quinta-feira, 30 de maio de 2024

A reformulação se aprofunda

A Holanda precisa vencer a Finlândia nas eliminatórias da Euro feminina. Pela importância em si - e principalmente, para dar um bom fim à fabulosa história de Lieke Martens nela (KNVB Media/Divulgação)

Até a convocação da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) para os dois jogos destas datas FIFA, ambos contra a Finlândia, ambos pelas eliminatórias da Euro 2025 - nesta sexta, 31, às 15h45 de Brasília, em Roterdã (Het Kasteel), e na próxima terça, 4 de junho, às 13h de Brasília, na cidade finlandesa de Tampere -, a única importância que eles tinham era abrirem chance para as Leoas Laranjas pontuarem e se aproximarem de uma vaga direta no torneio continental de seleções. Até era uma importância considerável. Mas o que aconteceu quase simultaneamente à convocação, em divulgação dupla dos perfis oficiais da equipe de mulheres dos Países Baixos e da própria jogadora a ser falada, acabou ganhando importância tão grande quanto a dos jogos em si. Ou até maior.

O que aconteceu, afinal de contas? Esta sucinta mensagem de Lieke Martens: "Queridos torcedores da Laranja: queria informar a vocês que os próximos dois jogos da seleção feminina serão meus últimos jogando por ela. Por aqui já deixo, com dor no coração, meu adeus. Tentarei aproveitar ao máximo, mas acima de tudo, como sempre, darei tudo para nosso time conseguir de novo um bom resultado. Espero muito ver vocês na próxima semana! Com muito amor, Lieke". Pois é: após treze anos, 158 partidas e 62 gols vestindo laranja, Martens anunciava o fim de sua trajetória na seleção. Claro, a comoção foi gigante: como melhor jogadora do mundo em 2017, como destaque no título da Euro do mesmo ano que serviu de "Big Bang" do futebol feminino holandês, Martens sempre será um nome histórico, um ícone da modalidade, um símbolo dela no Reino dos Países Baixos.

Ainda assim, mesmo com todo o impacto que o anúncio causou, também era inegável que era uma decisão previsível, tendo em vista o que Martens passou nos últimos anos - desde a Copa de 2019, quando o dedão de um pé, machucado, a impedia até de andar com tranquilidade. De lá para cá, muitas lesões, um mau momento (o pênalti perdido nas quartas de final do torneio olímpico de Tóquio, em 2021, valendo por 2020), uma participação quase anônima na Euro passada - encerrada abruptamente por seu corte... dentro de campo, tudo isso foi demais para a atacante. Fora de campo, ela também teve impactos, como reconheceu ao diário De Telegraaf: "Senti muita falta de minha família e meus amigos nos últimos anos. Quero passar mais momentos e tempos com eles, é hora de fazer escolhas (...) No meio do ano passado, eu me casei, e uma das minhas melhores amigas também. Ela esteve no meu casamento, mas não pude estar no dela, quatro semanas depois, por causa da Copa. Foi um momento emocionalmente duro. Fiquei muito feliz por estar na Copa, aproveitei bem. Mas foi uma sensação dúbia. Estou feliz e me sinto bem, mas a Euro fica longe demais para eu aguentar. Parece o momento certo".

Se não foi surpresa para Martens abandonar a seleção, que dirá para o técnico Andries Jonker. Aliás, falando à emissora NOS, Jonker até revelou que a saída definitiva da atacante poderia ter sido bem anterior: "Lá por outubro, novembro de 2022, tivemos muitas dificuldades para manter Lieke na seleção. Foi depois da Euro passada, ela já achava que seleção tinha sido o bastante. Meu auxiliar, Arvid Smit, teve muitas dificuldades [para convencê-la a continuar]. E ela jogou uma boa Copa, foi bem também na Liga das Nações". Porém, as decepções do começo deste 2024 foram o estopim da decisão (do) final: "Do ponto de vista dela, ela queria dar o adeus em Paris, nos Jogos Olímpicos. Esse sonho acabou. Então, não me surpreendi quando ela me disse 'professor, a Euro está longe demais para mim'. (...) Era algo que já vinha acontecendo: primeiro foi Van Veenendaal, depois Van Es, agora ela".

Então, no duro, a saída de Lieke Martens só aprofunda uma reformulação que já vinha acontecendo dentro da seleção feminina da Holanda - desde a passagem de Mark Parsons, aliás. Inclusive, um nome que poderia ter espaço ampliado, Romée Leuchter, perderá sua chance por causa de outro problema que segue vitimando a Holanda: lesões. Além de Leuchter, também foram cortadas por estarem machucadas a zagueira Caitlin Dijkstra e a goleira Lize Kop. O que aumentou as chances de uma... volta: com a recuperação adiantada da cirurgia lombar por que passou, Daphne van Domselaar já foi convocada e treinou normalmente com as outras três goleiras. A goleira titular normal das Leoas Laranjas falou com a alegria esperada: "Estou nos meus últimos passos da recuperação, e veremos dia a dia". Até comentou sobre o interesse - cada vez mais aberto - do Arsenal em contratá-la: "É algo que eu espero, após um ano de experiência. Escolhi o Aston Villa também por isso: para ter tempo de jogo. Estou feliz que esteja dando certo e que venham elogios".

Van Domselaar já voltou a ser convocada, após seus problemas lombares. Jogará? Ainda não se sabe (ANP)

Ainda assim, a escalação de Van Domselaar ainda parece incerta para ela ("Eu me sinto bem, mas não vamos tomar decisões precipitadas"). Para Andries Jonker, também: "Tenho algumas preocupações. Qual goleira joga, qual não joga. Qual zagueira joga, qual não joga". Tudo para duas partidas em que o técnico preconizou: vencer é altamente importante ("Estaremos com um pé na Euro, se ganharmos as duas", enfatizou na apresentação às jogadoras), e não será tão fácil ("Temos de estar atentos. A derrota deles [Finlândia] por 4 a 0 para a Noruega foi exagerada, e a vitória sobre a Itália diz o bastante sobre as qualidades delas", alertou à NOS). E além de tudo isso, Sherida Spitse, uma veterana que continuará - pelo menos até a Euro 2025 -, lembrou: "Outras têm de assumir a responsabilidade". Porque Lieke Martens já terá assumiu a sua parte com brilho, na seleção feminina da Holanda. E será reconhecido por isso, na homenagem mais do que merecida que terá após o jogo desta sexta, com todos os presentes a lhe aplaudir em Het Kasteel.

As 23 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Daphne van Domselaar (Aston Villa-ING), Jacintha Weimar (Feyenoord), Barbara Lorsheyd (ADO Den Haag) e Daniëlle de Jong (Twente)

Laterais: Lynn Wilms (Wolfsburg-ALE) e Marisa Olislagers (Twente)

Zagueiras: Sherida Spitse (Ajax), Dominique Janssen (Wolfsburg-ALE) e Ilse van der Zanden (Utrecht) 

Meio-campistas: Daniëlle van de Donk (Lyon-FRA), Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA), Victoria Pelova (Arsenal-ING), Damaris Egurrola Wienke (Lyon-FRA), Jill Baijings (Bayern de Munique-ALE) e Wieke Kaptein (Twente) 

Atacantes: Lineth Beerensteyn (Juventus-ITA), Lieke Martens (Paris Saint Germain-FRA), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Renate Jansen (Twente), Katja Snoeijs (Everton-ING), Fenna Kalma (Wolfsburg-ALE) e Chasity Grant (Ajax)

quarta-feira, 29 de maio de 2024

O guia da Holanda na Euro 2024: vai que...

A seleção da Holanda se prepara para a Euro 2024: mesmo com um bom time, a Laranja ainda está abaixo das favoritas. Quem sabe não se iguale a elas no decorrer do torneio... (ProShots/Divulgação)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) chega à 11ª participação de sua história em Eurocopas - só Alemanha e Espanha jogaram mais vezes o torneio europeu de seleções - passando uma impressão de que mudou, mas continua igual. Desde a participação razoável na Copa do Mundo passada, algumas coisas melhoraram na Laranja. Por exemplo, a maior variedade de jogadores de qualidade no meio-campo, que dependia demais de Frenkie de Jong no Catar. Contudo, a situação geral da equipe nacional neerlandesa segue a mesma de 2022: a Holanda é uma boa seleção, tem bons jogadores, provavelmente não passará vergonha na Euro 2024, tem no grupo D uma chave acessível (se a França é favorita, Polônia e Áustria são plenamente superáveis)... mas parece faltar à Oranje, como o país natal a conhece, uma cara de seleção que pode chegar ao segundo título europeu. É uma perfeita seleção de "segunda prateleira": boa, mas ainda lhe falta algo para ser favorita. Caberá aos jogadores tentar provar que ela pode chegar lá, a partir da fase de grupos - desde a estreia, contra a Polônia (domingo, 16 de junho, às 10h de Brasília, na cidade de Hamburgo), passando pelo esperado reencontro contra a França (sexta, 21 de junho, às 16h de Brasília, em Leipzig) e terminando contra a Áustria (terça, 25 de junho, às 13h de Brasília, em Berlim).

