sexta-feira, 31 de maio de 2019

As 23 Leoas: Beerensteyn

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Beerensteyn é até mais nova do que algumas companheiras de seleção feminina. Mas na hora da disputa por posições, provou-se mais efetiva do que elas, se tornando a principal opção ofensiva da Holanda no banco (onsoranje.nl)
Há atacantes mais experientes, em idade e em trajetória, entre as 23 convocadas da seleção da Holanda para a Copa do Mundo feminina. Entretanto, quando se pergunta a reserva imediata para as três titulares da frente da equipe titular das Leoas, é uma cidadã relativamente novata a resposta imediata. Tudo porque Lineth Beerensteyn mostrou força física e oportunismo, quando teve a chance de jogar. Por isso, a atacante recebeu bem mais chances do que Ellen Jansen e Renate Jansen. E está bem melhor cotada para sair do banco, se necessário.


Como nativa de Haia, era previsível que Beerensteyn já começasse nas categorias de base do ADO Den Haag, o grande clube da cidade. Deu certo: fisicamente forte, a atacante se estabeleceu rapidamente nos times inferiores dos Hagenaren. Não demorou para também chamar a atenção dos técnicos das seleções inferiores: em 2011, Lineth já aparecia em algumas convocações do time sub-15 da Holanda, pela qual fez dois jogos, sem gols marcados.

Com trajetória regular na base, a atacante enfim chegou ao time principal do ADO Den Haag. Na temporada 2012/13, sua primeira no grupo - e primeira na BeNeLeague -, ela fez poucos gols (4), mas já esteve em 25 partidas, já fazendo parte de um título (a Copa da Holanda). Nas seleções de base, o avanço seria maior. Em 2012, a avante apareceu pela seleção sub-16, em quatro jogos, para no mesmo ano ser "promovida" à Holanda feminina sub-17, pela qual fez oito jogos, entre 2012 e 2013.

Mas o sinal de que uma revelação nascia com Beerensteyn apareceu a partir de 2014. Nem tanto na temporada 2013/14 da BeNeLeague: foram só sete gols, em 18 jogos pelo ADO Den Haag. Só que depois da BeNeLeague, veio a Euro feminina sub-19. Àquela altura, ela já estava no grupo da Holanda que foi convocado para o torneio continental da categoria. E mesmo no banco de reservas durante toda a Euro Sub-19, a atacante fez parte do título europeu. Voltou para o Den Haag, e como titular, fez sua melhor temporada até então: foram 17 gols, em 24 jogos pela última edição da BeNeLeague.

A partir da temporada 2015/16, voltou o Campeonato Holandês isolado. Mas Beerensteyn continuou evoluindo, com média de gols ainda melhor: 11, em 18 jogos. O desempenho rendeu uma transferência para o Twente, campeão feminino na Holanda. Mais do que isso: com inconstância nas opções de ataque da seleção da Holanda (Manon Melis deixando as Leoas em definitivo, Ellen Jansen e Renate Jansen sem saírem a contento), Lineth começou a ser olhada com atenção. E estreou pela Laranja num amistoso em 20 de outubro de 2016, contra a Escócia. Mais: já fez gol, o segundo na goleada por 7 a 0.

No Twente, foram poucos gols na temporada 2016/17: 9, em 21 jogos. Todavia, Beerensteyn seguiu com desempenho elogiável pela seleção feminina: nos dois primeiros amistosos da Oranje em 2017, em janeiro, fez dois gols. Com isso, já foi convocada para a Euro feminina que a Holanda disputaria em casa. Saiu do banco em quatro partidas do torneio continental. E fez parte da histórica campanha concluída com o primeiro título principal da Holanda no futebol feminino.

Sem Miedema, a Holanda precisou de Beerensteyn na repescagem das Eliminatórias da Copa. E ela foi útil: três gols (Peter Lous/Soccrates/Getty Images)
Beerensteyn foi mais uma a lucrar com a vitória das Leoas na Euro: foi contratada pelo Bayern de Munique, para suceder justamente aquela de quem era (e é) reserva na seleção, Vivianne Miedema. Foi discreta no time alemão: 10 jogos e dois gols. Mas era vestir laranja, que a atacante provava talento. Provou principalmente num momento fundamental: em outubro de 2018, nas semifinais da repescagem pela última vaga da Europa na Copa do Mundo. Naquelas partidas contra a Dinamarca, Miedema estava machucada. Beerensteyn recebeu a responsabilidade de ser a titular. Plenamente justificada: abriu o placar no 2 a 0 do jogo de ida, e marcou os dois gols nos 2 a 0 da volta, colaborando para a Holanda afinal chegar à Copa.

Por tudo isso, mesmo discreta no Bayern (na temporada atual, foram apenas três gols em 19 jogos), Beerensteyn superou as colegas na disputa por posição na seleção. Continua sendo reserva: o trio Van de Sanden-Miedema-Martens ainda é absoluto na Holanda. Mas já provou: sabe fazer gol pela Oranje. Pode ser de muita utilidade na Copa.

Ficha técnica
Nome: Lineth Beerensteyn
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 11 de outubro de 1996, em Haia (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2012 a 2016), Twente (2016 a 2017) e Bayern de Munique-ALE (desde 2017)
Desempenho na seleção: 39 jogos e 9 gols, desde 2016

quinta-feira, 30 de maio de 2019

As 23 Leoas: Ellen Jansen

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Em clubes, Ellen Jansen só começa a ver agora como é a vida fora do Twente. Na seleção da Holanda, pouco jogou (onsoranje.nl)
Se há um clube tradicional no futebol feminino da Holanda, é o Twente. Na curta história profissional da modalidade, a agremiação vermelha de Enschede começou sendo campeã holandesa uma primeira vez, na temporada 2010/11. Veio a BeNeLeague, fusão com a liga feminina da Bélgica, e com ela um bicampeonato dos Tukkers no Benelux (2012/13 e 2013/14). E com o retorno da Eredivisie Vrouwen holandesa, mais dois títulos (2015/16 e agora, 2018/19). Uma jogadora esteve em grande parte dessa história do Twente: a atacante Ellen Jansen. Agora no Ajax, Ellen está entre as convocadas para a seleção feminina da Holanda que disputará a Copa do Mundo - e deverá ficar na reserva do ataque, com poucas chances de ser utilizada, como a "xará de sobrenome" Renate.

Se nunca encontrou muito espaço para ser titular no ataque da Laranja, Ellen encontrou o clube que simbolizou rapidamente. Nascida em Markelo - cidade da região do Twenthe, na província de Overijssel -, Jansen até começou atuando lá, a partir dos quatro anos de idade, no SC Markelo, clube amador. O tempo passou, a criança virou adolescente, e na hora em que o futebol virou uma possibilidade real, para onde Ellen Jansen foi? Claro, para o Twente, de Enschede, cidade próxima de Markelo. Em 2007, ela passou a se dividir entre os jogos amadores, pelo SC Markelo, e as partidas profissionais, pelas categorias de base do Twente.

Já uma atacante de presença forte na área, Jansen agradou tanto nos Tukkers que se transferiu para jogar no Twente em tempo integral, em 2008. Àquela altura, ainda estava na equipe feminina de juniores do clube, mas jogou tão bem que a treinadora da equipe adulta, Mary Kok, nem pestanejou: já a promoveu para o time principal ainda durante a temporada 2008/09 - e a atacante chegou a marcar dois gols, nas onze partidas que fez no Campeonato Holandês. Em 2009/10, o rendimento pelo clube já cresceu um pouco mais: foram 20 jogos e cinco gols pela Eredivisie.

Também em 2009, começou o trajeto da atacante pelas seleções holandesas. Que foi até mais fulgurante. Na estreia dela pela seleção sub-19 da Holanda, o amistoso contra Israel terminou em 9 a 1 para as Leoas - e Ellen marcou os três primeiros gols da partida. No segundo jogo pela seleção sub-19, contra a Lituânia, a Holanda fez 7 a 0: mais três gols de Jansen. Bastou para se tornar titular já nas Eliminatórias da Euro Sub-19, ajudar na classificação da Holanda e, na Euro Sub-19 de 2010, fazer quatro jogos pela Holanda, que terminou eliminada nas semifinais. Surgia mais uma atacante, e aquilo não passou despercebido pela comissão técnica da seleção principal. Ainda em 2010, Ellen Jansen estreou pelas Leoas - por sinal, fez a primeira partida em São Paulo, em 12 de dezembro, substituindo Sylvia Smit na derrota por 3 a 2 para o Brasil, no Torneio Internacional Cidade de São Paulo.

