terça-feira, 30 de abril de 2019

Ousar é não ousar

Van de Beek simboliza o Ajax que merece comemorar: o jogo de volta contra o Tottenham será duro, mas a final está mais perto (European Press Agency)
Está no escudo do Tottenham. Está na cabeça e no coração de cada torcedor dos Spurs. Estava no mosaico feito pela torcida presente ao estádio em Londres: "Audere est facere". Em latim, "ousar é fazer", a frase que guia a história da equipe inglesa. Era um grande desafio para o Ajax, no jogo de ida das semifinais da Liga dos Campeões. E os Ajacieden passaram por ele: sendo ofensivos quando precisavam, sendo defensivos quando era necessário, mantiveram a vantagem por 1 a 0, que é valiosa para o jogo de volta na Johan Cruyff Arena.

E quando o Ajax foi ofensivo, o foi de maneira brilhante. Após dez minutos de cautela mútua entre os dois semifinalistas no Tottenham Hotspur Stadium, os Amsterdammers começaram a acelerar o jogo. Se Dusan Tadic estava bem marcado por Davinson Sánchez, Donny van de Beek voltou a ser o protagonista que já fora na vitória contra a Juventus. Tabelando com Hakim Ziyech, acionando quem aparecesse pelas pontas (principalmente David Neres), o camisa 6 foi o símbolo da pressão que encurralou o Tottenham no começo do jogo - até pela primeira chance de gol, aos cinco minutos, após falha de Sánchez. E Van de Beek provou sua calma em jogos decisivos com o gol aos 15 minutos, vindo a partir de Ziyech, com um excepcional e preciso passe.

Estava claro: o Ajax dominava o jogo em Londres. Se fosse mais preciso, poderia ter ampliado a vantagem - como aos 24', quando Van de Beek tabelou com Ziyech e finalizou para a defesa de Hugo Lloris, sendo que David Neres chegava à pequena área em boas condições para completar. Nos raros avanços, mesmo com Lucas tentando o possível, Matthijs de Ligt e Daley Blind mostravam concentração. E André Onana mostrava segurança, no gol e nas saídas de bola.

Às pressas, o Tottenham até voltou a ter quatro homens na defesa, com Danny Rose indo para o meio-campo. Mas foi só numa parada - aos 38', quando Jan Vertonghen se chocou acidentalmente com o colega Toby Alderweireld, ao tentar cabecear a bola - que os Spurs tiveram a chance da mudança decisiva. Vertonghen ficou totalmente fora de combate, tonto após o choque, e teve de ceder lugar a Moussa Sissoko, outro que estava no sacrifício. 

Era justamente o que o Tottenham queria e do que precisava: força física na defesa, para retomar a bola e tentar o empate. Sissoko trouxe essa força, tanto nos desarmes quanto na saída de bola. Assim, o time da casa já melhorou em Londres. Trouxe perigo nas bolas que Kieran Trippier mandava para a área. Quase empatou na etapa inicial, quando Blind evitou a finalização de Fernando Llorente e Sissoko bateu para fora, ambos os lances nos acréscimos.

Foi dia do Ajax também se dedicar à marcação, para proteger a vantagem. De Jong, De Ligt e Mazraoui ajudaram na tarefa (Pim Ras Fotografie)
No segundo tempo, os Spurs já começaram com tudo: meros segundos haviam se passado quando Blind evitou outro chute, de Dele Alli. Depois, Onana agarrou firme um arremate do mesmo Alli, aos 50'. E ficava claro: o Tottenham buscaria o empate nos lançamentos e na força física, enquanto o Ajax apostaria nos contra-ataques. Ousaria "não ousar", só atacando "na boa".

Do lado ofensivo, os Ajacieden perderam as duas chances: com Tadic, aos 51', cujo chute foi bloqueado por Rose, e principalmente com David Neres, aos 78', após contragolpe veloz que o brasileiro concluiu na trave de Lloris. Pelo menos, a defesa do time holandês foi precisa. Christian Eriksen tentava os lançamentos, Lucas fazia as jogadas individuais, Juan Foyth ajudava na direita, mas De Ligt, Blind e Veltman faziam partida concentrada, sem errar na marcação.

E o Ajax pôde comemorar sua vitória. Nada está garantido, e a volta de Son Heung-Min faz prever um trabalho defensivo maior em Amsterdã. Mas o time Ajacied dá razões de sobra para que a torcida confie. Antes de mais nada, porque tem maturidade suficiente para saber que, às vezes, ousar é não ousar.