Poderia até ser pior. Basta lembrar os problemas que a Holanda - e, por consequência, o trabalho do técnico Ronald Koeman - tiveram e continuam tendo. O principal deles: ausências. Raramente Koeman pôde escalar o que tem de melhor na Laranja, desde o começo de seu trabalho de volta à seleção, em janeiro do ano passado. Começou por uma virose gastrointestinal, que tirou pelo menos quatro titulares dos jogos contra França e Gibraltar, nas duas primeiras rodadas das eliminatórias da Euro, em março de 2023 - alguns voltaram, como Cody Gakpo, outros não. Continuou pelas renitentes lesões no músculo posterior da coxa de Memphis Depay, que o tiraram das partidas decisivas da Liga das Nações passada, e também das rodadas das eliminatórias da Euro, contra Grécia e Irlanda, em setembro passado. Nas rodadas derradeiras da qualificação, contra Irlanda e Gibraltar, em novembro de 2024, De Jong faltou de novo, com entorse no tornozelo - assim como Matthijs de Ligt, penando com o joelho, e Micky van de Ven, também com problemas musculares. Nos amistosos de março passado, contra Escócia e Alemanha, novamente o tornozelo perturbou De Jong, além de impedir uma convocação esperada: Joshua Zirkzee, destaque absoluto na ótima campanha do Bologna no Campeonato Italiano (11 gols e quatro passes para gol), estava na lista para os amistosos, mas um problema muscular o impediu.

Todavia, os Países Baixos não podem reclamar somente do azar com sua seleção masculina. Afinal de contas, o primeiro jogo sob o comando de Ronald Koeman já mostrou um preocupante 4 a 0 sofrido para a França, na qualificação para a Euro. Na segunda rodada, contra Gibraltar, mesmo vencendo (3 a 0), a Laranja saiu perdendo - ter 52 chutes a gol e marcar somente três, contra aquela que talvez seja a mais frágil seleção da Europa, foi desempenho, no mínimo, ineficiente. Contudo, o sinal de alerta se acendeu de vez há quase um ano, em junho de 2023, na Liga das Nações. Jogando em casa, os neerlandeses esperavam o primeiro título após 35 anos, contra Croácia, Itália e Espanha. Pois foram os piores entre os quatro finalistas: pior do que sofrer 4 a 2 dos croatas na semifinal em Roterdã (em De Kuip, até a torcida perdeu, com os fervilhantes croatas cantando mais do que os holandeses o tempo todo), ou mesmo tomar 3 a 2 da Itália na decisão de 3º/4º lugares, em Enschede, foi ver que a Holanda tinha uma equipe frouxa taticamente, deixando muitos espaços, quase sempre sendo superada com facilidade. Certo, não se tratava da melhor seleção europeia, mas não era para tanta fragilidade. Era algo tão preocupante que trazia até temores de ausência na Euro 2024.

Ronald Koeman apregoou querer ter um time diferente do pragmatismo da Copa de 2022. Mas os maus resultados o fizeram dar um passo atrás. E o time ficou mais seguro (ProShots/Icon Sport/Getty Images)

Aí, pelo menos, Ronald Koeman voltou atrás em relação a algumas ideias que tinha no início. Se voltou à seleção preconizando que ela tinha de ser mais ofensiva, obedecer ao seu clássico estilo tático, jogar com quatro na defesa, Koeman começou o segundo semestre voltando a fazer a equipe jogar com três zagueiros, como na Copa do Mundo, apostando que os laterais pudessem se valer da velocidade para serem opções de ataque - ainda mais com Denzel Dumfries, na direita - e até ajudarem atacantes, como Cody Gakpo. Assim a Holanda voltou a passar alguma segurança. De volta às eliminatórias da Euro, em setembro de 2023, já bastou para ter sua melhor atuação no ano (os 3 a 0 soberanos sobre a Grécia, em Eindhoven, no dia 7) e para superar um ambiente difícil e vencer de novo (2 a 1, de virada, na aguerrida Irlanda, em Dublin, no dia 10). Em outubro, se novamente foi impossível superar a França (derrota por 2 a 1 em Amsterdã, com dois gols de Mbappé), de novo a Laranja resistiu a um ambiente adverso, praticamente garantindo a classificação ao fazer 1 a 0 na Grécia em Atenas (Weghorst perdera um pênalti no primeiro tempo, mas Van Dijk converteu outro, no minuto final). E em novembro, bastou vencer na penúltima rodada - 1 a 0 na Irlanda, em Amsterdã - para assegurar a vaga, tornando a última rodada ainda mais um "amistoso de luxo" do que já seria (6 a 0 em Gibraltar, na cidade portuguesa de Faro-Loulé). Havia brilho? Não. Mas tampouco houve muitos sustos. De quebra, pela esquerda, também surgia um ala tão rápido quanto Dumfries na direita: Quilindschy Hartman, do Feyenoord.

Para o bem e o mal, foi assim também nos amistosos de março deste 2024. Para o bem, porque a Holanda até camuflou problemas: no dia 22, chegou a ter problemas na defesa contra a Escócia no 1º tempo, em Amsterdã, até Tijjani Reijnders abrir o placar - e, na reta final, o time disparar para uma goleada até enganosa (4 a 0). Para o mal, porque no amistoso mais exigente, contra a Alemanha, quatro dias depois, em Frankfurt, a Laranja até saiu na frente da arquirrival - e país-sede da Euro. Mas logo tomou o empate, perdeu muitas chances de gol, viu os germânicos terem mais condições de pressionarem no ataque, até conseguirem a virada por 2 a 1. Nada humilhante, nada de envergonhar, a Holanda até jogou decentemente (e sofreu o segundo gol alemão numa bola que passou pouco da linha). Mas... nada que passasse uma impressão de injustiça.

E é assim que a Holanda chegou para o centro de treinamentos da federação, na cidade de Zeist, ainda com 18 jogadores: passando a impressão de ser "apenas" boa, mas abaixo das favoritas ao título. Para piorar, com a lista de machucados em crescimento contínuo. Quilindschy Hartman, a descoberta na lateral esquerda? Já estava fora da Euro desde março, com grave lesão no joelho (rompimento de ligamento cruzado). Joshua Zirkzee? Sofreu lesão muscular nas últimas rodadas do Campeonato Italiano. Mats Wieffer? Também com problemas na parte posterior da coxa, já nem jogou as últimas rodadas do Campeonato Holandês pelo Feyenoord, ficando fora da pré-convocação. Marten de Roon? Seu choro ao sofrer o problema muscular na final da Copa da Itália, defendendo a Atalanta contra a Juventus, foi um sintoma do que seria confirmado na sua apresentação em Zeist: De Roon teria de ficar fora da Euro. Quinten Timber? Ainda foi pré-convocado, mas chegou, fez apenas trabalhos físicos isolados, e foi cortado. Memphis Depay? Ainda voltando de mais um problema muscular no Atlético de Madrid. Frenkie de Jong? O drama maior: com nova entorse no tornozelo, sofrida semanas atrás pelo Barcelona, De Jong, um dos indispensáveis da Laranja, tentou até o fim, mas teve o corte anunciado no dia 10 de junho, seis dias antes da estreia. E Teun Koopmeiners completou a sequência aziaga: seria titular no amistoso derradeiro da preparação, contra a Islândia... mas no aquecimento, após um chute, sentiu dores musculares na virilha, sendo mais um cortado dos 26 convocados para a Euro.

Mesmo com toda a inconstância, mesmo com tantas lesões... a Holanda continua sendo uma seleção razoável. Faltam-lhe craques realmente decisivos - até por isso, Ronald Koeman deu preferência a nomes experientes na convocação. Falta a impressão de que ela pode chegar longe. Ela está abaixo das favoritas. Ainda assim, há muitas seleções medianas que começam a embalar em torneios eliminatórios e acabam indo além das expectativas. Vai que a Laranja consiga fazer isso, na Alemanha onde ganhou a Euro, há 36 anos...

A provável escalação da Holanda na Euro (buildlineup.com)

Para saber mais sobre os convocados, clique nas posições para ver descrições detalhadas deles

1-Bart Verbruggen (Brighton-ING)
13-Justin Bijlow (Feyenoord)
23-Mark Flekken (Brentford-ING)

22-Denzel Dumfries (Internazionale-ITA)
12-Jeremie Frimpong (Bayer Leverkusen-ALE)
17-Daley Blind (Girona-ESP)
20-Ian Maatsen (Borussia Dortmund-ALE)

4-Virgil van Dijk (Liverpool-ING)
3-Matthijs de Ligt (Bayern de Munique-ALE) 
5-Nathan Aké (Manchester City-ING)
2-Lutsharel Geertruida (Feyenoord)
15-Micky van de Ven (Tottenham-ING)
6-Stefan de Vrij (Internazionale-ITA)

7-Xavi Simons (RB Leipzig-ALE)
14-Tijjani Reijnders (Milan-ITA)
8-Georginio Wijnaldum (Al Ettifaq-SAU)
16-Joey Veerman (PSV)
24-Jerdy Schouten (PSV)
26-Ryan Gravenberch (Liverpool-ING)

11-Cody Gakpo (Liverpool-ING)
10-Memphis Depay (Atlético de Madrid-ESP)
9-Wout Weghorst (Hoffenheim-ALE)
18-Donyell Malen (Borussia Dortmund-ALE)
19-Brian Brobbey (Ajax)
21-Joshua Zirkzee (Bologna-ITA)
25-Steven Bergwijn (Ajax)