Porém, a concorrência no ataque da seleção holandesa era grande demais para que Ellen fosse lembrada nas convocações de Roger Reijners, então o técnico da Oranje. Então, gradativamente, a jovem foi perdendo espaço. No Twente, era exatamente o contrário: sua evolução era notável na frente dos Tukkers. Ellen se transformou na "mulher-gol" daquele time que crescia e aparecia na Holanda. Começou no título da BeNeLeague 2012/13, quando teve exatamente meio gol por jogo (13, em 26 partidas). E consolidou isso na BeNeLeague 2013/14: se destacou no bicampeonato do Twente, com 24 gols em 27 partidas.

Nos dez anos de Twente, temporada após temporada, Ellen Jansen sempre foi sinônimo de gols (Twentsche Courant Tubantia)
O tempo passou, o Campeonato Holandês voltou a ser disputado isoladamente, e Ellen Jansen continuou numa boa no Twente: no título nacional em 2015/16, foram 17 gols em 24 jogos. Em 2016/17, 20 tentos em 24 jogos. Valeu, acima de tudo, para recolocá-la nas convocações para a seleção holandesa, àquela altura já treinada por Sarina Wiegman. Mesmo sem ter ido à vitoriosa campanha na Euro 2017, ela voltou a jogar um amistoso aqui e outro ali pela Laranja - e até marcou um gol, no amistoso contra a Escócia, em 2016.

Veio a chance no Ajax, e Ellen continuou balançando as redes (VI Images)
Os bons desempenhos pelo Twente, temporada após temporada, fizeram com que Ellen ganhasse uma chance de saber como era a vida fora de Enschede: na metade de 2018/19, foi ela um dos grandes reforços para o time feminino do Ajax. Foi bem de novo, com 24 jogos e 14 gols pelo Ajax Vrouwen na Eredivisie desta temporada recém-encerrada. Como já vinha sendo convocada para torneios amistosos (como a Copa Algarve, em 2018) e para a campanha nas Eliminatórias da Copa, Ellen Jansen se sobressaiu entre a concorrência. Ganhou uma vaga entre as 23 do Mundial. Provavelmente, passará o torneio na reserva. Se a Holanda precisar dela em algum momento, gols ela sabe fazer. Provou isso nos clubes. Principalmente no Twente, claro. 

Ficha técnica
Nome: Ellen Jansen
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 6 de outubro de 1992, em Markelo (Holanda)
Clubes na carreira: Twente (2008 a 2018) e Ajax (desde 2018)
Desempenho na seleção: 14 jogos e 1 gol, desde 2010

quarta-feira, 29 de maio de 2019

As 23 Leoas: Renate Jansen

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Renate Jansen já atua pela seleção da Holanda desde 2010, mas nunca conseguiu a titularidade. E dificilmente conseguirá na Copa (onsoranje.nl)


O caso da atacante Renate Jansen é daqueles que, em geral, entristece a jogadora, embora jamais ela vá confessar isso. Renate já tem experiência de sobra: atacante das mais conhecidas do futebol holandês, nome frequente nas convocações da seleção, já tem muitos anos de serviços prestados à Laranja... mas sempre há opções melhores à disposição dos treinadores para o time titular. Por isso, Jansen geralmente fica no banco de reservas. E assim deverá ser na Copa do Mundo feminina, a primeira de sua carreira.

Renate começou a jogar já numa tenra idade: aos 5 anos, já dava seus chutes no SV Abbenes, da cidade natal - o pai e um tio eram técnicos no clube amador. E lá ela ficou, até os 15 anos de idade, quando continuou a trajetória na base do VV Kagia, outra agremiação amadora. Àquela altura, Jansen já se consolidava como atacante, atuando preferencialmente no meio da área, tendo a finalização como sua principal qualidade.

Numa família entretida com o futebol, incentivo não lhe faltou para seguir a carreira. Esta ganhou o impulso decisivo em 2007: não só a atacante se transferiu para o Ter Leede, mais uma equipe amadora, como simultaneamente passou a fazer parte do projeto de formação de jogadoras mantido pela parceria entre a federação holandesa e a HvA, universidade de Amsterdã. Em um ano, o talento de Renate Jansen foi notado definitivamente: ela recebeu a primeira chance num time profissional, indo estrear na equipe feminina do ADO Den Haag, que já disputava o Campeonato Holandês. Por sinal, a responsável por trazer a atacante ao clube de Haia foi uma tal Sarina Wiegman, então treinadora do Den Haag.

No clube auriverde, Renate virou titular desde o começo. Já na primeira temporada completa pelo ADO Den Haag (2008/09), foram 23 jogos e 9 gols. A partir de 2010, novo salto de desempenho: nesse ano, já veio a primeira convocação de Jansen para a seleção feminina da Holanda - e a primeira partida, em 1º de abril, contra a Eslováquia, pelas Eliminatórias da Copa de 2011, substituindo Kirsten van de Ven nos últimos oito minutos. Finalmente, na temporada 2010/11, foram 21 jogos e 14 gols de Jansen pela Eredivisie Vrouwen. Mas o ápice veio na temporada 2011/12: o ADO Den Haag ganhou a "dupla coroa" na Holanda, sendo campeão na copa e na liga holandesas, e Jansen foi a goleadora do time na Eredivisie - foram 10 gols em 18 jogos.

A partir da temporada 2012/13, porém, as coisas mudaram um pouco. A Eredivisie se uniu ao campeonato feminino da Bélgica para formar a BeNeLeague, e o ADO Den Haag ficou apenas com a quinta posição. Mas Jansen seguiu bem: 15 gols em 28 jogos. Na temporada seguinte da BeNeLeague, então, foi ainda melhor: em 25 partidas, 21 bolas da atacante nas redes. Todavia, a concorrência era ingrata na seleção. Havia Van de Ven, Manon Melis, as revelações que eram Lieke Martens e Vivianne Miedema... e Renate Jansen passava longe da Laranja. Ficou fora da Euro 2013 e da Copa de 2015.

Renate Jansen já tivera bons momentos no ADO Den Haag, e seguiu confiável no Twente (twenteinsite.nl)
O tempo passou, a Eredivisie voltou a ser disputada isoladamente, e era hora de Jansen buscar novos ares. A chance apareceu no melhor lugar possível: o Twente, vice-campeão da BeNeLeague, considerado o melhor time feminino da Holanda então, trouxe a avante, que deixou o ADO Den Haag após 109 gols em 181 jogos. O primeiro ano passado em Enschede foi melhor do que se podia imaginar: 13 gols em 23 jogos, e Renate era parte importante do Twente campeão feminino na Holanda.

Melhor ainda: o bom desempenho no Twente levou Renate de volta ao radar das convocações para a seleção da Holanda. Sob o comando de Arjan van der Laan, vieram alguns amistosos em 2016. Mas foi com uma velha conhecida como técnica das Leoas que a atacante voltou de vez às chamadas. Sarina Wiegman levou Jansen para a disputa da Copa Algarve em 2017. Principalmente, a incluiu entre as 23 convocadas para a Euro sediada na Holanda. E no marcante título europeu da Oranje, Renate Jansen entrou em quatro partidas, incluindo a final. Quando Miedema se cansava, ou quando a velocidade já não era a mesma para Lieke Martens e Shanice van de Sanden, Jansen servia como uma importante referência no ataque, para reter a bola.

Assim ela continuou no Twente. Marcando menos gols, é verdade - seis em 2016/17, 8 em 2017/18, 7 na temporada 2018/19. Mas seguiu titular na equipe feminina dos Tukkers, recém-consagrada campeã feminina holandesa. Seguiu como opção experiente no banco da seleção holandesa feminina. E tem sua utilidade entre as convocadas para a Copa.


Ficha técnica
Nome: Renate Jansen
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 7 de dezembro de 1990, em Abbenes (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2008 a 2015) e Twente (desde 2015)
Desempenho na seleção: 35 jogos e 3 gols, desde 2010

terça-feira, 28 de maio de 2019

As 23 Leoas: Groenen

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Jackie Groenen já tinha uma trajetória longa no futebol (e no esporte) antes de 2016. Ali, uma lacuna se abriu na seleção da Holanda. Ela aproveitou, e virou titular absoluta no meio-campo (onsoranje.nl)

Em certos momentos, há um "vácuo" numa equipe de futebol. A lacuna se abre numa posição, e quem estiver no lugar e na hora certos, fazendo a coisa certa, do jeito certo, se tornará a dona da posição na equipe. Foi exatamente isso que aconteceu com Jackie Groenen: até que demorou para ela chamar a atenção na seleção feminina da Holanda. Entretanto, na época de sua estreia pelas Leoas, havia um problema tático a ser resolvido no meio-campo. Groenen aproveitou a chance, agradou a técnica Sarina Wiegman, e hoje é uma fundamental meio-campista na equipe holandesa.

