A França já vinha melhorando antes deste gol de Griezmann, que abriu o placar. Daí por diante, foi o previsível diante de uma Holanda cada vez pior (Christophe Ena/AP) |
De modo até curioso, o 4-3-3 com que a seleção holandesa entrou em campo (com a estreia de Timothy Fosu-Mensah pela equipe) até fez alguns minutos calmos, mantendo a posse de bola diante dos Bleus. Todavia, não tinha nenhum espaço para conseguir fazer jogadas, entre as linhas muito bem postadas e treinadas da equipe da casa. Aí, foi o de sempre: a partir dos 10 minutos do primeiro tempo, a equipe azul começou a ter mais a posse de bola. E diante de uma Holanda com incapacidade crônica de se recompor rapidamente na defesa, ditou o jogo como e quando quis.
Opções de jogada para os franceses não faltavam. Na esquerda, Layvin Kurzawa sempre estava à disposição para os ataques; na direita, eram dois jogadores à disposição, com Djibril Sidibé e Kingsley Coman (ótima atuação); pelo meio, N'Golo Kanté mostrava não só a disposição de sempre nos desarmes, mas também alta capacidade para trabalhar a bola. O único problema francês era a atuação deficiente de Paul Pogba. Por sorte, Antoine Griezmann voltava quase sempre ao meio para acelerar o jogo. Assim conseguia fazer jogadas, com o grande espaço que a defesa holandesa oferecia. Assim Griezmann abriu o placar, aos 14', após tabela com Olivier Giroud, passando facilmente por Wesley Hoedt, que apenas prestou atenção na bola.
Para a seleção holandesa, o pior não era perder. Até porque a Bulgária "fazia seu papel", com a vitória momentânea sobre a Suécia na partida simultânea. O pior era notar que não havia como avaliar sua atuação, porque... não havia atuação. Os desarmes eram facilmente feitos já quando Kevin Strootman ou Georginio Wijnaldum tinham a bola. Ou seja, a esférica sequer chegava a Wesley Sneijder ou Arjen Robben, para a criação de jogadas - quando muito, Quincy Promes a tinha nos pés. Para nem falar de Vincent Janssen, escolhido como atacante titular, que tocou na bola apenas nove vezes nos primeiros 45 minutos. Em suma: o goleiro da França, Hugo Lloris, sequer precisou fazer uma defesa digna do nome. Enquanto isso, Jasper Cillessen sempre precisava de atenção na meta holandesa - se falhou no gol de Griezmann, levado por baixo das pernas, fez boa defesa em arremate de Coman, aos 39'. Para piorar, a Suécia empatou contra a Bulgária no fim da etapa inicial.
Algo precisava ser feito. Dick Advocaat tentou fazer: para acelerar o meio-campo holandês, tirou Sneijder e colocou Tonny Vilhena para o segundo tempo. O espaço para jogadas laranjas até apareceu, já que a França começou a avançar. Ainda assim, na hora de perturbar o adversário, os anfitriões eram muito mais efetivos em Saint-Denis. O segundo gol quase veio já aos 53', quando Giroud e Pogba tiveram a bola nos pés, mas chutaram-na em cima da defesa. A velocidade do meio-campo francês desnorteava a Holanda, e o símbolo disso foi Kevin Strootman, expulso em seis minutos: levara o amarelo aos 56', após derrubar Kanté com um carrinho, e recebeu depois o vermelho - até injusto, pelo juiz Gianluca Rocchi ver pisão inexistente do camisa 8 holandês em Griezmann.
Aí, já não adiantava nada. Nem a entrada de Robin van Persie, substituindo Janssen para tentar fazer o ataque holandês aparecer mais. Nem a grande chance do empate que Robben perdeu aos 69': após erro de Lloris na saída de bola, Promes cruzou da esquerda, e o capitão da Laranja cabeceou na área, em cima de Samuel Umtiti, que estava na pequena área. Não adiantava mais, porque os espaços estavam ainda mais abertos, e a França só precisava aproveitar uma. Aproveitou aos 73', com o belo gol de Thomas Lemar. Jogo definido, até Kylian Mbappé, febre europeia, pôde entrar - e marcar seu primeiro gol, o quarto da França, já nos acréscimos, minutos após Lemar fazer o terceiro. Sem contar outras ocasiões em que Cillessen precisou defender - como em chutes de Mbappé, aos 80', e Alexandre Lacazette, aos 87'.
