sábado, 29 de junho de 2019

Já ganhou (o respeito)

O gol de Van der Gragt fechou o placar - e abriu o caminho das semifinais para uma Holanda que merece respeito (FIFA/Getty Images)

A seleção feminina da Holanda avançava na Copa do Mundo. Mas, mesmo seguindo no torneio, com quatro vitórias em quatro jogos, era notável que as Leoas Laranjas tinham problemas preocupantes. É certo que não há seleções que não sigam com erros, mesmo durante uma Copa do Mundo. No entanto, há um momento em grandes torneios em que a equipe necessita impor respeito, mostrar por que chegou tão longe. Na melhor hora possível, a Oranje mostrou isso: teve sua melhor atuação na Copa, superou a Itália, e chegou aos seus objetivos iniciais - a semifinal do torneio, e à vaga no torneio olímpico de futebol feminino, nos Jogos de Tóquio, em 2020.

A rigor, desde que a bola rolou em Valenciennes, a Holanda já fazia por merecer elogios. Por opção tática da Itália (deixando deliberadamente a posse de bola nos pés laranjas) e por mérito próprio, as holandesas tiveram mais força ofensiva. Os méritos próprios residiram, principalmente, no meio-campo. Nem tanto por Daniëlle van de Donk: a camisa 10 seguiu aparecendo bastante no ataque, mas quase sempre fez opções erradas de jogada no primeiro tempo - com exemplo claro nos acréscimos do 1º tempo, quando um erro de passe de Elena Linari abriu espaço para um contra-ataque de quatro holandesas contra três italianas, e Van de Donk escolheu a jogada individual. Entretanto, Jackie Groenen e Sherida Spitse compensavam plenamente no meio. Groenen era precisa nos desarmes, e mostrava velocidade na direita, enquanto Spitse ditava o ritmo do jogo: ora recuava para ajudar a defesa, ora avançava para auxiliar o ataque.

Porém, algo ainda preocupava, na Holanda. O ataque tinha a bola nos pés, mas raramente causava problemas à goleira da Itália, Laura Giuliani - que, a rigor, só apareceu aos 29', num arremate fraco de Vivianne Miedema, e aos 43', numa cobrança de falta de Spitse, que mandou a bola diretamente às suas mãos. Shanice van de Sanden tentava as jogadas individuais, mas não tinha espaço - ou era precipitada nos avanços. Miedema mostrava lentidão. O único ponto notável do trio ofensivo da Laranja era Lieke Martens: superando dores num dedo do pé que quase a tiraram do jogo, a camisa 11 buscava a bola, tentava jogadas pela esquerda, ia para o meio-campo ajudar Van de Donk. Ainda assim, cabia prestar muita atenção ao ataque italiano. Mesmo enfraquecidas pela ausência de Cristiana Girelli, as Azzurre começaram a bloquear o espaço da Holanda. E em poucos passes, tiveram chances mais perigosas - como aos 18', quando Valentina Bergamaschi cabeceou fracamente para a defesa de Sari van Veenendaal, e aos 36', num chute cruzado de Valentina Giacinti, que passou rente à trave.

O calor fortíssimo em Valenciennes (33º, forçando duas paradas técnicas para refresco) deixava o jogo mais lento. Mas era também muito equilibrado. Quem acertasse mais no segundo tempo, provavelmente levaria a vaga nas semifinais. E a Holanda começou a se aproximar disso, com muita velocidade. Só que as chances perdidas se avolumavam: era Miedema cabeceando fraco após cruzamento de Van de Sanden aos 49',  era um chute de Groenen que batia em duas italianas - e nela própria - e saía aos 51', era um cruzamento de Desiree van Lunteren (bem no jogo) que Miedema furava aos 52', era a bola na travessão de Daniëlle van de Donk aos 58'. Tantas chances perdidas poderiam custar caríssimo.