Ronald Koeman (técnico)
Erwin Koeman (auxiliar técnico)
Dwight Lodeweges (auxiliar técnico)
Michael Reiziger (auxiliar técnico)
Patrick Lodewijks (treinador de goleiros)

O guia da Holanda na Euro 2024: a comissão técnica

TÉCNICO


Ronald Koeman

Ficha técnica
Nome: Ronald Koeman
Data e local de nascimento: 21 de março de 1963, em Zaandam
Carreira como treinador: Vitesse (2000 a 2001), Ajax (2001 a 2005), Benfica-POR (2005 a 2006), PSV (2006 a 2007), Valencia-ESP (2007 a 2008), AZ (2009), Feyenoord (2011 a 2014), Southampton-ING (2014 a 2016), Everton-ING (2016 a 2017), seleção (masculina) da Holanda (2018 a 2020 e desde 2023) e Barcelona-ESP (2020 a 2021)

(Para saber mais sobre Ronald Koeman, clique aqui para ver o texto feito sobre ele, quando completou 60 anos de idade, em 2023)

Ronald Koeman é um treinador de altos e baixos em sua carreira no banco de reservas (jogando, sabe-se que foi um dos melhores zagueiros europeus de sua geração). E suas duas passagens pela seleção masculina da Holanda (Países Baixos) são uma prova disso, de certa forma. Na primeira, entre 2018 e 2020, Koeman foi decisivo na reabilitação de uma Laranja que andava em fossa abissal, após as ausências na Euro 2016 e na Copa de 2018. Comandou uma equipe intensa, que se beneficiou do salto que deram nomes já conhecidos (Virgil van Dijk), da geração que surgiu e brilhou no Ajax semifinalista da Liga dos Campeões 2018/19 (Matthijs de Ligt e Frenkie de Jong à frente), e provou sua reação indo à final da Liga das Nações, em 2019, e garantindo a vaga na Euro 2020 sem muitos problemas no grupo - com direito a vitória sobre a Alemanha, fora de casa. Certo, o time não era perfeito: Koeman ouvia muitas reclamações sobre escalar Ryan Babel no ataque, por exemplo. Mas era um time consistente, que crescia e poderia ir longe na Euro. Mas veio a pandemia de COVID-19, a Euro 2020 foi adiada, Ronald chegou a ser internado em maio de 2020 (por uma arritmia cardíaca), o Barcelona foi eliminado humilhantemente nas quartas de final da encurtada Liga dos Campeões 2019/20, sondou Koeman pela terceira vez... e ele preferiu realizar o sonho de treinar o clube em que fez história como jogador, deixando a seleção da Holanda. Decisão até bem compreendida no país: sonho é sonho.

O trabalho no clube blaugrana foi mediano, na melhor das hipóteses: bem ou mal, mesmo sem um bom nível de jogo, Koeman treinou o time no título da Copa do Rei (2020/21). E na pior das hipóteses, foi traumático, com as saídas conturbadas de Luis Suárez - por escolha de Koeman - e, acima de todas, Lionel Messi. Demitido do time catalão ainda em 2021, estava claro desde que Louis van Gaal voltou à seleção com prazo de validade (até a Copa de 2022): se Koeman fosse convidado, voltaria a treinar a Laranja, até como um modo de "terminar o que começara". De fato, houve pouca surpresa quando seu retorno foi anunciado, em abril de 2022, para (re)começar em 2023. Ainda assim, até agora, o trabalho de Koeman fica longe de ser promissor como na primeira passagem. O discurso de retomar o jeito ofensivo de jogar, após as críticas ao excesso de pragmatismo visto na Copa, foi superado por uma realidade preocupante, ao patinar nas eliminatórias da Euro e decepcionar nas decisões da Liga das Nações, terminando-a em 4º lugar. Aí, Koeman voltou atrás, voltou a escalar a Holanda com três zagueiros, voltou a tomar mais cuidados defensivos... e a vaga na Euro foi garantida sem muitos problemas. De mais a mais, o comando de Koeman dentro da Holanda deve ser respeitado: quando nada, trata-se do único nome a ter treinado e jogado nos três grandes do país, além de ter sido capitão da Laranja em duas Copas (1990 e 1994). E pelo menos, agora não há clube que o faça desistir do único objetivo que ainda tem: treinar a Laranja numa Copa do Mundo.

AUXILIARES


Erwin Koeman

De um certo modo, Erwin Koeman sempre andou perto de Ronald. Até pelo motivo imaginável, irmão dois anos mais velho que é. De mais a mais, ambos sempre jogaram juntos na infância (quando nada, porque o falecido pai de ambos, Martin Koeman, também era jogador). Começaram a carreira juntos, no Groningen. E mesmo que os caminhos tenham se separado em clubes - o meio-campista Erwin ficou mais postado no Groningen, onde passou por três vezes, além de também ter jogado pelo PSV e pelo Mechelen-BEL -, juntaram-se na seleção: os irmãos Koeman foram titulares na conquista da Euro 1988 (Ronald na zaga, Erwin no meio), e figuraram na decepção da Copa de 1990. 

O tempo passou, ambos pararam de jogar, fizeram carreira como técnicos... e o irmão mais velho fez trabalhos mais discretos do que o irmão. Feyenoord (2005 a 2007), seleção da Hungria (2008 a 2010), Utrecht (2011)... até que Ronald decidiu fazer de Erwin o seu braço-direito. Juntos, ambos trabalharam nas duas passagens inglesas do irmão mais novo, por Southampton e Everton (Ronald treinando, Erwin auxiliando). Depois, Erwin ainda foi auxiliar do curto trabalho de Phillip Cocu no Fenerbahçe-TUR, em 2018. Logo após um trabalho treinando o Omã, ele teve um susto em 2020: como o irmão, teve problemas cardíacos, passando por uma cirurgia. Plenamente recuperado, ainda comandou o Beitar Jerusalém, em Israel. Mas decidiu, pouco depois: preferiria ser auxiliar. Ficou inativo até 2023, quando o irmão o convidou para voltar a acompanhá-lo. Desta vez, na seleção masculina da Holanda (Países Baixos). E não deixa de ser especial que ambos voltem juntos a uma Euro, na Alemanha, 36 anos depois de conquistarem o título jogando. 


Dwight Lodeweges

No primeiro trabalho de Ronald Koeman pela Holanda (Países Baixos), ficou marcante um bilhete, entregue a Virgil van Dijk, orientando como o time deveria jogar nos minutos finais do 2 a 2 contra a Alemanha, na última rodada da fase de grupos da Liga das Nações, em novembro de 2018. Pois bem: o autor daquele bilhete, muitos dizem, foi Dwight Lodeweges, já auxiliar de Koeman naquela primeira passagem. Até ali, Lodeweges - holandês nascido no Canadá, zagueiro durante a carreira nos campos - se consolidara como um treinador de passagens esparsas, sem ficar muito tempo em clubes (Go Ahead Eagles, Zwolle, Groningen, Heerenveen, trabalhos no Japão, uma passagem como interino no PSV), mas que tinha um olhar experiente para futebol e sabia ajudar, discretamente. Por isso, foi o escolhido de Koeman para ser seu braço-direito na primeira passagem pela seleção. 

E quando Koeman rumou para o Barcelona, coube a Dwight, até, ser técnico interino da Holanda, nas duas primeiras rodadas da Liga das Nações (uma vitória sobre a Polônia, uma derrota para a Itália), em setembro de 2020, entre a saída do antecessor e a chegada de Frank de Boer. Trabalho feito, Lodeweges seguiu seu caminho anônimo: auxiliar no Zwolle (2021), treinando equipes amadoras (VVOP e VVOG, entre 2022 e 2023)... até que ficou inativo. Assim continuaria. Até que Sipke Hulshoff, auxiliar técnico de Koeman na segunda passagem (e também de Arne Slot, no Feyenoord), foi acompanhar Slot exclusivamente no Liverpool, semanas atrás. Cargo vago, em quem Koeman pensou para ser outro auxiliar, às pressas? No velho conhecido Dwight Lodeweges, que estará a seu lado na Euro. É verdade este bilhete...



Michael Reiziger

Experiência em campo, Michael Reiziger teve: titular da lateral direita da seleção da Holanda (Países Baixos) por 10 anos, presença no histórico Ajax campeoníssimo entre 1994 e 1996, passagens por Milan (discreta) e Barcelona (razoável), uma Copa do Mundo e três Euros no currículo... enfim, uma trajetória muito apresentável e apreciável. Mas está começando como treinador. Até agora, Reiziger passou grande parte dos últimos anos no Ajax que tão bem conhece: técnico da equipe B entre 2017 e 2019 - com um jogo treinando interinamente a equipe principal, em 2017 -, auxiliar técnico do time principal entre 2019 e 2023, o ex-lateral decidiu cuidar da própria vida no ano passado. Teve uma grande chance, recebendo o convite para treinar a seleção sub-21 masculina da Holanda, iniciando a preparação para a Euro da categoria, em 2025, na Eslováquia. Até agora, Reiziger aproveita muito bem: a Laranja Jovem está na rota da vaga, perfeita nas eliminatórias da Euro jovem (7 jogos, 7 vitórias, 21 gols marcados, só dois sofridos). Ronald Koeman prestou atenção. E fará de Reiziger um "auxiliar de luxo" na Euro principal. Até para que ele possa levar mais lições para sua carreira que está começando.

