quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Difícil não falar

De Ligt e Schöne lamentam: a opção eterna pela ofensividade e a fragilidade defensiva impuseram outro vexame ao Ajax (ANP)

A rigor, não é praxe deste blog comentar muito sobre resultados de clubes holandeses nas competições europeias. Em primeiro lugar, porque em tal caso o foco seria mais a Liga Europa do que a Liga dos Campeões - e a Liga Europa raramente interessa mais ao público leitor. Em segundo lugar, porque nem mesmo na Liga Europa os clubes do país costumam ter desempenhos dignos. Quando há uma exceção, o destaque é tamanho que só aí este Espreme a Laranja se mobiliza.

Contudo, mesmo com o adiantado da hora, é difícil para o blog não falar a respeito do que se viu na tarde desta quinta, pelos jogos de volta dos play-offs definindo lugar na fase de grupos da Liga Europa. Nem tanto sobre o Utrecht, que teve queda das mais honrosas para o Zenit-RUS - e da qual se falará mais proximamente nesta sexta-feira. Mas principal e obviamente sobre o Ajax, que até sonhou se recuperar contra o Rosenborg-NOR, mas que viu afinal a derrota por 3 a 2, que o tira de qualquer competição europeia, apenas três meses depois de ser finalista da própria Liga Europa contra o Manchester United, na temporada passada. Pior: os Ajacieden ficarão fora de torneios continentais pela primeira vez desde a temporada 1990/91.

A rigor, a história se repetiu. Como em tantas outras vezes, o Ajax começou ofensivamente. No estádio Lerkendal, em Trondheim, alguns jogadores pressionaram bastante o gol do Rosenborg. Amin Younes criava jogadas sem parar, pela esquerda; nem parecia que ficara fora do jogo contra o Groningen, domingo passado, pelo Campeonato Holandês. No meio-campo, Hakim Ziyech era o destaque de sempre: o camisa 10 era opção constante para jogadas. E assim, o goleiro André Hansen teve de trabalhar bastante. Aos 5', num desvio de Matthijs de Ligt; aos 7', num chute de Ziyech.

Porém, o Rosenborg foi reagindo. Ficou mais com a bola nos pés - por obra e graça da boa atuação de Marius Lundemo, no meio-campo. E a falta de organização que os Godenzonen mostram na recomposição defensiva cobrou o preço aos 25': Donny van de Beek perdeu a bola no círculo central, a equipe norueguesa trocou passes, e um cruzamento encontrou Nicklas Bendtner livre na segunda trave (Joël Veltman falhou na marcação) para cabecear e abrir o placar.

Se desgraça pouca era bobagem, a situação já dramática do Ajax ficou pior com a lesão muscular que forçou Justin Kluivert a sair de campo, aos 38', dando lugar a Vaclav Cerny - aposta do técnico Marcel Keizer no lugar de David Neres, que sequer ficou no banco em Trondheim ("Cerny tem mais profundidade", justificou Keizer à emissora de tevê Ziggo Sport). Nada acontecia. A única alternativa era ousar: Klaas-Jan Huntelaar veio a campo no lugar de Van de Beek, e o Ajax foi para um 3-4-3 ultraofensivo. Se só dois gols resolveriam a situação, era preciso buscá-los, custasse o que custasse.

Podia dar errado. Deu muito certo, a princípio. Os visitantes voltaram ao segundo tempo tão ofensivos quanto haviam sido no começo do jogo: pressionando, forçando Hansen a fazer mais defesas. E Younes, o melhor jogador do Ajax na partida, pareceu se converter no herói da classificação, ao participar de dois gols em um minuto. Aos 59', completando lançamento na área, ele mesmo empatou; no giro seguinte do ponteiro, o alemão fez jogada individual pela esquerda e cruzou para Lasse Schöne virar o jogo para 2 a 1. Uma chegada heróica à fase de grupos da Liga Europa se avizinhava. Principalmente se o Ajax cuidasse de sua defesa.

Não cuidou. Porque o Ajax seguiu sua "maldição": continuou no ataque - quase fez gols com Cerny (defesa de Hansen em chute do tcheco, livre num contra-ataque aos 75') e com Younes (bola na trave aos 77'). Pouco depois, Keizer colocou pressão na defesa: tirou Dolberg para colocar o lateral Deyovaisio Zeefuik, 19 anos e só 21 minutos na equipe principal do Ajax, aos 78'. Aí, o Rosenborg reanimou-se no ataque. E enquanto a defesa do Ajax se reorganizava, o destino foi selado. Samuel Adegbenro, que saíra do banco, se converteu no destaque da classificação da equipe alvinegra à fase de grupos da Liga Europa. Autor do gol da vitória no 1 a 0 de Amsterdã, o atacante nigeriano empatou aos 80', em cabeceio. E só para mostrar como era patética a organização defensiva do Ajax, fez jogada individual para o 3 a 2 do Rosenborg, driblando Zeefuik e Veltman para chutar no canto direito de André Onana.

Depois, foi o de sempre: Marcel Keizer assumindo a culpa pela eliminação, o capitão Veltman reclamando ("Não se pode permitir o empate que nós permitimos, falhamos coletivamente", lamentou à Ziggo Sport), o diretor geral Edwin van der Sar contemporizando ("Você realmente acha que fomos piores nas duas partidas?", indagou irônico ao repórter da FOX Sports holandesa) e lamentando ("A tristeza é grande. Todos devem se olhar no espelho e se questionar: nós, diretores, os jogadores, e o técnico"). E a certeza de que o Ajax precisa, novamente, se reformular, após o período de rara bonança que viveu, definitivamente encerrado pelo vexame gigante.


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