sexta-feira, 29 de abril de 2016

O que a Pro League tem que a Eredivisie não tem?

Quando Ajax e Anderlecht se enfrentaram em 2011 pela Liga Europa, Eredivisie estava melhor; agora, a situação é outra (Paul Vreeker/Getty Images)

Até pela proximidade fronteiriça, Holanda e Bélgica são rivais históricos quando o assunto é futebol. E é óbvio que o momento é mais favorável para o país de Jan Ceulemans, Eddy Merckx e da Stella Artois. Primeiramente, porque enquanto a Oranje apenas verá a Euro 2016 pela tevê (de holandês, na França, só o quinteto de arbitragem formado pelo juiz Bjorn Kuipers e os auxiliares Sander van Roekel, Erwin Zeinstra, Pol van Boekel e Richard Liesveld), a seleção belga é cotada para fazer outra campanha razoável num grande torneio, voltando à Euro após 16 anos.


Segundo, e mais importante, porque a tabela de coeficientes da UEFA indica realidades diferentes para os dois países. Não será na próxima, mas tudo leva a crer que a partir de 2017/18, a não ser que os holandeses participantes de Liga dos Campeões e Liga Europa façam campanhas muito boas, a Eredivisie perderá sua vaga direta na fase de grupos da Liga dos Campeões, ao passo que a Pro League manterá o lugar que obteve desde a temporada 2013/14.

E no entanto, a reta final das duas ligas mostram rumos semelhantes. Na Holanda, houve a pausa, no final de semana passado, para a final da copa nacional - lembrando a coluna passada, o Feyenoord conseguiu a consolação, conquistando o título ao fazer 2 a 1 no Utrecht. Agora, empatados nos 78 pontos, PSV e Ajax jogarão simultaneamente na penúltima rodada da Eredivisie, neste domingo, tentando vencer o adversário (PSV contra o Cambuur, Ajax contra Twente) e olhando para o saldo de gols do oponente na disputa do título (o saldo do Ajax é maior: 56 contra 50 do PSV).

O equilíbrio não é menor no Campeonato Belga: no hexagonal final, uma sequência de duas derrotas do Club Brugge (e três vitórias do Anderlecht) quase colocou os Mauves na liderança. Só que a quinta rodada do hexagonal mudou tudo: os Azuis-e-Negros fizeram 5 a 0 no Zulte Waregem, enquanto o time de Parc Astrid foi surpreendido pelo KV Oostende, caindo por 4 a 2. Isso, sem contar o Gent: em busca do bicampeonato, os Búfalos se reanimam e já estão há três partidas sem perder (um empate e duas vitórias). Agora, a cinco rodadas do fim do hexagonal, o Brugge lidera, com 41 pontos, enquanto Gent e Anderlecht estão iguais nos 38 pontos - o Gent é o vice-líder, por ter encerrado a fase regular já na segunda posição.

Isto é: os campeonatos das duas nações vizinhas são inegavelmente equilibrados. Todavia, fica a pergunta: por que o futebol belga aparenta estar numa fase mais pujante do que o holandês? Fora a óbvia superioridade dos Diabos Vermelhos no momento atual, o momento da Jupiler Pro League pode indicar alguns caminhos. O primeiro deles é a maior flexibilidade tática que as equipes belgas mostram. Azar holandês: em tempos de rememorar a importância imorredoura de Johan Cruyff no estilo que o país tem de jogar, fica difícil não compreender a opção persistente pelo lado ofensivo, pelo 4-3-3, pelos times jogando com pontas abertos etc.

No Campeonato Belga, a variedade de esquemas já é algo mais historicamente aceito. Algo mostrado no esquema com que os líderes do hexagonal final vão a campo. O Club Brugge jogam num 4-2-3-1, com fluidez ofensiva; no 4-1-4-1 do Anderlecht, a fluidez fica no meio-campo (Steven Defour tanto pode jogar mais atrás, como volante, como pode ser o principal criador das jogadas de ataque, como é mais frequente); no Gent, o 3-4-2-1 fortalece mais a defesa, como se viu na boa campanha pela Liga dos Campeões.

Se a falta de prática com esquemas mais defensivos vitima bastante o futebol holandês, outro fator que o país perdeu e o vizinho/rival ganhou foi o hábito de dar oportunidades a jogadores de outros países, para que ali se desenvolvam. Basta notar os destaques dos candidatos ao título belga. No Anderlecht, o italiano Stefano Okaka Chuka se consolidou no ataque; o Club Brugge é quem mais aposta nos “estrangeiros” – dos zagueiros holandeses (Stefano Denswil e Bram Nuytinck) ao atacante uruguaio/brasileiro Felipe Gedoz, passando pelo ponta-esquerda colombiano José Izquierdo; o Gent é a única exceção, tendo apenas o meia brasileiro Renato Neto como destaque.

Mas apesar dos pesares, o futebol holandês pode dizer que ainda tem uma superioridade. Até previsível: se se fechou mais aos estrangeiros, também dá um destaque mais imediato aos talentos nativos. Por exemplo: nem Dennis Praet, nem Youri Tielemans são destaques absolutos na campanha do Anderlecht, mesmo que sejam promessas belgas. Já o Ajax permite que Davy Klaassen ou Riechedly Bazoer ganhem espaço no time de cima a ponto de merecerem as convocações de Danny Blind na seleção holandesa. Coisa que não acontece muito sob Marc Wilmots na seleção belga: as últimas novidades nas convocações limitam-se ao zagueiro Bjorn Engels, titular no Club Brugge, e a Laurent Depoitre, atacante titular do Gent. E ainda assim, nenhum deles tem lugar garantido entre os 23 que irão à Euro. 

Até por isso, alguns jogadores belgas até acham espaço no futebol do país vizinho para despontarem em suas carreiras. As presenças certas na seleção da Bélgica mostram isso: Jan Vertonghen, Thomas Vermaelen, Toby Alderweireld (todos surgidos no Ajax), Nacer Chadli (despontou no Twente), Dries Mertens (começou a ganhar espaço com as atuações por Utrecht e PSV), Moussa Dembélé (cresceu futebolisticamente ao atuar pelo AZ)...

Assim, não se estranha o cenário indicado pela relação dos 500 jogadores mais importantes da atualidade, feita na edição de março da revista “World Soccer”: há mais belgas do que holandeses (20 contra 14), mas também há mais gente que atua na Eredivisie do que na Pro League (18 a 11). Por tudo isso, embora a fase atual seja difícil e indique problemas que só serão resolvidos a médio prazo, o Campeonato Holandês ainda atrai mais atenções do que o Belga. Por isso, no domingo, a atenção ainda recairá mais sobre a disputa de PSV e Ajax pela Eredivisieschaal. Pelo menos, por enquanto.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Copa da Holanda: o prêmio ou a consolação

Final da Copa da Holanda pode premiar reação do Feyenoord sob Van Bronckhorst. Ou ótimo trabalho de Ten Hag no Utrecht (ANP/Pro Shots)
A disputa pelo título do Campeonato Holandês é o que se sabe: Ajax e PSV quase igualados. A duas rodadas do fim, os times têm a mesma pontuação (78), e os Amsterdammers só lideram a Eredivisie pelo melhor saldo de gols (56 contra 50). Mas embora tenham uma defesa mais irregular que a dos Boeren, é inegável que o título está bem mais perto do clube da estação Bijlmer Arena. E isso foi visto nos sorrisos dos jogadores e do técnico Frank de Boer, após a vitória contra o Heerenveen, fora de casa, na quarta passada (2 a 0). Contudo, neste final de semana a disputa na liga terá uma pausa, um respiro antes de seu final. 

Tudo para a decisão da Copa da Holanda, a KNVB Beker, a ser decidida em jogo único neste domingo, em De Kuip, o estádio do Feyenoord. E o Stadionclub, enfim, poderá voltar a ganhar um troféu diante de sua torcida; sem ganhar nenhum título desde 2007/08 (quando conquistou a copa, sobre o Roda JC), o clube de Roterdã decide o torneio nesta temporada, enfrentando o Utrecht. E mesmo com a campanha razoável na Eredivisie (Feyenoord em 3º, Utrecht em 5º), a grandeza de ambos dentro do futebol holandês é que dá a medida da importância que o possível título teria, além da vaga na fase de grupos da Liga Europa.

Para o Utrecht, além de também quebrar um tabu (o clube não ganha nada desde 2003/04, quando conquistou não só a Copa, mas também a Supercopa da Holanda), o troféu seria o prêmio para o nível técnico elogiável mostrado pela equipe nesta temporada. Para o Feyenoord, se for um prêmio, será de consolação. Claro, o troféu da KNVB Beker será comemorado. Mas também não era bem o objetivo principal dos Feyenoorders quando o período 2015/16 começou: este era, claro, acabar com o jejum que irá para 17 anos sem títulos do Campeonato Holandês. De todo modo, justiça seja feita: alimentar a sala de troféus no próximo domingo também confirmaria uma melhora notória nas atuações do Feyenoord, após a sequência lamentável de nove jogos sem vitória (sete derrotas e dois empates), que dizimou as esperanças do fim do tabu na Eredivisie, entre o fim de 2015 e o começo deste ano.

No meio da crise, Dick Advocaat foi trazido pelo clube para ser um “conselheiro” de Giovanni van Bronckhorst. Não faltou quem dissesse que aquilo seria uma punhalada nas costas do técnico “de fato”, que logo seria trocado pelo veterano Advocaat... mas o fato é que o “Pequeno General” deu toques pontuais a “Gio”, e poucas vezes apareceu nos treinos. E outro fato é que o Feyenoord melhorou após a assessoria de Advocaat: veio uma sequência de seis vitórias seguidas, que fez o time afastar o temor de cair pelas tabelas, mantendo a terceira posição.

E algumas mudanças táticas ajudaram visivelmente o Feyenoord a recuperar a confiança (além das vitórias, claro). A defesa, que não estava muito regular, enfim ganhou a definição da dupla de zaga (Eric Botteghin e Sven van Beek), acalmando o setor. E Dirk Kuyt teve sua importância já enorme ampliada na equipe: não só seguiu jogando no ataque, mas começou até a ser recuado para o meio-campo em algumas partidas, ajudando na criação. E... deu certo. Não só abriu espaço para as atuações razoáveis de Jens Toornstra ou Bilal Basaçikoglu pela ponta direita, mas também ajudou o meio-campo a segurar mais a bola. O que facilitou o trabalho de Karim El Ahmadi na marcação, mais veloz do que com Marko Vejinovic; e também faz com que Tonny Trindade de Vilhena possa chegar ao ataque, como “elemento-surpresa”.