A Holanda perdia chances demais contra a Itália, mesmo superior no segundo tempo. Até que Miedema aproveitou e acalmou o time (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)


Só restava a Sarina Wiegman fazer as mudanças que podia: por exemplo, colocar Lineth Beerensteyn no lugar da cansada Van de Sanden, aos 56'. E só restava à Holanda ter a paciência que a treinadora pedira na entrevista pré-jogo, e manter a posse de bola. Vinham as chances - como outro chute de Spitse, mandando a bola rente à trave, aos 66'. Mas faltava aproveitá-las. Não faltou mais a partir dos 70', com o gol do alívio: Miedema, desviando de cabeça para marcar seu terceiro gol na Copa.

Ainda cabia ter todo o cuidado com as italianas, até pela entrada de Anna Maria Serturini, veloz meio-campista. Mas a Holanda nem precisava desse conselho: mostrava serenidade, mantinha a posse de bola no campo de ataque (méritos a Van de Donk, boa na retenção), tinha superioridade clara. E o gol de Van der Gragt, aos 80', em outra bola aérea - sexto gol de bola alta da Holanda na Copa - foi o início da festa e da comemoração.

Sim, comemoração. Porque a Holanda já alcançou coisas neste Mundial, termine em quarto lugar ou seja campeã. Já ganhou o respeito de quem acompanha o futebol feminino no mundo. Já provou que o título da Euro 2017 não foi sorte de principiante. Só não ganhou ainda a semifinal, seja contra Alemanha ou contra Suécia. E talvez, saber que não ganhou nada seja a chave para as Leoas Laranjas fazerem ainda mais história do que já fizeram.

Copa do Mundo feminina - quartas de final
Holanda 2x0 Itália
Data: 29 de junho de 2019
Local: Stade du Hainaut (Valenciennes)
Árbitro: Claudia Umpierrez (Uruguai)
Gols: Vivianne Miedema, aos 70', e Stefanie van der Gragt, aos 80'

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Stefanie van der Gragt (Anouk Dekker) e Merel van Dongen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema (Jill Roord) e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Itália
Laura Giuliani; Alia Guagni, Sara Gama, Elena Linari e Elisa Bartoli (Lisa Boattin); Valentina Bergamaschi (Anna Maria Serturini), Aurora Galli, Manuela Giugliano e Valentina Cernoia; Valentina Giacinti e Barbara Bonansea (Daniela Sabatino). Técnica: Milena Bertolini


quinta-feira, 27 de junho de 2019

Análise da temporada: Ajax

O Ajax parecia batido, no começo deste ano de 2019. Mas o que indicava o fim foi apenas o início de três meses inesquecíveis na história do clube, encerrados com os títulos da Copa da Holanda e da Eredivisie (VI Images)

Colocação final: Campeão, com 86 pontos
No turno havia sido: 2º colocado, com 46 pontos
Time-base: Onana; Mazraoui (Veltman), De Ligt, Blind e Tagliafico; Schöne, Frenkie de Jong e Van de Beek; Ziyech, Tadic (Huntelaar/Dolberg) e David Neres
Técnico: Erik ten Hag
Maior vitória: Ajax 8x0 De Graafschap (16ª rodada)
Maior derrota: Feyenoord 6x2 Ajax (19ª rodada)
Principais jogadores: Hakim Ziyech (meio-campista/atacante) e Dusan Tadic (meio-campista/atacante)
Artilheiro: Dusan Tadic (meio-campista/atacante), com 28 gols
Quem deu mais passes para gol: Hakim Ziyech (meio-campista/atacante) e Dusan Tadic (meio-campista/atacante), ambos com 13 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Daley Blind (lateral esquerdo) e Dusan Tadic (meio-campista/atacante), que jogaram todas as 34 partidas
Copa nacional: campeão
Competição continental: Liga dos Campeões (eliminado na semifinal, pelo Tottenham-ING)

Dá para dizer que a temporada 2018/19 do Ajax se dividiu em duas partes. Na primeira, o clube foi burocrático. Até satisfez, com a classificação para as oitavas de final da Liga dos Campeões. Mas Erik ten Hag sofria à procura da melhor formação tática para os Ajacieden, e vários jogadores atuavam abaixo do esperado. Para piorar, a eficiência do PSV era invejável no Campeonato Holandês, e o 3 a 0 inapelável do confronto direto (6ª rodada) dava a impressão de que os Boeren embalariam para o bicampeonato na Eredivisie. O ano de 2019 começou, a segunda parte da temporada também, e o Ajax seguiu patinando. Parecia até que a chance de surpreender no jogo das oitavas da Champions League, contra o Real Madrid, havia se apagado. Que nada: o que se viveu em Amsterdã nesses últimos meses foi, seguramente, o grande momento da história do Ajax nos últimos 20 anos. E teve seu prêmio, com a reação que levou à "dupla coroa" na Holanda, conquistando tanto o campeonato quanto a copa nacionais.

Mas se o Ajax terminou a temporada de modo tão irresistível, com um time tão elogiável, por quê demorou tanto para embalar? Exatamente pelo que se disse acima: Ten Hag sofreu tentando achar um jeito de fazer o time jogar bem, e os próprios nomes em campo demoraram a crescer de produção. David Neres foi experimentado no meio-campo: não deu certo. Dusan Tadic (o símbolo da grande ambição que o Ajax tinha para a temporada) jogava abaixo do que podia como armador. Hakim Ziyech se alternava entre o meio e a ponta-direita, após ficar no clube a contragosto. Klaas-Jan Huntelaar e Kasper Dolberg se alternavam na frente, sem garantirem a posição. Só dois pontos saíam a contento. Na zaga, Daley Blind, repatriado a peso de ouro, era o parceiro perfeito para apurar a qualidade e o espírito de liderança de Matthijs de Ligt. E no meio-campo, Frenkie de Jong mostrava capacidade impressionante de controlar o jogo com seus recuos e passes - a ponto de ser o alvo de uma disputa entre clubes por sua contratação, vencida pelo Barcelona já em janeiro. Mas era pouco. Jogar com Tadic na frente, como se viu na Liga dos Campeões, ajudara o Ajax a fazer frente ao Benfica e ao Bayern de Munique na fase de grupos. Mas, na Eredivisie, a estagnação irritava a torcida.

Houve a pausa de inverno, com a participação protocolar na Florida Cup, e o Ajax voltou para o Campeonato Holandês. Com De Ligt lesionado, e o recém-contratado argentino Lisandro Magallán entrando às pressas na zaga, o recomeço de temporada foi terrível. Na 19ª rodada, a primeira do returno, de nada adiantou o Ajax marcar quatro gols, porque o Heerenveen fez quatro em Amsterdã (4 a 4). Na rodada seguinte, num Klassieker contra o Feyenoord, um 6 a 2 humilhante, a grande mancha que ficará na temporada. E de nada adiantou fazer 6 a 0 no VVV-Venlo (20ª rodada), porque a derrota por 1 a 0 para o Heracles Almelo na 21ª rodada - e a falta de ânimo, a submissão vista com o time titular - fazia crer que parecia o fim para o Ajax. Que o título da Eredivisie estava perdido, que o Real Madrid superaria os Godenzonen com facilidade nas oitavas de final da Liga dos Campeões. Parecia o fim? Foi apenas o começo de três meses inesquecíveis para quem acompanha o Ajax - e o futebol holandês, em geral.

Porque, no jogo de ida contra o Real Madrid, o Ajax perdeu (2 a 1 em Amsterdã), mas jogou melhor. Por causa da boa atuação, Erik ten Hag se convenceu: nem Dolberg nem Huntelaar, Tadic no centro do ataque - e mobilidade incessante no meio e na frente - eram as soluções para o time. Deu no que deu. Uma atuação de sonho em Madri, no 4 a 1 da classificação para as quartas de final. A Juventus parecia mais forte, nas quartas de final? Pois o Ajax também foi mais forte: empatou em Amsterdã (1 a 1), e mostrou destemor admirável no 2 a 1 em Turim, de virada, que levou o time à semifinal do maior torneio europeu de clubes, pela primeira vez, após 22 anos. No Campeonato Holandês, mesmo que o PSV seguisse regular, o Ajax foi ganhando, até a vitória notável da 27ª rodada no confronto direto (3 a 1 contra os Eindhovenaren, com um a menos). De quebra, a final da Copa da Holanda, passando pelo Feyenoord na semifinal.

O clima tinha virado. Dali a duas rodadas, um 4 a 1 no Willem II deu a liderança ao Ajax, no saldo de gols. E nem mesmo a heróica tragédia contra o Tottenham, na Liga dos Campeões, diminuiu o ímpeto do Ajax. Era de títulos que o clube precisava? Pois bem: eles vieram, após cinco anos. Com goleadas contra Willem II (4 a 0, na final da Copa da Holanda) e De Graafschap (4 a 1, na 33ª e penúltima/última rodada do Campeonato Holandês). Enfim, o Ajax voltava a viver um período do qual se lembrará com muitas saudades. Um fim de temporada quase perfeito. Só faltou certo cuidado no doloroso segundo tempo contra o Tottenham, na volta das semifinais da Liga dos Campeões, em plena Johan Cruyff Arena - em especial, aos 94 minutos e 55 segundos de jogo... mas tudo bem.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Análise da temporada: PSV

Com Luuk de Jong como líder (nos gols e na capitania), o PSV fez uma temporada boa na Eredivisie. E teria sido um merecido bicampeão. Mas se cansou, ficou manjado, e perdeu o título no fim (VI Images)

Colocação final: 2º colocado (vice-campeão), com 83 pontos
No turno havia sido: 1º colocado, com 48 pontos
Time-base: Zoet; Dumfries, Schwaab, Viergever e Angeliño; Hendrix, Rosario e Pereiro; Lozano, Luuk de Jong e Bergwijn
Técnico: Mark van Bommel
Maior vitória: ADO Den Haag 0x7 PSV (5ª rodada)
Maior derrota: Ajax 3x1 PSV (27ª rodada)
Principais jogadores: Luuk de Jong (atacante) e Steven Bergwijn (atacante) 
Artilheiro: Luuk de Jong (atacante), com 28 gols
Quem deu mais passes para gol: Steven Bergwijn (atacante), com 12 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Jeroen Zoet (goleiro), Denzel Dumfries (lateral direito), Nick Viergever (zagueiro), Angeliño (lateral esquerdo) e Luuk de Jong (atacante), todos com 34 partidas
Copa nacional: eliminado pelo RKC Waalwijk, na segunda fase
Competição continental: Liga dos Campeões (eliminado na fase de grupos)

Para muitos, perder um campeonato que se liderou na maior parte do tempo é o mais clássico exemplo de "amarelada". Mas olhando calmamente, a temporada do PSV continua sendo satisfatória, mesmo com a queda nas últimas rodadas do Campeonato Holandês sendo dolorosa. A equipe de Eindhoven foi bem, impôs respeito na liga nacional, teve boas atuações, foi mais ofensiva do que vinham sendo nas últimas temporadas... o bicampeonato na Eredivisie teria sido tão justo quanto foi o título do Ajax. O problema dos Boeren foi se cansar (e ficar sem muitas alternativas táticas) justamente quando não podia: na reta final da temporada - e isso, só com a Eredivisie em disputa, enquanto os rivais de Amsterdã se esfalfavam na maratona de três competições.

E por muito tempo, pareceu que o PSV seguiria impávido rumo ao bi na liga. Antes de mais nada, por causa do primeiro turno quase irretocável, com somente uma derrota em 17 jogos. Na Liga dos Campeões, uma passagem que poderia ter melhor sorte: embora tenha sido o lanterna de seu grupo, previsivelmente, o time só saiu perdendo em duas das seis partidas, dificultando as coisas para Barcelona, Tottenham e Internazionale. E quando a Eredivisie voltou da pausa de inverno, os Eindhovenaren seguiram fortes. Mesmo quando abriam espaço para o Ajax se aproximar, viam os Amsterdammers tropeçarem. Um bom exemplo disso foi a 18ª rodada. Então, o PSV teve um tropeço inesperado contra o Emmen - fez 2 a 0, teve dois gols anulados (corretamente) pelo VAR, e viu o adversário igualar o placar nos minutos finais. Na mesma rodada, o Ajax poderia se aproximar... mas empatou com o Heerenveen em casa (4 a 4).