Mas ao invés de meio-campista holandesa, Jackie Groenen poderia ter sido uma judoca belga. Afinal de contas, por mais que tivesse nascido na Holanda (mais precisamente, na cidade de Tilburg), Groenen morava com a família na cidade de Poppel, na Bélgica. E passou toda a infância em Poppel. Entretanto, na hora de começar a jogar, era mais cômodo cruzar a fronteira, como a meio-campista comentou numa série de entrevistas ao jornal De Volkskrant: "Morávamos na Bélgica, mas na Holanda, você podia jogar num time de garotos até os 19 anos". E lá se foram duas irmãs Groenen, Jackie e Merel, jogarem no GSBW (Goirlese Sportvereniging Blauw-Wit), clube amador da cidade de Goirle. Ambas motivadas também pelo pai, um amante de futebol. E a dupla Jackie-Merel seguiu por mais dois clubes amadores da Holanda, o VV Riel e o Wilhelmina Boys. Nas seleções de base, o caminho de Jackie começou em 2009, com a primeira convocação para a equipe sub-17 da Holanda -foram seis jogos pela equipe, até 2010.

Enquanto começava no futebol, Jackie Groenen também fazia bonito no judô. Mas as lesões no tatame e o amor pela bola a levaram a deixar a modalidade de lado (judoinside.com)
Só que Jackie também começava a subir de nível no judô. Isso mesmo: o projeto de meio-campista também se revelava judoca promissora nas categorias menores, conquistando o tricampeonato holandês sub-15 na categoria feminina até 32 kgs (2007, 2008 e 2009). Em 2010, Groenen subiu de categoria no judô - passou a competir entre as judocas até 40kgs -, e continuou tendo grandes resultados. Na categoria até 44kgs, foi vice-campeã holandesa sub-20; até 40kgs, foi campeã holandesa e terceira colocada no campeonato europeu sub-17 de judô. Mais um ano, e em 2011, veio outro troféu: campeã holandesa sub-20 de judô, na categoria até 44kgs.

Em 2011, chegou a hora de escolher um caminho. No futebol, ainda com a irmã Merel Groenen, Jackie começou a carreira profissional, indo para a Alemanha, jogar no SGS Essen - fez seis jogos na temporada 2010/11. Logo que a temporada se encerrou, Groenen acertou a transferência imediata para o FCR Duisburg. Todavia, continuava acumulando a carreira no judô. Até que, um dia antes de uma rodada do Campeonato Alemão feminino, a jogadora sofreu uma fratura lombar numa luta no tatame. Ficou de fora, e foi repreendida pela direção do clube de Duisburg. Ali, Jackie Groenen tomou sua decisão profissional. A judoca encerrava a carreira, e o futebol virava prioridade. De certa forma, era a antecipação do que ocorreria, mais cedo ou mais tarde: Jackie disse à revista inglesa She Kicks que sempre preferiu o futebol, e que seria a sua opção definitiva.

A partir dali, como jogadora, Groenen se consolidou. No FCR Duisburg, ainda jogava pouco, mas já fazia seus gols: foram dois pela Bundesliga feminina em 2012/13, e mais dois em 2013/14. Ainda pelas seleções de base, a jogadora fez mais partidas pelo time sub-19 da Holanda. Porém, o clube de Duisburg dissolveu seu departamento de futebol feminino. A carreira profissional poderia ter acabado ali, até porque ela já começara o curso de Direito, na Universidade de Tilburg. Aí entrou o Chelsea: após entrar e sair do MSV Duisburg sem jogar oficialmente por ele, Groenen foi contratada pelos Blues, estreando em abril na Women Super League inglesa, num jogo do Chelsea contra o Bristol City (2 a 0 Chelsea). Foram poucas aparições defendendo o time de Stamford Bridge, em duas temporadas da liga inglesa: 14 jogos e 2 gols em 2014, 6 jogos e nenhum gol em 2015.

Só mesmo dentro de campo a sorridente Groenen mantém a seriedade (Simon Hofmann/Getty Images)
Foi ao voltar para a Alemanha que a carreira de Groenen deslanchou de vez. Em 2015, ela foi contratada pelo FFC Frankfurt. E só na equipe feminina de Frankfurt é que ganhou sequência como titular: na Bundesliga das mulheres pela temporada 2015/16, já foram 21 jogos, marcando um gol, exibindo qualidade na criação de jogadas (principalmente pelos lados). Paralelamente, chegava a hora de jogar por uma seleção feminina adulta. Pelos tempos passados na Bélgica, a meio-campista pensou em defender as Diablets. Nada feito: não tinha o passaporte belga. Mas a experiência nas seleções de base da Holanda foi lembrada: a jogadora foi chamada pelo técnico Arjan van der Laan, e teve sua primeira partida pelas Leoas num amistoso contra a Dinamarca, em 22 de janeiro de 2016.

Na temporada 2016/17, Groenen evoluiu pelo FFC Frankfurt: foram 22 jogos e 4 gols no campeonato alemão. Ao mesmo tempo, a seleção da Holanda vivia a tal "lacuna" de que o começo deste texto falava. Sarina Wiegman assumiu o comando da Laranja, e via a zagueira Stefanie van der Gragt sofrer com lesões, tendo de recuar costumeiramente a meio-campista Anouk Dekker para a defesa. Abria-se um espaço no meio-campo. Jackie estava a postos. Virou titular da Holanda, na reta final de preparação para a Euro 2017. Eis que tudo se acertou: Groenen se entrosou à perfeição com as colegas Sherida Spitse e Daniëlle van de Donk, a Holanda conquistou o título europeu, e Jackie foi escolhida entre as melhores jogadoras da Euro.

O título consolidou Jackie Groenen como destaque. De volta ao FFC Frankfurt, foram 20 jogos e 6 gols na temporada 2017/18 da Bundesliga feminina. Na seleção, veio mais um título, na amistosa Copa Algarve de 2018, e a titularidade absoluta na campanha das Eliminatórias da Copa. Groenen só se ausentou da repescagem que decidiu a vaga da Holanda no Mundial, por lesão no joelho. Nem isso freou sua utilização como um dos "símbolos" das Leoas na mídia: sorridente e bem-humorada, Jackie foi alvo de várias fotos e entrevistas - por exemplo, na série de preparação para a Copa feminina que o De Volkskrant está fazendo, desde março.

Nem a lesão no joelho que a tirou da repescagem que pôs a Holanda na Copa tirou o sorriso da cara de Groenen (Geert van Erwen/Soccrates/Getty Images)
De nada adiantaria, se Groenen não oferecesse qualidade nos ataques da Holanda, criando as jogadas pelos lados e se alternando bem com Van de Donk nas ajudas ao trio ofensivo das Leoas. Por isso, ela já terminou a temporada 2018/19 de contrato assinado para estrear no Manchester United, logo que o Mundial termine. Groenen chega à Copa como titular absoluta da seleção. E é candidata a destaque holandês. Se a chance aparecer, ela pode aproveitar. Já aproveitou uma vez.

Ficha técnica
Nome: Jackie Noëlle Groenen
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 17 de dezembro de 1994, em Tilburg (Holanda)
Clubes na carreira: SGS Essen-ALE (2011), FCR Duisburg-ALE (2011 a 2014), MSV Duisburg-ALE (2014), Chelsea-ING (2014 a 2015), FFC Frankfurt-ALE (2015 a 2019) e Manchester United-ING (desde 2019 - contrato já assinado, estreará depois da Copa do Mundo feminina)
Desempenho na seleção: 46 jogos e 2 gols, desde 2016

segunda-feira, 27 de maio de 2019

As 23 Leoas: Van de Donk

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Van de Donk aparece pouco aos olhos de torcida e imprensa, mas já é titular absoluta da seleção da Holanda há muitos anos - e pode virar protagonista, se necessário (onsoranje.nl)



Daniëlle van de Donk é até pouco falada na seleção feminina da Holanda. Não se destaca publicamente quanto as três atacantes das Leoas, não tem a experiência e a vitalidade de Sherida Spitse. Mas Van de Donk talvez seja a meio-campista tecnicamente mais capacitada na seleção: tem qualidade na criação das jogadas e na distribuição da bola em campo. Não à toa, já é titular da Laranja há pelo menos seis anos. E a não ser por um desastre nos dias finais de preparação, estará a postos como camisa 10 para mais um torneio grande pela seleção.

Van de Donk repetiu em sua trajetória um traço comum a muitas de suas companheiras de seleção: começou jogando num time amador da cidade natal - no caso, o SV Valkenswaard. Dali, foi para outro clube amador, de cidade vizinha: o VV Una, de Veldhoven. Entretanto, tão logo o futebol feminino holandês recebeu o impulso da profissionalização (com o advento da Eredivisie feminina, em 2007), a adolescente já recebeu atenção. Em clubes, Van de Donk achou espaço no Willem II, sendo contratada em 2008 - e marcando um gol em 18 jogos, pelo campeonato. No mesmo ano, em setembro, passou a jogar pela seleção sub-19, contra a Dinamarca - e já marcou um gol.

