Mesmo com bom começo no Holandês, Feyenoord ainda sofre com desconfianças - só que vitória na Liga Europa aumentou ainda mais o ânimo (Matthew Childs/Reuters) |
Parece a repetição do filmes de temporadas passadas. Antes de más sequências que dizimam suas chances de título ou vaga em competições continentais, o Feyenoord começa muito bem no Campeonato Holandês, e faz campanhas tranquilas. De novo, é o que acontece nesta edição da liga: o Stadionclub desponta, com um ótimo início de campanha. Mas terá no PSV o maior desafio para provar se merece mais confiança, no clássico entre ambos, neste domingo, pela sexta rodada da Eredivisie, em Eindhoven.
A situação da fase inicial deste Campeonato Holandês é muito parecida com o começo da Eredivisie 2015/16. Agora, o Feyenoord traz até mais brilho: é o único clube com cinco vitórias nas cinco rodadas já disputadas na liga holandesa. Início tão bom não se via no Stadionclub desde a temporada 2005/06. De quebra, somando-se esta temporada à passada, a invencibilidade pelo campeonato já vai para 15 partidas – desde 2003 os Rotterdammers não passavam tanto tempo imunes a derrotas pelo principal torneio nacional.
Algo compreensível, quando o que se vê em campo é um time cada vez mais confiante em sua tática. Após um primeiro ano como técnico em que mostrou certas hesitações, enfim dá para dizer: Giovanni van Bronckhorst tem nas mãos o time que comanda. A ponto de uma aposta tática sua estar dando muito certo: o recuo de Dirk Kuyt para o meio-campo. Ao invés do 4-3-3 habitual na Holanda, o Feyenoord mais se assemelha a um 4-2-1-3: afinal, Kuyt serve como um ponta-de-lança, pegando a bola no meio e trazendo-a para fazer as jogadas de ataque com outros. Isso, quando ele mesmo não finaliza – e bem: já são três gols nesta Eredivisie.
Mas de nada serviria apostar no confiável capitão se ele fosse o único destaque. Longe disso. Ainda no meio-campo dos alvirrubros de Roterdã, Tonny Vilhena tem sido um “motorzinho”: parece estar em todos os lugares do campo. O camisa 10 mostra fôlego admirável não só para voltar e auxiliar na marcação, mas também para ajudar Kuyt na criação de jogadas. Se ainda não foi desta vez que ele conseguiu a sonhada transferência para o exterior (antes de renovar por mais um ano, chegou até a cancelar negociações pela renovação e anunciar a saída do Feyenoord), Vilhena mostra que tem tudo para despontar de vez nesta temporada. Convocações para a seleção, ele já conseguiu.
Mais razões para o bom começo do Feyenoord? A maior regularidade da defesa. Após testar muitas duplas de zaga na temporada passada – nem todas trazendo a segurança necessária -, enfim Van Bronckhorst decidiu (e as contusões permitiram) dois homens de confiança que ganham continuidade no miolo de zaga. Resultado: Eric Botteghin e Terence Kongolo formam, até agora, a defesa menos vazada da Eredivisie, com dois gols sofridos – até a quarta rodada, foram 296 minutos de invencibilidade. Nas laterais, Rick Karsdorp aparenta equilibrar melhor apoio e marcação, enquanto Lucas Woudenberg aproveitou lesão do titular Miquel Nelom e foi grata surpresa.
E o goleiro, além de completar a segura zaga do Feyenoord, também mostra outro acerto do clube: a precisão no mercado de transferências. Sem Kenneth Vermeer, fora até janeiro por romper o tendão de Aquiles, o australiano Brad Jones dava sopa após o fim de seu contrato com o NEC. O Feyenoord aproveitou, e o experiente Jones (34 anos, ex-Middlesbrough e ex-Liverpool) faz bem o seu papel, com segurança e bons reflexos.
