Chegar à Copa coroa a reabilitação de Bergwijn na carreira: após o bom começo, uma passagem decepcionante tirou seu espaço na Laranja, mas ele foi retomado ao longo do ano (Divulgação/KNVB Media) |
Ficha técnica
Nome: Steven Charles Bergwijn
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 8 de outubro de 1997, em Amsterdã
Clubes na carreira: PSV (2014 a 2020), Tottenham Hotspur-ING (2020 a 2022) e Ajax (desde 2022)
Desempenho na seleção: 24 jogos e 7 gols, desde 2018
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2018/19, 2020/21, 2022/23)
Campeonato Holandês da temporada 2014/15, últimas rodadas, PSV já campeão, Memphis Depay já entronizado como o grande jogador daquela Eredivisie, já com uma Copa do Mundo defendendo a Holanda... mas se Memphis era realidade, começava então a jogar no time principal do PSV um jovem atarracado, atacante com tendência a atuar pelas pontas, exatamente como Memphis era então. O nome do jovem: Steven Bergwijn. Sete anos depois, assim como seu antigo colega de clube, Bergwijn também está na Laranja. Também passou por poucas e boas na carreira. E também estará na Copa - sendo, muito provavelmente, titular no ataque.
Bergwijn deu os primeiros chutes na bola mais a sério no ASC Waterwijk, clube amador de Almere, cidade próxima à Amsterdã em que nasceu. No entanto, o que chamaria a atenção em sua trajetória até a carreira profissional foi a mudança entre rivais do futebol holandês, antes mesmo de ser um adolescente. Afinal de contas, em 2005, o jovem deixou o ASC Waterwijk rumo ao destino previsível para todo infante que tem talento real para o futebol e algo familiar relacionado a Amsterdã: as categorias de base do Ajax. Porém, após seis anos de formação em De Toekomst, se achando sem muito espaço para rumar aos últimos times de base Ajacieden, Bergwijn fez a troca: em 2011, se transferiu para o PSV.
Bergwijn começou no futebol pelo Ajax... mas preferiu rumar para o rival PSV antes mesmo de se tornar profissional (Ajax.nl) |
Em Eindhoven, o espaço foi aproveitado. Bergwijn se tornou rapidamente titular nas equipes inferiores dos Boeren. E em 9 de agosto de 2014, fez sua estreia no time B do clube de Eindhoven, enfrentando o Achilles'29, pela primeira rodada da segunda divisão dos Países Baixos. Mais alguns meses, e em 24 de outubro, o atacante fez seu primeiro gol no Jong PSV - logo num clássico contra o time B do... Ajax, pela 11ª rodada da segunda divisão. Dias depois, em 29 de outubro, a primeira aparição na equipe principal do PSV, contra o Almere City, pela Copa da Holanda. No mesmo ano, ainda, Bergwijn teve sua primeira passagem numa seleção de base da Holanda - no caso, a sub-17, pela qual foi considerado o melhor jogador da Euro da categoria. E para finalizar aquela temporada 2014/15 da aparição, o jogo citado no primeiro parágrafo: Bergwijn entrou no lugar de Jürgen Locadia para os últimos dez minutos da vitória por 2 a 0 sobre o Heracles Almelo, na penúltima rodada do Campeonato Holandês que o PSV já conquistara.
Foi o suficiente: Bergwijn foi promovido ao grupo principal do PSV para a temporada 2015/16. Seguiu jogando pelo time B na segunda divisão - e tendo importância: foram 20 jogos e nove gols na Eerste Divisie. Mais algumas partidas na campanha do bicampeonato holandês: cinco. De quebra, cinco minutos na vitória sobre o CSKA Moscou, dentro da elogiável campanha do PSV pela Liga dos Campeões, chegando às oitavas de final. Além de tudo, nas seleções de base, alternância entre as seleções sub-18 e sub-19 - e nesta última, participação na Euro da categoria. O jovem já deixara claro: tinha habilidade, tinha força física, tinha capacidade para disputar a titularidade.