Foi suficiente para que a técnica da seleção principal, Vera Pauw, já incluísse a novata de 17 anos na convocação para um jogo contra a Bélgica, nas Eliminatórias da Euro 2009. Van de Donk já agradava, e só teve o desenvolvimento da carreira retardado por uma grave lesão: no meio da temporada 2009/10 do campeonato feminino da Holanda, a armadora sofreu um rompimento de ligamentos no joelho. Só voltou ao Willem II com a temporada seguinte já em andamento. Mas se adaptou rapidamente aos Tricolores (foram 21 jogos e 4 gols na liga). Mais importante: o técnico Roger Reijners se lembrou da meio-campista, voltou a convocá-la para a seleção principal, e Daniëlle estreou pela Holanda em 15 de dezembro de 2010, na vitória por 3 a 1 sobre o México, no Pacaembu, em jogo pelo Torneio Internacional Cidade de São Paulo, certame amistoso.

Sem muito espaço no meio-campo do Willem II após a lesão, Van de Donk mudou de ares na temporada 2011/12: se foi para o VVV-Venlo. Nos Venlonaren, pôde dar vazão ao estilo mais ofensivo: criando as jogadas e chegando ao ataque, ela marcou 8 gols em 18 jogos. Na seleção, seguiu merecendo chances, vinda do banco, marcando o primeiro gol contra a Sérvia, nas Eliminatórias da Euro 2013. E veio outra grande chance, com a contratação para o time feminino do PSV - então, em parceria com o FC Eindhoven. E a temporada 2012/13 da BeNeLeague (campeonato conjunto entre times femininos de Bélgica e Holanda) serviu para a explosão de Daniëlle: foram 14 gols em 22 jogos pelo PSV/FC Eindhoven. Concluindo, a meio-campista foi convocada para a Euro 2013 - e foi titular da Holanda, na campanha com a eliminação precoce na fase de grupos.

Já na Copa de 2015, Van de Donk era titular da seleção da Holanda (Shaughn Butts/Edmonton Journal)
Mesmo com a má campanha na Euro, já se sabia que Van de Donk estava pronta para ser a principal criadora ofensiva da seleção da Holanda. A temporada 2013/14 da BeNeLeague deu essa certeza: foram 31 gols em 24 partidas pelo PSV/FC Eindhoven, com a meio-campista sendo o destaque do time na temporada. Faltaram os títulos - no máximo, houve um vice-campeonato na Copa da Holanda. Mas Daniëlle manteve o bom nível em 2014/15: 10 gols em 18 jogos pela BeNeLeague. Assim, também se garantiu na convocação para a primeira Copa do Mundo feminina de que a Holanda participou, em 2015 - e na Copa, Van de Donk se destacou como a principal armadora da seleção.

A participação no Mundial já fazia o futebol feminino chamar atenção na Holanda, mas ainda não facilitava a vida da meio-campista, que lamentou ao diário De Volkskrant, em 2015: "A rigor, eu sou jogadora profissional. Mas não acho que o mundo me veja assim. Se você vê como vivemos, somos profissionais. Mas eu estudo, outras trabalham. É uma combinação estranha. Eu moro com meus pais e jogo no PSV. Se eu gastar muito, vai faltar dinheiro. Daí eu prefiro poupar para estudar”. Pelo menos, após a Copa, as preocupações profissionais diminuíram: Van de Donk se transferiu para o Kopparbergs/Göteborg, da Suécia, podendo manter a carreira no campo. Ficou pouco no clube: 18 jogos e 4 gols pela temporada 2015/16 do Campeonato Sueco. Mas só ficou pouco porque uma chance ainda maior apareceu para ela.

Van de Donk se preocupava com a sequência da carreira profissional, após a Copa de 2015. As transferências para Suécia (Kopparbergs/Göteborg) e Inglaterra (Arsenal) resolveram isso (Getty Images)
A chance surgiu pelo Arsenal: o clube inglês acertou a contratação da meio-campista, ainda no fim de 2015. E no ano seguinte, ela já estreou pelos Gunners, podendo celebrar, enfim, o primeiro título da carreira: a Copa da Inglaterra, ganha sobre o Chelsea, com a meio-campista como titular. Coisa melhor ainda viria em 2017: titular da seleção holandesa por todo esse tempo, "Daan" (seu apelido) foi óbvia presença na Holanda durante a Euro feminina. Não só foi titular em todas as partidas da campanha da Laranja (só saía nos acréscimos, para dar lugar a Jill Roord), mas também marcou o segundo gol na vitória contra a Inglaterra, nas semifinais. E mesmo pouco falada, Van de Donk foi fundamental para o título da Holanda.

De lá para cá, Van de Donk seguiu como nome certo no Arsenal, pelo qual conquistou o título da Copa da Liga Inglesa, na temporada 2017/18, e o título inglês desta temporada. Na seleção, ela segue como dona da camisa 10, criando as jogadas de ataque - e às vezes, até as finalizando, como no amistoso contra o Chile, em março, quando a Holanda fez 7 a 0 com três gols dela. Não restam dúvidas: Van de Donk chega capacitada para ser titular absoluta da Laranja na Copa. E se for necessário, a coadjuvante pode virar protagonista.

Ficha técnica
Nome: Daniëlle van de Donk
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 5 de agosto de 1991, em Valkenswaard (Holanda)
Clubes na carreira: Willem II (2008 a 2011), VVV-Venlo (2011 a 2012), PSV/FC Eindhoven (2012 a 2015), Kopparbergs/Göteborg-SUE (2015) e Arsenal-ING (desde 2015)
Desempenho na seleção: 88 jogos e 16 gols, desde 2010

domingo, 26 de maio de 2019

As 23 Leoas: Kaagman

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Kaagman evoluiu gradativamente nas passagens por Ajax e Everton. Mas só neste 2019 deu o salto e entrou para a seleção adulta da Holanda (onsoranje.nl)
É possível falar que a meio-campista Inessa Kaagman é a única jogadora do meio-campo da convocação da Holanda para a Copa do Mundo feminina que deverá passar todo o torneio no banco de reservas. Todavia, Kaagman conclui com sua convocação um trajeto de carreira que já tem sido regular nos clubes - e que só conheceu a seleção adulta na reta final da preparação para esta Copa.

Kaagman começou a jogar em junho de 2008, nas equipes de base do Hollandia, clube amador próximo a Hoorn, cidade natal - e clube em que seu pai, Pim Kaagman, era treinador. Lá a jogadora passou cinco anos. E em 2012, já viu os primeiros frutos da evolução como meio-campista, com a convocação para a seleção sub-15 da Holanda. E o que Inessa mostrou ali, às vésperas da promoção no Hollandia e na Laranja Sub-15, foi o suficiente.

Em 2013, a evolução da jovem na carreira foi duplicada. Na seleção, Kaagman já foi promovida à categoria sub-17, participando da campanha nas Eliminatórias da Euro da categoria. Em clubes, veio a transferência para o Ajax. E não era para a base do clube de Amsterdã: já era para o time feminino principal, no qual a cidadã fez 18 jogos pela BeNeLeague (a liga feminina da época, disputada em conjunto entre clubes de Bélgica e Holanda). A temporada 2013/14 teve Kaagman jogando menos pelo Ajax na BeNeLeague - 11 jogos. Mas vieram dois gols da meio-campista - e mais dois pelo Ajax na Copa da Holanda, conquistada pelos Godenzonen. De mais a mais, na seleção a evolução seguiu: a jogadora esteve na equipe que disputou a Euro Sub-19, marcou o gol da vitória sobre a Bélgica, na fase de grupos, e a Holanda seguiu até o título.

De lá até agora, Kaagman também cuidou de sua formação profissional, se diplomando em Medicina. No futebol, seguiu como titular absoluta no meio-campo do Ajax, agora disputando um Campeonato Holandês que voltara a ser isolado. O destaque foi na temporada 2016/17: a meio-campista jogou 26 vezes, fez dois gols, e as Ajacieden conquistaram a "dupla coroa" no futebol feminino do país, sendo campeãs da Eredivisie Vrouwen e da Copa da Holanda. Em 2017/18, o destaque de Kaagman no meio-campo foi maior ainda: foram 23 jogos, 7 gols, e o bicampeonato holandês. Com isso, enfim veio uma transferência para um campeonato feminino mais desenvolvido: o Inglês, com a jogadora se transferindo para o Everton em meados do ano passado.

Os bons desempenhos do Ajax no futebol holandês serviram para Kaagman se estabilizar no meio-campo da equipe (hetamsterdamschevoetbal.nl)
Na Women Super League, seguiu um bom desempenho de Kaagman pelos Toffees: foram 18 jogos e 4 gols. E finalmente, após uma estagnação no desempenho pelas seleções, a técnica Sarina Wiegman prestou atenção à jogadora. Ela foi convocada pela primeira vez para a seleção adulta já neste 2019. Estreou em 19 de janeiro, num amistoso contra a África do Sul, na Cidade do Cabo (vitória holandesa, por 2 a 1). Mais uma aparição, contra a Polônia, na amistosa Copa Algarve. Já serviu para Kaagman ser convocada para a Copa, na primeira participação que fará pela seleção adulta num torneio grande. Deverá apenas ganhar experiência, como algumas companheiras - até porque, para ajudar na criação de jogadas no meio, Jill Roord já "preenche a lacuna" no banco. O rumo de sua carreira nos clubes determinará se Kaagman seguirá no radar da seleção para chances futuras.

