O Ajax conseguiu a maior goleada da história do Campeonato Holandês na primeira metade da temporada. Nem por isso está nadando de braçada (Pro Shots) |
Antes do Campeonato Holandês atual começar, havia uma dúvida e uma certeza. A dúvida: qual seria o alcance da pandemia de COVID-19 dentro da Eredivisie desta temporada 2020/21? A certeza: independentemente do que acontecesse, o Ajax era novamente visto como o time a ser batido na Holanda (Países Baixos), em que pesassem as lembranças do cenário com que a liga neerlandesa vinha antes da interrupção em 2019/20, com o AZ empatado em pontos com os Ajacieden. A dúvida teve resposta - lamentavelmente - positiva. Já a certeza, embora confirmada pela liderança que o Ajax ostenta após 14 rodadas, não tem tanta força quanto se podia supor. E por isso, o ambiente do futebol naquele país é menos dramático sobre à discrepância de nível técnico do que as observações.
Em primeiro lugar, sim, a pandemia está presente na liga holandesa. Aqui e ali, clubes são atingidos por surtos de infecção pelo novo coronavírus: PSV e AZ foram pelo menos dois que sofreram, no início do campeonato, com ausências sucessivas de jogadores que testaram positivo. Há as consequências indiretas: com menos tempo entre treinos e jogos, as lesões aumentam (o Ajax, por exemplo, sofre muito com isso). E pelo menos um jogador pode contar sobre os efeitos graves que o vírus pode causar: Elton Kabangu, atacante reserva do Willem II, chegou a ser internado na UTI de um hospital pelas consequências da COVID-19. Só resta citar a descrição de Kabangu, em sua entrevista à ESPN holandesa, ainda em dezembro, após a recuperação e o retorno aos treinos: "Não posso dizer muito sobre como foi no hospital: nem sempre eu estava consciente e acordado. Eles me mostraram radiografias do meu pulmão. Estava prejudicado: eu tive uma infecção como efeito do corona. E quando eu fui internado, logo me deram um tipo de morfina, e só acordei semanas depois".
Já em relação ao que se vê dentro de campo, as opiniões vêm e vão ao sabor dos acontecimentos. De vez em quando, o Ajax conseguiu algumas goleadas na temporada: 5 a 0 no Emmen, 4 a 0 no Zwolle, 5 a 0 no Heracles Almelo... e, principalmente, o 13 a 0 no VVV-Venlo, o maior de todos os placares dos 64 anos de história profissional do Campeonato Holandês. Bastava uma goleada dessas, e não só o nível técnico paupérrimo de alguns jogos era lembrado, como cresciam as opiniões pedindo por um avanço na discussão sobre a BeNeLiga, a liga conjunta entre os grandes clubes de Bélgica e Holanda, para, quem sabe, aumentar a competitividade. Em coluna no jornal De Telegraaf, após os 5 a 0 no Emmen, o jornalista Mike Verweij deixou isso claro: "O Ajax até se prejudicou: nem o próprio clube apoia a BeNeLiga, mas com a atuação excelente e ultraconcentrada contra o Emmen, fez de novo uma propaganda pela liga entre a metade superior da Pro League belga e os principais clubes holandeses (...). Quase não há outro país na Europa em que um time vença tão fácil fora de casa, como o Ajax faz na Eredivisie".
Porém, como a própria coluna de Verweij ponderava, nem o Ajax (que seria, talvez, o clube mais famoso da eventual BeNeLiga) se sente muito atraído pela união das ligas neerlandesa e belga. Na Holanda, a impressão geral é de que o futebol da Bélgica sairia ganhando muito mais, caso o torneio binacional saísse do papel. As discussões aumentam dentro da própria Holanda. De um lado, há críticas ao pedido da federação e dos próprios clubes por ajuda financeira do governo, mesmo num cenário de exceção como a pandemia é. Inclusive, um político liberal até opinou que a extinção de alguns clubes seria um preço "pagável", se o resultado fosse um campeonato de melhor nível técnico e maior equilíbrio). Do outro, os dirigentes dos clubes creem que as agremiações belgas "pegariam carona" na maior prosperidade dos times holandeses.
Então, se o Ajax "prejudica" a Eredivisie, é justo dizer que as 14 rodadas jogadas em 2020 favoreceram os que acham a BeNeLiga desnecessária. Afinal de contas, se o Ajax fez 13 a 0 no VVV-Venlo, perdeu para Twente e Groningen. Está só um ponto à frente do PSV, seu adversário na 15ª rodada, a primeira de 2021, no próximo domingo. Sem contar a proximidade de Feyenoord, Vitesse, AZ... e todos eles se enfrentarão, nos clássicos marcados para este ano que começa.
Enfim, a liderança pode até ser dos Ajacieden, mas o campeonato está mais equilibrado do que se esperava. Sendo assim, olha-se para a Eredivisie com o "copo meio cheio". Talvez porque só isso impeça a liga de cair ainda mais.
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ResponderExcluirFelipe, em relação a essa frequente proposta de BeNeLiga, não acha que seria melhor reduzir o número de times para 16? No caso específico do futebol holandês, 16 times nas 2 primeiras divisões seria o ideal pra mim, e daí pra baixo divisões regionalizadas e com times semiprofissionais e os times B/Jong.
ResponderExcluirVejo muitos campeonatos nacionais (não só na Europa) inchados, muito fruto do dinheiro e negócio que hoje é o futebol, e penso que com menos equipes o nível médio aumentaria, reduzindo essas discrepâncias e também reduziria o número de datas no calendário.
Um abraço!