Nas rodadas mais recentes da Eredivisie, todavia, vieram os alertas. A defesa ainda continua lenta, e foi envolvida tanto pelo ataque do Groningen quanto pelo do Heracles Almelo. O ataque funcionou bem, e evitou derrotas, mas os dois empates (1 a 1 com o Groningen, 2 a 2 com o Heracles) deixaram claro: há falhas a serem corrigidas. É o discurso corrente no elenco às vésperas da final. Elia alertou: “Não podemos ter um momento sequer de desatenção”; Van Bronckhorst pediu: “Agora, foco total na final da copa”.

E Kuyt sintetizou, na entrevista coletiva desta quinta, toda a razão da importância do título: “A final da copa determinará se nossa temporada teve algum sucesso ou se o fracasso foi total”. Seja como for, sabe-se que o clube ainda tem coisas a melhorar. Tanto é que o boato corrente é de que os diretores de futebol (Martin van Geel) e geral (Eric Gudde) entregarão seus cargos após o jogo de domingo, Feyenoord campeão ou não, sucumbindo às críticas e protestos da torcida.

Para o adversário do Feyenoord na final, a conquista significará a coroação da aposta em Erik ten Hag como técnico – e do bom rendimento de muita gente no time titular. Quando Ten Hag chegou, no meio de 2015, vindo da equipe B do Bayern Munique, o desejo da direção era claro: tornar o estilo de jogo dos Utregs mais “agradável” (o blog até comentou sobre isso). E isso aconteceu, sem a menor dúvida. Para tanto, ajudou muito a evolução clara de mais jogadores, notável principalmente nesta segunda metade da temporada.

Se Sébastien Haller continua sendo garantia de gols no ataque, a evolução de Ruud Boymans também é notável após sua lesão: com nove gols em 17 jogos, tornou-se o segundo maior goleador dos Utregs na temporada, sabendo fazer o papel de “referência” até com melhor resultado do que Haller. Se Yassin Ayoub começou a sofrer um pouco com as lesões no meio-campo, Nacer Barazite segue muito bem, chegando frequentemente ao ataque. Na marcação, Bart Ramselaar e o capitão Willem Janssen (outro recuperado de lesão) cumprem muito bem o papel no meio-campo, enquanto Timo Letschert tornou-se zagueiro seguro a ponto de merecer convocação para a seleção holandesa, nos últimos amistosos. A ausência do goleiro Robbin Ruiter (fratura na mão) é minorada pela manutenção do nível que o reserva Filip Bednarek tem conseguido.

O crescimento do Utrecht quase foi comprovado na rodada retrasada do Holandês: o time vencia o Ajax até os 44 minutos do segundo tempo, quando um pênalti muito duvidoso (no mínimo) deu o 2 a 2 final, impedindo que os Utregs fossem o único time a ter vencido os Ajacieden em casa e fora na Eredivisie. Já concentrados para a final, houve a derrota para o De Graafschap nesta rodada (2 a 0), mas quase ninguém ligou. Willem Janssen resumiu: “Desde o momento em que chegamos à final, a cidade toda acompanha. Queremos vencer no domingo. Para muitos de nós, é a grande chance do primeiro título na carreira. E por isso vamos nos esforçar”.

E as frases de Kuyt e Janssen resumiram bem o que significa a final da Copa da Holanda. Para o Utrecht, um prêmio; para o Feyenoord, uma razoável consolação.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 22 de abril de 2016)

quinta-feira, 21 de abril de 2016

810 minuten: como foi a 32ª rodada da Eredivisie

A comemoração do Ajax num dos gols de Milik: a alegria no olhar do time que sabe faltar pouco para garantir o título holandês (ANP/Pro Shots)

Groningen 1x0 Roda JC (terça-feira, 19 de abril)

Empatar com o Feyenoord, fora de casa, já aumentara um pouco o combalido ânimo do Groningen antes do jogo desta terça. Mas vencer a partida desta terça-feira, abrindo a 32ª rodada do Campeonato Holandês, poderia significar bem mais: poderia significar a manutenção das chances de alcançar os play-offs por vaga na Liga Europa. Isso, contra um Roda JC que precisava se recuperar da derrota para o PSV, até para não realimentar os perigos dormentes de cair na zona de repescagem/rebaixamento. No primeiro tempo, os Groningers não fizeram muita coisa: somente as ocasiões de gol vindas dos pés de Jesper Drost e Oussama Idrissi. Já os visitantes de Kerkrade só tiveram boa chance aos 26 minutos, com cabeceio de Kristoffer Peterson, forçando boa defesa do goleiro Sergio Padt.

O marasmo foi suficiente para que se decidisse aumentar a força ofensiva na etapa final, com a entrada em campo do reserva Alexander Sorloth, já após o intervalo. Assim, enquanto o atacante norueguês servia de referência, atraindo os marcadores dos Koempels, os pontas dos Groningers começaram a criar mais jogadas. E ambos estariam na jogada do gol, aos 22 minutos: Idrissi cruzou, o zagueiro Arjan Swinkels rebateu, e Albert Rusnák aproveitou a sobra para chutar. Seu arremate ainda resvalou em Tom van Hyfte, deixando o arqueiro Benjamin van Leer sem ação para evitar o 1 a 0. Rusnák ainda perdeu um pênalti, no fim do jogo, aos 43 minutos. Ainda assim, o Groningen não sofreu mais para manter a vitória que o segura a dois pontos da zona dos play-offs. E o Roda JC, que se achava já salvo da zona de perigo, está apenas cinco pontos acima dela. Convém não bobear.

PSV fez sua parte e venceu Vitesse. É o que resta, além de esperar que o Ajax erre (Maurice van Steen/VI Images)
PSV 2x0 Vitesse (terça-feira, 19 de abril)

Do mesmo modo que encaminhou rapidamente sua vitória contra o Roda JC, na rodada passada, o PSV também não demorou muito para se impor contra o Vitesse. Aliás, pode-se dizer até que os Boeren tiveram alguns de seus melhores momentos na temporada durante os primeiros minutos do jogo contra o Vites. Nem mesmo a ausência do lesionado Jorrit Hendrix diminuiu o poderio e o entrosamento do time da casa, que poderia ter aberto o placar até mais rapidamente: já aos dez minutos do primeiro tempo, Jeffrey Bruma abriu o placar, mas o juiz Pieter Vink anulou o gol, por impedimento (de fato, existente). No meio-campo, o veterano Stijn Schaars substituiu o titular Hendrix, formando um trio de ex-jogadores do adversário no setor, com Marco van Ginkel e Davy Pröpper. 

E seria um jogador que esteve nos Arnhemmers até a temporada passada a abrir o placar, aos 12 minutos: Pröpper recebeu a bola de Santiago Arias (de volta após a suspensão), entrou na área pela direita e bateu colocado, no ângulo oposto, marcando um bonito gol. E no resto da etapa inicial, os Eindhovenaren controlaram a vantagem sem correr riscos - o que lhes era conveniente, mas decepcionava, pelo bom nível apresentado. No princípio do segundo tempo, mais uma chance para o gol foi perdida: aos oito minutos, Pröpper quase marcou pela segunda vez, mas chutou por cima.

Pior: aos poucos, o Vitesse começou a chegar mais perto da área de defesa. Não criou muito: o único momento de mais perigo foi um chute de Milot Rashica, aos 18 minutos, bloqueado pela defesa. Ainda assim, convinha resolver logo o jogo - até porque as chances para tanto continuavam sendo desperdiçadas: aos 21, Van Ginkel recebeu ótimo passe de Arias e saiu na cara do goleiro Eloy Room, que fez ótima defesa. De quebra, o ataque do PSV tinha desacelerado: as jogadas só saíam pela direita, com Luciano Narsingh. Assim, aos 24 minutos, Phillip Cocu fez a primeira alteração, tirando Jurgen Locadia (atuação discreta) para colocar em campo Maxime Lestienne.

E bastou a primeira jogada do belga em campo para vir o gol que tranquilizou o PSV: aos 26 minutos, Lestienne recebeu passe pela esquerda, dominou a bola e entrou na área já sendo empurrado por Kevin Diks. O atacante caiu, o pênalti claro foi marcado, e Luuk de Jong bateu com segurança para fazer seu 23º gol no Campeonato Holandês. Só então o Vitesse quase marcou, em duas boas chances: aos 31, Marvelous Nakamba arrematou da entrada da área, forçando a primeira boa defesa de Jeroen Zoet no jogo. E, no último lance da partida, aos 48, Diks quase aproveitou a bola solta por Zoet após escanteio para marcar, mas chutou para fora. E o PSV comemorou uma vitória como as que precisa, nesta reta final: ganhando sem sofrer gols. É o possível, para continuar esperando um erro do Ajax.

O De Graafschap comemora a proximidade da garantia na repescagem contra o rebaixamento; salvação temporária (ANP/Pro Shots)
Utrecht 0x2 De Graafschap (quarta-feira, 20 de abril)

Por mais que sua campanha nesta Eredivisie seja altamente promissora, o Utrecht não disfarçou: sua cabeça já está no próximo domingo, quando disputará a final da Copa da Holanda, em De Kuip (estádio fixo para a decisão da KNVB Beker), contra o Feyenoord. Prova disso foi entrar em campo poupando três titulares: o zagueiro Mark van der Maarel, o volante Bart Ramselaar e o atacante Nacer Barazite (destaque na boa atuação contra o Ajax, na rodada passada). Ainda assim, os destaques dos Utregs estavam lá: Sébastien Haller, Ruud Boymans, Andreas Ludwig etc.

O que não impediu o De Graafschap de ser mais ofensivo no primeiro tempo em Utrecht. Graças a Vincent Vermeij: já aos quatro minutos, o atacante dos Superboeren chutou de longe, mandando a bola no travessão. Aos 15, na área, Vermeij cabeceou por cima da meta defendida por Filip Bednarek. Finalmente, aos 38 minutos, veio a vantagem merecida dos visitantes: Bryan Smeets cobrou falta, o zagueiro Ted van de Pavert desviou, e Vermeij completou de cabeça para as redes.

Somente aí os Utregs passaram a atacar mais, com a entrada em campo de Ramselaar (bom na saída de bola, convertendo o 3-5-2 inicial num 4-3-3). No começo da etapa final, inclusive, Smeets tirou em cima da linha uma bola cabeceada por Ramon Leeuwin. Depois, Ludwig cobrou falta, e a bola passou perto. Enquanto isso, o De Graafschap segurava-se na defesa, contando com as intervenções decisivas do goleiro Hidde Jurjus. E num dos raros contra-ataques, aos 14 minutos do segundo tempo, veio o segundo gol: o lateral direito Nathaniel Will mandou a bola na cabeça de Vermeij, que marcou de novo na partida, confirmando a vitória que aumentou para quatro pontos a vantagem do clube de Doetinchem em relação ao lanterna Cambuur. Só pela proximidade de evitar o rebaixamento direto, a comemoração já foi grande.