Ficha técnica
Nome: Inessa Kaagman
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 17 de abril de 1996, em Hoorn (Holanda)
Clubes na carreira: Ajax (2013 a 2018) e Everton-ING (desde 2018)
Desempenho na seleção: 2 jogos, desde 2019

sábado, 25 de maio de 2019

As 23 Leoas: Roord

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Mesmo jovem, Jill Roord já vem sendo convocada há algum tempo para a seleção feminina holandesa. Só não é possível ser titular no meio-campo. Ainda (onsoranje.nl)
Se nada de errado ocorrer, já é previsível a escalação do meio-campo da seleção feminina da Holanda na Copa do Mundo: Sherida Spitse controlando a marcação e iniciando a saída de bola, enquanto a criação ofensiva fica a cargo de Daniëlle van de Donk e Jackie Groenen. Entretanto, há uma reserva imediata a esse trio. Uma meio-campista que já se acostumou ao banco de reservas, e exatamente por isso, só deseja uma chance para entrar no time das Leoas e não sair mais: Jill Roord.

A jogadora já teve em casa uma fonte de interesse pelo futebol: seu pai, René Roord, atuou pelo Twente nos anos 1980. Até prometia ter carreira sólida (chegou a jogar um Mundial Sub-20 masculino pela Holanda, em 1983), mas sérias lesões fizeram René encerrar a passagem pelo campo já em 1987, indo ser técnico em categorias de base do amador Quick '20. Mas ficaram as relações firmes com o Twente.

Tais relações ajudaram a filha a impulsionar a carreira dela. Porque foi exatamente no clube de Enschede que ela ganhou as primeiras chances no futebol, na equipe sub-12. Enquanto Roord subia nas categorias de base dos Tukkers, o Twente também embalava no futebol feminino holandês, sendo um dos melhores clubes do campeonato nacional. A partir de 2010, vieram as aparições nas categorias de base da seleção feminina: Jill começou no sub-15 da Holanda, e foi pelo sub-16, sub-17, sub-19...

Até que chegou o ano de 2012 - mais precisamente, chegou a temporada 2012/13. O Twente participaria da BeNeLeague conjunta com a Bélgica, e Roord enfim foi promovida à equipe principal. Foram poucos jogos para a meio-campista ofensiva, mas ela já conseguiu mostrar que era "elemento-surpresa" no ataque e deu sua ajuda no título do Twente: em cinco jogos na campanha, dois gols. Em 2013/14, veio o bicampeonato da BeNeLeague para os Tukkers, e aí a jovem Jill já apareceu mais: 27 jogos, 13 gols. Melhor ainda: em 2014, foi destaque no título da Holanda na Euro Sub-19 feminina, sendo a principal meio-campista de um time que contava com algumas colegas atuais no time da Copa, como Vivianne Miedema e Dominique Bloodworth (então, Janssen).

O time feminino do Twente foi muito bem no começo da década. E Roord aproveitou a boa fase para impulsionar a carreira (sportintwente.nl)
Titular absoluta no Twente, Roord já mostrara confiabilidade na seleção. Até por isso, recebeu sua primeira chance na equipe holandesa adulta, na reta final de preparação para a Copa de 2015, jogando na vitória por 7 a 0 sobre a Tailândia, num amistoso em fevereiro. E a novata agradou o técnico Roger Reijners a ponto de merecer convocação para o Mundial do Canadá. Inclusive, marcou seu primeiro gol pela seleção justamente no amistoso de despedida para o torneio (7 a 0 na Estônia, em 20 de maio de 2015). Roord ficou sem nenhum minuto jogado, mas a experiência na Copa já a consolidou como opção digna de nota no meio-campo holandês.

E o desempenho pelo Twente só ampliava mais a impressão de que ela ainda seria útil à seleção da Holanda. Em 2015/16, seu melhor momento pelos Tukkers: campeã da Eredivisie feminina (agora, já disputada isoladamente) e goleadora da competição, com 20 gols em 24 jogos. Mesmo com as mudanças de comando na seleção, Roord continuou convocada com frequência. Esteve no título da Euro em 2017, e saiu do banco para jogar em três das seis partidas da campanha vitoriosa - contra Bélgica e Noruega, na fase de grupos, e contra a Inglaterra, na semifinal.

A boa impressão que os desempenhos de Roord davam no Twente renderam recompensa logo que a Euro terminou: no meio do alarido pelo título da Holanda, o Bayern de Munique a contratou. Jogando na Alemanha, Roord manteve o ritmo de jogo na primeira temporada, com 24 jogos e 9 gols pelos Vermelhos. Mas em 2018/19, caiu um pouco de produção, embora isso tenha aumentado sua média de gols: foram apenas 11 jogos, mas marcando sete gols pelo Bayern. Sem contar as participações em Liga dos Campeões Feminina, aumentando a experiência.

Após o tempo de Bayern, Roord terá chance no Arsenal. E pode se valer de bom desempenho no clube para alcançar a titularidade na seleção (Arsenal.com)
Na Holanda, havia pouco a questionar: Roord seguiu como nome certo nas convocações de Sarina Wiegman. Em geral, aproveitava bem as chances que recebia, substituindo as titulares habituais do meio-campo. Por isso, não só foi convocada para a Copa, mas já terminou a temporada 2018/19 de transferência anunciada para o Arsenal. E ela chega ao segundo Mundial da carreira já apregoando: quer jogar mais na seleção. Em entrevista ao site Sportnieuws, ela reconheceu: "Eu fui a camisa 12 na Euro [2017], mas é um número feio. Às vezes eu me sinto a "número 12". Agora quero um outro número. Ainda sou jovem, jogo bem e me orgulho disso. Mas também quero ser titular, oras. Talvez fosse melhor jogar com a camisa 23, sem expectativas, do que jogar com a camisa 12. Quero ter mais tempo de jogo".

Será difícil concretizar isso nesta Copa do Mundo. Mas se Jill Roord for bem nas vezes em que entrar em campo, como tem sido na seleção holandesa, aumentam suas chances de chegar à titularidade tão sonhada no pós-Copa.

Ficha técnica
Nome: Jill Jamie Roord
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 22 de abril de 1997, em Oldenzaal (Holanda)
Clubes na carreira: Twente (2012 a 2017), Bayern de Munique-ALE (2017 a 2019) e Arsenal-ING (desde 2019 - contrato já assinado, estreará depois da Copa do Mundo feminina)
Desempenho na seleção: 40 jogos e 3 gols, desde 2015

sexta-feira, 24 de maio de 2019

As 23 Leoas: Spitse

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Capitã, recordista de jogos pela seleção, habilidosa e firme no meio-campo, precisa nas cobranças de falta, espírito de liderança: Spitse é indispensável à Holanda (onsoranje.nl)
Pode-se dizer que há quatro veteranas na seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo. Quatro jogadoras cujas idades nem são tão altas, mas que carregam vários anos de Laranja nas costas. A goleira Loes Geurts e a meio-campista Anouk Dekker têm lá sua importância, mesmo que já não sejam titulares absolutas. A atacante Shanice van de Sanden, então, vive grande fase, já há alguns anos. Entretanto, dá para ser definitivo: nenhuma das outras 22 jogadoras holandesas que estarão na França sabem tão bem o que é atuar pela seleção feminina, e o significado disso, quanto a meio-campista e capitã da equipe. Afinal, Sherida Spitse é a recordista de jogos pelas Leoas, com suas 161 partidas.

A trajetória de Spitse mostra precocidade que já indicava a possibilidade dela ganhar a importância e a liderança que tem na Holanda. Já na infância, Spitse começou a jogar nas equipes infantis do VV Sneek, clube amador de sua cidade. Lá ficou também durante a adolescência. E ainda durante seus anos de juventude, a meio-campista recebeu sua primeira convocação e fez seu primeiro jogo pela seleção feminina adulta: em 31 de agosto de 2006, aos 16 anos e 92 dias, ainda como atleta do VV Sneek, Spitse estreou pela Oranje, substituindo a volante Anouk Hoogendijk no decorrer da derrota por 4 a 0 para a Inglaterra, nas Eliminatórias da Copa de 2007. Mais do que isso: ainda em 2006, num amistoso contra a Rússia, em 22 de novembro, a meio-campista marcou o primeiro gol pela seleção.