Liga dos Campeões - semifinal (jogo de ida)

Tottenham 0x1 Ajax

Local: Tottenham Hotspur Stadium (Londres)
Data: 30 de abril de 2019
Árbitro: Antonio Mateu Lahoz (Espanha)
Gol: Donny van de Beek, aos 15'

Tottenham
Hugo Lloris; Toby Alderweireld, Davinson Sánchez e Jan Vertonghen (Moussa Sissoko); Kieran Trippier (Juan Foyth), Victor Wanyama, Christian Eriksen e Danny Rose (Ben Davies); Lucas Moura, Fernando Llorente e Dele Alli. Técnico: Mauricio Pochettino

Ajax
André Onana; Joël Veltman, Matthijs de Ligt, Daley Blind e Nicolás Tagliafico; Lasse Schöne (Noussair Mazraoui), Frenkie de Jong e Donny van de Beek; David Neres, Dusan Tadic e Hakim Ziyech (Klaas-Jan Huntelaar). Técnico: Erik ten Hag

sábado, 27 de abril de 2019

Um jogo, um tuíte, um vídeo: a 32ª rodada da Eredivisie

De Graafschap 1x0 Emmen (terça-feira, 23 de abril)



AZ 2x1 Heracles Almelo (terça-feira, 23 de abril)



Heerenveen 2x2 VVV-Venlo (terça-feira, 23 de abril)



Ajax 4x2 Vitesse (terça-feira, 23 de abril)



Utrecht 2x1 Fortuna Sittard (quarta-feira, 24 de abril)



Zwolle 3x2 Groningen (quarta-feira, 24 de abril)







NAC Breda 0x4 Feyenoord (quarta-feira, 24 de abril)



ADO Den Haag 3x1 Excelsior (quinta-feira, 25 de abril)



Willem II 0x3 PSV (quinta-feira, 25 de abril)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Um jogo, um tuíte, um vídeo: a 31ª rodada da Eredivisie

Heracles Almelo 2x1 Heerenveen (sexta-feira, 19 de abril)


Groningen 0x1 Ajax (sábado, 20 de abril)


Emmen 2x0 Utrecht (sábado, 20 de abril)

Vitesse 4x1 Zwolle (sábado, 20 de abril)


Feyenoord 2x1 AZ (sábado, 20 de abril)


VVV-Venlo 4x1 De Graafschap (sábado, 20 de abril)


Willem II 1x1 Excelsior (domingo, 21 de abril)


Fortuna Sittard 2x1 NAC Breda (domingo, 21 de abril)


PSV 3x1 ADO Den Haag (domingo, 21 de abril)

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Há dez anos, o AZ vencia até os três grandes: campeão holandês

Parece impossível imaginar algum jogador de outro clube holandês fora dos três grandes erguer a Eredivisieschaal. Mas Stijn Schaars conseguiu isso, em 2009, ano para sempre na história do AZ (az.nl)
Desde 1993, Dirk Scheringa era presidente do AZ. Não só isso: por meio de seu banco, Frisia (que passou a se chamar DSB a partir de 2005), Scheringa era o mecenas do clube de Alkmaar, investindo quantias que pudessem fazê-lo forte na Holanda. O projeto teve a primeira fase bem concluída em 1997/98, com o time alvirrubro sendo campeão da segunda divisão e voltando à Eredivisie um ano após a queda. Em 2005, um novo ponto alto, com a chegada às semifinais da Copa da UEFA. Mas só na temporada 2008/09 é que o Alkmaar Zaanstreek viveu o último apogeu de seus 52 anos de história. Há exatamente dez anos, em 19 de abril de 2009, o AZ superou seus concorrentes. Superou até os três grandes da Holanda - Ajax, PSV e Feyenoord. Numa frase: há dez anos, o AZ era campeão holandês. É sobre esse título, hoje até impensável, que este texto falará.

De um trauma se fez a força

Aliás, pode-se dizer que a história poderia ter tido esse fim antes, no Campeonato Holandês da temporada 2006/07. Já com Louis van Gaal como técnico, e boa parte dos jogadores que se consagrariam em 2009, o AZ fez uma ótima Eredivisie. Chegou à última rodada empatado com PSV e Ajax na liderança - todos tinham 72 pontos -, mas tinha maior saldo de gols (+53, contra +47 do Ajax e +46 do PSV) e enfrentaria o Excelsior, já destinado à repescagem de acesso/descenso. Parecia fácil para os Alkmaarders conseguirem o primeiro título holandês desde 1980/81. Mas foi um dia traumático: o goleiro Khalid Sinouh foi expulso ao cometer um pênalti, o Excelsior venceu o AZ por 3 a 2 e o PSV ficou com a taça. Impacto difícil de superar para os alvirrubros de Alkmaar. Tanto que a temporada seguinte, 2007/08, foi apagada para a equipe, com um esquecível 11º lugar na Eredivisie.