Outro reforço promissor foi Nicolai Jorgensen: vindo do Kobenhavn, o atacante dinamarquês (constante nas novas convocações da seleção de seu país) mostra tanta força física quanto Michiel Kramer, mas tem maior técnica e velocidade do que este. Resultado: Jorgensen já fez três gols, como Kuyt, e sempre aparece como opção para tabelas ou pivôs nos ataques do Feyenoord. Assim como Steven Berghuis, emprestado junto ao Watford e bom substituto para Eljero Elia, que termina recuperação de lesão. E Bilal Basaçikoglu, reserva sempre a postos para entrar.
PSV podia ter tido mais sorte na Liga dos Campeões, mas segue bem na Eredivisie e pode conter Feyenoord (Peter Mous/VI Images) |
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas realmente, o jogo da sexta rodada será o maior desafio do Feyenoord. É unânime entre a imprensa e a torcida holandesas: se há um clube que pode ser a “kryptonita” dos Rotterdammers, este é o PSV. Se o tropeço no 0 a 0 contra o Groningen, há duas rodadas, trouxe certas dúvidas sobre o time de Eindhoven, no fim de semana passado as coisas voltaram ao normal: bastaram 24 minutos do primeiro tempo para os Boeren estamparem uma goleada no NEC (4 a 0).
Aliás, a goleada mostrou o que tem sido uma das maiores qualidades do atual bicampeão holandês: o equilíbrio e a confiabilidade de seu grupo de jogadores. Basta dizer que, contra o NEC, Phillip Cocu decidiu dar descanso a Andrés Guardado e Santiago Arias, que voltavam dos compromissos com as seleções de México e Colômbia. Foram escalados como titulares Joshua Brenet, na lateral direita, e Bart Ramselaar, como volante. Pois bem: Brenet e Ramselaar marcaram gols nos 4 a 0.
E a boa atuação do PSV na estreia pela Liga dos Campeões só ampliou a sensação de que os Eindhovenaren serão parada duríssima para o Feyenoord. Está certo que a equipe teve suas falhas contra o Atlético de Madrid (atacou pouco pelas laterais, por exemplo), mas criou tantas chances de gol como os Colchoneros – até pênalti perdido teve (mais um, o 11º dos últimos 18 do PSV!). Apenas faltou aproveitá-las, como Saúl Ñíguez fez para definir o 1 a 0. De quebra, as trapalhadas do juiz Martin Atkinson foram tantas e tão decisivas (como a anulação polêmica de um gol de Luuk de Jong, no começo do jogo, ou a mão na bola de Diego Godín no segundo tempo, pênalti claro que passou em branco) que o capitão De Jong esteve certo ao sugerir: “Eu tenho certeza de que não fomos inferiores”.
Aparentemente, o PSV provara: era o único clube holandês da atualidade capaz de não passar vergonha contra os grandes europeus, mesmo se perdesse. Pois o Feyenoord deu o salto que precisava, nesta quinta. Certo, o Manchester United jogou com uma equipe mista e pouco entrosada. Só que a atuação do time da casa em De Kuip foi tão concentrada, tão esforçada, sem erros, que o 1 a 0 na estreia pela Liga Europa deu pouco espaço para contestações. Mais do que celebrar a vitória, a torcida exultou com a garra vista em campo. E Dirk Kuyt concordou: “Pelo ambiente, dá para dizer que foi uma vitória histórica”. Autor do gol, Vilhena foi além: “Esta vitória é para não se esquecer nunca mais. Jogamos muito”.
Ou seja: se é o líder do Campeonato Holandês mas precisava provar que merecia confiança antes do primeiro grande desafio pela Eredivisie, o Feyenoord provou ao superar o Manchester United. E se precisava mostrar que tem qualidade suficiente para aproveitar o menor deslize do adversário, o PSV mostrou. Os dois times chegam turbinados pelo otimismo, para um clássico com expectativas como há muito não se via na Holanda. Dá até para concordar com as palavras de Karim El Ahmadi, após o jogo pela Liga Europa: “A Eredivisie não é tão fraca assim".
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 16 de setembro de 2016)
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