Começo tão fulgurante já serviu para que Sherida ganhasse chance num time profissional logo em 2007, ano do início da primeira edição profissional do Campeonato Holandês feminino. Quando a temporada 2007/08 da Eredivisie Vrouwen começou, a novata promissora já jogava no Heerenveen. E já se consolidava como uma volante firme e regular: foram poucos gols (3), mas 20 jogos que a deixaram como titular absoluta do clube da Frísia. Isso ficou ainda mais claro na temporada 2008/09, quando o desempenho melhorou: 24 jogos, 5 gols.

Paralelamente, Spitse garantia cada vez mais o lugar na seleção, nas convocações da técnica Vera Pauw. Na ótima campanha da Euro 2009, quando a Holanda foi semifinalista, ela já estava lá, aos 19 anos, aprendendo no banco de reservas em que ficou durante toda a campanha. Nas partidas do ciclo seguinte, Spitse já começou a ser titular com mais frequência. Quando o técnico Roger Reijners substituiu Vera Pauw, em 2010, a jovem entrou definitivamente para a base das escalações. E mesmo nova, já se impunha - até demais: chegou a ser expulsa num amistoso contra o Brasil, em 2010, no Torneio Internacional Cidade de São Paulo. Mas ao jogar, a meio-campista deixava claro com a bola nos pés: logo ela seria uma titular indiscutível da seleção da Holanda. Logo, imporia tanto respeito quanto impunham as titulares com quem aprendia: a lateral direita Dyanne Bito, a zagueira e capitã Daphne Koster, Anouk Hoogendijk, a meio-campista Annemieke Kiesel-Griffioen, as atacantes Sylvia Smit e Manon Melis.

No Heerenveen, Spitse seguia imperando no time titular, mostrando as qualidades que têm: bom porte físico, firmeza nas divididas, boa técnica nas saídas de bola, precisão nas cobranças de falta. Mas faltavam os títulos. Eles só passaram a vir no passo seguinte de sua carreira: a ida para o Twente, em 2012, exatamente o mesmo ano do advento da BeNeLeague, o campeonato conjunto entre times femininos de Bélgica e Holanda. Foi o passo certo: o Twente se tornou bicampeão da BeNeLeague (2012/13 e 2013/14). Jogando mais adiantada, Spitse foi simplesmente a goleadora dos Tukkers na temporada 2012/13, com 16 gols em 25 jogos.

Spitse impulsionou a carreira na Holanda, mas explodiu de vez na Noruega, com muito a comemorar no Lilleström (Digitalsport)
Àquela altura, Spitse já correspondia às expectativas na seleção: era titular inquestionável também nas Leoas. E assim foi à segunda Euro da carreira, em 2013. O resultado foi fraco, com a queda holandesa na fase de grupos, como lanterna de sua chave. Ainda assim, a volante não teria do que reclamar daquele momento. No segundo título holandês do Twente, fez menos partidas, mas uma média de gols bem melhor: 10, em 13 jogos. E ela só fez menos jogos porque saiu no meio da campanha. O que rendeu mais um feito: em janeiro de 2014, Sherida se transferiu para o Lilleström, da Noruega, na primeira transferência de uma jogadora holandesa a envolver um pagamento na história do futebol feminino no país. E Spitse chegou com tudo ao LSK Kvinner: ao final daquele 2014, o clube conquistara o campeonato e a copa noruegueses. E a jogadora, por sua vez, fora incluída na seleção dos melhores da temporada da Toppserien, 22 jogos e dois gols depois.

De quebra, Spitse tinha mais o que comemorar no fim daquele ano. A seleção da Holanda garantira vaga na primeira Copa do Mundo feminina em sua história, ao superar a Itália na repescagem. É claro, a volante seguiu como nome certo nas Leoas. Tanto que, em 7 de fevereiro de 2015, num amistoso contra a Tailândia, ela celebrou sua 100ª partida pela seleção, com apenas 24 anos. Foi nome certo na convocação de Roger Reijners para o Mundial do Canadá. E atuou em cada minuto das quatro partidas que a Holanda fez na Copa de 2015, já como volante, mais recuada.

A boa fase seguiu quando Sherida voltou à Noruega para o Lilleström: emplacou a "dupla coroa" por mais duas vezes, com o tricampeonato tanto na liga quanto na copa nacionais, em 2015 e 2016. Diante de um cenário vitorioso assim, parecia retração inesperada quando Spitse anunciou a volta ao Twente, no começo de 2017, para o returno do Campeonato Holandês. Era só o começo do auge de sua carreira. Nem tanto nos Tukkers, que viram o Ajax campeão da Eredivisie feminina no fim daquela temporada 2016/17. Mas na seleção, qualquer frustração foi plenamente compensada.

A liderança - e alguns gols - de Spitse foram propulsores na campanha do título europeu da Holanda, em 2017 (ANP)
Spitse seguiu absoluta nas Leoas durante todo aquele tempo. Foi convocada para a disputa da terceira Eurocopa feminina de sua carreira, em 2017, justamente na Holanda. Foi titular - e se tornou capitã da seleção no decorrer da campanha, quando a zagueira Mandy van den Berg se lesionou (e depois, brigou com a técnica Sarina Wiegman, descontente por não voltar ao time titular). Fez dois gols, na fase de grupos. Finalmente, Spitse se valeu de uma qualidade técnica sua no momento mais importante da campanha holandesa na Euro. Foi numa cobrança de falta precisa que ela colocou a Holanda na frente do placar, na final contra a Dinamarca, fazendo 3 a 2 e abrindo o caminho do histórico título europeu das Leoas, celebrado com ela erguendo o troféu junto a Van den Berg. Claro, o desempenho teve o prêmio justo: Spitse foi incluída na seleção da competição.

A volante terminou o vitorioso 2017 ainda no Twente, com nove jogos e três gols pelo clube na Eredivisie da temporada 2017/18. Mas antes do returno, no fim de 2017, Sherida já voltou à Noruega: assinou contrato por dois anos com o Valerenga. Mais importante: passara a ser dona definitiva da braçadeira de capitã na seleção. Assim, foi titular na conquista da amistosa Copa Algarve, em 2018. Seguiu previsivelmente como nome decorado pela torcida, na campanha das Eliminatórias que renderam o lugar nesta Copa do Mundo. E finalmente, neste 2019, Spitse alcançou mais uma façanha: durante a Copa Algarve, contra a Espanha (derrota por 2 a 0), superou a marca de Annemieke Kiesel-Griffioen e chegou a 157 partidas pela Holanda, se tornando a recordista de aparições pela seleção feminina.

O recorde foi celebrado com uma camisa comemorativa entregue à jogadora, e dois vídeos feitos pela federação: um mais institucional, com antigas companheiras de seleção a festejarem Spitse, e outro mais gozador, com as colegas atuais de Holanda brincando com os maneirismos da capitã nos vestiários. A convocação para a segunda Copa do Mundo da carreira foi quase óbvia. E quem acompanha futebol feminino na Holanda sabe: poucos merecem tanta confiança na seleção quanto Sherida Spitse, a poucos dias de fazer 29 anos. Força no meio-campo (para marcar e atacar) e liderança na equipe não lhe faltam. Se ela quiser, ainda terá muita história para fazer na seleção.

Ficha técnica
Nome: Sherida Spitse
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 29 de maio de 1990, em Sneek (Holanda)
Clubes na carreira: Heerenveen (2007 a 2012), Twente (2012 a 2013 e 2017), Lilleström (LSK Kvinner)-NOR (2014 a 2017) e Valerenga-NOR (desde 2018)
Desempenho na seleção: 161 jogos e 30 gols, desde 2006


quinta-feira, 23 de maio de 2019

As 23 Leoas: Pelova

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Pelova é mais uma convocada da Holanda como aposta no futuro da seleção feminina (onsoranje.nl)
A maioria das 23 convocadas para a seleção da Holanda na Copa do Mundo já tem experiência jogando pela Laranja. Quem não esteve na Copa de 2015, muito provavelmente esteve no título da Euro feminina, em 2017 - isso, sem contar as veteranas, que estiveram em Euros e Copas até por mais vezes. Mas na convocação feita por Sarina Wiegman para o Mundial na França, há claros casos de apostas para o futuro. Uma delas já foi abordada neste especial: a goleira Lize Kop. E a outra é a focalizada da vez: a meio-campista Victoria Pelova.

Pelova começou a jogar ainda criança: aos sete anos de idade, já batia sua bola nas equipes infantis do DSV Concordia, clube amador de Delft, cidade natal. E lá ficou, após ser levada pelo avô Piet. No Concordia, a meio-campista desenvolveu o estilo técnico, baseada nos dribles e na rapidez. Porém, sem conseguir espaço nos clubes profissionais holandeses, a meio-campista começou a cuidar da formação fora do futebol, conseguindo um diploma no ensino técnico, em Matemática, numa universidade em Delft.

