Danny Blind pensativo: qual o melhor esquema para a Laranja? Enquanto não se decide, o time sofre (VI Images) |
A coluna saiu antes da primeira participação da seleção holandesa nestas datas Fifa, na última quarta, no empate em 1 a 1 contra a Bélgica, em Amsterdã. Tivesse saído depois, e provavelmente seria ainda mais crítica. Porque a Oranje mostra uma indecisão tática impressionante. Ao mesmo tempo em que hesita deixar de lado o 4-3-3 que lhe deixou conhecida (a ponto de surgir a ‘lenda urbana’ de que todo técnico da seleção deveria escalar os jogadores no esquema), também não assume de todo o 5-3-2 experimentado com êxito na Copa de 2014.
Aliás, o problema talvez seja ainda mais básico do que a indecisão. Conceitos postos em prática por qualquer equipe de destaque, no futebol de altíssimo nível, parecem passar longe da equipe laranja. Se ouvir coisas como “compactação” ou “intensidade” já parece até repetitivo em alguns casos, basta ver qualquer atuação recente da Holanda para notar como ainda não é o bastante. Em pouquíssimas vezes é possível notar uma linha de jogadores na defesa – seja de quatro ou cinco jogadores.
De quebra, o combate do meio-campo na marcação ainda é raro. Tomando-se por exemplo a escalação inicial no clássico contra a Bélgica, Stijn Schaars era o único meio-campo com características mais defensivas – e ainda saiu de campo aos 15 minutos de jogo, dando início à onda de lesões que vitimou a Oranje (três machucados, dois no primeiro tempo!). Entrou em seu lugar Jordy Clasie: mais um armador, assim como Georginio Wijnaldum e Davy Klaassen.
Com tanto espaço entre o meio-campo e a defesa, não foi nada difícil para a Bélgica ter maior posse de bola. Só não foram criadas mais chances de gol pelos Diabos Vermelhos porque o nível técnico de atuação variou de jogador para jogador: por exemplo, se Eden Hazard apareceu bastante na partida, Kevin de Bruyne em nada lembrou o jogador fundamental que tem sido no Manchester City.
Embora indesejável, essa falha na marcação seria um problema contornável, caso a seleção holandesa tivesse criado muitas chances. Não foi o caso: nem Klaassen, nem Wijnaldum, nem mesmo Wesley Sneijder (atuando na esquerda, pelo ataque) apareceram com destaque no jogo. Como Vincent Janssen – nos poucos 27 minutos em que atuou – não tem capacidade suficiente para voltar e buscar a bola, e seu substituto Bas Dost é ainda menos habilidoso nisso, o resultado foi o que se viu: segundo o site OptaJohan (ala do Opta dedicada ao futebol holandês), nenhum dos dois finalizou, nenhum dos dois criou chances, e só tocaram a bola uma vez dentro da área de defesa belga.
A timidez – ou incapacidade, mesmo – para atacar era tamanha que só mesmo numa jogada individual podia surgir algo. Como surgiu, quando Jeremain Lens sofreu o pênalti convertido por Klaassen para abrir o placar. Vantagem assegurada, o 5-3-2 que já se notava timidamente foi assumido no segundo tempo. Ainda mais com a entrada de Joshua Brenet na lateral direita, mandando Joël Veltman para o miolo de zaga. Todavia, nas raríssimas vezes que tinha a bola, a Holanda continuava tentando coisas pelas pontas. Principalmente pela direita, com Jeremain Lens – antes da lesão... – ou Memphis Depay. O resto foi pressão belga. Até o gol de Yannick Ferreira-Carrasco.
Num 5-3-2, a aposta pelas pontas rendia um estilo de jogo frouxo, com muito espaço para os adversários. Enfim, era um 5-3-2 com cara de 4-3-3. Poderia até ter dado certo, se estivéssemos em 2014, a defesa estivesse treinada e sincronizada, e um dos pontas fosse Arjen Robben, com a forma ostentada na Copa daquele ano. Mas agora é 2016. Robben é preservado como um bibelô, pela histórica propensão às lesões (ficou fora contra a Bélgica, para poder ser escalado contra Luxemburgo, neste domingo, pelas eliminatórias da Copa de 2018). E a Holanda reconhece, com pesar, que simplesmente não tem quem possa substituí-lo. Por isso, sabe que precisa marcar. E até consegue, como reconheceu Danny Blind: “Nós nos defendemos com muita disciplina, antes das chances de Lukaku [no segundo tempo]”.
Ainda assim, há um extremo receio em assumir que o 5-3-2 pode ser uma opção a ser adotada. Afinal, o 4-3-3 é visto na Holanda como “coisa dela” - ainda mais em tempos de lembranças cada vez mais saudosas de Johan Cruyff. Por isso, adotar um estilo defensivo seria visto como “traição” ao jeito holandês de enxergar futebol. Mesmo em tempos nos quais a geração de bons jogadores está visivelmente emperrada no país, a Holanda insiste em não ter humildade para reconhecer isso – falha apontada por gente como Ruud Gullit e Clarence Seedorf.
Para piorar, a geração de técnicos também não é de se elogiar muito. Danny Blind tem experiência de menos para uma tarefa dura demais. Porém, quem poderia sucedê-lo também tem seus esqueletos dentro do armário. Frank de Boer precisa ampliar os horizontes, como mostra o modo repetitivo de trabalho nos últimos tempos de Ajax, para nem falar de sua passagem malograda pela Internazionale (onde não se ajudou, por mais que o ambiente em Appiano Gentile seja caótico). Phillip Cocu é promissor, sabe variar suas táticas, mas começa a encarar desafios no PSV. Magoado por ter sido ignorado em detrimento de Guus Hiddink, depois da Copa passada, Ronald Koeman não quer a seleção agora – talvez depois de 2018. Frank Rijkaard encerrou a carreira de técnico. Em baixa após o trabalho decepcionante no Manchester United, Louis van Gaal não quer trabalhar com seleções - até foi convidado pela KNVB para ser o diretor técnico da entidade, mas declinou.
Geração mediana de jogadores. Técnicos cada vez mais coadjuvantes. E indecisão tática. Somados esses fatores, o final não costuma ser bom, como a Holanda viu nas eliminatórias para a Euro 2016. Ou a equipe toma um rumo na qualificação para a Copa, ou dias ainda piores virão. Pelo menos, o adversário da próxima rodada é Luxemburgo...
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 11 de novembro de 2016)
(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 11 de novembro de 2016)
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