Zwolle 2x0 NEC (quarta-feira, 20 de abril)

Se precisava da vitória para apagar as memórias da dura goleada sofrida para o AZ fora de casa, na rodada passada, o Zwolle não poderia ter atuado melhor do que fez. Diante do NEC, os Zwollenaren foram o que se chama na Holanda de "heer en meester": senhores e donos do jogo, não deram a menor chance ao adversário. Jogando de laranja (para já celebrar o Koningsdag, feriado real holandês, em 27 de abril), os "Dedos Azuis" abriram o placar com um belíssimo gol, aos 17 minutos do primeiro tempo: da esquerda, Sheraldo Becker dominou, cortou, chutou, e a bola foi no ângulo esquerdo do goleiro Brad Jones. Aos 27, Queensy Menig ampliou contando com a sorte: não só o árbitro Edwin van de Graaf deixou seguir a partida após suposta falta do Zwolle, como o chute de Menig desviou no volante Janio Bikel antes de entrar.

A apatia dos visitantes de Nijmegen era tamanha que o técnico Ernest Faber gastou duas alterações antes mesmo dos 40 minutos da etapa inicial: dois atacantes (Mihai Roman e Joey Sleegers) entraram em campo. De nada adiantou: o Zwolle seguiu superando facilmente os Nijmegenaren no segundo tempo. A grande chance do terceiro gol veio com Ouasim Bouy, que cabeceou na trave. Só aos 25 minutos o goleiro Kevin Begois (substituto do suspenso Van der Hart) precisou trabalhar. O 2 a 0 ficou até barato, e os mandantes conseguiram um recorde (cinco vitórias seguidas em casa - nunca acontecera na história do Zwolle pela Eredivisie) e ainda se fortaleceram na zona de classificação dos play-offs para a Liga Europa, ao vencerem um adversário direto e subirem à sétima posição. Com Feyenoord e Utrecht, à frente na tabela, podendo chegar à Liga Europa via título da Copa da Holanda, até o oitavo lugar passaria a servir para os Zwollenaren - e para o NEC, em 8º.

Defesa do Feyenoord sofreu um pouco com Heracles. Ficou a lição para a final da Copa da Holanda (feyenoord.nl)
Heracles Almelo 2x2 Feyenoord (quarta-feira, 20 de abril)

Também pensando bem mais na final da Copa da Holanda, o Feyenoord teve mudanças entre os titulares no jogo disputado sobre a grama sintética do Polman Stadion, em Almelo. Para começo de conversa, Dirk Kuyt foi poupado; ficou no banco, enquanto Bilal Basaçikoglu começou jogando na direita do ataque. Eric Botteghin também deu seu lugar no time, para Terence Kongolo recuperar algum ritmo de jogo após voltar de lesão. E por fim, Karim El Ahmadi abriu espaço para Marko Vejinovic, no meio-campo.

A princípio, até parecia dar certo, já que a primeira chance de gol na partida foi dos Feyenoorders: aos seis minutos, Miquel Nelom cruzou da esquerda e Jens Toornstra escorou, para defesa segura de Bram Castro. Desde então, o Heracles é que tomou conta do jogo: um bom dia de Iliass Bel Hassani na criação de jogadas, com bons lançamentos, possibilitou aos atacantes trazerem perigo constante. Assim saiu o gol dos Heraclieden, aos 12 minutos: Bel Hassani lançou a bola ainda do campo de defesa, Jaroslav Navratil ajeitou e passou a Robin Gosens, que vinha pela esquerda, entrou na grande área e chutou por baixo do guarda-metas Kenneth Vermeer para abrir o placar.

E por boa parte da etapa inicial, o Stadionclub seguiu estéril no ataque, concentrando excessivamente as ações na direita. O perigo vinha em ações individuais - como aos 29 minutos, quando Toornstra chutou de fora da área, para Castro espalmar a bola pela linha de fundo. Na primeira jogada pela esquerda em muito tempo, veio o empate: aos 39, Eljero Elia fez jogada individual, passou pela marcação e cruzou para Michiel Kramer chutar e marcar seu 14º gol na Eredivisie 2015/16. Aí o Feyenoord se animou, e até poderia ter virado aos 41, em chute de Sven van Beek, novamente espalmado por Castro. Só que a defesa do Feyenoord ainda sofreria um bocado com o ataque fisicamente forte dos Almelöers. Que voltariam à frente logo aos cinco minutos do segundo tempo: Peter van Ooijen (que acabara de entrar no lugar de Bel Hassani) cobrou escanteio, e Wout Weghorst cabeceou para marcar pela 12ª vez no campeonato, fazendo 2 a 1.

Todavia, aos oito minutos, quase veio o rápido empate: Mike te Wierik acossou Kramer, que caiu na área, fazendo o juiz Danny Makkelie marcar seu segundo pênalti polêmico seguido nas rodadas recentes. Mas Vejinovic bateu e Castro defendeu no canto direito. Restou ao Feyenoord fortalecer a pressão, com a entrada de Kuyt. E o segundo gol veio, enfim, aos 28 minutos: Van Beek lançou da defesa, o lateral direito Wout Droste falhou ao tentar recuar, e Elia passou à frente para chutar e fazer o 2 a 2. Um empate que manteve o Feyenoord na terceira posição - mas mostrou falhas defensivas que precisam de correção antes da final da Copa da Holanda, no próximo domingo.

Excelsior 0x2 Twente (quarta-feira, 20 de abril)

Jogar fora de casa nem era o maior problema do Twente. Difícil mesmo era ter como desfalques somente os dois destaques do clube na armação de jogadas: o chileno Felipe Gutiérrez (lesionado) e, acima de tudo, Hakim Ziyech (suspenso). Assim, não impressiona que os primeiros 45 minutos no estádio Woudestein, em Roterdã, tenham sido tão desanimados. Foram apenas duas chances de gol, uma para cada equipe. Para o Excelsior, Kevin Vermeulen quase marcou, ao receber passe em profundidade e ficar livre diante do goleiro, mas seu domínio foi mal feito, e a bola ficou com o arqueiro do Twente, Nick Marsman. A chance do Twente foi ainda maior: aos 36 minutos, o zagueiro Jürgen Mattheij derrubou Jerson Cabral na área. Pênalti apitado, e Cabral cobrou, na ausência do batedor oficial, Ziyech. Bateu no canto esquerdo, e o goleiro Tom Muyters salvou o Excelsior, defendendo a cobrança.

No segundo tempo, mesmo com as entradas de Torgeir Borven e Chinedu Ede no ataque, os visitantes de Enschede sofriam com a falta de poder criativo no meio-campo. Aí, o destino facilitou mais as coisas: aos 37 minutos, após derrubar Cabral, Mattheij levou o segundo cartão amarelo e foi expulso. Bastaram três minutos, e os Tukkers enfim conseguiram o gol, num arremate do próprio Cabral. Finalmente, no último minuto do tempo regulamentar, Stefan Thesker cruzou a bola da esquerda, e Zakaria El Azzouzi cabeceou para fazer 2 a 0, firmando o Twente na 13ª posição - e aprofundando o temor da Nacompetitie contra o rebaixamento para os Kralingers, derrotados novamente.

Heerenveen 0x2 Ajax (quarta-feira, 20 de abril)

Quem tem (sistema defensivo irregular), tem medo. Não foi à toa que Frank de Boer decidiu preparar melhor a marcação do Ajax, ainda que o Heerenveen esteja absolutamente inconstante nesta temporada. Riechedly Bazoer ficou no banco, dando lugar no meio-campo ao marcador incansável que é o sul-africano Thulani Serero. Não convinha dar chance nenhuma ao azar contra o time da Frísia: além de jogar em casa, ele conta com um trio de ataque rápido pelas pontas (com os suecos Arber Zeneli e Sam Larsson) e as confiáveis finalizações de Mitchell te Vrede. Com o PSV nos calcanhares, vencer era obrigatório para os visitantes de Amsterdã.

E mesmo que o jogo no estádio Abe Lenstra tenha começado truncado, os primeiros lances de ataque confirmaram as expectativas. Sam Larsson era constantemente perigoso, e criou jogada aos 18 minutos, cruzando da direita para Te Vrede cabecear e exigir ótima defesa de Jasper Cillessen. Só aí o Ajax, ainda parado no ataque, começou a aparecer, graças a Davy Klaassen. O camisa 10 não só criava as jogadas, mas também aparecia para concluir algumas delas - como aos 21 minutos, quando escorou cruzamento de Mitchell Dijks (opção ofensiva cada vez melhor) para o goleiro do Heerenveen, Erwin Mulder, agarrar. Ainda faltava a outra opção segura do Ajax no ataque: Arkadiusz Milik. E "Arek" começou a dar o ar de sua graça aos 34, quando desviou fracamente cruzamento de Serero, mandando a bola rente à trave ainda assim.

Após o 0 a 0 dos primeiros 45 minutos, os Ajacieden sabiam: precisavam continuar no ataque contra um Heerenveen de defesa e meio-campo compactados, e precisavam de mais rapidez (tanto que Anwar El Ghazi entrou após o intervalo, no lugar de Lasse Schöne). Aos 10, quase deu: Amin Younes cruzou e Milik quase fez. Finalmente, aos 12, a sorte apareceu de novo por um pênalti: Dijks mandou da esquerda, a bola bateu na mão de Kenny Otigba dentro da área, e Serdar Gözübüyük apontou a marca da cal. Duvidoso, até polêmico, mas dependente dos critérios do árbitro do que o penal inexistente contra o Utrecht. Milik, então, repetiu a dose do domingo passado: cobrou e converteu. 12º gol do polonês nos últimos nove jogos do Ajax, seu 20º nesta Eredivisie.

E tudo ficou à feição para os Godenzonen resolverem o jogo. O Heerenveen foi ao ataque tentando empatar, e abriu espaço para os contragolpes. Não demorou muito e, aos 19, Dijks alçou a bola na área da esquerda, não houve mão no caminho, e Milik completou para o gol, deixando sua marca pela 21ª vez no campeonato. E não haveria mais como impedir a vitória fora de casa, contra um adversário sempre traiçoeiro. Vitória que levou o Ajax de volta à liderança, empatado em pontos com o PSV (78), mas com maior saldo de gols (56 contra 50). A não ser por uma goleada dos de Eindhoven nas duas últimas rodadas, o título holandês está muito perto de voltar à Amsterdam Arena. O time comemorou, e Frank de Boer reconheceu que está perto: "Não falo em porcentagem de chances, mas não acho que vamos deixar escapar".