Todavia, antes mesmo de começar a vida profissional fora dos campos, enfim o futebol ficou mais sério na vida de Victoria. Em 2016, o ADO Den Haag contratou a meio-campista - e o Concordia celebrou a pupila que ganhava a chance para despontar. De nada adiantaria, porém, se Pelova fracassasse na primeira temporada pelo time de Haia. Ocorreu o contrário: a novata aproveitou e já se tornou titular no Den Haag, em 2016/17 (26 jogos, 7 gols).

Pelova passou um longo tempo no futebol amador, conseguiu um diploma fora do futebol, mas o ADO Den Haag abriu as portas do profissionalismo para ela (Angelo Blankespoor)
Em 2017/18, foi ainda melhor: 24 jogos, 11 gols, goleadora do Den Haag na Eredivisie feminina. Com tal desempenho, Pelova foi convocada pela primeira vez para a seleção adulta, entrando durante a derrota para a Espanha (2 a 0), num amistoso, em 20 de janeiro de 2018. Mais: ela foi convocada para a seleção feminina sub-20 da Holanda, classificada para o Mundial da categoria. Pois bem: na campanha razoável das holandesas sub-20, indo às quartas de final, a meio-campista fez dois gols.

Pelova voltou do Mundial sub-20 já vista como uma promessa holandesa. Voltou a ser lembrada nas convocações da seleção adulta, fazendo mais duas partidas na Copa Algarve, já neste 2019. No ADO Den Haag, fez outra boa temporada (17 partidas, 9 gols). E vieram as recompensas. Na seleção, a convocação definitiva para a Copa; em clubes, apenas há alguns dias, a confirmação da transferência para o Ajax, a partir da próxima temporada.

Pelova comemorou: "Estou superfeliz por jogar no Ajax. Escolhi o clube por ser torcedora dele, desde criança, e por querer dar um passo além na carreira". Entretanto, ela lembrou: "Primeiro, o foco estará na Copa do Mundo". A princípio, a ida ao Mundial servirá para ganhar experiência. Mas dependendo do que ocorrer, Pelova já sai na frente para se tornar titular da Holanda, no próximo ciclo da seleção.

Ficha técnica
Nome: Victoria Pelova
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 3 de junho de 1999, em Delft (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2016 a 2019) e Ajax (desde 2019 - contrato já assinado, estreará depois da Copa do Mundo feminina)
Desempenho na seleção: 3 jogos, desde 2018

quarta-feira, 22 de maio de 2019

As 23 Leoas: Dekker

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Mais recuada, no meio-campo. Mais ofensiva, também no meio-campo. Ajudando no miolo de zaga. A veterana Anouk Dekker tem muita utilidade tática na seleção holandesa (onsoranje.nl)
É preciso marcar, no meio-campo? Ela é a opção preferencial para volante, no banco de reservas da seleção da Holanda. É preciso atacar, também no meio? Bem, ela era meio-campista ofensiva no começo da carreira, e pode ajudar, mesmo que não jogue assim faz tempo. As lesões de Van der Gragt são um problema na zaga? Pois bem, nos últimos anos ela tem sido recuada para a defesa das Leoas, sendo titular costumeira do setor ao lado de Merel van Dongen. Assim, Anouk Dekker vai para sua segunda Copa do Mundo trazendo várias opções táticas para a técnica Sarina Wiegman, além da experiência.

Nascida em Almelo, Dekker começou a jogar aos seis anos de idade, nas equipes amadoras de base do SVZW, clube de Wierden, cidade próxima a Almelo. No SVZW mesmo, começou a chamar a atenção da federação holandesa, nos programas de prospecção de jogadoras - o que bastou para que ela passasse a jogar em todas as seleções femininas de base, já a partir da categoria sub-12. O tempo passou, Dekker se converteu em meio-campista, mostrou talento para seguir carreira no futebol... mas ainda não havia nem campeonato feminino na Holanda quando sua adolescência terminava. Restou se transferir para a vizinha Alemanha, para jogar no FFC Heike Rheine, a partir de 2005. E lá Dekker começou a carreira, ficando por duas temporadas como opção frequente no banco da equipe feminina do clube da Westfália.

Em 2007, as coisas começaram a mudar. Com o advento da liga feminina holandesa, alguns clubes (re)criaram departamentos para as mulheres jogarem. O Twente foi um desses. E Dekker se transferiu para o clube de Enschede (outro município perto de Almelo), para participar da primeira edição da Eredivisie Vrouwen. Em 2007/08, já teve uma boa atuação: 17 jogos na liga, 6 gols, parte do grupo campeão da Copa da Holanda. Mais uma temporada, e a meio-campista já era titular absoluta dos Tukkers: 24 partidas, 4 bolas na rede. Foi jogando assim, mais ofensiva no meio-campo, que Dekker recebeu a primeira convocação para a seleção da Holanda: a técnica Vera Pauw a colocou em campo no empate em 1 a 1 com Belarus, pelas Eliminatórias da Copa de 2011.

Em junho de 2010, vieram os primeiros gols da meio-campista: contra a Bélgica (vitória por 4 a 1, em amistoso no dia 13) e contra a Noruega (2 a 2, pelas Eliminatórias da Copa, no dia 19). A Holanda ficou de fora do Mundial de 2011, mas já estava claro: Dekker era nome de seleção, já ganhando experiência e espaço pouco a pouco ao lado de nomes então já tradicionais na Laranja, como a zagueira Daphne Koster, a volante Anouk Hoogendijk e a meio-campista Chantal de Ridder (a quem a novata Dekker geralmente substituía, vinda do banco).

Dekker foi uma das protagonistas do primeiro grande momento da história do time feminino do Twente (Reprodução/Wikipedia)
No Twente, Dekker começaria a fazer parte do primeiro grande momento da história da equipe feminina do clube. Tal momento começou com o título da Eredivisie, em 2010/11. Na temporada seguinte, a Eredivisie se fundiu ao campeonato belga feminino, na formação da BeNeLeague - e o Twente foi o melhor holandês da BeNeLeague por três temporadas seguidas, de 2012/13 a 2014/15. O desempenho ofensivo da meio-campista só melhorava: na liga do Benelux em 2013/14, Dekker chegou a fazer 20 gols em 24 jogos.

Tudo isso garantia mais convocações para a seleção holandesa - e, finalmente, a primeira chamada para um torneio grande, a Euro 2013. Nem uma fratura na face, sofrida no último amistoso antes daquela Euro, tirou Dekker da competição. A Holanda foi mal (eliminada na fase de grupos), e a meio-campista ainda ficou na reserva, só entrando no decorrer dos jogos contra Islândia e Alemanha. Mas o tempo seguiu passando. E já a partir daquela Euro, se notava uma mudança tática no papel de Dekker na seleção. Se até 2013 era quase uma atacante, contra a Alemanha, ela entrou no lugar de uma colega de geração: Sherida Spitse, uma... volante.

Pois foi ao mudar de papel que a nativa de Almelo virou, enfim, titular na seleção da Holanda. No Twente, até continuou ofensiva: ainda fez 14 gols em 21 jogos, na temporada 2014/15 (última da BeNeLeague, antes da liga holandesa feminina voltar a ser disputada isoladamente). Mas nas Leoas, foi como volante que ela foi convocada para a primeira Copa do Mundo feminina da Holanda, em 2015. Melhor: com uma séria lesão tirando a experiente Anouk Hoogendijk de combate naquela Copa, Dekker foi titular em todos os minutos das holandesas no Mundial do Canadá. Agradou, usando a força física na marcação e dando qualidade à saída de bola.

A participação na Copa de 2015 marcou uma mudança no papel tático de Dekker: de meio-campista ofensiva, passou a ser volante (Getty Images)
Bastou para que, após a Copa, Dekker virasse titular absoluta da Holanda, já com muita experiência na bagagem. No Twente, uma ótima temporada em 2015/16, com a "dupla coroa" vinda com os títulos na copa e no campeonato holandeses. E veio uma chance fora de seu país natal: em 2016, veio a transferência para o Montpellier, da França. Na primeira temporada pelo MHSC, a holandesa ainda ficou na reserva: só quatro jogos. Em 2016/17, todavia, a agora volante embalou na equipe francesa: 18 jogos, 6 gols. Mas seu grande momento na carreira ainda chegaria.

Dekker começou jogando a Euro 2017 no meio-campo. Teve de ir para zaga. E continuou fundamental na Holanda campeã (TF Images/Getty Images)
Em 2017, Dekker foi convocada para a segunda Euro de sua carreira. No torneio europeu de seleções, começou jogando no meio-campo, como habitual. Mas uma lesão da zagueira Mandy van den Berg - e um posterior desentendimento entre Van den Berg e a técnica Sarina Wiegman - forçou Dekker a ficar na zaga, ao lado de Stefanie van der Gragt. Seguiu como titular absoluta. E tudo terminou como num sonho: a Holanda ganhou o título em casa, teve a defesa menos vazada da competição (três gols sofridos), e Dekker entrou para a seleção da Euro, considerada uma das melhores jogadoras da competição.

De lá para cá, Dekker seguiu frequente nas convocações da Holanda. Mesmo sem tanto ritmo de jogo no Montpellier, sua experiência e sua versatilidade tática continuaram de grande valia nas Eliminatórias da Copa de 2019. É certo que os 32 anos já se fizeram sentir: mais lenta, Dekker pode ter mais dificuldades na zaga - chegou a ser expulsa aos cinco minutos de jogo, contra a Suíça, na decisão da vaga neste Mundial. Além do mais, no meio-campo, há outras opções mais confiáveis, fisicamente. No entanto, pelos dez anos de seleção e pela capacidade técnica nas posições, Marieke Anouk Dekker foi nome previsível na convocação para a Copa do Mundo feminina. Quando é titular, é também a capitã holandesa. E se a Holanda precisar, ela está lá. Na defesa, no meio-campo, no ataque, marcando, fazendo gols...

Ficha técnica
Nome: Marieke Anouk Dekker
Posição: Meio-campista (volante)/defensora
Data e local de nascimento: 15 de novembro de 1986, em Almelo (Holanda)
Clubes na carreira: Heike Rheine-ALE (2005 a 2007), Twente (2007 a 2015) e Montpellier-FRA (desde 2016)
Desempenho na seleção: 77 jogos e 6 gols, desde 2009

terça-feira, 21 de maio de 2019

As 23 Leoas: Van der Most

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Se Van Lunteren está firme como titular da lateral direita, Van der Most é nome certo como sua reserva, há pelo menos dois anos (onsoranje.nl)
Dá para dizer que quase nenhuma das posições de linha na defesa da seleção holandesa tem dupla definida entre titulares e reservas. No miolo de zaga, Stefanie van der Gragt é titular absoluta, mas tem sofrido vez por outra com lesões, enquanto Dominique Bloodworth e Merel van Dongen se alternam entre o banco e o campo. Na lateral esquerda, mais por falta de opções do que por confiança da torcida, Kika van Es é titular, mas sem opção imediata. A única exceção a essas indecisões é a lateral direita das Leoas. Desiree van Lunteren é a titular, e todos sabem também qual é sua reserva: é Liza van der Most.

Liza nasceu na Colômbia, e só aos sete meses de idade sua vida tomou o caminho da Holanda: foi quando uma família a adotou, e a levou para a cidade de Papendrecht. Lá mesmo, ainda na infância, Van der Most começou a jogar, no VV Papendrecht, clube amador da cidade. Aos 11 anos, se mudou para outro clube amador: o SteDoCo (acrônimo de "Sterk Door Combinatie"), que mantinha uma equipe feminina de base. O caminho foi se abrindo, e aos 15 anos, a holandesa nascida em território colombiano foi incluída num projeto da federação holandesa, para fomentar a formação de jovens talentos no futebol feminino.

Após poucos anos, a lateral direita recebeu a chance para iniciar e impulsionar de vez a carreira: em 2012, acertou a ida para o Ajax. Desde então, mesmo jovem, já começou como titular da equipe feminina Amsterdammer - até porque Van Lunteren, colega no Ajax e futura companheira de seleção, joga mais adiantada no Ajax Vrouwen. Ainda nova demais, Van der Most viveu a primeira experiência na seleção da Holanda em 2014: em 20 de agosto, participou de um amistoso contra o Brasil, entrando durante a partida que terminaria em 0 a 0. Depois, mais uma partida em 2014 - vitória por 3 a 2 sobre Portugal, nas Eliminatórias da Copa de 2015. E foi só, por muito tempo.

Van der Most fez praticamente a carreira toda no Ajax (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)
A lateral passou mais um tempo concentrada somente no Ajax. E a experiência lhe valeu a atenção definitiva da técnica Sarina Wiegman: logo que assumiu a seleção em definitivo, no começo de 2017, Sarina incluiu Van der Most em suas convocações, a começar pela Copa Algarve, torneio amistoso. Com Van Lunteren como titular na lateral direita, Van der Most a secundou na reserva desde então. Assim foi uma das 23 convocadas para a Euro que terminou em título. Foi presença frequente nas Eliminatórias da Copa.

Paralelamente, Van der Most se consolidava como um símbolo do time feminino do Ajax. Neste 2019, ao entrar durante o jogo contra o ADO Den Haag, bateu o recorde da colega Van Lunteren: com 167 jogos, se tornou a jogadora com mais aparições na história do Ajax Vrouwen. E se nada de errado acontecer, estará na França, como reserva de Van Lunteren na lateral direita. Como já se acostumaram torcida e imprensa na Holanda, há pelo menos dois anos.

Ficha técnica
Nome: Liza Estefany van der Most
Posição: Lateral direita
Data e local de nascimento: 8 de outubro de 1993, na Colômbia
Clubes na carreira: SteDoCo (2011 a 2012) e Ajax (desde 2012)
Desempenho na seleção: 13 jogos, desde 2014


segunda-feira, 20 de maio de 2019

As 23 Leoas: Kerkdijk

Entre 12 de maio e 4 de junho, o Espreme a Laranja traz um texto descrevendo a carreira de todas as 23 convocadas para a seleção da Holanda que disputará a Copa do Mundo feminina. 


Kerkdijk já entrou no radar da seleção holandesa logo após a Copa de 2015. E discretamente, conseguiu se fazer valer como opção no banco de reservas (onsoranje.nl)
É possível dizer que a zagueira Danique Kerkdijk é uma das beneficiadas da primeira mudança de gerações que a seleção feminina da Holanda viveu, a partir da aparição na Copa de 2015. Afinal de contas, desde o primeiro jogo pós-Copa, Kerkdijk seguiu no radar das convocações para as Leoas - tanto no curto período sob o comando de Arjan van der Laan, quanto sob Sarina Wiegman. E agora, ela enfim chega entre as convocadas, para participar de seu primeiro torneio importante defendendo a Holanda.

Como tantas companheiras de seleção, Kerkdijk começou a jogar num clube amador de sua cidade natal: o Overwetering, de Olst. Mas já em 2010, a zagueira se mudou para um dos lugares mais apropriados para uma mulher que quisesse seguir carreira profissional no futebol feminino: o Twente, que mantém habitualmente uma equipe da modalidade. Ainda durante a temporada 2009/10, ela fez parte de um grupo de garotas do Overwetering que foi treinar na categoria sub-14 do clube de Enschede. Foi aprovada. E a partir de 2010, já ficou mesmo só no Twente.

Em 2012, Kerkdijk foi promovida à equipe adulta do Twente. E começou a jogar na zaga durante um dos melhores períodos da história dos Tukkers no futebol feminino. Enquanto vigorou a BeNeLiga, torneio conjunto entre equipes de Bélgica e Holanda, o Twente foi bicampeão (2012/13 e 2013/14). Paralelamente, na seleção sub-19 da Holanda, Kerkdijk esteve no grupo campeão europeu de mulheres na categoria. Finalmente, em 2014/15, o Twente ainda conquistou a Copa da Holanda.

No Twente, Kerkdijk foi formada como jogadora (RTV Oost)
Kerkdijk ainda era nova demais para receber uma convocação para a seleção adulta. Mas tão logo passou a Copa do Mundo, ainda em 2015, enfim ela chegou à equipe principal da Holanda, entrando no decorrer de um amistoso contra Belarus, em 17 de setembro, no lugar da volante Anouk Hoogendijk. Mais uma temporada se passou, e com ela, a defensora esteve em mais um título holandês do Twente. Passou mais uma temporada em Enschede, e enfim ganhou a chance num centro mais desenvolvido do futebol feminino: a Inglaterra, onde foi jogar no Bristol City, a partir de meados de 2017.

A ida para o Bristol City deu o ritmo de jogo necessário para a zagueira (à esquerda) voltar à seleção holandesa (Bristol City)
Com excesso de opções para a defesa da seleção, Kerkdijk ficou de fora do título da Euro feminina - aliás, ficou sem jogar pela Holanda desde 2016. Mas já se mostrava esperançosa com a ida para o Bristol City, numa entrevista em novembro de 2017: "Espero voltar à seleção o mais rápido possível". E foi possível, a partir de 2018, quando voltou a fazer parte regular do grupo de convocadas. Finalmente, Kerkdijk estará entre as convocadas para um torneio importante. Deverá ficar na reserva durante boa parte do torneio. Mas já levará a experiência para ciclos posteriores da seleção holandesa, nos quais tem condições de estar presente.

Ficha técnica
Nome: Danique Kerkdijk 
Posição: Zagueira
Data e local de nascimento: 1º de maio de 1996, em Olst (Holanda)
Clubes na carreira: Twente (2012 a 2017) e Bristol City-ING (desde 2017)
Desempenho na seleção: 13 jogos, desde 2015