O Excelsior 3x2 AZ da Eredivisie 2006/07: o time de Alkmaar chegou à última rodada como líder, com tudo para conquistar seu primeiro título desde 1981. Terminou em terceiro lugar. Foi traumático

E depois de uma pré-temporada com vitórias sobre clubes amadores e derrotas para dois times italianos (3 a 1 para o Genoa, 2 a 0 para a Fiorentina), o campeonato de 2008/09 começou no mesmo ritmo pessimista para o AZ: duas derrotas. Na primeira rodada, 2 a 1 para o NAC Breda, em casa, no dia 31 de agosto de 2008. Em 13 de setembro, na segunda rodada, pior ainda: 3 a 0 para o ADO Den Haag. Parecia a gota d'água para Louis van Gaal - que precisava reagir na carreira, ainda vitimada pela campanha que deixou a Holanda fora da Copa de 2002 e pela má segunda passagem pelo Barcelona. E o técnico chegou a pedir demissão para a diretoria do AZ. Só foi impedido porque os próprios jogadores pediram a Van Gaal que ficasse. Só ele poderia dar o toque diferenciado para que aquele grupo chegasse a algum lugar na temporada.

Van Gaal queria deixar o AZ. Ficou, e foi o artífice de um time histórico (Christof Koepsel/Bongarts/Getty Images)
Até porque muitos dos jogadores que pediram a permanência de Van Gaal já estavam com ele na decepção de 2006/07. Um bom exemplo era Kew Jaliens, lateral direito holandês (até estivera na Copa de 2006) convertido em zagueiro. Outro, o promissor volante Stijn Schaars, vindo do Vitesse, capitão da seleção holandesa sub-21 campeã europeia em 2006. Ao lado de Schaars, mais um volante, David Mendes da Silva, holandês de ascendência cabo-verdiana. Para trazer a bola do meio ao ataque, o meio-campista Demy de Zeeuw também já estava no AZ em 2007, assim como o belga Maarten Martens. Para ser o homem-gol, Mousa Dembélé - sim, na época o hoje volante belga jogava no ataque, deixando no banco Graziano Pellè, italiano vindo do Lecce. E uma promessa que surgia de Alkmaar era o atacante Jeremain Lens, 19 anos.

Entre 2007 e 2008, mais jogadores foram chegando a Alkmaar para Van Gaal poder formar um time. Como o atacante Mounir El Hamdaoui, marroquino nascido em Roterdã, que tivera passagem esquecível pelo Tottenham e reconstruía a carreira na Holanda. Como o goleiro argentino Sergio Romero, que surgia muito bem na seleção sub-20 de seu país, campeã mundial da categoria em 2007. Como o atacante brasileiro Ari (depois naturalizado russo), que vinha do Kalmar-SUE. Como o zagueiro finlandês Niklas Moisander, aposta egressa do Zwolle após aprender alguma coisa no Ajax ao chegar do país natal. Havia ainda coadjuvantes, como o zagueiro belga Gill Swerts - convertido em lateral direito no AZ - e os volantes Simon Poulsen e Nick van der Velden.

Da água para o vinho

Com os remanescentes de 2006/07 e quem chegara desde então, Van Gaal tinha de reagir na terceira rodada do Campeonato Holandês em 2008/09. Partida simplesmente contra o PSV, então tetracampeão da Eredivisie. Se ganhasse, haveria um respiro para o técnico continuar trabalhando, e para o AZ reagir no campeonato. Se perdesse, ficaria difícil evitar a demissão. Pois o AZ ganhou: 1 a 0 em Alkmaar, com Martens marcando o gol da vitória, aos 82'. Foi o momento da virada. Não só para os Alkmaarders reagirem na Eredivisie, mas para se transformarem num time campeão. Até porque os três grandes holandeses estavam em baixa.

O PSV vivia uma temporada de transição entre o time tetracampeão e uma nova fase (o grande símbolo do tetracampeonato, Gomes, saíra). O Ajax estava ainda mais confuso: como técnico, Marco van Basten sofria para dar rumo a um time que tinha talentos - Maarten Stekelenburg, Jan Vertonghen, Luis Suárez -, mas também contratações de qualidade duvidosa (os zagueiros Rob Wielaert e Oleguer, por exemplo). O Feyenoord, então, estava pior do que os outros dois: recheado de veteranos (Giovanni van Bronckhorst, Michael Mols, Roy Makaay, Jon Dahl Tomasson), o técnico Gertjan Verbeek teve problemas justamente com eles. E a torcida ficou do lado dele.