Foi o que aconteceu a partir da temporada 2016/17. Bergwijn já começou a ter mais espaço no PSV: foram 25 jogos no Campeonato Holandês - 8 como titular -, além dos primeiros gols marcados (dois) e dos passes para gol (um). Aparições nos seis jogos (dois como titular) da fugaz participação dos Eindhovenaren pela Liga dos Campeões. O ponta começava a definir seu posicionamento em campo, aparecendo mais pela esquerda. Houve ainda uma última colaboração pelo time B: quatro jogos e dois gols pelo Jong PSV na segunda divisão. Por último, mas não menos importante, a estreia pela seleção sub-21 da Holanda, ainda em outubro de 2016.
Surgindo em meio a uma boa fase do PSV, Bergwijn rapidamente se tornou protagonista em Eindhoven - chegando à seleção a partir disso (Aaron van Zandvoort/Soccrates/Getty Images) |
Com menos de 20 anos, o jovem estava pronto para ocupar a titularidade - ainda mais porque tanto Jürgen Locadia quanto Narsingh, seus concorrentes, deixariam o PSV antes da temporada 2017/18. E nela, com o time de Eindhoven sendo campeão holandês mais uma vez, Bergwijn foi parte decisiva do ataque: a ponta-esquerda era dele, que atuou em 32 partidas, dando sete passes para gol e marcando oito gols - um deles, no marcante jogo do título, justamente contra o Ajax que um dia defendera (3 a 0, 31ª rodada). A força física, aliada à capacidade técnica e até à velocidade na esquerda, começavam a fazer do atacante um nome capaz de atuar na seleção principal. Ainda mais porque Ronald Koeman, chegado à seleção holandesa no começo de 2018, já sinalizava: preferiria um ataque menos dependente de um "homem-gol", com mais movimentação.
Quando a chance apareceu, Bergwijn aproveitou: foi convocado em outubro de 2018, e já estreou como titular da Holanda, no 3 a 0 sobre a Alemanha, pela segunda rodada da Liga das Nações. E o que o atacante faria na temporada 2018/19 justificou a confiança que fez dele nome certo entre os 11 da Laranja, naqueles dois anos: pelo PSV, Hirving Lozano podia ser o destaque, Luuk de Jong trazia experiência, mas o camisa 17 do PSV fortalecia mais o ataque. Nos 33 jogos pela Eredivisie, foram 14 gols e 12 passes de Bergwijn que terminaram no barbante - incluindo 14 grandes chances criadas. Pela Holanda, o atacante poderia ser considerado o titular na ponta-esquerda laranja: começou jogando a campanha das eliminatórias da Euro, e também atuou nas fases finais da Liga das Nações.
A partir de 2018, Bergwijn começou a ganhar espaço na Laranja (Gualter Fatia/Getty Images) |
Finalmente, quando a temporada 2019/20 começou, nem Lozano nem Luuk de Jong estavam mais no PSV. Bergwijn era o destaque - e assim como surgira no rastro do brilho de Memphis Depay, tinha um novato a ladeá-lo naquela época, em Donyell Malen. Na primeira metade do campeonato, ele justificou o protagonismo nos Boeren: 16 partidas pelo Campeonato Holandês (5 gols, 10 passes para gol), cinco jogos na Liga Europa. Só que o PSV começou a oscilar, após um ótimo começo de Eredivisie. Grande parte dessa oscilação se iniciou em janeiro de 2020: foi quando o Tottenham chegou repentinamente, levando Bergwijn para a Inglaterra. Nos seus primeiros meses nos Spurs, o holandês mostrou utilidade: foram 14 jogos pelo Campeonato Inglês (8 como titular), três gols, um passe para gol. Marcou até na estreia - 2 a 0 contra o Manchester City, pela 25ª rodada da Premier League. Diante de um técnico como José Mourinho, exigente, era o melhor dos começos.