ADO Den Haag 1x2 AZ (quinta-feira, 21 de abril)

Num primeiro tempo sem muita animação, o AZ, geralmente ofensivo, foi discreto. A ponto de só ter aberto o placar num contragolpe: após atacar pela esquerda, o meio-campista Aaron Meijers demorou para voltar. E deixou livre o espaço para Dabney dos Santos vir, driblar o zagueiro Tom Beugelsdijk e chutar para fazer 1 a 0, aos 21 minutos do primeiro tempo. Pelo menos, Beugelsdijk corrigiu o erro da melhor maneira possível: empatou o jogo aos 32, completando falta de Édouard Duplan com um cabeceio para as redes. Então, o Den Haag melhorou no jogo, e até poderia ter virado aos 37: uma testada forte de Timothy Derijck foi bem defendida pelo arqueiro dos visitantes, Sergio Rochet.

A pressão seguiu na etapa complementar: aos nove minutos, Joris van Overeem evitou a virada dos mandantes de Haia, ao tirar em cima da linha bola vinda de um cabeceio de Danny Bakker. Até que outro contragolpe, aos 20, recolocou os Alkmaarders na frente: Ben Rienstra fez passe em profundidade, Markus Henriksen escapou da linha de impedimento e ficou livre para tocar no canto esquerdo do goleiro Martin Hansen, fazendo 2 a 1. Mantendo o triunfo, o AZ segue até com remotas esperanças de chegar à terceira posição e garantir vaga direta na Liga Europa: em quarto lugar, está a quatro pontos do Feyenoord. Para o ADO Den Haag, as esperanças remotas são para os play-offs pela LE: o time auriverde está a cinco pontos do NEC.

Cambuur 1x1 Willem II (quinta-feira, 21 de abril)

Dizem que desgraças nunca vêm sozinhas. Pois bem, o Cambuur viveu isso no jogo contra o Willem II. Já com a dificílima tarefa de sair da última posição e evitar o rebaixamento (eram cinco pontos de distância para o De Graafschap quando a partida começou em Leeuwarden), o time auriazul começou com tudo no ataque. Já aos seis minutos do primeiro tempo, uma chance, em chute de Kevin van Veen que o goleiro Kostas Lamprou defendeu. Todavia, aos oito, o primeiro revés: o zagueiro Martijn van der Laan teve de sair, com dores no joelho, substituído por Calvin MacIntosch.

As chances continuavam: aos 15 minutos, Vytautas "Vytas" Andriuskevicius teve o gol vazio após falhas de Lamprou e do lateral esquerdo Guus Joppen, mas chutou para fora. Finalmente, aos 24, veio o gol merecido: Jack Byrne cruzou, e Jamiro Monteiro Alvarenga cabeceou para fazer 1 a 0. O azar dava uma trégua aos Leeuwarders. Para recrudescer pouco depois. Primeiro, aos 27, Jordens Peters empatou para o Willem II, chutando a bola após escanteio; depois, aos 36, machucado, o atacante Jergé Hoefdraad deu lugar a Sander van de Streek; mais três minutos, e Kevin van Veen foi o lesionado, saindo para Xander Houtkoop. O Cambuur usara as três alterações antes do fim do primeiro tempo - não acontecia no Campeonato Holandês desde 2001!

Pior: no segundo tempo, nem mesmo a pressão do Cambuur era problemática para a defesa dos visitantes tricolores. Somente aos 30 minutos veio um lance digno de menção, num chute de Byrne que Lamprou defendeu. Depois, Van de Streek exigiu boa defesa do goleiro dos Tilburgers. E aos 44, Lamprou quase falhou, mas conseguiu defender novo arremate de Byrne. E ficou no placar o 1 a 1, que fez o Willem II ganhar um ponto após seis derrotas seguidas, saindo da zona de repescagem/rebaixamento. E que deixou a desvantagem do Cambuur para o De Graafschap em quatro pontos. Dificilmente o clube de Leeuwarden escapará da última posição e da queda direta - até porque o adversário da 33ª rodada é "só" o PSV...

terça-feira, 19 de abril de 2016

PFF: como funcionam os play-offs de acesso e descenso no futebol holandês?

Robert Molenaar, técnico do campeão de período Volendam, pensa numa maneira de entender a Nacompetitie pelo acesso (fcvolendam.nl)

Como prometido, o Espreme a Laranja fará uma apresentação do regulamento da temida Nacompetitie, nome dado aos play-offs de acesso e descenso entre a Eredivisie (primeira divisão) e a Eerste Divisie (segunda divisão). Só que um texto regular talvez aumentasse o nó ainda maior na cabeça do estimado leitor. Sendo assim, o blogueiro/faz-tudo decidiu explicar com perguntas e respostas.

Não foi por causa da preguiça?

Pode até ser. Mas representa uns 2%. Senão, não estaria escrevendo às 22h40 de uma segunda-feira.

E por que PFF?

Sigla para "perguntas frequentemente feitas". Tradução apropriada ao anglófono "FAQ", não acha?

Então, como começa a explicação?

Primeiramente, bom lembrar: o campeão da Jupiler League garante o acesso à Eredivisie, e o último colocado da primeira divisão é rebaixado diretamente.

Duas coisas. 1) O que é Jupiler League?

É o "nome fantasia" da Eerste Divisie. "Jupiler League" é por causa da Jupiler, cervejaria holandesa que patrocina o campeonato.

2) "Sério" que o campeão da segunda divisão sobe direto e o último da primeira divisão cai direto? Não sabia!

Não exagere na ironia. Isso é muito desagradável.

E você, não exagere nos melindres e "mimimis". 

Tudo bem. Começarei a explicar o sistema de disputa dos play-offs. Bom lembrar que não podem subir à divisão de elite nem Jong Ajax ou Jong PSV (times de aspirantes desses clubes), nem Achilles '29 (é clube amador).

(Soa o "Coro de Aleluia", de Haendel)

Sendo assim, os play-offs são compostos por dez times participantes: 16º (antepenúltimo) e 17º (penúltimo) colocados da Eredivisie, mais os quatro "campeões de período" e os quatro melhores colocados da segunda divisão que não são campeões de período.

E o que diabos é "campeão de período"?

Bem, a Eerste Divisie tem 38 rodadas. Dessas rodadas, 36 são divididas em quatro períodos, com nove jogos cada um. Quem pontuar mais em cada período vira o "periodekampioenen" (em holandês, "campeão de período"), e garante lugar nos play-offs.

E se um "campeão de período" for o campeão da segunda divisão?

Aí, depende de quantos períodos o campeão ganhou na temporada. Se ele ganhou mais de um, o período seguinte terá como campeão o segundo colocado dentro dele.

Mas o campeão da segunda divisão fica com o primeiro título de "campeão de período" que conquistou?

Sim.

E quem vai para a Nacompetitie é o segundo colocado do período que ele ganhou, certo?

Errado. Aí, entra outro melhor colocado a não ter sido campeão de período.

Absurdo! Só dificultam...

Sim, dificultam. Mas continuemos. Fora os campeões de período, entram os melhores colocados a não terem ganho período na segunda divisão. Aí, quatro times vão para a primeira fase dos play-offs: os quatro piores colocados na temporada regular da Eerste Divisie, sejam "periodekampioenen" ou não.

Quer dizer que, hipoteticamente, um time pode ganhar o primeiro período e ficar nas últimas posições da tabela pelo restante do campeonato, que disputará a vaga na primeira divisão?

Sim. Reconheço que é absurdo. Pelo menos até esta temporada, não há rebaixamento da segunda divisão para a terceira no futebol holandês. Mas se você lê o Espreme a Laranja, sabe que isso mudará a partir de 2016/17.

Ah, eu leio às vezes - bem às vezes, quase nunca, para ser sincero. Vê lá se eu vou ler sobre futebol holandês?! 

Conhecimento nunca é demais, seja sobre o que for.

Bem, continue.

Na primeira fase, aqueles quatro piores colocados jogam: duas chaves de dois, ida e volta, com gol fora de casa, disputa de pênaltis em caso de empate e todos os critérios conhecidos. E os vencedores vão para a segunda fase.

E como é a segunda fase?

Oito times: os dois classificados, mais os quatro times melhor colocados na tabela regular da Eerste Divisie (lembre-se, "campeões de período" ou não), mais os dois vindos da Eredivisie (16º e 17º colocados, rememoro). Quatro chaves de dois, jogos de ida e volta, os critérios todos... e os quatro vencedores, enfim, decidem as vagas na Eredivisie/Eerste Divisie.

(Novamente, soa "Coro de Aleluia", de Haendel)

Aí fica fácil: duas chaves de dois, ida e volta. Quem ganhar, sobe (caso esteja na segunda divisão) ou fica na Eredivisie. Quem perder, é rebaixado (ou fica na Eerste Divisie). Entendeu?

Acho que entendi. Só me diz quem já está garantido nos play-offs, nesta temporada, por favor. Sim, eu sei que o Sparta Rotterdam já garantiu o acesso, como campeão da Jupiler Divisie... ops, Eerste League... ops, Eerste Divisie!

Perfeitamente. As posições na tabela podem mudar (estamos na 37ª rodada), mas estão lá:

Como "campeões de período"
Volendam (campeão do primeiro período - 1ª a 9ª rodada)
FC Eindhoven (vice-campeão do terceiro período - 19ª a 27ª rodada -, entrou porque o Sparta Rotterdam ganhou o terceiro período, sendo que já ganhara o segundo)
Almere City (campeão do quarto período - 28ª a 36ª rodada)

Como melhores colocados
VVV-Venlo (2º colocado da temporada regular)
NAC Breda (3º colocado da temporada regular)
Go Ahead Eagles (5º colocado da temporada regular - o FC Eindhoven está em 4º lugar)
FC Emmen (6º colocado da temporada regular)
MVV Maastricht (8ª colocado da temporada regular - o Volendam está em 7º)

Pela Eredivisie, você sabe, ainda está indefinido. No momento, Willem II (16º lugar) e De Graafschap (17º) estariam na Nacompetitie. Entendeu?

Isso só o leitor poderá dizer...

domingo, 17 de abril de 2016

810 minuten: como foi a 31ª rodada da Eredivisie

O lance decisivo da rodada: Milik caiu, Danny Makkelie deu pênalti inexistente, e o Ajax manteve a ponta (ANP/Pro Shots)

Twente 1x1 De Graafschap (sexta-feira, 15 de abril)

Mesmo após chuva torrencial cair sobre a cidade de Doetinchem, o campo do estádio De Vijverberg ainda estava praticável o suficiente para o juiz Allard Lindhout autorizar o começo do jogo. E nele, o Twente foi melhor durante boa parte dos 90 minutos. Bem, pelo menos os Tukkers tiveram mais chances de gol. E aproveitaram uma delas, aos 32 minutos do primeiro tempo: o lateral direito Hidde ter Avest deixou a bola com Jerson Cabral, e o atacante arriscou de longe, mandando a bola para as redes com um chute colocado. Depois, o polonês Oskar Zawada quase ampliou, mas chegou atrasado no cruzamento de Robbert Schilder.