TREINADOR DE GOLEIROS


Patrick Lodewijks

Lodewijks já foi experiente como goleiro: começando a carreira no PSV (era reserva de Hans van Breukelen no título europeu do clube de Eindhoven, em 1988), jogou a maior parte do tempo no Groningen (1989 a 1998), e teve papel importante já veterano, no Feyenoord - pouco se sabe, mas Lodewijks fez parte da pré-convocação da Holanda para a Copa de 2006, aos 39 anos. No ano seguinte, carreira encerrada, ele já se tornou imediatamente treinador de goleiros do próprio Stadionclub. Por lá ficou nove anos. Teve uma primeira passagem treinando os arqueiros da seleção na fugaz volta de Guus Hiddink, entre 2014 e 2015. Mas só conheceu (e se tornou homem de confiança das comissões de) Ronald Koeman ao trabalhar com ele no Everton-ING, entre 2016 e 2017. Já bastou para que fosse o treinador dos guarda-metas da Laranja na primeira passagem de Koeman como treinador por lá. Koeman saiu, Frank de Boer chegou... e Lodewijks ficou. Só saiu com a chegada de Louis van Gaal, que trouxe a tiracolo seu treinador de goleiros preferido, Frans Hoek. Mas Koeman retornou, e Lodewijks voltou. E tentará fixar algum titular absoluto, numa posição sofrendo com tanta inconstância, baseado em seu estilo prático de treinos.

DEMAIS INTEGRANTES

Jan Kluitenberg e Martin Cruijff - preparadores físicos
Ricardo de Sanders, Gert-Jan Goudswaard e Luc van Agt - fisioterapeutas
Edwin Goedhart e Rien Heijboer - médicos
Rob Koster - massagista

O guia da Holanda na Euro 2024: Atacantes



11-Cody Gakpo (Liverpool-ING)

Ficha técnica
Nome: Cody Mathès Gakpo
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 7 de maio de 1999, em Eindhoven
Clubes na carreira: PSV (2018 a 2022) e Liverpool-ING (desde 2023)
Desempenho na seleção: 23 jogos e 9 gols, desde 2021
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2022/23), Euro (2020+1 - 1 jogo, nenhum gol), Copa de 2022 (5 jogos, 3 gols)

(Para saber mais sobre Gakpo, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Copa de 2022)

Quando a Copa de 2022 acabou, o céu parecia o limite para Cody Gakpo. Desde antes do Mundial, ele já vinha cogitado como candidato a revelação da Holanda (Países Baixos) na Copa, pelas ótimas atuações no PSV - e até pelas aparições prévias (Gakpo já se destacara na Holanda semifinalista da Euro sub-21, em 2021, e quase imediatamente foi "promovido" para a Euro adulta, estreando pela Laranja nela, contra a Macedônia do Norte, na fase de grupos). No Catar, Gakpo confirmou plenamente: em cinco jogos, foram três gols nos grupos, feito que nenhum holandês conseguira na história do país em Mundiais. A prova de seu talento foi reconhecida apenas dias depois do fim da Copa: o atacante foi contratado pelo Liverpool, já no meio da temporada 2022/23, pelo maior valor que o PSV recebeu por um só jogador.

E de lá para cá, se não se firmou no Liverpool, Gakpo pelo menos manteve seu status na seleção masculina dos Países Baixos. Pelos Reds, se alternando ainda entre titular e reserva, teve números até razoáveis (pelo Campeonato Inglês, 21 jogos e 7 gols em 2022/23, e 8 gols em 35 partidas em 2023/24; e nesta Liga Europa, ainda fez quatro gols em sete jogos). Ainda assim, circulando entre várias posições de ataque nos Reds - ponta esquerda, meio-campo, até meio da área - , não convenceu plenamente. Distante do que fez e faz pela Holanda: fora apenas de três partidas das eliminatórias da Euro, fez três gols. Mostrou facilidade de entrosamento com qualquer parceiro, fosse Wout Weghorst, fosse Memphis Depay. E mesmo que ainda se alterne entre campo e banco também pela seleção, Gakpo manteve a boa impressão vestindo laranja, além de manter a paciência da torcida no Liverpool. Chegará à Euro como titular do ataque. E um titular mais confiável dentro de campo do que muitos de seus pares.


10-Memphis Depay (Atlético de Madrid-ESP)

Ficha técnica
Nome: Memphis Depay
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 13 de fevereiro de 1994, em Moordrecht
Clubes na carreira: PSV (2012 a 2015), Manchester United-ING (2015 a 2017), Lyon-FRA (2017 a 2021), Barcelona-ESP (2021 a 2023) e Atlético de Madrid-ESP (desde 2023)
Desempenho na seleção: 90 jogos e 44 gols, desde 2013 
Torneios pela seleção: Copa de 2014 (4 jogos, 2 gols), Copa de 2022 (5 jogos, 1 gol), Liga das Nações (2018/19, 2020/21, 2022/23), Euro (2020+1 - 4 jogos, 2 gols)

(Para saber mais sobre Memphis Depay, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Copa de 2022)

Antes da Copa de 2022, estava claro: Memphis Depay era o melhor atacante que a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) tinha, a maior esperança de gols, estava até a caminho de fazer história - afinal de contas, já passando dos 40 gols pela Laranja, dava a impressão de que buscaria o recorde de bolas na rede pela equipe nacional, detido por Robin van Persie (51 gols). Porém, na penúltima rodada da Liga das Nações, em setembro de 2022, Memphis lesionou a parte posterior da coxa durante a vitória (2 a 0) sobre a Polônia. Começava ali uma via-crúcis. Se já não tinha muito espaço no Barcelona, perdeu o pouco que conquistara. Visando a recuperação para a Copa do Mundo, Depay foi entrando gradualmente na campanha holandesa (30 minutos contra Senegal, um tempo completo contra o Equador, titularidade a partir do terceiro jogo, contra o Catar - mas sempre sendo substituído). Até teve bons momentos, como o gol feito contra os Estados Unidos, mas nada que chamasse muito a atenção. Copa encerrada, sem muita possibilidade de voltar a ser importante no Barcelona, o atacante aceitou a transferência para o Atlético de Madrid.

Só que os problemas seguiram para Memphis. Mesmo que já soubesse chegar ao Atleti mais como uma opção de ataque do que como titular, o atacante começou a ser afligido por muitas lesões musculares. Só em 2023, foram três, em abril, maio e setembro. Tudo isso tirou chances de se desenvolver no time espanhol (oito jogos e quatro gols no restante da temporada 2022/23). Pior ainda: tirou-lhe espaço na própria seleção da Holanda em que antes era inquestionável. No ano passado, só jogaria as duas primeiras partidas pelas eliminatórias da Euro, em março, antes dos renitentes problemas físicos (principalmente na parte posterior da coxa) lhe impedirem de estar na Liga das Nações, de continuar figurando na campanha de qualificação na Eurocopa... enfim, fizeram Memphis começar a ser visto menos acima dos colegas de posição. Fora de campo, o atacante também atraiu olhares tortos por posturas polêmicas, como seu apoio manifesto ao ex-colega de seleção e ataque Quincy Promes, preso por tráfico de drogas. Ainda assim, 2024 começou um pouco melhor. Pelo Atlético de Madrid, mesmo mais no banco, mesmo sem tantos gols no Campeonato Espanhol (5), ele teve pelo menos um momento de destaque, ao marcar o gol da classificação contra a Internazionale, nas oitavas de final da Liga dos Campeões. Pela seleção, recuperado dos problemas musculares, foi titular nos amistosos de março, contra Escócia e Alemanha. E bem ou mal, ainda é visto como o nome para o qual será buscado um parceiro, seja Cody Gakpo, Wout Weghorst ou Brian Brobbey. Ainda assim, Memphis Depay chegará à segunda Euro de sua carreira dando a incômoda impressão de que já não tem a mesma importância para a seleção que um dia teve. Até porque já se informa, aqui e ali, que ele deixará o Atlético de Madrid tão logo a temporada acabe...


9-Wout Weghorst (Hoffenheim-ALE)

Ficha técnica
Nome: Wout François Maria Weghorst
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 7 de agosto de 1992, em Borne
Clubes na carreira: RKSV NEO (2008 a 2010), DETO (2010 a 2011), Emmen (2012 a 2014), Heracles Almelo (2014 a 2016), AZ (2016 a 2018), Wolfsburg-ALE (2018 a 2022), Burnley-ING (2022), Besiktas-TUR (2022 a 2023, por empréstimo), Manchester United-ING (2023, por empréstimo) e Hoffenheim-ALE (desde 2023, por empréstimo)
Desempenho na seleção: 31 jogos e 9 gols, desde 2018
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2022/23), Euro (2020+1 - 3 jogos, 1 gol) e Copa de 2022 (4 jogos, 2 gols)

(Para saber mais sobre Weghorst, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Copa de 2022)

Ao marcar o gol que seria o da vitória por 1 a 0 contra a Irlanda, na penúltima rodada nas eliminatórias da Euro, em 18 de novembro do ano passado, garantindo a vaga no torneio para a seleção masculina da Holanda (Países Baixos), Wout Weghorst saiu fazendo o conhecido gesto de pedir silêncio. Gesto para extravasar: afinal de contas, mesmo tanto tempo depois, o atacante segue ouvindo críticas. Para muitos, Weghorst tem pouca técnica, diante das opções de ataque que a Laranja tem. E pelo menos avaliando o desempenho do atacante em clubes, de 2022 até agora, as críticas têm razão de ser. Depois de um fim marcante de sua aparição na Copa do Mundo - como esquecer aquele gol contra a Argentina, no lance final do tempo normal das quartas de final? -, Weghorst ganhou uma chance nada desprezível no Manchester United. Contudo, foram apenas dois gols em 31 partidas pelos Diabos Vermelhos, saindo sem deixar muitas saudades. Em novo empréstimo, ao Hoffenheim, para a temporada recém-encerrada, Weghorst foi um pouco melhor (na Bundesliga, 28 jogos e 7 gols). Ainda assim, pouco, para convencer torcida e imprensa de suas qualidades.