Enquanto isso, o AZ começou a ganhar, após aquela vitória fundamental sobre o PSV na terceira rodada. 5 a 2 no Willem II, 6 a 0 no Sparta Rotterdam, 2 a 0 no De Graafschap, 3 a 0 no Volendam... na 12ª rodada, assumiu a liderança do Campeonato Holandês. No ataque, Dembélé se valia da velocidade para ajudar a marcação no meio, enquanto El Hamdaoui, que pouco se destacara na carreira até então, virava o grande nome daquele campeonato, marcando gols e mais gols. No meio-campo, Demy de Zeeuw era outro a viver uma fase que nunca tinha vivido antes (e nunca viveria depois), marcando e avançando com a mesma eficiência, com a dupla Schaars-Mendes da Silva sendo firme no bloqueio aos ataques adversários. A defesa ia se encaixando, com o mexicano Héctor Moreno, outra contratação, se consolidando ao lado de Moisander na zaga, enquanto o belga Sébastien Pocognoli tomava conta da lateral esquerda. No gol, protegido por um time embalado, Romero começava a chegar perto de um recorde: cerca de 950 minutos sem sofrer gols na Eredivisie.

El Hamdaoui nunca vivera um campeonato como o de 2008/09 (VI Images)
Mas foi no retorno da pausa de inverno - ou seja, na virada de turnos - que o AZ deixou de ser uma surpresa para virar real candidato ao título. O Ajax seguia os Alkmaarders na disputa do título, mas na 20ª rodada, em 31 de janeiro, perdeu para o Heerenveen em casa (0 a 1). Na rodada seguinte, também na Amsterdam Arena, empatou com o Heracles Almelo (2 a 2). Na 22ª rodada, em Arnhem, foi inapelavelmente goleado pelo Vitesse (4 a 1). Nas mesmas rodadas, o time de Van Gaal empilhou vitórias: 2 a 0 no Sparta Rotterdam, 1 a 0 no Roda JC, 3 a 1 no Willem II. A diferença de nove pontos poderia até ter ido além contra o PSV, em plena Eindhoven: o AZ chegou a fazer 2 a 0 no primeiro tempo, mas levou o empate dos Boeren, com dois gols de um jogador que passara por Alkmaar: o atacante Danny Koevermans.

Aos poucos, o AZ tinha algumas dificuldades. Por exemplo, no gol: Romero perdeu a reta final da temporada por um momento bizarro - o goleiro argentino socou furiosamente uma parede do estádio após a derrota para o NAC Breda, nas quartas de final da Copa da Holanda, e com isso quebrou o punho, tendo de deixar lugar para o croata Joey Didulica ir ao gol. Pelo menos, o meio-campo do AZ seguia muito sólido e entrosado, com Martens, Schaars, Mendes da Silva e De Zeeuw. No ataque, El Hamdaoui se convertia no nome do campeonato, fosse qual fosse seu parceiro (Ari, Dembélé ou Pellè). O título se aproximava. E era inegável: ele teria Van Gaal como grande responsável, num dos grandes trabalhos de sua carreira

Alarme falso, anticlímax e alívio

O momento para a comemoração que Alkmaar tanto esperava seria em 18 de abril de 2009: na 31ª rodada do Campeonato Holandês, com 76 pontos, nove à frente do vice-líder Twente, a situação era cômoda. Bastava vencer o Vitesse no DSB Stadion, naquele Sábado de Aleluia, para que o time alvirrubro se consagrasse como o primeiro a furar o domínio de Ajax, PSV e Feyenoord na Eredivisie desde o seu próprio título, em 1980/81.

Tudo começou bem em Alkmaar: aos 19 minutos, El Hamdaoui saiu da marcação com um drible de corpo na entrada da área e tocou na saída do goleiro Piet Velthuizen, fazendo 1 a 0 para o AZ e garantindo o título. Desde então, como sempre naquela temporada, o AZ controlou a vantagem. Manteve o jogo no seu ritmo, trocando passes, criando chances de vez em quando... até que algo saiu errado. Ainda no primeiro tempo, aos 36 minutos, Alexander Büttner cobrou falta, a bola desviou na barreira e enganou Didulica no gol: 1 a 1.

Tudo bem: a vitória ainda era possível. Mas a partida do título passou a ser tensa para o AZ. E a tensão foi para o pior caminho no fim do jogo, aos 84': após erro na saída de bola, um jovem Ricky van Wolfswinkel dominou na entrada da área e fez 2 a 1 para o Vitesse. Anticlímax em Alkmaar: não seria naquela noite que o AZ seria campeão holandês. Pelo menos o Twente também perdera para o Feyenoord naquele dia (1 a 0). Mas seria preciso esperar o clássico do vice-líder Ajax com o PSV, no dia seguinte, antes de soltar o grito de campeão. Até porque a rodada seguinte teria Ajax x AZ em Amsterdã...

