sábado, 10 de outubro de 2015

Por um fio

A boa estreia de El Ghazi e os gols de Wijnaldum e Sneijder ajudaram a tensa Holanda (ANP/Pro Shots)
A seleção da Holanda já tinha sérios problemas com lesões, suspensões... enfim, tinha sérios problemas com desfalques para enfrentar o Cazaquistão, na primeira das duas partidas fundamentais pelas últimas rodadas das eliminatórias da Euro 2016. E por mais que não fosse personagem fundamental na equipe, Jasper Cillessen foi mais um acréscimo à lista, ao lesionar as costas no aquecimento imediatamente anterior ao jogo na Astana Arena, dando forçosamente lugar entre os titulares a Tim Krul. Mais um revés num jogo já cercado de tensão - por mais que fosse contra o último colocado do grupo A da qualificação.

E essa tensão perturbou visivelmente a seleção holandesa. Não que estivesse sendo sufocada pelos cazaques. Nem que o péssimo gramado da Astana Arena atrapalhasse demais. Era melhor em campo: no 4-3-3 inicial (que mais pareceu um 4-1-4-1 ao longo do jogo), a proximidade entre os jogadores era bem mais notória do que contra Islândia e Turquia. Além disso, sempre que possível, as jogadas de ataque eram aceleradas. Na defesa, embora a saída de bola tivesse sobressaltos, Daley Blind fazia muito bem o papel de proteção à zaga. Porém, o Cazaquistão teve mais posse de bola no início do jogo. Estava mais animado. E isso fazia com que tivesse mais volume de jogo no ataque, no 5-4-1, com bons inícios de Bauryzhan Islamkhan e Ilam Konysbaev. Além disso, a defesa compactada dos anfitriões revelavam que segue o problema holandês de não conseguir se sobressair contra defesas fechadas.

Por isso, mesmo que se vissem bons pontos (como a estreia agradavelmente segura de Kenny Tete e, principalmente, Anwar El Ghazi, que foi constante opção pela direita), a equipe parecia tensa em campo. Não fazia fluir sua superioridade técnica - clara, embora não fosse categórica. Era preciso aproveitar pelo menos uma jogada de ataque para abrir o placar e tranquilizar o jogo. A primeira foi perdida, em chance valiosa que Memphis Depay chutou para fora. A segunda deu certo, no rápido passe de El Ghazi para Georginio Wijnaldum (atuação satisfatória), que chutou rasteiro para abrir o placar. A comemoração de "Gini", com o abraço coletivo, mostrou a importância daquele gol.

Aí, o ânimo cazaque baixou definitivamente. E a Oranje pôs em prática sua superioridade tática. Na defesa, além do auxílio de Blind, Jeffrey Bruma e o estreante Virgil van Dijk cuidavam das coisas para não correrem riscos desnecessários; no meio-campo, Wijnaldum era quem mais atacava, além de El Ghazi sempre procurar jogo e ter espaço para suas tentativas. Quem pecava eram Memphis Depay, individualista em excesso; Wesley Sneijder, que não ia mal, mas não comandava o jogo como se espera; e Klaas-Jan Huntelaar, atuando mais taticamente do que aparecendo para finalizar.

Ainda assim, a Laranja retomou a maior posse de bola. E valeu-se de nova rápida jogada de ataque para fazer 2 a 0, com Huntelaar servindo de pivô para Sneijder concluir e praticamente encaminhar a vitória dos visitantes. Aí houve o problema: pouco a pouco, relaxada por se saber superior, a Holanda foi permitindo a evolução ofensiva dos cazaques, Tete avançava bem e até continha os ataques por seu setor, mas aos poucos os cruzamentos aumentaram sobre a área holandesa. Mais: em saída de gol, Krul caiu de mau jeito, torceu o joelho e teve de ser substituído por Jeroen Zoet. Enquanto isso, Ibrahim Afellay e Robin van Persie (fazendo seu 100º jogo pela seleção) entravam para servirem de referência no time.

Por fim, veio o gol de honra de Islambek Kuat. A vitória holandesa já estava garantida, o jogo já estava nos acréscimos (precisamente no quarto dos cinco minutos dados pelo árbitro francês Clément Turpin), mas o gol foi um último aviso de que a seleção precisa cuidar de sua defesa. Pior: Danny Blind já sabia que teria de fazer novas convocações, com a lesão de Krul e Tete como único lateral direito, e chamou Kenneth Vermeer e Gregory van der Wiel (já com a suspensão cumprida). O capitão Sneijder reconheceu que houve certa sorte ("Foi sorte o juiz ter apitado o final logo depois do 2 a 1") e alertou que sua presença contra a República Tcheca não é certa ("Se o trabalho de parto [da esposa Yolanthe] começar, eu deixo a delegação"). 

De todo modo, embora tenha vencido, sabe-se que a Oranje nada mais fez do que cumprir a obrigação de superar o lanterna Cazaquistão. E a República Tcheca, jogando com um time misto, foi superada por uma Turquia que vê seus destaques (Selçuk Inan, Hakan Çalhanoglu e, principalmente, Arda Turan) crescerem na hora certa. Agora, a única alternativa para o time laranja é vencer os tchecos, na Amsterdam Arena, e torcer pelos islandeses, que enfrentam os turcos, em Konya. Tornou-se ainda mais difícil. A seleção holandesa está por um fio. Para muita gente na torcida e na imprensa, nem adianta mais esperar que o vexame seja evitado.

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