Ainda assim, como questionar a utilidade de Weghorst vestindo laranja? Para começo de conversa, ele figurou em todas as partidas da seleção neerlandesa no ano passado e neste, entre titularidade e reserva. Depois, fez vários gols úteis. Deixou a bola na rede nos 3 a 0 sobre a Grécia, na quarta rodada das eliminatórias da Euro, quando a Holanda deslanchou para garantir a vaga. Na rodada seguinte, na virada fora de casa (2 a 1) na Irlanda, quem fez o gol da vitória? Ele mesmo. Assim como faria no supracitado gol do 1 a 0 sobre os irlandeses, na penúltima rodada da qualificação, assegurando a vaga na Euro. E já em 2024, nos 4 a 0 sobre a Escócia, coube a Weghorst marcar mais um gol. Por tudo isso, há quem possa espernear, mas ele estará na segunda Euro de sua carreira. E quem duvida que terá lá sua utilidade?


18-Donyell Malen (Borussia Dortmund-ALE)

Ficha técnica
Nome: Donyell Malen
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 19 de janeiro de 1999, em Wieringen
Clubes na carreira: PSV (2018 a 2021) e Borussia Dortmund-ALE (desde 2021)
Desempenho na seleção: 30 jogos e 6 gols, desde 2019 
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2020/21, 2022/23) e Euro (2020+1 - 4 jogos, nenhum gol)

(Para saber mais sobre Malen, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Euro 2020+1)

A expectativa sobre Donyell Malen, na Euro passada, foi tão grande quanto a decepção. Com rapidez na fase de grupos, ele se entrosou às mil maravilhas com Memphis Depay. Porém, nas oitavas de final, um gol perdido cara a cara com o goleiro tcheco Tomas Vaclík transformou Malen num dos bodes expiatórios da eliminação decepcionante da Laranja, jogando-o "montanha abaixo" nas expectativas de torcida e imprensa. Teria uma grande chance para voltar a parecer promissor: logo depois da Euro, transferiu-se para o Borussia Dortmund. Num cenário mais competitivo, poderia se afirmar de vez caso se destacasse nos aurinegros. Aí, as lesões prejudicaram Malen. Principalmente na reta final da preparação para a Copa do Mundo: mesmo jogando constantemente nas eliminatórias do Mundial, ainda em 2021, mesmo tendo jogado os amistosos contra Dinamarca e Alemanha (março de 2022), Malen começou a penar com lesões musculares na segunda metade daquele ano. Uma distensão muscular o tirou dos campos por três meses; depois, um rompimento muscular, já em agosto de 2022. Sem sequência no Dortmund, não havia como ter chances na seleção. E Malen ficou fora da Copa.

Restava erguer a cabeça e recuperar o espaço no time, para voltar a ser considerado na Holanda (Países Baixos). E de lá para cá, Malen conseguiu fazer isso. Na temporada 2022/23, já melhorou pelo Dortmund: foram 26 jogos pela Bundesliga - 22 como titular -, e nove gols marcados, sem contar as aparições na campanha da equipe na Liga dos Campeões. Passo dado, veio a volta à Laranja: Malen esteve nas partidas iniciais das eliminatórias da Euro, foi lembrado por Ronald Koeman para os jogos decisivos da Liga das Nações, e mesmo com a derrota na semifinal para a Croácia, coube a ele abrir o placar então. Em 2023/24, a situação seria melhor ainda. Pela seleção, Malen esteve em todos os jogos restantes das eliminatórias da Euro - mesmo na reserva, já era algo. No Dortmund, mais uma temporada de evolução notável: 13 gols na Bundesliga, 15 gols no total (goleador do clube na temporada, ao lado de Niclas Fullkrüg), participação ativa na campanha de finalista na Liga dos Campeões. Na seleção, aparição nos dois amistosos de março, marcando até gol contra a Escócia. Tudo isso, mostrando as qualidades que chamaram a atenção: velocidade e capacidade na finalização. E Malen chega reabilitado à segunda Euro da carreira. Quem sabe, nela, possa apagar as decepções deixadas há três anos.


19-Brian Brobbey (Ajax)

Ficha técnica
Nome: Brian Ebenezer Adjei Brobbey
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 1º de fevereiro de 2002, em Amsterdã
Clubes na carreira: Ajax (2018 a 2021 e desde 2022) e RB Leipzig-ALE (2021 a 2022)
Desempenho na seleção: 1 jogo e nenhum gol, desde 2023
Torneios pela seleção: nenhum

Há pelo menos cinco anos, quem acompanha o futebol na Holanda (Países Baixos) pensa: um dia, Brian Brobbey será um grande atacante. Mais precisamente, desde o bicampeonato europeu sub-17 da Holanda (2018 e 2019). Mesmo com lesões aqui e ali, também não demorou para que ele migrasse do time B do Ajax para o grupo principal, na temporada 2020/21. Ali, porém, veio um passo maior do que as pernas: mesmo com um desempenho bom para começar (12 jogos e três gols pela Eredivisie, seis jogos e três gols na participação do Ajax que alcançou as quartas de final da Liga Europa), Brobbey queria mais tempo de jogo. Sem isso no clube em que surgiu, preferiu tentar a sorte no RB Leipzig, na temporada seguinte. Fracasso: nada de gol, em apenas 14 jogos pelo time alemão. Foi o bastante para que o atacante aceitasse um retorno ao Ajax. Primeiro, por empréstimo, na segunda metade da temporada 2021/22. Depois, em definitivo.

Já então, Brobbey começou a rondar as convocações da seleção masculina dos Países Baixos. Em 2022, teve uma primeira inclusão, sendo chamado para o jogo contra a Bélgica, na fase de grupos da Liga das Nações (1 a 0). Foi incluído na pré-convocação para a Copa do Mundo, mas ficou de fora. E no Ajax, mesmo que os números fossem bons - no Campeonato Holandês, foram 32 jogos e 13 gols em 2022/23 -, mesmo que o jovem indicasse talento e força física para ajudar nas jogadas (principalmente no pivô do ataque), ainda mostrava precipitação justamente no quesito mais julgado em um atacante: finalização. Se fazia muitos gols, perdia outros tantos. Mas a situação começou a melhorar em 2023/24. Pela seleção, as convocações que se restringiam ao banco enfim viraram participação com bola rolando. E em jogo duro: o 1 a 0 na Grécia, na sexta rodada das eliminatórias da Euro, quando a vitória era necessária para a Laranja - e Brobbey ajudou o gol a vir, participando da jogada que gerou o pênalti convertido por Virgil van Dijk. No Ajax, sua aparição foi ainda mais notável: mesmo numa temporada caótica em Amsterdã, ele fez 18 gols no Campeonato Holandês. Já foi o suficiente para Brobbey, enfim, receber a chance num grande torneio. É mais um ponto no caminho pensado para ele: no futuro, será um grande atacante holandês. Pelo visto, o futuro está cada vez mais perto.


21-Joshua Zirkzee (Bologna-ITA)

Ficha técnica
Nome: Joshua Orobosa Zirkzee
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 22 de maio de 2001, em Schiedam
Clubes na carreira: Bayern de Munique (2018 a 2021, na equipe B, e 2019 a 2022, no grupo principal), Parma-ITA (2021, por empréstimo), Anderlecht-BEL (2021 a 2022, por empréstimo) e Bologna-ITA (desde 2022)
Desempenho na seleção: nunca jogou
Torneios pela seleção: nenhum

Desde que começou a aparecer mais publicamente, ainda na base do Feyenoord (antes, ainda passou pelas categorias inferiores do ADO Den Haag), Zirkzee era visto como um atacante promissor, com qualidades na finalização e bom porte físico. Mas demorou para embalar na carreira. Até agora, tinha e merecia confiança de sobra. A começar pelo Bayern de Munique, que o contratou ainda como jogador de base, deixando-o no time B durante sua primeira temporada no clube alemão (2018/19). No Bayern II, Zirkzee fez três gols logo na primeira partida, e já começou a ser experimentado na campanha da equipe de aspirantes dos bávaros dentro da terceira divisão alemã, em julho de 2019. Mais alguns meses, e teve enfim suas primeiras experiências na equipe adulta, já com a temporada 2019/20 correndo. E foi até precoce. Em 11 de dezembro de 2019, entrou no decorrer do jogo contra o Tottenham, pela fase de grupos da Liga dos Campeões; sete dias depois, vinda a campo para os acréscimos contra o Freiburg, pela 16ª rodada do Campeonato Alemão - e ainda marcando seu primeiro gol pelo time principal do Bayern; mais três dias e mais outro gol, contra o Wolfsburg. O filho de uma nigeriana com um holandês começava a achar espaço no Bayern de Munique. Mesmo mais na reserva, faria parte de uma temporada que terminaria com Tríplice Coroa para o Bayern, em meio às limitações e interrupções que a pandemia de COVID-19 trazia então. Porém, pela falta de espaço num Bayern que já tinha em Robert Lewandowski um tremendo goleador, Zirkzee começou a ser emprestado - e a demorar para justificar a confiança. 