No vídeo, trechos do anticlimax em Alkmaar: no dia de sua consagração, o AZ perdeu para o Vitesse. Pelo menos, a espera valeu a pena, com o PSV rendendo o título ao golear o Ajax

Para sorte do AZ, o Ajax sofria com a sua inconstância. Suárez já mostrava o goleador promissor que era, disputando a artilharia do campeonato com El Hamdaoui, mas a zaga Ajacied era assustadoramente frágil - até mesmo no gol, onde Stekelenburg, em má fase, fora barrado por Van Basten, que escalava Kenneth Vermeer. Nada disso adiantou contra um PSV imparável em Eindhoven: Edison Méndez, Ibrahim Afellay e Bálazs Dzsudzsák deixaram a defesa dos Godenzonen tonta no Philips Stadion, goleando o rival de Amsterdã por 6 a 2 naquele 19 de abril de 2009
Todo o grupo do time de Alkmaar acompanhou aquele clássico, ansioso, num amplo escritório dentro do DSB Stadion, com centenas de torcedores em frente ao estádio. Se o PSV vencesse, a festa poderia começar. Goleou. E logo que o jogo em Eindhoven acabou, o mecenas Dirk Scheringa saiu para a sacada do escritório. Foi acompanhado pelos jogadores, e por Van Gaal. A festa aguardada e merecida, enfim, podia começar.
 
O PSV fez seu serviço, goleando o Ajax. Enfim, a festa do AZ campeão poderia começar

De tanta festa, as últimas três rodadas passaram quase em branco: o AZ empatou com o Ajax (1 a 1), perdeu para o Twente vice-campeão (1 a 0 - goleado pelo Sparta Rotterdam por 4 a 0, o Ajax viu Marco van Basten pedir demissão após o vexame) e teve a festa da taça na última rodada, após vencer o Heerenveen por 3 a 1. De quebra, El Hamdaoui se consagrou como artilheiro da Eredivisie, com 23 gols.
A festa uma hora acabou. Novamente valorizado na Europa após o tamanho daquele feito, Louis van Gaal já sinalizava que aceitaria a proposta do primeiro clube grande ou seleção que lhe aparecessem - aceitou a do Bayern de Munique. A magia do AZ se perdeu, o clube foi mal na Liga dos Campeões, o banco DSB faliu justamente no segundo semestre de 2009... mas o torcedor do time da cidade do queijo não se esquece: há dez anos, seu time foi o maior da Holanda.
O elenco do AZ campeão (partidas na Eredivisie/gols feitos)

Goleiros
Sergio Romero (28 jogos)
Joey Didulica (8 jogos)
Defensores
Gill Swerts (28 jogos/2 gols)
Kew Jaliens (25 jogos/1 gol)
Gijs Luirink (1 jogo)
Ragnar Klavan (12 jogos)
Milano Koenders (8 jogos)
Niklas Moisander (22 jogos/1 gol)
Héctor Moreno (15 jogos)
Sébastien Pocognoli (25 jogos/2 gols)

Meio-campistas
Maarten Martens (32 jogos/7 gols)
Demy de Zeeuw (30 jogos/3 gols)
David Mendes da Silva (29 jogos/2 gols)
Stijn Schaars (29 jogos)
Nick van der Velden (20 jogos/2 gols)
Brett Holman (15 jogos/1 gol)
Kees Luijckx (15 jogos)
Simon Poulsen (11 jogos)
Marko Vejinovic (3 jogos)

Atacantes
Mounir El Hamdaoui (31 jogos/23 gols)
Mousa Dembélé (23 jogos/10 gols)
Ari (20 jogos/9 gols)
Graziano Pellè (20 jogos/3 gols)
Jeremain Lens (8 jogos/1 gol)

terça-feira, 16 de abril de 2019

O exterminador com futuro

A comemoração do Ajax para o gol da virada: De Ligt abriu caminho para a confirmação de mais uma noite mágica (BSR Agency)
Estava neste blog: por mais que o empate em 1 a 1 tenha sido melhor resultado para a Juventus, no jogo de ida das quartas de final da Liga dos Campeões, a atuação do Ajax no empate deixara esperanças na torcida. Quem sabe fosse possível repetir a brilhante atuação de Madri, contra o Real, nas oitavas da Champions - talento não faltava, já se sabia. Só demorou um pouco mais para os Ajacieden se acostumarem ao jogo. Mas quando o fizeram, veio a repetição do espetáculo. Que fez o Ajax chegar às semifinais do principal torneio europeu, após 22 anos, eliminando mais um gigante. Provavelmente, por ser e estar tão gigante quanto os outros grandes clubes europeus.