Cheia de lamentações como as de Van Persie, a Holanda ainda pode chegar à Copa, por incrível que pareça (Stanley Gontha) |
4 a 0. Não era apenas a pior derrota da Holanda para a França; era também a pior derrota da história holandesa em partidas de competição, excetuando-se os torneios olímpicos. Houve força apenas para declarações humildes de Dick Advocaat, à emissora holandesa NOS: "Nunca estivemos no ritmo do jogo. A França foi muito melhor, em todos os aspectos. E 4 a 0 é um resultado exagerado, estou um pouco chocado". Na zona mista, Kevin Strootman criticou o árbitro sem se esquecer de apontar o dedo para a sua péssima atuação, frouxa na marcação: "O juiz foi do mesmo nível que eu, hoje". E Sneijder foi definitivo: "Precisamos conversar bastante. Não conseguiremos mais chances". Chances? Pois é, a Holanda ainda tem. No fim do jogo, a Bulgária fez 3 a 2 na Suécia - para ânimo repentino de Robben, que soube enquanto falava à NOS: "Sério [que a Bulgária ganhou]? Ótimo, vou contar ao pessoal no vestiário! Parabéns à França, e agora temos de partir para a Bulgária".
Se por um lado o triunfo búlgaro representou a queda laranja para a quarta posição do grupo A, com 10 pontos, abriu possibilidade para superar Bulgária e Suécia nos jogos diretos e ainda conseguir lugar na repescagem - a Bulgária, aliás, já pode ser superada no domingo, em Amsterdã. De mais a mais, a diferença no saldo de gols para a Suécia (7 dos suecos, 3 dos holandeses) ainda é descontável.
Ou seja: apesar de desmoralizada, a seleção da Holanda ainda depende de suas próprias forças para alcançar a repescagem nas eliminatórias europeias. Não merece chegar à Copa, mas ainda sonha com ela. Isso, sim, é inacreditável. Aliás, quem consegue acreditar que a Holanda ganhará da Bulgária?
Eliminatórias para a Copa de 2018 - Europa
França 4x0 Holanda
Data: 31 de agosto de 2017
Local: Stade de France, em Saint-Denis
Juiz: Gianluca Rocchi (Itália)
Gols: Antoine Griezmann, aos 14'; Thomas Lemar, aos 73' e 88', e Kylian Mbappé, aos 90' + 1
França
Hugo Lloris; Djibril Sidibé, Laurent Koscielny, Samuel Umtiti e Layvin Kurzawa; N'Golo Kanté, Kingsley Coman (Alexandre Lacazette, aos 80'), Paul Pogba e Thomas Lemar; Antoine Griezmann (Nabil Fekir, aos 89') e Olivier Giroud (Kylian Mbappé, aos 75') Técnico: Didier Deschamps
Holanda
Jasper Cillessen; Timothy Fosu-Mensah, Stefan de Vrij, Wesley Hoedt e Daley Blind; Georginio Wijnaldum e Kevin Strootman; Arjen Robben, Wesley Sneijder (Tonny Vilhena, no intervalo) e Quincy Promes; Vincent Janssen (Robin van Persie, aos 64'). Técnico: Dick Advocaat
Eliminatórias para a Copa de 2018 - Europa
França 4x0 Holanda
Data: 31 de agosto de 2017
Local: Stade de France, em Saint-Denis
Juiz: Gianluca Rocchi (Itália)
Gols: Antoine Griezmann, aos 14'; Thomas Lemar, aos 73' e 88', e Kylian Mbappé, aos 90' + 1
França
Hugo Lloris; Djibril Sidibé, Laurent Koscielny, Samuel Umtiti e Layvin Kurzawa; N'Golo Kanté, Kingsley Coman (Alexandre Lacazette, aos 80'), Paul Pogba e Thomas Lemar; Antoine Griezmann (Nabil Fekir, aos 89') e Olivier Giroud (Kylian Mbappé, aos 75') Técnico: Didier Deschamps
Holanda
Jasper Cillessen; Timothy Fosu-Mensah, Stefan de Vrij, Wesley Hoedt e Daley Blind; Georginio Wijnaldum e Kevin Strootman; Arjen Robben, Wesley Sneijder (Tonny Vilhena, no intervalo) e Quincy Promes; Vincent Janssen (Robin van Persie, aos 64'). Técnico: Dick Advocaat
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