Em 2020/21, até passou a primeira parte da temporada no Bayern, mas foi cedido ao Parma em janeiro de 2021. E suas chances no time italiano foram limitadas por machucar o ligamento colateral fibular de um dos joelhos, precisando passar a reta final da temporada em recuperação (isso, depois de já ter começado nos parmesões como reserva). Recuperado, foi emprestado de novo: ao Anderlecht, onde passou a temporada 2021/22. No clube belga, começou a se restabelecer: foi titular, e foi o goleador dos Mauves ("Roxos") dentro do Campeonato Belga naquela temporada, com 16 gols - e ainda nove passes para gol. Paralelamente, na seleção sub-21 da Holanda, Zirkzee recuperava o espaço que já poderia ser seu na participação na Euro jovem de 2021, se tornando titular da Laranja Jovem. Pode ter sido insuficiente para fazê-lo voltar e ficar no Bayern, mas bastou para o Bologna o contratar em definitivo, em 2022. Se Zirkzee ainda foi discreto na primeira temporada pelos Rossoblù - dois gols em 19 jogos na liga italiana -, 2023/24, enfim, foi o ano da aparição definitiva que tantos esperavam. Mostrando-se um atacante móvel sem perder a capacidade de finalização (e se tornando mais completo, até voltando ao meio-campo para buscar jogo), ele fez 11 gols, foi o símbolo em campo da campanha que levou os bolonheses à próxima Liga dos Campeões, foi escolhido o melhor jogador jovem do Campeonato Italiano. E atraiu a atenção da seleção principal da Holanda (Países Baixos). Aí, o azar atrapalhou. Uma lesão muscular o fez ser cortado dos amistosos contra Escócia e Alemanha, em março; e outra contusão similar, na antepenúltima rodada da Serie A, o fez ficar fora da convocação definitiva para a Euro, ainda que muitos o quisessem nela. Mas desta vez, o destino o ajudou: o corte de Teun Koopmeiners abriu uma vaga que não seria preenchida, mas Brian Brobbey assustou com uma distensão muscular no primeiro treino da Laranja na Alemanha, e o técnico Ronald Koeman decidiu não abusar da sorte. E Zirkzee, das férias que já passava na Disneyworld, em Orlando (Estados Unidos), foi chamado para a Euro. É mais um que pode estrear pela Laranja logo num grande torneio. Para muitos, merece isso. A Disney pode esperar - até porque o Eurodisney, parque da franquia em Paris, já o convidou para depois da Euro...


25-Steven Bergwijn (Ajax)

Ficha técnica
Nome: Steven Charles Bergwijn 
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 8 de outubro de 1997, em Amsterdã
Clubes na carreira: PSV (2014 a 2020), Tottenham Hotspur-ING (2020 a 2022) e Ajax (desde 2022)
Desempenho na seleção: 32 jogos e 8 gols, desde 2018
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2018/19, 2020/21, 2022/23) e Copa de 2022 (4 jogos, nenhum gol)

(Para saber mais sobre Bergwijn, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Copa de 2022)

A convocação de Steven Bergwijn para a Euro foi até surpreendente. Não exatamente pela experiência: afinal de contas, Bergwijn é nome frequente na seleção masculina da Holanda (Países Baixos) desde 2018, figurou em Liga das Nações, chegou a formar dupla elogiável com Memphis Depay nos idos de 2022... ainda assim, o atacante nunca conseguiu convencer plenamente. Vale lembrar que ficou ausente da Euro passada, em meio a má fase no Tottenham. De volta ao país natal, indo para o Ajax, Bergwijn até reapareceu no radar da seleção holandesa, mas a participação discreta na Copa de 2022 fez com que seu nome voltasse a ser questionado. De lá para cá, um pouco por exagero, um pouco corretamente, Bergwijn voltou a ficar na mira das críticas no Ajax. Nem se saiu de todo mal - 12 gols pelo Holandês em 2022/23, 12 gols novamente na temporada encerrada -, mas sua postura pública foi criticada pela torcida, em meio a uma crise profunda do clube. 

Ao se tornar capitão do Ajax, depois da saída de Dusan Tadic, ficou ainda mais visado. E nem mesmo os gols marcados, ou poder jogar na sua posição preferida (a ponta esquerda), fez com que ele pudesse fazer frente às críticas. E Bergwijn acabou perdendo espaço também na seleção holandesa ao longo de 2023: ainda participou dos jogos decisivos da Liga das Nações passada, até apareceu nas eliminatórias da Euro (duas partidas), mas a crise do Ajax, tiraram gradativamente "Stevie B" das convocações de Ronald Koeman. Ainda assim, partidas destacadas na reta final da temporada - como os 3 a 0 do Ajax no Almere City, três gols dele, na penúltima rodada do Campeonato Holandês - deixaram um sinal de que dias melhores podem vir. Por isso, e pela experiência que já tem, Bergwijn recebeu a aposta de Ronald Koeman. Escapou do corte. E está na Euro. Com a desconfiança da torcida sobre ele, só lhe resta uma coisa: jogar bem.

O guia da Holanda na Euro 2024: Meio-campistas



7-Xavi Simons (RB Leipzig-ALE)

Ficha técnica
Nome: Xavier "Xavi" Quentin Shay Simons
Posição: Meio-campo
Data e local de nascimento: 21 de abril de 2003, em Amsterdã 
Clubes na carreira: Paris Saint-Germain-FRA (2021 a 2022, e desde 2023), PSV (2022 a 2023) e RB Leipzig-ALE (desde 2023, por empréstimo)
Desempenho na seleção: 13 jogos e nenhum gol, desde 2023
Torneios pela seleção: Copa de 2022 (1 jogo, nenhum gol)

(Para saber mais sobre Xavi Simons, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Copa de 2022)

Quando Xavi Simons foi convocado para a Copa de 2022 - por sinal, sua primeira convocação para a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) -, fizera por merecer. Mas era mais uma aposta no futuro por parte do técnico daquela vez, Louis van Gaal, do que algo com efeito imediato. Tanto que o jovem prodígio, acompanhado por muitos admiradores de futebol desde a adolescência (até por sua presença massiva nas mídias sociais), só entrou em campo naquela Copa - e estreou em geral pela Laranja - nos oito minutos finais contra os Estados Unidos, nas oitavas de final. Ainda assim, já serviu para dar um gosto de "quero mais". E Xavi começou a fornecer isso em 2023. Principalmente no PSV: a aposta do time de Eindhoven em trazê-lo foi plenamente paga com a artilharia no Campeonato Holandês (19 gols, junto ao grego Anastasios Douvikas, do Utrecht). Mais do que isso: Simons se mostrava um ponta-de-lança veloz, ofensivo, focado fora de campo, aparecendo em horas difíceis, comprovando as perspectivas ótimas para seu futuro. Até por isso, já foi titular da Holanda na primeira partida sob o comando de Ronald Koeman, em março do ano passado. E nem os 4 a 0 sofridos para a França perturbaram o otimismo em relação a Xavi Simons.

O comentário geral era de que o comportamento do jovem evoluíra no PSV por causa dos conselhos de Ruud van Nistelrooy, técnico dos Boeren em 2022/23, considerado como um nome que teve grande carreira, em parte, pelo foco e pelo esforço invejáveis que teve enquanto jogador. Simons se apegou a Van Nistelrooy. E se considera que a demissão repentina dele, antes mesmo que a temporada 2022/23 acabasse, foi fator altamente influente para que o jovem decidisse deixar o PSV e aceitasse o retorno ao Paris Saint-Germain - que já o emprestou prontamente ao RB Leipzig. Ficava a pergunta: como Xavi se daria no clube alemão? Pois ele mostrou que as lições dos tempos de PSV foram aprendidas: titular absoluto na boa campanha da equipe dos Touros (32 de 34 jogos), oito gols, 11 passes para gol, nada de problemas extracampo. Com tudo isso, Simons manteve a titularidade absoluta na Laranja (esteve em todos os jogos das eliminatórias da Euro), sob Ronald Koeman. Mostrou qualidade para iniciar as jogadas desde o meio-campo, com tabelas ou mesmo carregando a bola até a área, driblando quem aparecesse no caminho. Curiosamente, o que lhe tira um pouco do destaque na Laranja é... a afobação. Por várias vezes ele faz a jogada, chega à área, mas erra a finalização, por pura pressa. Por isso, ainda não fez gols pela Laranja. Nada que tire a boa impressão que se tem deste início de Xavi Simons na seleção masculina da Holanda. Quem sabe o gol esteja "guardado" para a Euro, na qual será titular... 