A demora para o Ajax impor seu estilo em Turim aconteceu porque a Juventus aprendeu a enfrentá-lo, com o começo sufocante dos Ajacieden na quarta-feira passada. O aprendizado foi mostrado com certas precauções da Juve, antes mesmo do jogo - como colocar Mattia de Sciglio para começar o jogo na lateral direita, já que João Cancelo tivera trabalho com David Neres. Com o jogo correndo, notava-se Dusan Tadic quase sem espaço para seus tradicionais "giros" na frente da área. Notava-se Miralem Pjanic muito mais ativo, não só impedindo Frenkie de Jong de sair para o jogo, como também iniciando as jogadas de ataque. Notava-se maior velocidade do time italiano do Piemonte nos ataques, principalmente com Alex Sandro, pela esquerda. 

E o Ajax sofria com tudo isso. Para piorar, a lesão de Noussair Mazraoui atrapalhou ainda mais a situação, colocando Daley Sinkgraven (recentemente retornado aos campos, após série de lesões musculares nos últimos anos) para tentar melhorar as coisas na lateral esquerda. No meio da área, Matthijs de Ligt cometia algumas falhas. Às vezes, elas eram cobertas por um Daley Blind que viveu uma das grandes noites da sua carreira, aparecendo em todas as partes da zaga para evitar os ataques juventinos. Porém, aos 28 minutos, De Ligt "empurrou" Veltman no puxa-puxa antes de um escanteio. Abriu caminho para Cristiano Ronaldo. Claro, o português aproveitou e fez 1 a 0. Parecia o começo do fim para os visitantes de Amsterdã.

Mas era justo notar: mesmo antes do gol da Juventus, o Ajax já começava a ter espaços para trocar passes, já começava a rondar a área adversária. O símbolo do destemor que crescia era Donny van de Beek. Às vezes esquecido quando os destaques dos Godenzonen são mencionados, o ponta-de-lança mostrava seu valor: sempre era opção para jogadas, aparecia para finalizar, partia para cima. Acabou até tendo sorte no lance do gol de empate, aos 34 minutos, quando o chute de Hakim Ziyech desviou na defesa, e De Sciglio dava condição. Mas foi uma sorte merecida para Van de Beek. Que, a partir do empate, teve mais gente para lhe ajudar.

Van de Beek, o símbolo do destemor Ajacied na virada (VI Images)
Porque, desde que fez 1 a 1, o Ajax recomeçou a impor seu estilo, levemente. Fez a Juventus saber que havia um outro gigante europeu como adversário. Taticamente, mais espaços apareceram. No segundo tempo, Erik ten Hag notou isso, conforme falou na zona mista do Allianz Stadium ao jornal Algemeen Dagblad: "Tentamos algumas coisas, como mandar dois meio-campistas para a zaga e deixar os laterais avançarem. Assim você consegue jogar bola". 

E como o Ajax jogou no segundo tempo. De Jong teve espaço para começar a ditar o jogo com seus passes. Tadic teve espaço para seus giros certeiros, sempre fazendo a escolha certa para acelerar os ataques Ajacieden. Ziyech ajudava Van de Beek: o marroquino mostrava o tamanho de sua técnica, com chutes e passes. Mesmo David Neres, um tanto quanto precipitado no primeiro tempo, crescia de produção com os Amsterdammers. As trocas de passe envolviam mais e mais a Juventus, que já não tinha a bola - e não conseguia criar chances para as finalizações de Cristiano Ronaldo e Moise Kean (substituto de um apagado Paulo Dybala).

As chances iam se avolumando no segundo tempo. A defesaça de Wojciech Szczesny, aos 52', pegando firme com uma só mão o chute de Tadic. A outra defesaça do goleiro polonês, cinco minutos depois, tirando com a ponta do dedo o chute colocado de Van de Beek. O erro de Ziyech aos 60': livre na esquerda da área, preferiu tocar para o meio ao invés de chutar. A salvação de Pjanic aos 63', evitando gol certo de Ziyech. Mas aos 67', não houve como evitar. De Ligt mostrou que aprendera com Cristiano Ronaldo: subida imponente ao alto, num escanteio, para a virada que o Ajax tanto merecia.

Virada que não foi mais ameaçada pela Juventus. Porque este Ajax é diferente do time finalista da Liga Europa 2016/17: é mais seguro, não corre riscos se não precisa corrê-los. Assim, exterminou mais um favorito em seu caminho. Deixou claro o tamanho do acerto que foram as contratações de Blind e Tadic, esteios de experiência. E deixou claro que todos os jovens - De Ligt, De Jong, Van de Beek, David Neres - são exterminadores com muito futuro.

