houve a útil contratação de Siem de Jong, mais uma opção de ataque, emprestado pelo Newcastle - enfim, atuará junto do irmão Luuk de Jong num clube. Aliás, além de Luuk, ainda seguem à disposição de Phillip Cocu Santiago Arias, Jorrit Hendrix, Davy Pröpper, Andrés Guardado, Jürgen Locadia, Gastón Pereiro... não só o tricampeonato é uma possibilidade das mais plausíveis, tamanho o entrosamento, como dá para pensar em campanha digna no grupo D da Liga dos Campeões – e quem sabe, em algo a mais na Liga Europa. Talvez, o atual dono da Eredivisie só não imponha mais seu favoritismo pelo tropeço na rodada passada: em casa, com um jogador a mais em campo desde os 32 minutos do 1º tempo, pênalti perdido e tudo o mais, os Boeren empataram sem gols com o Groningen. Assim, só um clube ficou com aproveitamento total (quatro jogos, quatro vitórias) no Campeonato Holandês.
Justamente o terceiro time do tripé de grandes holandeses: o Feyenoord. Que também pode comemorar a janela de transferências. Não só manteve no grupo a única perda potencial que parecia previsível (Tonny Vilhena chegara até a anunciar que deixaria o clube, mas renovou por mais um ano), mas já tinha trazido reforços que estão sendo muito úteis ao time. Para repor a lacuna aberta pela lesão que afastou Kenneth Vermeer do gol, veio o australiano Brad Jones, que ficou 296 minutos sem sofrer gols nas quatro primeiras rodadas; o dinamarquês Nicolai Jorgensen foi aposta certa no meio do ataque, empurrando Michiel Kramer para a reserva; e se Eljero Elia lesionou o ombro, Steven Berghuis foi prontamente trazido por empréstimo do Watford-ING para ser sombra de Elia e manter o ritmo que o torna titular da seleção. Com um time regular, “só” falta o clube de Roterdã vencer a desconfiança (justa) sobre o mau hábito de morrer na praia.
Merece destaque ainda o AZ. Se perdeu na janela de transferências quem esperava perder (além de Janssen, deixou Alkmaar o meio-campista Markus Henriksen, rumo ao Hull City), o quarto colocado da temporada passada foi certeiro, enfraquecendo justamente o Heracles Almelo, o outro clube pequeno/médio holandês que se destacara na Eredivisie passada. Para o lugar de Janssen, chegou o atacante Wout Weghorst; e repondo a vaga aberta pela saída de Henriksen, veio de Almelo o meio-campista Iliass Bel Hassani. Dois jogadores que têm tudo para entrarem bem na equipe já montada e entrosada, com fase de grupos da Liga Europa à frente.
Enfim, por mais que o nível técnico siga nivelado por baixo e por menores que sejam os valores, o Campeonato Holandês tem o que comemorar nesta janela de transferências. Agora, cabe aos times comprovarem as expectativas.
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 9 de setembro de 2016)
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