14-Tijjani Reijnders (Milan-ITA)

Ficha técnica
Nome: Tijjani Martinus Jan Reijnders Lekatompessy 
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 29 de julho de 1998, em Zwolle
Clubes na carreira: Zwolle (2017), AZ (2017 a 2023), Jong AZ (2017 a 2020), RKC Waalwijk (2020, por empréstimo) e Milan-ITA (desde 2023)
Desempenho na seleção: 8 jogos e 1 gol, desde 2023
Torneios pela seleção: nenhum

Na Euro passada, enquanto vários de seus companheiros de seleção já frequentavam a Laranja, Tijjani Reijnders ainda era um meio-campista pouco citado no AZ. Vindo do Zwolle, no clube holandês de Alkmaar desde 2017, já tinha até sido emprestado ao RKC Waalwijk, passando lá a temporada 2020/21. Mas ainda não tinha embalado na carreira. Até ali, na metade de 2021. Porque a partir de então, a carreira de Reijnders começou a subir - e ainda não parou. Começou no AZ: já na temporada seguinte, de volta ao clube, de um volante mais concentrado na marcação, ele começou a se converter num jogador mais completo, que avançava mais ao ataque. A tal ponto que, mesmo só sendo titular em 11 partidas, esteve em 33 dos 34 jogos do AZ na Eredivisie 2021/22. E enfim, em 2022/23, Reijnders se afirmou definitivamente no AZ: bem mais ofensivo do que já tinha sido, melhorou nos passes (foram sete, para gol), foi titular absoluto tanto na campanha do 4º lugar na Eredivisie quanto no caminho que levou os Alkmaarders à semifinal da Conference League. 

Foi suficiente para que o Milan, após uma negociação que teve suas dificuldades, contratasse Reijnders. E mesmo que ele, pré-convocado para as fases finais da Liga das Nações, tenha ficado de fora do grupo que disputou aqueles jogos em junho de 2023, estava claro que sua primeira partida pela Holanda (Países Baixos) não demoraria muito a acontecer. De fato, em setembro, não só Reijnders era chamado, como enfim estreava pela Laranja, entrando no segundo tempo dos 3 a 0 contra a Grécia, nas eliminatórias da Euro. Mais um pouco, e em outubro, com a ausência do machucado Frenkie de Jong, ele já foi titular, contra França e de novo contra a Grécia, também na qualificação. E o círculo virtuoso continuava em seu clube: Reijnders só ganhava mais espaço na seleção porque mal sentiu o peso de jogar num clube com a tradição do Milan. Em sua primeira temporada, chegou, tomou conta de sua posição no meio-campo, mostrou mais uma capacidade (seus chutes de fora da área, precisos - foram três gols no Italiano), e foi dos raros nomes a serem elogiados pela torcida milanista, numa temporada apagada do clube. A ponto de ter sido escolhido um dos melhores de sua posição no Campeonato Italiano. Na seleção, foi quem mais aproveitou os amistosos de março para se afirmar. O belo gol com que abriu vitória mais difícil do que parece, contra a Escócia (chute de fora da área, no ângulo), decretou: muito provavelmente, Reijnders será dos principais meio-campistas da Holanda na Euro. Há três anos atrás, era até difícil imaginar isso.


8-Georginio Wijnaldum (Al Ettifaq-SAU)

Ficha técnica
Nome: Georginio Gregion Emile Wijnaldum
Posição: Meio-campista 
Data e local de nascimento: 11 de novembro de 1990, em Roterdã 
Clubes na carreira: Feyenoord (2007 a 2011), PSV (2011 a 2015), Newcastle-ING (2015 a 2016), Liverpool-ING (2016 a 2021), Paris Saint Germain-FRA (2021 a 2023), Roma-ITA (2022 a 2023, por empréstimo) e Al Ettifaq-SAU (desde 2023)
Desempenho na seleção: 91 jogos e 28 gols, desde 2011
Torneios pela seleção: Copa do Mundo (2014 - 7 jogos, 1 gol), Liga das Nações (2018/19, 2020/21) e Euro (2020+1 - 4 jogos, 3 gols)

(Para saber mais sobre Wijnaldum, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Euro 2020+1)

Mesmo numa campanha discreta da Holanda (Países Baixos) na Euro 2020+1, Georginio Wijnaldum até que apareceu bem, com três gols e algumas atuações elogiáveis. Simultaneamente, acertava sua transferência para o Paris Saint Germain-FRA. Se desse certo, certamente "Gini" continuaria um nome certo e experiente na Laranja - ainda mais por ser titular absoluto na reta final das eliminatórias da Copa de 2022. Mas... não deu. Mesmo sendo titular constante do PSG na temporada 2021/22, não trouxe por lá as qualidades que se esperavam dele - ser um meio-campo com bastante presença ofensiva, por exemplo. Tão logo começou 2022, Louis van Gaal (ainda treinando a Holanda então) notou a queda técnica, pediu que Wijnaldum voltasse a ser mais dinâmico em campo... mas não adiantou. Então, ele ficou fora das convocações, a partir do meio daquele ano. Sem receber muita importância no PSG, foi emprestado à Roma-ITA. E antes mesmo de tentar se recuperar, uma fratura na tíbia acabou com as perspectivas de Wijnaldum estar na Copa de 2022. Já era uma tremenda queda. E 2023 não começou muito melhor. Mesmo recuperado e retornando à Roma, Wijnaldum não caiu nas graças de José Mourinho - e seguiu com pouco espaço, tanto no Campeonato Italiano, como no vice pela Liga Europa. Na seleção, ainda voltou a jogar no primeiro semestre. Contudo, ainda lento demais, passou em branco nos jogos contra França e Gibraltar (eliminatórias da Euro, em março - foi até substituído contra Gibraltar). E nas fases finais da Liga das Nações, mesmo com um gol marcado contra a Itália, na decisão do 3º lugar, não se diferenciou numa Holanda que decepcionou em casa. 

Sem interesse da Roma em contratá-lo em definitivo, sem interesse do PSG em mantê-lo, sem interesse de outras equipes em contratá-lo (bem, o Feyenoord até quis repatriá-lo, mas o preço foi proibitivo), restou a Wijnaldum seguir o caminho aberto por outros e ir jogar na Arábia Saudita - mais precisamente, no Al-Ettifaq. Parecia seu fim, em termos mais competitivos. Como, então, o meio-campo voltou à seleção holandesa? Como, então, ele está na segunda Euro de sua carreira? Pela impressão de Ronald Koeman de que ainda faltam "líderes" à Laranja. Mesmo com a queda técnica e física, "Gini" é nome reconhecido entre os convocados mais jovens, e poderia tirar um pouco da carga que Virgil van Dijk tem nesse sentido de "guiar" o time. Koeman, então, o visitou na Arábia Saudita, no começo deste ano, ao lado de Nigel de Jong, diretor de futebol da federação (e ex-colega de seleção de Wijnaldum). Pelo visto, considerou que a mentalidade do jogador seguia aceitável para um ambiente de seleção. A tal ponto que Wijnaldum, após nove meses, voltou a ser convocado, para os amistosos contra Escócia e Alemanha, em março deste ano. Mais do que isso: fez gol, nos 4 a 0 na Escócia. Já foi o suficiente para Koeman decidir: apesar das muitas opiniões contrárias, Wijnaldum poderia ter utilidade e merecia o voto de confiança. Recebeu-o, com a vaga na convocação para a Euro. A ver se "Gini" evoca na Alemanha as boas atuações que evocou na Euro 2020+1...


16-Joey Veerman (PSV)

Ficha técnica
Nome: Johannes 'Joey" Cornelis Maria Veerman
Posição: Meio-campista 
Data e local de nascimento: 19 de novembro de 1998, em Purmerend
Clubes na carreira: Volendam (2016 a 2019), Heerenveen (2019 a 2022) e PSV (desde 2022)
Desempenho na seleção: 8 jogos e 1 gol, desde 2023
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2022/23)

Desde os tempos de Heerenveen, Joey Veerman mostrava talento para ditar o ritmo de um jogo, a partir do meio-campo. Tanto dominando a bola, quanto acelerando o ritmo com passes em profundidade. E ainda assim, demorou para Veerman ter na seleção da Holanda (Países Baixos) o espaço que muitos esperavam e até queriam para ele. Tudo por um desentendimento que foi até duradouro com a federação. Convocado a partir de novembro de 2019 para a seleção sub-21, Veerman foi cortado em sequência, alegando lesões. Até que, ainda em 2020, anunciou que preferia pedir dispensa definitiva da Laranja Jovem, como é conhecida a Holanda sub-21, por "preferir se concentrar em questões particulares". Passou a imagem de arrogância para a federação (e até para a opinião pública), de quem já se achava pronto para a seleção principal. Resultado: por muito tempo, Veerman pareceu nome proibido até para ela. E fazia por merecer a convocação: por pelo menos dois anos, foi o melhor jogador do Heerenveen, sendo absoluto no meio-campo do time. E já indicando, discretamente, o desejo de uma transferência. Desejo concretizado em janeiro de 2022: após um ano e meio de sondagens, o PSV o trouxe ainda no meio da temporada 2021/22. De lá para cá, só evolução. 