Liga dos Campeões - quartas de final (jogo de volta)

Juventus 1x2 Ajax

Local: Allianz Stadium (Turim)
Data: 16 de abril de 2019
Árbitro: Clément Turpin (França)
Gols: Cristiano Ronaldo, aos 28', e Donny van de Beek, aos 34'; Matthijs de Ligt, aos 67'

Juventus
Wojciech Szczesny; Mattia de Sciglio (João Cancelo), Daniele Rugani, Leonardo Bonucci e Alex Sandro; Emre Can, Miralem Pjanic e Blaise Matuidi; Federico Bernardeschi (Rodrigo Bentancur), Paulo Dybala (Moise Kean) e Cristiano Ronaldo. Técnico: Massimiliano Allegri.

Ajax
André Onana; Joël Veltman, Matthijs de Ligt, Daley Blind e Noussair Mazraoui (Daley Sinkgraven) (Lisandro Magallán); Lasse Schöne, Frenkie de Jong e Donny van de Beek; David Neres, Dusan Tadic e Hakim Ziyech (Klaas-Jan Huntelaar). Técnico: Erik ten Hag

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Um jogo, um tuíte, um vídeo: a 30ª rodada da Eredivisie

NAC Breda 1x1 Emmen (sexta-feira, 12 de abril)



Ajax 6x2 Excelsior (sábado, 13 de abril)



AZ 2x3 ADO Den Haag (sábado, 13 de abril)



Feyenoord 2x1 Heracles Almelo (sábado, 13 de abril)



Fortuna Sittard 1x1 VVV-Venlo (sábado, 13 de abril)



PSV 2x1 De Graafschap (domingo, 14 de abril)



Heerenveen 1x1 Groningen (domingo, 14 de abril)


Willem II 2x0 Zwolle (domingo, 14 de abril)



Utrecht 0x0 Vitesse (domingo, 14 de abril)

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Quem sabe?

A alegria do Ajax no gol de empate de David Neres segue, na esperança de poder surpreender em Turim (Eric Verhoeven/Soccrates)
Sabe-se que jogos do Ajax na Liga dos Campeões oferecem duas possibilidades: pressão ofensiva e a possibilidade de levar um gol a qualquer momento. Ainda mais quando o adversário é da mesma tradição que o clube de Amsterdã, pelo menos nesta temporada. E essas duas alternativas foram vistas no jogo de ida das quartas de final, contra a Juventus. Contudo, o time da casa passou na Johan Cruyff Arena uma impressão até melhor do que na derrota por 2 a 1 para o Real Madrid, no jogo de ida das oitavas de final. Contra a Juve, o Ajax foi destemido como sempre. E controlou mais os inevitáveis erros defensivos. Resultado: manteve o empate por 1 a 1. Ganho maior para a equipe italiana, é verdade. Mas que abre o caminho para uma nova demonstração ofensiva dos Godenzonen.

A melhor impressão que o Ajax deixou hoje se deve ao espírito competitivo que foi visto, além da ofensividade. Antes de pressionar mais, o time da casa levou certa pressão da Juventus nos minutos iniciais, algo mostrado pela primeira chance - chute de Federico Bernardeschi, pouco acima da trave, aos dois minutos. Contudo, os Amsterdammers se aguentaram. E partiram para o ataque com os destaques conhecidos. Dusan Tadic, sempre tomando a decisão certa no controle da bola, no meio da área. Donny van de Beek, o homem-surpresa que vem do meio. Hakim Ziyech, decisivo para fazer a bola chegar ao ataque - se não para passar a outro, para finalizar (como ele fez aos 5', aos 12' e aos 18', sempre com certo perigo). E David Neres, que deixa a má fase do início da temporada como uma má lembrança, apenas: hoje, o paulistano simboliza esse destemor do Ajax.

Porém, é aquilo: se há a pressão ofensiva vinda do time da estação Bijlmer Arena, há também a crônica ameaça defensiva. Faz parte da opção histórica do Ajax, afinal: correr riscos. Eles foram controlados, com a boa atuação de Frenkie de Jong, no meio-campo, e Matthijs de Ligt, na defesa. Todavia, o adversário tinha um jogador que "aproveita qualquer espacinho", como De Ligt bem falou após o 1 a 1. Aos 45 minutos, o jogador viu o "espacinho" aparecendo num contra-ataque: Daley Blind se descuidou da esquerda, Rodrigo Bentancur levou De Ligt junto para a direita, De Jong deixou tal jogador chegar perto da área... e Cristiano Ronaldo aproveitou a chance para fazer 1 a 0. No minuto final do primeiro tempo. Um trauma duro de se suportar, num jogo eliminatório.