No segundo tempo, embora Youssef El Jebli tenha tido boa chance (ao finalizar para fora, o ponta-de-lança foi criticado por Vincent Vermeij, que estava livre), as chances do De Graafschap vencer tiveram duro golpe aos 15 minutos, quando o lateral esquerdo Jeroen Tesselaar foi expulso por duríssima entrada em Hakim Ziyech. Ainda assim, os Superboeren foram à frente, com mais dois atacantes em campo: Dean Koolhof e Piotr Parzyszek, vindos da reserva. Coube a um deles o gol do empate: aos 41 minutos, Parzyszek chutou baixo, no canto do arqueiro Nick Marsman. E o 1 a 1 deu ponto valioso ao De Graafschap na disputa contra o rebaixamento direto: na penúltima posição, o time conseguiu separar sua pontuação da do lanterna Cambuur.

Vitesse 1x1 Heracles (sábado, 16 de abril)

Embora tenha deixado até um "gosto de vitória", por ter vindo nos acréscimos, nem o empate com o ADO Den Haag afastava a dura realidade que o Vitesse vive neste ano: nos sete jogos em casa, apenas uma vitória - e nos três mais recentes atuando no Gelredome, só um ponto, justamente contra o Den Haag. Era necessário vencer, até porque o Heracles é adversário direto na zona dos play-offs por vaga na Liga Europa. Só que nenhuma das duas equipes mostrou talento suficiente para vencer no primeiro tempo, que mal teve chances de gol.

Na etapa complementar, o Vites foi atrás, e conseguiu rapidamente sua recompensa. Aos três minutos, o lateral esquerdo Kosuke Ota cruzou, e Milot Rashica estava livre na área para dominar, chutar e abrir o placar para os aurinegros. As chances começaram a surgir, e na maior delas, o time anfitrião quase definiu o jogo (aos 34, Valeri Qazaishvili mandou a bola para fora, de voleio). Um minuto depois, veio a razão para arrependimento: o volante Sheran Yeini pôs a mão na bola, e o árbitro marcou o pênalti, que Wout Weghorst bateu para decretar o 1 a 1. Outro empate em casa para o Vitesse. E desta vez, quem saiu comemorando foram os Heraclieden. Ambos seguem na zona dos play-offs, mas o Vitesse só não saiu dela pela dura derrota do Zwolle.

Janssen bate o pênalti: já era seu terceiro gol na goleada do AZ. E ele faria mais um (Ed van de Pol/ANP/Pro Shots)

AZ 5x1 Zwolle (sábado, 16 de abril)

O AZ precisava vencer, para melhorar sua posição na zona dos play-offs por Liga Europa (até porque Vitesse e Heracles se enfrentariam, tirando pontos um do outro, e o Utrecht enfrentaria o líder Ajax). Além do mais, não vencia em casa havia quatro jogos, e os 4 a 2 sofridos do Heerenveen na rodada passada ainda latejavam. Nada melhor para solucionar tudo isso do que uma goleada brilhante. Foi o que aconteceu em Alkmaar: o time alvirrubro viveu ótimo dia no ataque. Mais do que isso: seu melhor jogador na temporada mostrou mais uma vez porque é a nova coqueluche do futebol holandês. E Vincent Janssen começou a fazer isso aos 20 minutos do primeiro tempo: o lateral Bart Schenkeveld cometeu pênalti em Dabney dos Santos, e Janssen marcou seu 22º gol na temporada ao converter a cobrança. Era justo, pelo ótimo e ofensivo começo de partida do time da casa.

Aos 25, um lance de sorte mostrou que o dia do camisa 18 seria ótimo. Após chute, o goleiro dos Zwollenaren, Mickey van der Hart, soltou a bola nos pés de Janssen: 2 a 0, obviamente. Pior: no mesmo momento, Schenkeveld se lesionara no Zwolle, dando lugar ao meia-direita Kingsley Ehizibue. Depois do intervalo, Sheraldo Becker entrou em campo para fortalecer o ataque dos "Dedos Azuis". E uma das mudanças deu resultado: no segundo tempo, aos 18 minutos, Ouasim Bouy cruzou, e Ehizibue testou a bola para as redes, diminuindo a vantagem do AZ. Todavia, no minuto seguinte, o mais bonito gol do jogo acabou de vez com as esperanças dos visitantes: Janssen recebeu a bola e passou-a de calcanhar a Dabney dos Santos, que bateu colocado para fazer 3 a 1.

Com dois gols e um passe para outro, Vincent Janssen precisava fazer mais? Precisava. Aos 24 minutos, Alireza Jahanbakhsh foi derrubado na área por Van der Hart: pênalti, e cartão vermelho para o arqueiro do Zwolle. Com as três alterações já feitas pelo técnico Ron Jans ali, restou ao atacante Lars Veldwijk vestir as luvas, a camisa e ir para debaixo das traves. Ele até acertou o canto na cobrança, mas Janssen fez 4 a 1. E faria o quinto, aos 38 minutos, completando sua consagração: abriu três gols de vantagem sobre Luuk de Jong no topo da lista de goleadores, e tornou-se o primeiro jogador do AZ a fazer 25 gols numa temporada desde 1982/83 (então, Kees Kist fez 29). Com toda a justiça, um dos destaques deste Campeonato Holandês descreveu sua fase assim: "Nunca tinha me acontecido. Eu só conseguira marcar três gols, duas vezes, antes. Isso é mais bonito ainda". O AZ só agradece.

Feyenoord 1x1 Groningen (sábado, 16 de abril)

Há algumas temporadas, o atacante Michael de Leeuw se destaca no Groningen. Nada muito notável, mas é o suficiente para torná-lo um dos protagonistas do time do norte holandês. Pois bem: num ano em que vive alternância excessiva entre o banco e o time titular, De Leeuw anunciou nesta semana que deixará o clube ao fim de 2015/16, quando seu contrato termina. Curiosamente, ele foi o protagonista inesperado na etapa inicial do jogo em De Kuip: num início apático do Feyenoord, o Groningen aproveitou para tentar mais o ataque. E teve êxito aos 29 minutos: Oussama Idrissi superou o zagueiro Sven van Beek na corrida, e cruzou para De Leeuw cabecear a bola nas redes defendidas por Kenneth Vermeer.

No segundo tempo, os visitantes até poderiam ter ampliado. Tiveram muitas chances para isso, no começo. Idrissi poderia marcar, mas chutou para fora; e também perderam suas oportunidades Alexander Sorloth e Jesper Drost. Só aí o Feyenoord acordou. Mal no jogo, Michiel Kramer enfim teve chance para o jogo aéreo, um de seus pontos fortes, mas cabeceou a bola nas mãos do goleiro Sergio Padt. Só com outro jogador veio o empate do Stadionclub, aos 18 minutos: Tonny Trindade de Vilhena completou cruzamento de Rick Karsdorp, da direita, e fez 1 a 1. Aí, Dirk Kuyt e Kramer voltaram a ter ótimas oportunidades para a virada, mas perderam-nas. E o empate final no placar encerrou a série de cinco vitórias seguidas, impedindo que o clube (praticamente) garantisse a terceira posição na Eredivisie.

Os gols de Luuk de Jong deram, enfim, vitória tranquila ao PSV contra o Roda JC (ANP/Pro Shots)

Roda JC 0x3 PSV (sábado, 16 de abril)

Nos últimos sete jogos entre ambas as equipes pela Eredivisie, o PSV só venceu uma partida. Além do mais, havia a lembrança do incômodo empate em um gol no jogo do turno, em Eindhoven. E o técnico Darije Kalezic escalou o Roda em termos táticos muito semelhantes aos vistos no 1 a 1 do Philips Stadion: apostando na defesa e nos contragolpes, mesmo atuando em casa. A tal ponto que Mike van Duinen e Rydell Poepon, os dois destaques ofensivos dos Koempels na temporada, foram para o banco, em detrimento de um 4-5-1, com Tomi Juric isolado na frente. Só que nenhum desses cuidados dos aurinegros adiantou. Os Boeren começaram a resolver o jogo tranquila e rapidamente. Já aos dez minutos do primeiro tempo, veio o primeiro gol dos visitantes, com uma jogada muito habitual: cruzamento de Jetro Willems, cabeceio de Luuk de Jong, rede (21º gol do atacante no campeonato). 

Nem mesmo a perda de Jorrit Hendrix - lesionado no joelho (não jogará contra o Vitesse na próxima rodada), deu lugar a Stijn Schaars aos 22 minutos - abalou o time de Eindhoven. Somente no início da etapa final o Roda JC ousou tentar o empate com mais perigo, numa cabeçada de Juric, aos oito minutos. Bastou o alerta para vir o segundo gol dos PSV'ers: outro cruzamento (de Luciano Narsingh), outro cabeceio de Luuk de Jong, outro gol para o atacante na liga, aos 13 minutos. Maecky Ngombo e Poepon até foram colocados no jogo para fortalecer o ataque do anfitrião, mas foi Davy Pröpper quem marcou: aos 36, o meio-campista fez 3 a 0, com um chute colocado, que assegurou de vez uma tranquila vitória do PSV. Tarefa cumprida: os Eindhovenaren seguem fazendo sua parte para tentar voltar à frente da tabela.

O Utrecht reclamou com justiça, mas não adiantou: Milik empatou o jogo e salvou o Ajax num pênalti inexistente (Gerrit van Keulen/VI Images)

Ajax 2x2 Utrecht (domingo, 17 de abril)

Não seria um jogo fácil para o Ajax: com o tropeço do Feyenoord, o Utrecht tinha possibilidade de reduzir a desvantagem para o terceiro colocado a quatro pontos. De quebra, convinha lembrar: os Utregs haviam ganho do líder da Eredivisie no turno (1 a 0, em Utrecht). Assim, todo cuidado era pouco. Mas toda pressão era necessária. E os Ajacieden tentaram o gol desde o primeiro minuto. Quase o conseguiram, aos 16 minutos da etapa inicial: Amin Younes aproveitou chute desviado de Davy Klaassen, na grande área, e tocou para as redes, mas o tento foi anulado, por impedimento (correto) do alemão. No minuto seguinte, em córner, a bola foi para Anwar El Ghazi. Mas o atacante, novamente titular, cabeceou para fora.

No restante do primeiro tempo, os Ajacieden enfraqueceram um pouco o ritmo ofensivo. Todavia, após algumas rodadas, a defesa do time anfitrião estava fragilizada em campo. E o Utrecht teve paciência para esperar os espaços aparecerem. Eles já vieram no fim dos primeiros 45 minutos: aos 44, Nacer Barazite quase marcou, desviando cruzamento para Andreas Ludwig, mas tocou para fora. Porém, no começo do segundo tempo, com o Ajax acelerando novamente o seu ritmo em busca da vitória, os buracos reapareceram. E o time visitante foi preciso para aproveitá-los desta vez: aos 10 minutos, Davy Klaassen errou um passe para trás, no meio. Sébastien Haller dominou e deixou a bola com Ludwig. Este cruzou de longe, da esquerda, e Barazite apareceu livre na frente de Jasper Cillessen para escorar e fazer 1 a 0.

Desde então, o Ajax passou a buscar o empate, até desesperadamente. Quase o alcançou aos 18 minutos, quando Arkadiusz "Arek" Milik completou cruzamento de Younes, só que o cabeceio do atacante polonês foi em cima do goleiro Filip Bednarek. No banco, Frank de Boer decidiu aumentar ainda mais o ritmo do time: colocou em campo não só o recuperado Kenny Tete, em lugar de Riechedly Bazoer, mas também o tcheco Vaclav Cerny, no lugar de Younes (inapetente no segundo tempo). E aos 28, Cerny quase alcançou o empate: seu chute bateu na trave de Bednarek. Só que a defesa dos Amsterdammers seguia dando espaços. E, livre, aos 39 minutos, Patrick Joosten - substituto de Barazite - arriscou chute de longe, mandando a bola no ângulo de Cillessen. Parecia a vitória merecida do Utrecht, que seria o único time da temporada a ter vencido o Ajax em turno e returno. Parecia o retorno definitivo do PSV à liderança do Campeonato Holandês. Mas só parecia.

Primeiro, porque, aos 41, Klaassen recebeu a bola do zagueiro Mike van der Hoorn, e chutou colocado, da entrada da área, para diminuir a vantagem dos visitantes. Se o "abafa" do time mandante já era massivo, a pressão nos minutos finais ficou quase irrespirável. E aos 44 minutos, o juiz Danny Makkelie deu o que o Ajax buscava: Milik entrou na área, caiu facilmente após ser acossado pelo volante Willem Janssen, e Makkelie deu pênalti. Pênalti inexistente até para Frank de Boer ("Eu não daria, se eu fosse o árbitro", comentou à FOX Sports holandesa), e erro reconhecido pelo juiz após o jogo, ao ver as imagens: "Se eu visse as imagens, não daria o pênalti. As imagens não mentem". Claro, o Utrecht reclama até agora: o técnico Erik ten Hag foi hiperbólico ("Eu vi rápido o lance, depois: e nunca que aquilo ali foi pênalti, todo mundo viu"), e Barazite foi duro nas palavras ("Acho que o Ajax estava com 12 homens em campo").

Ainda assim, Milik bateu e fez o 2 a 2 que devolveu o Ajax à liderança da Eredivisie - mas agora empatado em pontos com o PSV (75), tendo a primeira posição apenas pelo maior saldo de gols (54 a 48). O que configura um final eletrizante de campeonato, nas próximas três rodadas. Ao Utrecht, mesmo com o amargor de perder a vitória por falha de arbitragem, ficam boas perspectivas para a final da Copa da Holanda, contra o Feyenoord, no próximo domingo.

NEC 2x1 Cambuur (domingo, 17 de abril)

Com a derrota do Zwolle e o empate do Vitesse, o NEC estava com a faca e o queijo na mão para voltar à zona dos play-offs por vaga na Liga Europa. Diante da irregularidade que vive o time de Nijmegen neste returno, cabia algum temor. E ele até foi justificado, no primeiro tempo: as chances de gol mais perigosas vieram do lanterna Cambuur, com destaque ao chute para fora de Jergé Hoefdraad, aos 32 minutos.

Somente no segundo tempo veio o alívio para o time da casa. Aos nove minutos, Navarone Foor dominou a bola vinda de sobra de jogada e cruzou para Christian Santos: este desviou, após perder a chance anterior, e fez 1 a 0, em seu 16º gol no campeonato. Aos 24, Mihai Roman (que saíra do banco, substituindo o volante Janio Bikel) bateu de longe e ampliou, mandando a bola no ângulo oposto ao do goleiro do Cambuur, Leonard Nienhuis. Aos 31, Hoefdraad até aproveitou falha da defesa dos mandantes para diminuir a vantagem. Mas o NEC, enfim, conseguiu a vitória que precisava, voltando à zona dos play-offs e mantendo os Leeuwarders na última posição.

Willem II 0x2 ADO Den Haag (domingo, 17 de abril)

Se alguém tinha motivação real para a partida na cidade de Tilburg, era o Willem II: afinal, com a derrota do Cambuur e o empate do De Graafschap, um triunfo daria respiro mais do que providencial aos Tilburgers na fuga da zona de repescagem/rebaixamento. Só que o ADO Den Haag, já seguro no meio da tabela, sem muita coisa a buscar neste campeonato, não deu aos mandantes a menor chance de aspirarem a um bom resultado. Aos 19 minutos, Mike Havenaar fez valer novamente seu papel preponderante no ataque: cabeceou para as redes a bola cruzada por Ruben Schaken, fazendo 1 a 0.

Atrás no placar, os Tricolores ainda tentaram o empate - com Erik Falkenburg tendo chegado mais perto, aos sete minutos do segundo tempo, chutando para fora. Mas a eficiência do Den Haag definiu a vitória pouco depois, valendo-se de uma infelicidade da defesa adversária: aos 14, Édouard Duplan cruzou para a área, e o zagueiro Frank van der Struijk desviou acidentalmente para as redes, cometendo o gol contra que tranquilizou de vez os visitantes de Haia.

Excelsior 1x1 Heerenveen (domingo, 17 de abril)

O jogo em Roterdã passou em brancas nuvens: nenhuma das duas equipes mostrou um estilo de jogo que agradasse a torcida. A bem da verdade, somente num espaço de quatro minutos, no primeiro tempo, houve alguma animação na partida. Ele começou aos 37 minutos: após receber a bola, Brandley Kuwas chutou de fora da área, de perna esquerda, no canto oposto ao do goleiro Erwin Mulder. Era o 1 a 0 para o Excelsior, que poderia valer muito: uma vitória, e os Kralingers abririam distância para o derrotado Willem II na zona de repescagem/rebaixamento.

Durou pouco a esperança dos mandantes. Porque, aos 41 minutos, Sam Larsson respondeu na mesma moeda: o atacante arriscou o arremate de longa distância, e fez 1 a 1 de modo até mais bonito, mandando a bola no ângulo esquerdo defendido por Tom Muyters e marcando para o Heerenveen. E foi só. No segundo tempo, já no final (40 minutos), Mitchell te Vrede quase marcou, mas desviou a bola em cima do goleiro Muyters. E ficou no placar o empate justo, que nem mudou muito a vida do Heerenveen, nem aliviou a situação do Excelsior, apenas um ponto acima da zona de perigo.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

A pirâmide se reorganiza

O Sparta Rotterdam não precisa mais se preocupar com as mudanças na Eerste Divisie: está de volta à elite (Pieter Stam de Jonge/VI Images)

Sabe-se que a Eerste Divisie, a segunda divisão holandesa, é um campeonato meio estranho, até confuso. Afinal de contas, é o último estágio do profissionalismo no futebol do país – as divisões restantes são todas amadoras. Sem contar todos os cenários bizarros, já levemente presentes na primeira divisão: uma goleada extravagante aqui, um time fraquíssimo ali, um goleador em fase abençoada acolá... ah, e ainda há os famigerados play-offs pelo acesso ao final da temporada, com os tais “campeões de período” - em breve, você lerá sobre isto aqui no Espreme a Laranja.

Pelo menos, a edição 2015/16 da Eerste Divisie já está com sua definição relativamente adiantada. Nesta semana, o Sparta Rotterdam garantiu o título (e a volta à Eredivisie, após seis anos de ausência), com uma vitória por 3 a 1 sobre o Jong Ajax, o time Ajacied de aspirantes. E todos os participantes da Nacompetitie – nome dado pelos holandeses aos play-offs – já são conhecidos. O que dá mais tempo para se preparar rumo a uma substancial mudança a partir da próxima temporada.

Esta mudança reorganiza a “pirâmide” do futebol holandês de clubes. Tenta sacudir mais o nível técnico da segunda divisão, e também aumentar, ou mesmo estimular, uma profissionalização nos clubes. É a volta da Tweede Divisie, equivalente à terceira divisão, a partir de 2016/17. Existente entre 1956 e 1971, ela retornará para intermediar o caminho entre o amadorismo da Topklasse (hoje, a terceira divisão holandesa) e o (semi)profissionalismo da Eerste Divisie. 

Nesse retorno, a Tweede Divisie contará com 18 participantes: 14 promovidos da Topklasse (os sete primeiros da “conferência de sábado” e da “conferência de domingo” nas quais ela é dividida), mais quatro equipes aspirantes de clubes profissionais. Outra medida anunciada pela federação holandesa foi a obrigatoriedade de acesso e descenso entre a Eerste Divisie e a Tweede Divisie: o último colocado da segunda divisão cairá, enquanto o campeão da terceira será promovido. É algo opcional no cenário atual: o campeão da Topklasse, geralmente amador, pode optar entre subir para a segunda divisão ou ficar na terceira – afinal, os custos já aumentariam bastante em caso de opção pela promoção. E isso torna inexistente o rebaixamento da segunda para a terceira divisão.

Como se fosse um ensaio, já na temporada atual houve mudanças. Pelo menos para as equipes de aspirantes que disputam a Eerste Divisie - no caso, Jong Ajax e Jong PSV. A federação obrigou-as a jogar o torneio sob certas condições. Para cada partida na segunda divisão, ambos podem relacionar somente dois jogadores que estejam simultaneamente no elenco do time de cima; e qualquer jogador acima de 23 anos que tenha atuado por mais de dez vezes no time principal, ou que tenha atuado por dez vezes durante, no mínimo, 45 minutos pela Eredivisie na mesma temporada, estará automaticamente proibido de jogar as partidas da segunda divisão. Até justo: antes disso, até Jasper Cillessen chegara a jogar pelo Jong Ajax em alguns prélios...

Em meio a essas mudanças, a edição 2015/16 da Eerste Divisie viveu momentos complicados, antes mesmo de começar. Pela crise financeira que o aflige, o Twente desistiu de colocar no torneio sua equipe de aspirantes, o Jong Twente. Ou seja: ao invés de 20, foram 19 os participantes da segunda divisão. O que já dificultou cálculos na tabela, já que uma equipe folgava obrigatoriamente em cada rodada, e deixou várias equipes com números diferentes de jogos. 

Foi, aliás, o que possibilitou ao Sparta Rotterdam garantir o título na 35ª rodada, a quatro do final da temporada regular: a equipe tinha 32 partidas, uma a menos do que o VVV-Venlo, vice-líder com sete pontos atrás dos Rotterdammers. E seria justamente a equipe da cidade de Venlo a folgar na rodada. Bastava vencer o Jong Ajax que o título viria para os Kasteelheren (em holandês, “donos do castelo” – referência a Het Kasteel, estádio do Sparta). E venceram, no 3 a 1 citado no início desta coluna, abrindo dez pontos de vantagem a três rodadas do fim do torneio regular. A torcida não poupou na comemoração: invadiu o gramado para festejar o título.

Também houve sérias dificuldades em relação à manutenção do tradicional Fortuna Sittard, que esteve a um passo de perder sua licença profissional durante a temporada. Clube em que Mark van Bommel começou a jogar (e por que Bert van Marwijk passou como atleta e treinador), o FSC ficou sob o olhar próximo da federação, por ter uma dívida de 900 mil euros para pagar por sua licença. Pelo menos, houve a salvação: um grupo de empresários da cidade de Sittard ajudou com um pouco, os torcedores fizeram sua parte com algumas doações, e o Fortuna Sittard conseguiu pagar o débito, seguindo com a licença para atuar na segunda divisão.

Mas, claro, também há coisas boas a se olhar. Contando com os gols de Thomas Verhaar e as boas atuações de alguns jogadores ofensivos (destaque para o meio-campista Paco van Moorsel e o ponta Loris Brogno), mais a segurança oferecida pela defesa (aqui, merece menção o goleiro Roy Kortsmit), o Sparta teve um time talhado para disputar a segunda divisão. Uma boa sequência de oito vitórias seguidas foi fundamental para colocar o time na rota do título – a ponto de permitir uma derrota e três empates seguidos, sem grandes consequências, antes do triunfo decisivo contra o Jong Ajax.

De quebra, os play-offs pelo acesso prometem ser atraentes. Estão garantidas equipes tradicionais, como NAC Breda e Go Ahead Eagles, que tentarão voltar rapidamente à Eredivisie; outras, como Emmen e Almere City, nunca jogaram na elite em suas histórias. Sem contar a incerteza sobre penúltimo e antepenúltimo colocados da Eredivisie: não se sabe quem tentará a manutenção na primeira divisão, entre Willem II, Excelsior, De Graafschap e Cambuur.

Mas talvez o clube que simbolize a situação atual da segunda divisão da Holanda é o Achilles ’29, clube amador de Groesbeek: campeão da Topklasse em 2012/13, o time escolheu se profissionalizar e arriscar o acesso à segunda divisão. Não está bem atualmente: é o antepenúltimo colocado. Mas não cairia, se houvesse rebaixamento. E está profissionalizado, com maior estrutura. Pode ser o exemplo a ser seguido por quem participar da Tweede Divisie.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 15 de abril de 2016)

domingo, 10 de abril de 2016

810 minuten: como foi a 30ª rodada da Eredivisie

Ajax não foi tão superior quanto se esperava. Mas conseguiu a vitória contra Cambuur (ANP/Pro Shots)

Zwolle 3x1 Roda JC (sexta-feira, 8 de abril)

Dois momentos distintos na partida que abriu a 30ª rodada do Campeonato Holandês. No primeiro tempo, nem o retrospecto negativo (há oito jogos não vencia o Zwolle fora de casa) impediu o Roda JC de impor seu domínio. Já aos seis minutos, poderia ter aberto o placar, num chute de Rydell Poepon; depois, foi a vez de Mike van Duinen quase marcar; finalmente, aos 41 minutos, uma falta cobrada por Jordy Buijs foi mandada para escanteio, pelo goleiro Mickey van der Hart. No córner, o mesmo Buijs mandou para a área, e Marcos Gullón fez o merecido 1 a 0 para os Koempels.

Já tendo gastado uma alteração na etapa inicial, o técnico Ron Jans jogou todas as cartadas no intervalo: aumentou a velocidade no ataque, colocando em campo Stef Nijland e Sheraldo Becker e devolvendo os Zwollenaren ao 4-2-3-1 habitual, após um 4-5-1 básico ter sido o esquema tático inicial. Em quatro minutos, a aposta de Jans deu resultado: o meio-campo Ouasim Bouy lançou Queensy Menig em profundidade, e este tocou na saída do goleiro Benjamin van Leer para empatar o jogo. Depois, o próprio Bouy se afirmou como o destaque da virada dos Dedos Azuis: fez 2 a 1 (chute de longe, aos 28 minutos) e também 3 a 1 (cabeceio, aos 33). Mais do que igualar um recorde histórico do clube (quarta vitória seguida em casa, como em 1979 e 2014), o triunfo manteve o Zwolle firme na disputa por uma vaga nos play-offs da Liga Europa.

Excelsior 1x3 Heracles (sábado, 9 de abril)

Por mais que tenha sido até mais ofensivo no jogo, o Excelsior é o antepenúltimo colocado na tabela da Eredivisie. Deste modo, não foi difícil para os Heraclieden imporem a clara superioridade, em campo e nos resultados. Já aos seis minutos do primeiro tempo, uma cobrança de falta de Thomas Bruns mandou a bola na cabeça de Wout Weghorst, e o atacante fez 1 a 0 para os visitantes. E ainda no primeiro tempo, aos 37, Weghorst chegou aos 10 gols no campeonato: aproveitou passe em profundidade de Iliass Bel Hassani, e tocou na saída do guarda-metas Tom Muyters, ampliando a vantagem dos Almelöers.

Para complicar mais, um dos mais razoáveis atacantes do anfitrião (Tom van Weert) saiu de campo no intervalo, com um ferimento na cabeça. Pelo menos, no segundo tempo, o Excelsior aproveitou logo a primeira chance que teve: em apenas 14 segundos, Stanley Elbers chutou, o arqueiro Bram Castro rebateu, mas Brandley Kuwas marcou o gol dos Kralingers. Todavia, não demorou muito para os visitantes conterem o ímpeto: aos 15 minutos, Jaroslav Navrátil cruzou, e o zagueiro Ramon Zomer cabeceou, fazendo 3 a 1. Mais uma vitória do Heracles, que parecem se recuperar do baque inicial da saída de Oussama Tannane, e estão firmes na zona dos play-offs.

Cambuur 0x1 Ajax (sábado, 9 de abril)

Mesmo jogando na cidade de Leeuwarden, era de se esperar uma vitória fácil do Ajax contra o último colocado da Eredivisie. Pois não foi o que aconteceu. Nem tanto por mérito dos Leeuwarders, mas por falha dos Ajacieden: lentos e até nervosos, os jogadores criaram poucas chances de gol nos primeiros 45 minutos. A não ser por um cabeceio do zagueiro Mike van der Hoorn, aos 13 minutos (a bola passou rente ao gol defendido por Leonard Nienhuis), e por uma jogada individual de Amin Younes, aos 31 (o alemão driblou dois zagueiros, mas chutou em cima de Nienhuis), nada de emocionante aconteceu no primeiro tempo. E poderia ter sido até pior para os visitantes. 

Porque, ainda no começo do segundo tempo, o Cambuur teve ótima chance para fazer 1 a 0: aos 13 minutos, o atacante Jergé Hoefdraad se aproveitou de falha de Riechedly Bazoer, dominou a bola e chutou para boa defesa de Jasper Cillessen. Aí, o time de Amsterdã sacou: era preciso acelerar o ataque e resolver rapidamente o jogo. A entrada de Anwar El Ghazi, no lugar de Lasse Schöne (aos 9, antes mesmo da chance de Hoefdraad), ajudou nisso. E aos 16 minutos da etapa final, veio o alívio: El Ghazi cruzou da direita, e Davy Klaassen desviou de cabeça na primeira trave, fazendo o 1 a 0 necessário. Após o jogo, o capitão Klaassen reconheceu: "Estamos felizes com o resultado, mas o jogo precisa melhorar". Justo. Pelo menos, os três pontos mantiveram a liderança do campeonato.

Vitesse 2x2 ADO Den Haag (sábado, 9 de abril)

Pelo início de jogo no estádio Gelredome, em Arnhem, parecia que o Vites novamente frustraria sua torcida, com a terceira derrota seguida em casa, logo após perder o "dérbi da Géldria" para o NEC. O Den Haag dominou completamente a parte inicial do primeiro tempo, e não demorou para fazer 1 a 0: já aos sete minutos, após escanteio, o volante Sheran Yeini desviou acidentalmente ao tentar tirar a bola da área, e Mike Havenaar cabeceou para as redes. Só aí os mandantes aurinegros apertaram o passo: começaram a criar as jogadas de ataque, as chances apareceram (a maior delas, em chute de Milot Rashica) e enfim tiveram o empate: aos 35 minutos, Lewis Baker cobrou falta na cabeça de Guram Kashia, e o zagueiro georgiano (e capitão) igualou o placar.

Só que a montanha-russa de desempenhos seguiu no Vitesse. Nos 45 minutos complementares, a defesa voltou a dar calafrios, como de costume neste returno: aos 18, tentando cortar cruzamento de Aaron Meijers, o zagueiro Maikel van der Werff mandou de cabeça para as próprias redes, cometendo gol contra. E mais um revés se previa para o Vitesse. Até que Dennis Oliynyk salvou o dia: saído do banco (substituiu Van der Werff aos 35 minutos), o atacante ucraniano empatou nos acréscimos, aos 47, em chute da entrada da área. O lateral esquerdo Kosuke Ota quase virou o jogo depois, mas o resultado ficou no empate. Que nem foi tão mal para os anfitriões: bem ou mal, embora com a mesma pontuação do Zwolle, o Vitesse segue na zona dos play-offs por Liga Europa.

De Jong converte o pênalti que sacramentou a vitória; alívio em partida inesperadamente difícil do PSV (ANP/Pro Shots)

PSV 2x0 Willem II (sábado, 9 de abril)

Se o Ajax teve dificuldades para vencer o lanterna Cambuur (dificuldades causadas por si próprio, diga-se de passagem), o PSV talvez tenha suado até mais para superar o Willem II. Curiosamente, o início da partida no Philips Stadion não fazia supor isso: os Boeren tiveram boas chances para abrir o placar. A primeira delas até foi às redes, aos sete minutos: Davy Pröpper cobrou falta, e Luuk de Jong cabeceou para as redes, mas o gol foi (justamente) anulado pelo juiz Bas Nijhuis, pelo impedimento do atacante. Aos 17, outra boa chance: De Jong recebeu o passe, segurou a bola e deixou-a com Marco van Ginkel. O meio-campista entrou livre na área e chutou forte, no travessão.

Todavia, o jogo foi mudando lentamente. Com dois jogadores ofensivos nas pontas (Terell Ondaan e Lucas Andersen, que trocavam de lado), o Willem II continha os laterais dos Eindhovenaren. A pressão para cima de Santiago Arias foi até maior, a ponto do lateral colombiano levar o seu primeiro cartão amarelo, aos 16 minutos. Algumas decisões polêmicas de Bas Nijhuis também foram exasperando os jogadores do time mandante. E o perigo dos Tilburgers foi crescendo fora de casa: aos 33, um cabeceio desviou em Nicolas Isimat-Mirin (substituto do suspenso Jeffrey Bruma na zaga), forçando o goleiro Jeroen Zoet a espalmar apressadamente pela linha de fundo.

Na etapa complementar, a coisa ficou até mais tensa para o PSV. Em outra chegada atrasada, aos 11 minutos, Arias puxou o lateral Guus Joppen e levou o segundo cartão amarelo, sendo expulso de campo - enfurecido, o colombiano chegou a quebrar um vidro do vestiário com um soco (o clube o multará por isso). Mas justamente quando a zebra "desejada" pelo Ajax mais se avizinhava, aconteceu o que o técnico dos Tricolores visitantes, Jurgen Streppel, lamentou na entrevista pós-jogo: com um homem a mais, o Willem II foi desordenadamente ao ataque, e abriu espaços na defesa.

Bastou: nas bolas paradas, os Boeren chegaram à vitória. Aos 23 minutos, após escanteio, Luuk de Jong escorou para trás, e Van Ginkel completou para as redes: era o gol do desafogo PSV'er, o sexto do meio-campista em nove jogos no ano (apenas Vincent Janssen e Arkadiusz "Arek" Milik marcaram mais do que ele em 2016). Aos 34, em bola lançada para a área, o zagueiro Dries Wuytens puxou De Jong. Pênalti, que o atacante cobrou para marcar seu 21º gol no Campeonato Holandês, mantendo a disputa ferrenha pelo posto de goleador. E mantendo o PSV vivo na disputa contra o Ajax pelo título, ao final das 34 rodadas.

Heerenveen 4x2 AZ (domingo, 10 de abril)

Aparentemente, acabou a ascensão do AZ, que o levou do meio da tabela às primeiras posições sem escalas. Se a equipe de Alkmaar sofrera o empate contra o Twente nos acréscimos, há duas rodadas, o 4 a 2 do PSV na semana passada já fora mais inquestionável. E neste domingo, a vitória do Heerenveen novamente pôs a nu as fragilidades defensivas dos Alkmaarders. A primeira do dia, aliás, veio justamente daquele que é considerado o solucionador dos problemas do miolo de zaga na virada de turno: Ron Vlaar. Aos nove minutos do primeiro tempo, o zagueiro desviou acidentalmente cruzamento de Stefano Marzo, cometendo o gol contra que deixou o Heerenveen na frente. Ainda na etapa inicial, o Heerenveen teve chances até para resolver a partida de vez, mas as desperdiçou. Poderia ter custado caro. Porém, bem melhor do que os visitantes no jogo, o Fean acalmou-se com o 2 a 0 no segundo tempo, logo aos sete minutos, com o volante Joey van den Berg, voltando de suspensão. 

Dabney dos Santos até trouxe algum susto, ao diminuir a vantagem já na parte final do jogo (33 minutos). Só que o ataque do time da Frísia, em ótimo dia, voltou a acelerar e ainda fez mais dois gols: aos 39, com Arber Zeneli, e aos 44, com Luciano Slagveer (que substituíra Zeneli logo após o gol deste). Para o AZ, a única razão de alegria foi Vincent Janssen: nos acréscimos da etapa final, ele fez seu 21º gol no campeonato, igualando de novo Luuk de Jong na artilharia. De resto, frágil defensivamente nas rodadas recentes, a equipe de Alkmaar ficou mais distante da terceira posição - e foi superada por Utrecht e Heracles Almelo na tabela. Ainda está confortável, mas precisa se cuidar para manter o lugar seguro na zona dos play-offs por Liga Europa. Zona que o Heerenveen voltou a querer alcançar: mesmo em 11º, está a quatro pontos dela. E Van den Berg prometeu: "Faremos tudo para alcançar os play-offs. É necessário tê-los na mira, senão, por que jogar?".

Groningen 3x1 De Graafschap (domingo, 10 de abril)

Mesmo que perdesse o jogo - e era até o mais provável -, o De Graafschap já sabia que não cairia para a última posição: afinal, mesmo oferecendo alguma resistência, o Cambuur caíra para o Ajax. Ainda assim, um lance de sorte colocou os Superboeren na frente do placar, já no começo da partida. Aos oito minutos do primeiro tempo, um chute longo do zagueiro Jeroen Tesselaar alcançou o atacante Cas Peters. Este chutou fraco, só que o goleiro Sergio Padt deixou passar, e veio o 0 a 1. Crescia a esperança do time de Doetinchem conseguir um triunfo inesperado, que melhoraria ainda mais as perspectivas de conseguir a manutenção na divisão de elite, ainda que via play-offs. Mas Rasmus Lindgren repetiu contra os visitantes o mesmo que fizera contra o ADO Den Haag, na rodada passada: aos 37 minutos, com uma falta bem cobrada, marcou gol. E empatou o jogo.

O ritmo do jogo no estádio Euroborg caiu um pouco no segundo tempo, mas uma alteração mudou isso: a entrada do ponta Oussama Idrissi, no lugar de Jarchinio Antonia, aos 22 minutos. E Idrissi teve a sorte de estar nos dois gols que sacramentaram a virada do Groningen. Aos 31, ele cruzou, e o volante Hedwiges Maduro cabeceou: o goleiro Hidde Jurjus tentou espalmar, a bola bateu no travessão, nas costas de Jurjus, e voltou às redes. Finalmente, aos 35, o próprio Idrissi arrematou, e nova falha de Jurjus permitiu o terceiro gol, que trouxe o Groningen à 10ª posição na tabela. Ao De Graafschap, restou o lamento por não ter segurado a vantagem que lhe daria um respiro maior na fuga da lanterna (e, portanto, do rebaixamento direto).

Utrecht 3x1 NEC (domingo, 10 de abril)

Quando o grande destaque não ajuda, é hora de outros aparecerem. Foi isso que ajudou o Utrecht a vencer o NEC, neste domingo. Aliás, já ajudou desde o começo: logo aos quatro minutos do primeiro tempo, aproveitando uma sobra, o atacante Ruud Boymans foi mais rápido do que o lateral direito Todd Kane, dominou e chutou para marcar seu nono gol na temporada. Ainda assim, os visitantes de Nijmegen foram melhorando no decorrer da primeira etapa. Só não empataram antes porque o goleiro polonês Filip Bednarek (substituto do lesionado Robbin Ruiter) fizera ótimas defesas, num cabeceio de Joey Sleegers e num chute de Lucas Woudenberg. Ainda assim, aos 44 minutos, não houve jeito: Kane tabelou com o volante Gregor Breinburg, chegou pela direita e chutou para fazer o 1 a 1.

Na etapa final, os Utregs partiram em busca da vitória. Boymans continuava jogando bem no ataque, enquanto Andreas Ludwig criava as chances, mas nada de gol. Até os 22 minutos, quando o cansado Boymans deu lugar a Nacer Barazite. Mais três minutos, e o primeiro toque de Barazite na bola foi para mandá-la às redes: um cabeceio para escorar cruzamento de Ludwig, e o 2 a 1 do Vitesse. E mesmo sem merecer, pela má atuação, Sébastien Haller fez valer seu papel de goleador: de cabeça, aos 28, fez o 3 a 1 que deu ao Utrecht um avanço para a quarta posição na tabela do Campeonato Holandês. O único senão do dia foi a lesão do meio-campista Yassin Ayoub, já no fim do jogo: um minuto após entrar, vindo de lesão, substituindo Bart Ramselaar, Ayoub voltou a sentir dores, e pode desfalcar os Utregs na final da Copa da Holanda. Pelo menos, a vitória fez o Utrecht se colocar em situação até melhor que a do AZ, na zona dos play-offs por Liga Europa.

Bastou Kramer aproveitar uma chance, segurar na defesa, e o Feyenoord venceu a sexta consecutiva (ANP/Pro Shots)

Twente 0x1 Feyenoord (domingo, 10 de abril)

Twente, pobre Twente. Tão longe da zona de rebaixamento (tinha 35 pontos, dez pontos à frente do Excelsior), mas tão perto de ter de recomeçar sua história na quarta divisão, como clube amador, pelos problemas financeiros que o fizeram perder novamente três pontos, no meio desta semana, como punição da federação. Ainda assim, as atuações valorosas dos Tukkers em campo faziam crer num duelo interessante contra o Feyenoord. Que também tinha suas coisas a defender: afinal, o Stadionclub vinha de cinco vitórias seguidas, e tinha até mais time para manter a boa sequência.

A prova disso veio logo aos 13 minutos do primeiro tempo. O bom começo dos visitantes, com muita velocidade no meio-campo e nas jogadas pelas pontas, foi coroado com o gol precoce: Eljero Elia dominou pela esquerda, driblou Joachim Andersen e cruzou para Michiel Kramer. Este escorou para as redes e fez o seu 13º gol no campeonato. O Twente começou a pressionar como sempre acontece: em cobranças de falta de Hakim Ziyech. Na mais perigosa delas, aos 23, o marroquino exigiu boa defesa de Kenneth Vermeer. E a etapa inicial seguiu nessa troca de chances. Se Kramer quase fez o segundo aos 36 (cabeceou para ótima intervenção de Nick Marsman), o lateral esquerdo Hidde ter Avest quase empatou aos 43, cabeceando à queima-roupa.

No segundo tempo, a pressão era até maior do lado do Twente. E sempre com Ziyech, destacando-se em dia ruim dos atacantes. Em duas faltas, aos 22 e 24, o camisa 10 dos Tukkers fez Vermeer trabalhar no gol. Depois, o polonês Oskar Zawada ainda teve boa oportunidade na área. De quebra, reclamou-se de um suposto pênalti de Nelom em Ziyech, não marcado pelo árbitro Serdar Gözübüyük. Só que o avanço maior deixou espaços justamente onde o Feyenoord é mais agudo: pelas pontas. E um contragolpe aos 35 minutos quase definiu a vitória dos Rotterdammers: pela direita, Jens Toornstra cruzou, e Elia cabeceou a bola no travessão. Mas àquela altura, o que importava era segurar-se na defesa, e os Feyenoorders conseguiram. Garantiram a sexta vitória seguida, e abriram vantagem de seis pontos na terceira posição. A crise acabou. Mas é o caso de pensar, com a volta de melhores tempos: se não fossem as sete derrotas seguidas entre o fim do turno e o início do returno....