No PSV, mesmo ainda se adaptando, Veerman já teve sua importância na metade final da temporada 2021/22. Na seguinte, se estabeleceu de vez, sendo em Eindhoven o que já era em Heerenveen: um organizador de jogo por excelência, deixando a finalização para os nomes mais à frente, mas em jogadas que quase sempre saíam de seus pés. E neste 2023/24, a consagração: Veerman foi nome fundamental no dominante PSV campeão holandês, foi escolhido na maioria das votações como o melhor jogador da Eredivisie, foi quem mais passes para gol deu em toda a liga (16). Na seleção, os problemas começaram a ser resolvidos em 2022: em entrevista ao diário De Telegraaf, explicou que preferira abandonar a seleção sub-21 por se sentir sem espaço, diante de nomes que já jogavam por ela havia alguns anos. Louis van Gaal tratou de reabrir as perspectivas ao incluí-lo na convocação preliminar para a Copa do Mundo passada. Mesmo ficando fora dos 26 que foram ao Catar, Veerman enfim voltava a ser plenamente "convocável". Ao longo de 2023, sempre esteve nas listas de Ronald Koeman, enfim estreando ao substituir Mats Wieffer para os 14 minutos finais contra a Itália, na decisão de 3º lugar da Liga das Nações, em junho. Mesmo ainda vindo da reserva, participou de todo o resto das eliminatórias da Euro - e foi titular pela primeira vez na última rodada da qualificação, nos 6 a 0 contra Gibraltar, em novembro passado. Com Frenkie de Jong machucado, apareceu nos amistosos contra Escócia e Alemanha - e contra os alemães, fez o gol da Laranja. Com tudo isso, mesmo que Tijjani Reijnders ainda tenha mais chances como titular, Veerman dá a certeza: está pronto para jogar o primeiro torneio grande de sua carreira pela seleção. E agora não é mal entendido e nem arrogância.


24-Jerdy Schouten (PSV)

Ficha técnica
Nome: Jerdy Schouten
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 12 de janeiro de 1997, em Hellevoetsluis
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2016 a 2017), Telstar (2017 a 2018), Excelsior (2018 a 2019), Bologna-ITA (2019 a 2023) e PSV (desde 2023)
Desempenho na seleção: 3 jogos e nenhum gol, desde 2022
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2022/23)

Já fazia algum tempo que Jerdy Schouten rondava as convocações da seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Nunca conseguira espaço nem sequência na Laranja, mas ao mesmo tempo sempre estava a postos para o caso da chance aparecer. Pois bem: apareceu nesta temporada. Figurando constantemente nas convocações do técnico Ronald Koeman, o volante se valeu de suas atuações confiáveis pelo PSV campeão holandês para garantir vaga no primeiro torneio importante de sua vida vestindo laranja. De certa forma, foi o auge de um processo que parecia muito distante há cinco anos. Foi quando Schouten foi titular na campanha do Excelsior, que terminou rebaixado no Campeonato Holandês da temporada 2018/19. Poderia ser golpe duro numa carreira. Para Schouten, escolhido pela torcida do Excelsior o melhor jogador do clube naquela temporada aziaga, foi apenas o começo. Porque do Excelsior, o meio-campista foi para o Bologna, em 2019. E no clube italiano, Schouten apurou seu estilo defensivo, se tornando nome certo nas escalações dos Rossoblù, antes e depois da pandemia de COVID-19. 

Já em 2020, Frank de Boer, técnico da Holanda então, indicou que estava de olho nele para eventuais convocações. Não foi daquela vez, mesmo com Schouten sendo cada vez mais absoluto no meio-campo do Bologna. Mas logo seria: ao final da temporada 2021/22 - temporada com dificuldades, na qual o jogador passou quatro meses fora dos campos, por uma lesão -, Schouten foi convocado por Louis van Gaal para os quatro jogos que a Holanda teve em junho de 2022, pela fase de grupos da Liga das Nações. E enfim estreou, em 8 de junho, na vitória sobre o País de Gales (2 a 1). Teve atuação normal, mas não chamou muito a atenção, ficando fora da Copa do Mundo. Talvez por isso, mesmo tendo feito temporada excelente no Bologna em 2022/23 (titular absoluto), renovando contrato por mais dois anos, Schouten quis voltar ao país natal para jogar, de modo a ficar mais "visível" para os holandeses. Voltou para o que seria a melhor escolha possível: o PSV, ao qual chegou em agosto passado. Formou uma dupla de volantes excelente com Joey Veerman, que colaborou bastante para a primorosa campanha do título do time de Eindhoven na Eredivisie. Não só ajudou na marcação, no meio-campo, mas até mesmo revelou versatilidade, às vezes sendo recuado para a zaga (principalmente nas aparições do PSV na Liga dos Campeões). E o objetivo foi alcançado: Schouten se fez mais presente nas convocações de Ronald Koeman. Apareceu nas eliminatórias da Euro, jogando na vitória por 2 a 1 sobre a Irlanda. Neste 2024, começou jogando o amistoso contra a Alemanha. E talvez pela versatilidade, talvez pelo entrosamento que traz do PSV com Joey Veerman, Schouten está na Euro. Realizou seu desejo: quis voltar à Holanda para ter mais chances de estar na seleção, voltou, está nela.


26-Ryan Gravenberch (Liverpool-ING)

Ficha técnica
Nome: Ryan Jiro Gravenberch
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 16 de maio de 2002, em Amsterdã 
Clube na carreira: Ajax (2018 a 2022), Bayern de Munique-ALE (2022 a 2023) e Liverpool-ING (desde 2023)
Desempenho na seleção: 11 jogos e 1 gol, desde 2020 
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2020/21 e 2022/23)

(Para saber mais sobre Gravenberch, clique aqui e leia texto sobre ele no guia da Holanda na Euro 2020+1)

Jogador mais jovem da história do Ajax no Campeonato Holandês, em 2018. Considerado um dos meio-campistas mais promissores da Holanda (Países Baixos) nos anos recentes. Presente na Euro sub-21 de 2021, na qual a Holanda foi semifinalista - e semanas depois, já presente na Eurocopa adulta, tendo até alguns minutos nela, contra Áustria e Macedônia do Norte, na fase de grupos. Destaque crescente no Ajax, já sendo titular na campanha de título holandês em 2021/22, mostrando segurança na saída de bola e capacidade nos chutes de fora da área. Uma contratação badalada para o Bayern de Munique, em meados de 2022. Em suma, o céu parecia o limite para Ryan Gravenberch. O que deu errado, então, para ele ainda estar longe desse status em que prometia estar, dois anos depois? Se é possível resumir a resposta, ela talvez esteja na falta de sequência. Pelo Bayern, o meio-campista ficou bem mais no banco de reservas. Até teve suas chances em 2022/23 (24 jogos pelo Campeonato Alemão, 6 pela Liga dos Campeões), mas quase sempre vindo da suplência (dos 24 na Bundesliga, foram 21 saindo do banco; na Champions, 5). Com isso, foi gradativamente perdendo espaço nas convocações de Louis van Gaal para a Laranja - sob o comando dele, só entrou nos acréscimos do 2º tempo da vitória sobre a Bélgica (1 a 0), na fase de grupos da Liga das Nações. E Gravenberch terminou ficando fora da Copa de 2022, por mais que tenha sido incluído na pré-convocação. Houve quem se queixasse da ausência de uma revelação, mas era impossível negar que Van Gaal tinha um ponto: como convocar alguém que mal jogava em seu próprio clube? 

O primeiro semestre de 2023 seguiu mais ou menos a mesma toada: Gravenberch fixo no banco de reservas do Bayern. Quando jogava, não impressionava. E sequer era convocado por Ronald Koeman. Vê-lo voltar a jogar uma Euro sub-21, no ano passado, ao mesmo tempo em que era lícito (afinal de contas, tratava-se de um nome que poderia ajudar a Laranja Jovem, tendo idade para isso), era um incômodo sinal de que o meio-campista dera alguns passos atrás na carreira, só dois anos depois de ter estado numa Eurocopa adulta. Era preciso reagir. A reação começou no último dia da janela de transferências antes da temporada 2023/24, quando Gravenberch acertou sua transferência para o Liverpool. Coincidentemente, havia sido convocado novamente para a seleção sub-21, que jogaria contra Moldávia e Macedônia do Norte, pelas eliminatórias da Euro da categoria. Pediu dispensa da convocação: preferia se focar na adaptação aos Reds, a princípio. O meio-campo recebeu críticas (até esperadas) do técnico da Laranja Jovem, Michael Reiziger, e do próprio Ronald Koeman. Mas comprovou o acerto de sua atitude em campo. Porque mais útil do que enfrentar moldavos e norte-macedônios seria se comprovar na competitividade que os Reds vivem. E se não virou absoluto no clube inglês, Gravenberch apareceu bem mais na temporada. Jogando na meia-esquerda, atuou em 26 partidas pela Premier League (começando como titular em 12), apareceu bem na trajetória do Liverpool na Liga Europa (aí, como titular). Mostrou um nível técnico razoável. E após a "quarentena" costumeiramente imposta por Koeman a quem nega convocações para a seleção - qualquer seleção -, Gravenberch enfim voltou a ser lembrado. Logo na lista de chamados para a Euro. É mais um voto de confiança do que pela importância que o ainda jovem meia possa ter. Mas é mais uma comprovação de que Gravenberch está fazendo sua parte para voltar a chamar a atenção como já chamou.