A pandemia freou tudo isso: o futebol, os campeonatos, o bom começo de Bergwijn no Tottenham, sua titularidade na Holanda. Quando a bola voltou a rolar, o atacante já mostrou um desempenho inferior: foi para o banco de reservas no Tottenham - e, dizem, descontentou Mourinho pela pouca vibração enquanto o técnico português ficou nos Spurs. Mesmo jogando em 21 partidas pelo Campeonato Inglês (e oito na Liga Europa), o holandês fez só um gol e deu um passe para gol, apenas pela Premier League. Inevitável que ocorresse o mesmo na seleção: Bergwijn ainda marcou seu primeiro gol pela Holanda, contra a Polônia, na estreia pela Liga das Nações, ainda sob o comando do interino Dwight Lodeweges. Bastou Frank de Boer chegar, e ele perdeu o lugar. Primeiro, indo para o banco de reservas na seleção, logo que 2021 começou. Depois, passando longe da convocação neerlandesa para a Euro.
Bergwijn até começou bem no Tottenham. Mas perdeu o impulso inicial, e sua passagem terminou sendo discreta, mesmo com bons momentos aqui e ali (Catherine Ivill/Getty Images) |
A temporada 2021/22 começou a mudar as coisas. Não no Tottenham, é verdade: Bergwijn já era reserva frequente, fazendo só três gols nos 25 jogos de que participou (só quatro começando como titular). Ainda assim, ele teve pelo menos uma atuação marcante: a vitória por 3 a 2 contra o Leicester, na 17ª rodada da Premier League, quando entrou aos 79', com os Spurs perdendo, e nos acréscimos, fez os dois gols da virada. Se não era uma reação, já servia para trazê-lo de volta às convocações da seleção masculina dos Países Baixos sob Louis van Gaal: na reta final das eliminatórias europeias da Copa, foram quatro jogos. Dois como reserva, dois como titular. E ver Bergwijn abrindo o placar no jogo decisivo contra a Noruega, na última rodada, encaminhando a vaga no Mundial, foi um indicativo de que dias melhores viriam na carreira. Vieram em 2022.
Como que desejando retomar seu valor na seleção, Bergwijn já fez dois gols nos 4 a 2 da Holanda sobre a Dinamarca, primeiro amistoso no ano, em março. No segundo, dias depois, foi dele o empate no 1 a 1 contra a Alemanha. Em junho, se iniciou a Liga das Nações - e nos 4 a 1 pespegados na Bélgica, mais um do atacante. O desejo de mudar e melhorar foi resumido por ele justamente entre uma partida e outra da Nations League, naquele fim de temporada: "Aqui [na seleção] eu tenho confiança". O que significava, indiretamente, que era a hora de mudar de clube. Ou melhor, de voltar. Já desejoso de ter Bergwijn desde a temporada passada, o Ajax voltou à carga na janela passada de transferências. E quebrou seu recorde histórico de valor pago num jogador (31,2 milhões de euros) para fazer com que aquela criança, que deixara a escolinha Ajacied rumo ao PSV, voltasse a Amsterdã como um jogador formado, já fadado a ser titular absoluto.
Bergwijn desejava mais espaço em clubes. Voltou ao Ajax para isso - e para retomar uma história interrompida. Está conseguindo, por ora (Peter Lous/Orange Pictures/BSR Agency/Getty Images) |
E neste segundo semestre de 2022, a retomada de Bergwijn foi confirmada. O protagonismo que se esperava no Ajax tem sido confirmado, até agora: um gol na Liga dos Campeões, mais sete pelo Campeonato Holandês... e na Holanda, o atacante se valeu de mais um gol, na reta final da Liga das Nações, e de velocidade na frente para praticamente garantir a titularidade na Copa. A dupla de atacantes que ele forma já é chamada aqui e ali de "koningskoppel" (literalmente, "par de reis" em holandês). Seu parceiro? Justamente aquele que encerrava seu brilho pelo PSV quando Bergwijn começava, no longínquo 2015: um certo Memphis Depay...
(Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário