terça-feira, 21 de março de 2023

Grandes laranjas: Koeman

Ronald Koeman continua sob pressão - afinal, é o técnico da Holanda. Mas essa pressão é amenizada pelo respeito ao grande zagueiro que foi (Serge Philippot/Onze/Icon Sport/Getty Images)

É impossível tratar Ronald Koeman com a total reverência normalmente destinada a um grande jogador do passado. Afinal de contas, o aniversariante desta terça-feira coloca seu respaldo à prova atualmente, técnico da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) que voltou a ser. Entretanto, a pressão por que passa no comando da Laranja é pequena, diante do tamanho dos feitos de "Kuifje" ("Tintim") - apelido carinhoso de Koeman, por sua semelhança ao personagem célebre de Hergé nas histórias em quadrinhos.

Em campo, Koeman foi dos melhores zagueiros de seu tempo, no fim dos anos 1980/início dos anos 1990. Esbanjava técnica na zaga, iniciando as jogadas das equipes por que passou, virando quase sinônimo de "zagueiro artilheiro" de tantos gols que fez, graças à tremenda habilidade nas bolas paradas. Desde quando corria atrás da bola, também transparecia espírito de liderança: era o capitão costumeiro de suas equipes. E no país natal, o fato de ser o único holandês a ter passado como jogador e treinador pelo Trio de Ferro (Ajax, PSV e Feyenoord) é uma prova inequívoca do respeito que Ronald Koeman construiu - e que o faz ser celebrado nesta data em que completa 60 anos.

Na família Koeman, o patriarca Martin (centro) abriu o caminho para os irmãos Erwin (direita) e Ronald. O Groningen que o diga (Arquivo pessoal)

Questão de família

Nascido em Zaandam e criado em Koog aan de Zaam (vilarejo vizinho), Ronald teve exemplo para o futebol desde o princípio da vida. Ninguém menos do que o pai, Martin Koeman (1938-2013), que já era jogador. Um zagueiro, como o filho seria. E um zagueiro razoável: Martin fez uma partida pela seleção da Holanda - empate contra a Áustria (1 a 1), num amistoso em 1964 -, e ficou muito ligado a clubes do norte dos Países Baixos. Principalmente o Groningen: passou oito anos (1963 a 1971) no GVAV, uma das agremiações cujas fusões deram origem ao Groningen atual. Nele, Koeman pai ficou mais dois anos, entre 1971 e 1973. Depois, o patriarca jogou mais um ano no Heerenveen, antes de encerrar a carreira.

E a vida que levava o pai Martin inspirou os filhos: não só Ronald, mas também Erwin Koeman, irmão dois anos mais velho. No caso de Ronald, ele logo tomou Groningen como seu caminho. Na cidade, primeiro começou em duas equipes amadoras, o VV Helpman e o GRC Groningen, ainda entre a infância e a adolescência. Já nesta, sempre ao lado do irmão Erwin, Ronald rumou para o Groningen em que o pai fizera alguma fama. Não demoraria muito para igualá-lo: em 21 de setembro de 1980, aos 17 anos e 183 dias, Koeman fez sua primeira partida pelo time principal do Groningen, substituindo o lateral Sip Bloemberg para os 15 minutos finais na vitória por 2 a 0 sobre o NEC, pelo Campeonato Holandês. Seu primeiro gol foi nos 2 a 2 contra o Excelsior, em 1º de fevereiro de 1981, pela 17ª rodada da Eredivisie.

O começo de Ronald, no Groningen, ao lado do irmão Erwin (direita), jogando pelo PSV(Arquivo ANP)

Então, o Groningen acabara de subir para a primeira divisão holandesa. E Koeman seria o símbolo da estabilização do clube alviverde na Eredivisie. Escalado no meio-campo, tendo parceiros constantes no setor em Jan van Dijk e no irmão Erwin Koeman (que fora ao PSV e voltara rápido), Ronald foi titular absoluto no sétimo lugar em 1981/82 e, principalmente, no quinto lugar em 1982/83, posição que levou o clube a disputar pela primeira vez uma competição europeia (a Copa da UEFA, na temporada seguinte). Mais do que isso: já mostrava pendor goleador incomum para um meio-campo - foram 14 gols pelo Groningen, nas duas temporadas supracitadas. Mais ainda: mostrando talento desde então - nos chutes, nas bolas paradas, até na criação -, Koeman ganhou espaço na seleção da Holanda. Estreou pela Laranja numa derrota para a Suécia (3 a 0, amistoso), ainda defendendo o Groningen, em 27 de abril de 1983.

O espaço se ampliaria ainda mais. Na seleção e nos clubes.

A calma leva ao sucesso

No meio de 1983, Koeman teve o reconhecimento ao valor que já mostrava: foi contratado pelo Ajax. Na passagem por Amsterdã, se consolidou dentro do futebol holandês, mesmo em meio a turbulências. Se o Ajax foi inconstante na temporada 1983/84, naquela época Koeman começou a ser titular absoluto da seleção - algo notável para quem tinha apenas 20 anos. Mesmo em meio ao fracasso nas eliminatórias da Euro 1984, ele já fez seu primeiro gol pela Laranja (nos 3 a 0 sobre a Islândia, pela qualificação para a Euro, em 7 de setembro de 1983). Foi um dos nomes fundamentais num jogo marcante: a virada por 3 a 2 sobre a Irlanda, fora de casa, na sexta rodada das eliminatórias. Aquela partida uniu Koeman a Ruud Gullit e Marco van Basten, como símbolos de uma geração muito promissora, que começava a tomar espaços na Laranja - e que era vista com otimismo, mesmo com a ausência na Euro 1984.

Jogando pelo Ajax, Koeman confirmou que era uma referência de zagueiro na Holanda, mesmo ainda jovem. Mas sofreu com o ambiente turbulento (VI Images/Getty Images)

No Ajax, Koeman seguiu fundamental. Porém, só teria algum respiro no ambiente durante a temporada 1984/85, que marcou o primeiro título de sua carreira - o título do Campeonato Holandês (Koeman fez nove gols em 30 jogos). Em 1985/86, Johan Cruyff voltou ao clube de Amsterdã, para sua primeira experiência como treinador. E rapidamente entrou em rota de colisão com vários jogadores. Um deles, o zagueiro. Numa temporada em que os Ajacieden foram estonteantes no ataque (120 gols), mas também frágeis na defesa, perderam o título da Eredivisie para o PSV. Koeman foi sincero: falou abertamente que de nada adiantava uma equipe ofensiva e perdedora. A colisão com Cruyff ficou irremediável. Uma proposta de renovação do Ajax foi considerada baixa. A salvação veio com uma proposta do... PSV.

Com grandes ambições para se firmar como clube grande - processo que vinha desde os anos 1970 -, o PSV queria jogadores de ponta. Koeman estava entre eles. E chegou a Eindhoven, logo após a Copa de 1986. Num ambiente mais calmo, o defensor decolou de vez. Para começo de conversa, já foi titular na conquista de mais uma Eredivisie (1986/87) - com marca impressionante para um zagueiro: 16 gols em 34 jogos. Poderia ficar melhor, e ficou. Porque o técnico Guus Hiddink, recém-efetivado no PSV, decidiu tornar Koeman um "líbero", aproveitando sua visão de jogo para iniciar jogadas a partir da defesa, se alternando entre a zaga e o meio-campo, sem perder seu talento para avanços, chutes e cobranças. 

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Começava aí o período mais dourado da carreira de Koeman. Porque o PSV foi tricampeão holandês então - com ele indo além como "zagueiro artilheiro": 21 gols em 32 jogos. Porque o PSV fez de 1987/88 o ponto mais alto de sua história, com a Tríplice Coroa, tendo como símbolo o título da Copa dos Campeões - e Koeman, claro, como titular absoluto, um dos líderes da equipe. E finalmente, como a cereja mais deliciosa que poderia haver naquele bolo de sucessos, a Euro 1988. Também estabelecido e inquestionável na Holanda (às vezes, era até capitão da seleção), Koeman jogou todos os minutos no torneio continental. Foi autor do gol - de pênalti - que empatou a semifinal contra a Alemanha. Na vitória final, 2 a 1, foi personagem de uma gozação algo grotesca: após trocar camisas com o alemão Olaf Thon, fingiu "usá-la" como papel higiênico (a torcida achou graça, mas Koeman teve de pedir desculpas dias depois). Finalmente, um mês depois de ser campeão europeu de clubes, Koeman se consagrava de vez: em 25 de junho de 1988, era campeão europeu de seleções, tendo ao lado o irmão Erwin Koeman, também convocado, também tendo sucesso em seu clube - o Mechelen-BEL, em que Erwin jogava, conquistara então a Recopa Europeia.

Koeman precisou pedir desculpas pelo gracejo pesado com alemães, após a Euro 1988. Mas nem isso apagou o tamanho de sua importância naquele título (ANP)

Após o título da Holanda na Euro 1988, Ronald Koeman virou uma transferência esperando para acontecer. Ainda ficou no PSV para a temporada 1988/89. Celebrou o tetracampeonato holandês, feito inédito então na história do clube de Eindhoven - sem contar o bicampeonato na Copa da Holanda. Aí foi impossível segurá-lo. Coube justamente a Johan Cruyff, com quem vivera às turras nos tempos de Ajax, abrir caminho para um novo auge em sua carreira. Partiu de Cruyff o pedido para que o Barcelona contratasse o zagueiro que já era símbolo das modernidades da posição na Europa. E no meio de 1989, por 12,5 milhões de florins (moeda holandesa pré-euro), Koeman partiu para a Catalunha.

Também faria história lá.

Cruyff escolheu Koeman para ser um dos pilares de um Barcelona que faria história. E o zagueiro cumpriria as expectativas do técnico à perfeição (VI Images/Getty Images)

O "melhor zagueiro do mundo" vira ícone barcelonista - com decepções

Cruyff já estava remodelando o Barcelona, para que o clube pudesse fazer frente diante de um Real Madrid que vivia grande fase, com a "Quinta del Buitre" pentacampeã espanhola. E contava com Koeman como um dos jogadores que lhe ajudaria nisso. Só que ele viveu grandes decepções em 1990. Primeiro, o fracasso ao evitar mais um título do Real em La Liga. Depois, e pior, com a Holanda protagonizando um grande vexame na Copa de 1990: chegou como a badalada campeã europeia e saiu com crise aberta no grupo de jogadores, sem nenhuma vitória, eliminada nas oitavas de final. O zagueiro até foi capitão da Laranja no Mundial, até marcou um gol (o de honra, na derrota por 2 a 1 da eliminação para a Alemanha), mas não saiu totalmente ileso: era apontado como arrogante, e começou ali a sofrer com acusações de estar acima do peso, comuns na reta final de sua carreira.

Nada que os anos seguintes não pudessem consertar plenamente. Pela seleção, Koeman se manteve estável como capitão, seguiu absoluto na zaga, emplacou mais uma Euro em 1992 (novamente jogando todos os minutos da Holanda no torneio), foi se isolando como referência dentro da Laranja. No Barcelona, então... se o zagueiro ainda penou na sua primeira temporada pelos Blaugranas, começou a colher os frutos de ser um dos nomes escolhidos por Cruyff logo depois. Em 1990/91, fez parte do digno vice-campeonato na Recopa Europeia. E com o título espanhol, se iniciou como um dos símbolos do Barça tetracampeão espanhol até 1994 - tinha tanta preponderância quanto Michael Laudrup, Hristo Stoichkov e Romário, outros símbolos daquela época. Fazia com a camisa azul-e-grená o que já fizera no PSV: gols aos borbotões, faltas e pênaltis cobradas com muita força e categoria. A torcida amava o "Floquet de Neu" (em catalão, "floquinho de neve" - mais um apelido para Koeman, em referência ao apelido de um gorila albino, popular à época no zoológico da cidade espanhola, tão branco quanto a pele de Koeman).

A melhor prova disso foi em 20 de maio de 1992, no estádio de Wembley. O Barcelona decidia a Liga dos Campeões contra a Sampdoria. Final equilibrada, indo à prorrogação após 90 minutos de 0 a 0. Até os 112'. Foi quando surgiu uma falta perto da área, de média distância. Era para Ronald Koeman. Estava para ele. Que cobrou, forte, como sempre. A bola estufou as redes defendidas pelo goleiro Gianluca Pagliuca. E o zagueiro holandês fazia o gol mais importante dos 67 que marcou pelo Barça. O gol do primeiro título europeu do clube. O gol que o tornou, para sempre, um ícone barcelonista.

Em suma: principalmente entre 1992 e 1994, Koeman viveu um "círculo virtuoso". A segurança de suas atuações no Barcelona (e os gols de "brinde") o mantinham absoluto na seleção masculina da Holanda. Na Laranja, por sua vez, era o capitão, indispensável. Ainda mais com os problemas que seus companheiros de geração viviam (Ruud Gullit entrou em rota de colisão com o técnico Dick Advocaat, em 1993; Marco van Basten sofria com as lesões no tornozelo que encurtaram sua carreira; Frank Rijkaard chegou a deixar a Laranja entre 1990 e 1991, após a decepção na Copa). Se o gol do título da Liga dos Campeões 1991/92 o marcou no Barcelona, gols como o do 2 a 0 na Inglaterra - em jogo difícil nas eliminatórias da Copa de 1994 - reforçavam seu status à época, até comentado no guia da revista Veja para aquele Mundial. Era, e podia ser considerado como, o melhor zagueiro do mundo.

Um fim honroso

Todavia, a Copa de 1994 foi o início do fim para Koeman como jogador. Não, a Copa não foi desastrosa para ele: nos Estados Unidos, emplacou mais um torneio pela Holanda sem perder um só minuto em campo (até por ser o capitão), com atuações aceitáveis. Entretanto, o peso dos anos se fez sentir. Sob o calor dos jogos em Orlando e Dallas, ele sofreu. Preservou-se, preferindo ficar mais recuado, sem correr tanto, apenas comandando a zaga. Em meio a uma turbulenta Copa para a Laranja, foi novamente alvo de críticas de torcida e imprensa: sua influência sobre o técnico Dick Advocaat iria além da conta, seu peso voltava a ser assunto. E a partida da eliminação para o Brasil, naquela Copa, foi o fim para ele: mesmo sem anúncios oficiais, após 11 anos e 78 partidas de Oranje, Ronald Koeman não voltaria a defender a seleção dentro de campo.

No Barcelona, mesmo ainda titular na temporada 1994/95 (32 jogos e nove gols pelo Campeonato Espanhol), o clima de fim de ciclo também ficou claro. E em meados de 1995, Koeman decidiu aceitar o retorno aos Países Baixos. Chance aproveitada para igualar um feito: ao invés de voltar a PSV ou mesmo ao Ajax, o zagueiro optou por experimentar o Feyenoord. Chegando ao Stadionclub, igualava o feito do atacante Ruud Geels (anos 1970), para jogar pelos três maiores clubes do país. Se não ganhou títulos, tampouco fez feio. Voltando a jogar no meio-campo, Koeman esteve ao lado de nomes marcantes do clube, como Ed de Goey, Gaston Taument, Jean-Paul van Gastel e Giovanni van Bronckhorst. Foi o capitão nas campanhas de um terceiro lugar (1995/96 - marcou dez gols nela) e do vice-campeonato na Eredivisie (1996/97).


Ronald Koeman teve um digno fim de carreira no Feyenoord - aqui, as homenagens após o último jogo da carreira, com a esposa Bartina e os três filhos (VI Images/Getty Images)

Sob festas e homenagens da torcida em De Kuip, Koeman encerrou a trajetória como jogador tão logo a temporada 1996/97 acabou. Trajetória que deixava (e ainda deixa) uma marca: com 193 gols em jogos de liga, tratava-se do zagueiro com mais gols na história do futebol, de acordo com algumas fontes. 

Mas a liderança mostrada em campo teria consequência - e sequência.

Como treinador, altos e baixos

Mesmo sem jogar mais, Koeman tinha um comando e uma ascendência tão grandes que as experiências no banco de reservas começaram quase imediatamente após sua carreira de jogador. Em 1998, para impedir que problemas de relacionamento voltassem a afetar a delegação da Holanda como na Euro masculina de 1996, ele foi um nome de primeira hora escolhido como um dos "auxiliares especiais" do técnico Guus Hiddink para a Copa do Mundo naquele ano. Não só deu certo, com a boa campanha da Laranja, como abriu de vez o caminho para o ex-zagueiro virar técnico.

Koeman mal parou de jogar e já aprendeu a treinar. A primeira experiência foi auxiliando Guus Hiddink na Copa de 1998 (VI Images/Getty Images)

Imediatamente após a Copa, Ronald foi para o Barcelona que conhecia tão bem, como auxiliar de Louis van Gaal - e treinador do Barça B. Mas sua primeira experiência para valer começaria em novembro de 1999, comandando o Vitesse. Já com sucesso: naquela temporada, comandando um Vites de ataque elogiável (Mamadou Zongo e Pierre van Hooijdonk), Koeman conduziu o time ao quarto lugar no Campeonato Holandês - rendendo uma vaga na Copa da UEFA. Em 2000/01, uma queda mais leve, mas ainda uma campanha honrosa: sexto lugar para o clube de Arnhem.

A ascensão foi acelerada: em dezembro de 2001, logo após a demissão de Co Adriaanse, o Ajax buscou Koeman, após rápidos acertos com o Vitesse. Reencontrando o clube de Amsterdã após quase 20 anos, ele começava ali a primeira grande fase de sua carreira no banco. Comandando um time com vários novatos - Rafael van der Vaart, Christian Chivu e Zlatan Ibrahimovic como destaques -, o ex-zagueiro conseguiu os dois primeiros títulos como treinador em 2001/02: a "dupla coroa" holandesa, campeonato e copa. Na temporada seguinte, chamou ainda mais a atenção, com os Ajacieden alcançando as quartas de final da Liga dos Campeões. E em 2003/04, mais um título na Eredivisie comandando os Godenzonen.

Koeman já começou a carreira fazendo um trabalho com ótimos momentos no Ajax (Matthew Ashton/EMPICS/Getty Images)

Só que 2005 começou a marcar os altos e baixos que ditam a carreira de Ronald Koeman como técnico. Em fevereiro daquele ano, tendo problemas com Louis van Gaal (então diretor técnico do Ajax), em má fase no Campeonato Holandês, Koeman saiu do clube. Meses depois, foi para o Benfica - e fez um trabalho mediano no clube português: mesmo quadrifinalistas da Liga dos Campeões, os Encarnados perderam o título nacional para o Porto em 2005/06. Koeman preferiu a volta ao país natal, retornando ao PSV para suceder Guus Hiddink a partir de 2006. Tinha um trabalho promissor nos Boeren: em 2006/07, conquistou o título holandês e chegou às quartas de final da Liga dos Campeões. Mas preferiu largar tudo, apostando numa ida para o Valencia, em outubro de 2007. Fracasso: só um título, a Copa do Rei, e demissão já em abril de 2008. Pior ainda seria no AZ. Em maio de 2009, com o clube de Alkmaar badalado como campeão holandês, Koeman foi anunciado como sucessor de Louis van Gaal, a partir da temporada seguinte. Não chegou ao final dela: em dezembro daquele ano, já estava demitido. 

No AZ, o pior momento de Koeman como treinador (Marcel Antonisse/AFP/Getty Images)

Em 2011, Ronald Koeman estava em baixa. Assim como o Feyenoord, clube que o contratou, em julho daquele ano. Pois os três anos que passou comandando o Stadionclub foram reabilitadores para as duas partes. Mesmo sem títulos, só conquistar o vice-campeonato holandês em 2011/12 - com direito a voltar a vencer o Ajax pelo Campeonato Holandês, após um jejum de alguns anos - já massageou o ego do Feyenoord, que andava tão maltratado. Cercado de nomes que haviam jogado com ele em Roterdã (como Jean-Paul van Gastel e Giovanni van Bronckhorst, seus auxiliares), Koeman mostrou um trabalho sólido, com um time firme. Tudo com um objetivo na cabeça: se tornar o técnico da seleção holandesa, após a Copa de 2014. Até por isso, anunciou que deixaria o Feyenoord, ao fim da temporada 2013/14, concluída com mais um vice-campeonato na Eredivisie.

A passagem pelo Feyenoord reabilitou definitivamente Koeman como técnico no país natal (VI Images/Getty Images)

A federação teve planos diferentes: até se interessou por Koeman, mas preferiu trazer Guus Hiddink depois do Mundial. Ainda convidou o ex-capitão da Laranja para ser auxiliar de Hiddink, como em 1998. Magoado, Koeman negou. Após a marcante passagem pelo Feyenoord, preferiu vivenciar a Premier League. Novamente, com alternâncias. No Southampton, com o irmão Erwin como auxiliar, foi bem: comandou os Saints na melhor campanha da história do clube na Premier League, o sexto lugar de 2015/16, tendo Virgil van Dijk e Sadio Mané como destaques. Recebeu uma chance no Everton, em 2016, e foi até bem no começo, conduzindo os Toffees à vaga na Liga Europa. Contudo, em 2017/18, quando as ambições do clube azul de Liverpool eram maiores, Koeman fracassou: o Everton chegou a estar na zona de rebaixamento da Premier League, e ele caiu, em outubro de 2017.