Mas o Ajax mostrou que já suporta os traumas. O símbolo disso foi David Neres: a sua jogada destemida no gol de empate logo aos dois minutos do segundo tempo, aproveitando erro de João Cancelo para vir com a bola pela esquerda, só parando com o chute preciso no canto esquerdo do goleiro Wojciech Szczesny. Mais uma prova do que se diz por aí: de que Neres é daqueles jogadores que crescem em jogos decisivos - e gostam deles.

O Ajax pareceu gostar do jogo, após o empate. E criou mais chances para a virada: nos chutes de Ziyech (aos 62', para fora, e aos 65', interceptado por Alex Sandro), na tentativa que Jürgen Ekkelenkamp teve para se consagrar (aos 83', o volante de 19 anos, estreante em Liga dos Campeões, ficou livre na área, mas seu chute foi rebatido por Szczesny). Claro, deixou espaços atrás, como sempre. Numa dessas vezes, Douglas Costa quase aproveitou, a cinco minutos do fim, superando De Jong e Veltman com velocidade e chutando na trave de Onana.

Mas o Ajax segurou o empate. A rigor, é um resultado mais tranquilo para a Juventus, que segue favorita para se classificar às semifinais da Liga dos Campeões. A ausência de Nicolás Tagliafico, suspenso pelo cartão amarelo, forçará a defesa a ser modificada (Blind na lateral esquerda? Joël Veltman no meio da defesa? Quem na lateral direita: Noussair Mazraoui ou Rasmus Kristensen?). Todavia, depois do que se viu hoje, a torcida Ajacied tem razões para manter em sua cabeça uma esperançosa pergunta: quem sabe?

Liga dos Campeões - quartas de final (jogo de ida)

Ajax 1x1 Juventus

Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Data: 10 de abril de 2019
Árbitro: Carlos del Cerro Grande (Espanha)
Gols: Cristiano Ronaldo, aos 45', e David Neres, aos 46'

Ajax
André Onana; Joël Veltman, Matthijs de Ligt, Daley Blind e Nicolás Tagliafico; Lasse Schöne (Jürgen Ekkelenkamp), Frenkie de Jong e Donny van de Beek; David Neres, Dusan Tadic e Hakim Ziyech. Técnico: Erik ten Hag

Juventus
Wojciech Szczesny; João Cancelo, Daniele Rugani, Leonardo Bonucci e Alex Sandro; Rodrigo Bentancur; Miralem Pjanic e Blaise Matuidi (Paulo Dybala); Federico Bernardeschi, Mario Mandzukic (Douglas Costa) e Cristiano Ronaldo. Técnico: Massimiliano Allegri.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Um jogo, um tuíte, um vídeo: a 29ª rodada da Eredivisie

Willem II 1x4 Ajax (sábado, 6 de abril)


ADO Den Haag 5x0 Utrecht (sábado, 6 de abril)


Groningen 1x0 Excelsior (sábado, 6 de abril)



AZ 1x1 De Graafschap (sábado, 6 de abril)


Heracles Almelo 1x0 NAC Breda (sábado, 6 de abril)



Emmen 2x0 Heerenveen (domingo, 7 de abril)


VVV-Venlo 0x3 Feyenoord (domingo, 7 de abril)



Zwolle 5x0 Fortuna Sittard (domingo, 7 de abril)



Vitesse 3x3 PSV (domingo, 7 de abril)

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Um jogo, um tuíte, um vídeo: a 28ª rodada da Eredivisie

Vitesse 2x2 AZ (terça-feira, 2 de abril)



Heracles Almelo 3x4 Willem II (terça-feira, 2 de abril)



Groningen 1x0 De Graafschap (terça-feira, 2 de abril)




VVV-Venlo 2x6 Utrecht (quarta-feira, 3 de abril)



Excelsior 1x2 NAC Breda (quarta-feira, 3 de abril)



Fortuna Sittard 0x0 ADO Den Haag (quarta-feira, 3 de abril)



Emmen 2x5 Ajax (quarta-feira, 3 de abril)



PSV 4x0 Zwolle (quinta-feira, 4 de abril)


Feyenoord 3x0 Heerenveen (quinta-feira, 4 de abril)

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Um jogo, um tuíte, um vídeo: a 27ª rodada da Eredivisie

Willem II 3x2 Fortuna Sittard (sábado, 30 de março)

ADO Den Haag 3x3 Vitesse (sábado, 30 de março)





De Graafschap 1x2 Heracles Almelo (sábado, 30 de março)


AZ 1x0 Groningen (sábado, 30 de março)



Heerenveen 1x0 Excelsior (sábado, 30 de março)




NAC Breda 1x1 VVV-Venlo (domingo, 31 de março)




Utrecht 3x2 Feyenoord (domingo, 31 de março)

Zwolle 3x0 Emmen (domingo, 31 de março)



Ajax 3x1 PSV (domingo, 31 de março)