terça-feira, 6 de setembro de 2016

Meio vazio. Para ficar meio cheio

Sneijder ao resgate: ele apareceu para dar um ponto à Holanda nas eliminatórias (ANP)

Dependendo do ponto de vista, convencionou-se falar que um copo pode estar "meio cheio" ou "meio vazio": otimistas prefeririam ver a primeira alternativa, ao passo que os pessimistas sempre veriam o vazio da situação. Foi exatamente essa a sensação mista que tomou conta de torcida e imprensa holandesas, após o empate por 1 a 1 da Laranja contra a Suécia, em Solna, na estreia de ambas as seleções pelo grupo A das eliminatórias europeias da Copa de 2018. 

Justo. Afinal de contas, por mais que o ataque da Oranje tenha criado até mais chances do que se viu no amistoso contra a Grécia (e já tinha sido promissor então), as falhas de posicionamento tático na defesa seguem como a principal dor de cabeça que o técnico Danny Blind tem a resolver. O primeiro tempo foi prova disso: a mudança que Blind pai fez no meio-campo deu certo. Feito titular, Davy Klaassen apareceu bem na armação das jogadas - e até avançando ao ataque. E jogando pela esquerda do trio de ataque, Wesley Sneijder atuou até melhor do que no amistoso da quinta passada: novamente, o capitão da Oranje teve velocidade na troca de passes.

Assim, durante a maior parte dos primeiros 45 minutos de jogo no Estádio da Amizade, os visitantes laranjas pressionaram mais a equipe da casa. Começando aos 6', com Klaassen, que recebeu ótimo passe de Kevin Strootman em profundidade e chutou em cima do goleiro Robin Olsen, dos grandes destaques da partida. Olsen apareceu novamente com destaque depois, aos 16', quando Klaassen cabeceou para sua defesa. Enfim, ficou claro que o meio-campista do Ajax aparecia com bem mais frequência e velocidade do que Georginio Wijnaldum - discreto no jogo.

Porém, era só a Suécia pegar na bola para que a velha lentidão holandesa na recomposição defensiva aparecesse. Começou a acontecer na parte final do primeiro tempo. E bastou uma falha, aos 42', para o castigo deixar a nu a velha fragilidade: rápido ataque sueco - em que houve reclamação de que Jeffrey Bruma pusera a mão na bola -, Strootman falhou no domínio, e Virgil van Dijk estava fora de lugar, perdendo a sobra. Valeu a esperteza de Marcus Berg para roubar a bola do volante holandês, e mais ainda a sua capacidade de encobrir o goleiro Jeroen Zoet para fazer 1 a 0. Era injusto? Até era. Mas a Holanda também não tinha muito do que reclamar.

E o segundo tempo fazia crer que o mesmo cenário do amigável de Eindhoven seria visto: bolas aéreas a granel - a primeira delas, Van Dijk cabeceou em cima de Robin Olsen aos 52' -, troca de passes infrutíferos para vencer o compacto 4-4-2 sueco pensado pelo técnico estreante Janne Andersson, uma alteração precoce que parecia desesperada - Bas Dost no lugar de Wijnaldum, mandando a equipe para um 4-4-2 com dois avantes altos... até que coube a Sneijder sair novamente ao resgate, como já fez tantas vezes com a Oranje. Aos 67', aproveitando rebote de Olsen em chute de Daryl Janmaat - boa jogada individual -, o meio-campista marcou seu 30º gol pela seleção (sétimo maior goleador no histórico, empatado com Robben), em sua 123ª partida (sete atrás do recordista Edwin van der Sar). E novamente, mostrou porque ainda não se pode prescindir dele...