Nas andanças inglesas, alternâncias, como sempre: Koeman foi bem no Southampton e mal no Everton (Steve Bardens/Getty Images)

Novamente em baixa. Como... a seleção holandesa masculina, ausente da Euro 2016 e da Copa de 2018. Falando à revista Voetbal International, o próprio Koeman brincou: "Finalmente tenho a sequência ideal". Visto como o melhor técnico do país à época, foi afinal contratado para treinar a Laranja que conhecia tão bem, em fevereiro de 2018. Novamente, sua reação foi a reação de seu time. Reabilitando nomes como Memphis Depay e Georginio Wijnaldum, abrindo caminho para nomes como Matthijs de Ligt e Frenkie de Jong, Koeman comandou do banco uma fase de reabilitação da Holanda. Na primeira edição da Liga das Nações (2018/19), superou um grupo com Alemanha e França, indo à final contra Portugal. Nas eliminatórias da Euro 2020, ao longo de 2019, uma ótima campanha devolveu a Laranja a uma grande competição. Com outro trabalho levando a um time firme, as perspectivas da Holanda na Euro eram boas.

Porém, em novembro de 2019, o Barcelona o sondou. Koeman aproveitou e revelou uma cláusula de seu contrato com a federação holandesa: se o Barça (e só o Barça, mais nenhum clube) fizesse uma proposta vantajosa, ele poderia ser liberado. Afinal de contas, pelo seu histórico no clube catalão, treiná-lo era seu maior objetivo, em termos de futebol de clubes. Mas naquele momento, ele ainda preferiu ficar onde estava. Veio 2020. O Barcelona o sondou de novo, após a demissão de Ernesto Valverde. Veio a pandemia, que adiou a Euro e freou o embalo que a Holanda vivia sob seu comando. Veio um susto de saúde: uma arritmia cardíaca, que o deixou internado por alguns dias (sem contar um período sofrendo com a COVID-19). E finalmente, veio um vexame no Barcelona, eliminado na Liga dos Campeões 2019/20 ao sofrer um 8 a 2 do Bayern de Munique nas quartas de final. Novamente, o Barcelona quis Koeman, após algumas recusas. E ele decidiu realizar seu sonho, jogando o que tinha para o alto: deixou a seleção neerlandesa, rumando para o clube a que estava tão ligado, em agosto de 2020, sucedendo Quique Setién.

Koeman fazia bom trabalho na seleção da Holanda. Abriu mão dele para realizar o sonho de treinar o Barcelona. E lá, sofreu com a má fase - e com escolhas polêmicas (Tullio Puglia/UEFA/Getty Images)

Koeman chegou ao Barça numa fase pesada: seria ele, afinal, o nome obrigado a conduzir um período de mudanças, após o vexame na Champions anterior. E fez um trabalho mediano, como outros anteriores. Virou a cara de decisões polêmicas (até criticadas), como a dispensa de Luis Suárez. Conseguiu pelo menos um título, a Copa do Rei, em 2020/21. Contudo, passou longe de impressionar, no Campeonato Espanhol ou na Liga dos Campeões. Amargou a saída traumática de Lionel Messi. O mau começo na liga nacional, na temporada 2021/22, aumentou a pressão. Bastaram uma derrota no clássico para o Real Madrid - 2 a 1, na 10ª rodada de La Liga -, outra queda (para o Rayo Vallecano, 1 a 0, na rodada seguinte), e o sonho acabou, com a demissão de Koeman, em outubro de 2021.

Àquela altura, a seleção masculina da Holanda já estava sob o comando de Louis van Gaal. Mas já sabia: precisaria de alguém para sucedê-lo após a Copa de 2022. Koeman estava novamente à disposição. Numa série de que foi personagem - Força Koeman, documentário sobre seu trabalho no Barcelona, da plataforma holandesa Videoplay -, ele confessou: ainda queria comandar a Laranja num grande torneio E as memórias do trabalho consistente que vinha fazendo entre 2018 e 2020 fizeram a federação decidir, já em abril do ano passado: ele voltaria a treinar a seleção.

Seu trabalho recomeça nesta mesma semana em que ele completa 60 anos. Ao lado dele, Ronald terá o irmão Erwin a lhe auxiliar. A tradição familiar no futebol segue: Ronald Koeman Jr. (um dos três filhos com Bartina, companheira nestes anos todos) é titular do Telstar, da segunda divisão dos Países Baixos. E pelo menos nesta terça, as cornetas e desconfianças darão uma folga. Para que Ronald Koeman seja celebrado, pela história que tem no futebol da Holanda.

(Pro Shots/IconSport/Getty Images)

Ronald Koeman
Data de nascimento: 21 de março de 1963, em Zaandam
Clubes: Groningen (1980 a 1983), Ajax (1983 a 1986), PSV (1986 a 1989), Barcelona-ESP (1989 a 1995) e Feyenoord (1995 a 1997)
Seleção: 78 jogos e 14 gols, entre 1983 e 1994

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