O gol de Sneijder devolveu o otimismo à Laranja. Que começou, enfim, a transformar a posse de bola maior em chances, como havia algum tempo não acontecia. Mesmo que a Suécia tenha ido ao ataque, com a entrada do atacante Emir Kujovic, as chances eram laranjas. Fossem em bolas aéreas (como num cabeceio de Quincy Promes aos 71'), fossem em chutes de longe (como Sneijder tentou aos 75'), enfim voltava a superioridade vista no início da partida em Solna. Que quase foi premiada de um modo delicioso: nos acréscimos, Dost chegou a mandar a bola para as redes de cabeça, mas o juiz italiano Daniele Orsato anulou o gol, julgando (compreensivelmente) que o camisa 22 deslocara o zagueiro Victor Lindelöf na jogada.

Tal anticlímax influiu nas declarações lamuriosas dos jogadores ao deixarem o campo. Perguntado se estava feliz pelo ponto conseguido contra um adversário provavelmente direto na disputa por uma vaga, Sneijder negou: "Feliz? Eu queria era mais do que um ponto. Ao ver como jogamos, só um time merecia a vitória, e éramos nós. Deveríamos ter vencido, mesmo com o gol injustamente anulado". Danny Blind também reclamou da decisão do juiz à NOS, emissora holandesa: "O juiz ficou no meio do nosso caminho". A verdade é que as palavras mais sensatas vieram de Strootman, também à NOS, reconhecendo a falha no gol de Marcus Berg: "Foi um erro inacreditável de minha parte. A culpa é minha por termos perdido dois pontos aqui. Não posso falar de outras falhas, a minha já é suficiente".

Por tudo isso, dá para supor que a Holanda viu o empate como um copo "meio vazio" - Vincent Janssen descreveu: "Parece que saímos daqui sem ponto algum". Ainda assim, com falhas defensivas e tudo, podia ter sido bem pior para a seleção holandesa. Até porque a França, equipe considerada favorita, também tem do que se queixar, graças ao surpreendente empate sem gols com Belarus. Diante das desconfianças que a Oranje causa atualmente, talvez seja melhor ver o copo meio vazio. Só assim virá o foco para as correções técnicas e táticas que podem fazê-lo ficar meio cheio.

Ficha do jogo

Eliminatórias para a Copa de 2018 - Europa
Suécia 1x1 Holanda
Data: 6 de setembro de 2016
Local: Estádio da Amizade (Friends Arena), em Solna
Juiz: Daniele Orsato (Itália)
Gols: Marcus Berg, aos 42'; Wesley Sneijder, aos 67'

Suécia
Robin Olsen; Mikael Lustig, Victor Lindelöf, Andreas Granqvist e Oscar Wendt; Marcus Rohdén (Emir Kujovic, aos 76'), Alexander Fransson, Oscar Hiljemark e Emil Forsberg; John Guidetti (Christoffer Nyman, aos 64') e Marcus Berg (Jimmy Durmaz, aos 87'). Técnico: Janne Andersson

Holanda
Jeroen Zoet; Daryl Janmaat, Jeffrey Bruma, Virgil van Dijk e Daley Blind; Georginio Wijnaldum (Bas Dost, aos 66'), Kevin Strootman e Davy Klaassen; Quincy Promes (Steven Berghuis, aos 78'), Vincent Janssen e Wesley Sneijder. Técnico: Danny Blind

2 comentários:

  1. NÃO foi nada JUSTO o empate, pra quem viu o jogo como eu sabe(soube) que a Holanda foi infinitamente melhor basta ver as estatísticas e verá isso, faltou uma melhor finalização dos jogadores. Vale ressaltar também que não houve falta no lance do Bas Dost, com relação a defesa tem que melhorar muito, Stefan De Vrij é disparado o melhor zagueiro junto com o Van Dijk formariam uma boa dupla com Daley Blind na esquerda e Rick Kasdoorp na direita. Time ideal se todos tiverem condições... Zoet, Kasdoorp, De Vrij, Van Dijk e Blind; strootman, Wijnaldum e sneijder(propper, klassen) ; Memphis Depay, Robben e Vincent Janssen.

    ResponderExcluir
  2. Podia ter sido bem melhor,mas foi aceitável (dost perdeu um gol quase feito) e esse é um empate que poderia acontecer, melhor do que a França que perdeu dois pontos pra quem não deveria perder.

    ResponderExcluir