A liderança do PSV no campeonato seguia imperturbável. Por dois fatores. Um dependente do outro: mesmo quando saíam atrás no placar (como contra Utrecht, na 21ª rodada, e Heerenveen, na 22ª - ambos fizeram 2 a 0), os Eindhovenaren buscavam incessantemente a reação, até a conseguirem (nesses dois jogos, a equipe alcançou 2 a 2 nos minutos finais, levando pelo menos um ponto). Para essa reação, sobrava qualidade técnica. Nas duas laterais, Denzel Dumfries e Angeliño eram fortes opções ofensivas. No ataque, Hirving Lozano e Steven Bergwijn fizeram duas boas temporadas, enquanto Luuk de Jong viveu um dos melhores anos da carreira, marcando gols e mais gols - e até atuando em posições diferentes quando necessário (como nas últimas rodadas, jogando recuado). E Van Bommel se revelava um técnico sem medo de mexer em busca da vitória: se notava queda de desempenho, mudava, trocava jogadores, dava chance a novatos promissores. Como Michal Sadílek, Donyell Malen, Mohammed Ihattaren, Cody Gakpo.

E pelo que se via naquele clássico contra o Ajax, na 27ª rodada, o título parecia na alça de mira: Noussair Mazraoui fora expulso, e Luuk de Jong empatara o clássico em 1 a 1 no minuto seguinte. Era um resultado sonhado. Até que Daniel Schwaab cometeu o pênalti pelo qual se arrependeu pelo resto da temporada: o Ajax fez 2 a 1, ampliou a vitória e esquentou novamente o campeonato. A partir dali, o cansaço do PSV se avolumou. Por mais que Van Bommel tentasse, o time "engripou", ficou "manjado". Prova disso foi o 3 a 3 com o Vitesse, dali a duas rodadas, num dos melhores jogos da Eredivisie, quando o Ajax tomou a liderança. Depois, a lesão no joelho que tirou Lozano das rodadas finais. A derrota para o AZ na penúltima rodada (1 a 0), praticamente decidindo o Ajax como campeão. Mas, depois de todo o amargor de perder um título que pareceu imperdível, o PSV pode olhar e ver que tem bons jogadores, um bom técnico e um cenário promissor. Segue forte dentro do futebol da Holanda. Só ficará na cabeça com aquele 3 a 1 do Ajax, com um homem a mais, na 27ª rodada...

terça-feira, 25 de junho de 2019

Faz parte

Holanda se aliviou na última hora contra o Japão. Terá desafio ainda maior contra a Itália (Pim Ras Fotografie)

Quando o último jogo das oitavas de final da Copa do Mundo começou, em Rennes, a Holanda pareceu envolver o Japão. Parecia que a estratégia para superar a baixa estatura da Nadeshiko (bolas altas, apostando na velocidade de Shanice van de Sanden e Lieke Martens pelas pontas) iria levar a uma classificação fácil das Leoas Laranjas às quartas. Nada mais ilusório: as nipônicas impuseram o toque de bola acelerado, empataram o jogo, atormentaram um cansado time holandês no segundo tempo. Aí, numa das únicas vezes em que a Laranja conseguiu rondar a área da goleira Ayaka Yamashita, veio um pênalti. Que Martens converteu, para ser a salvadora, o nome da vitória que deu a vaga nas quartas.

Martens desvia para o belo gol que abriu o placar: enfim, ela apareceu (FIFA/Getty Images)

Enfim, a camisa 11 teve uma atuação digna de nota na Copa. E não só pelo gol: desde o começo da partida no Roazhon Park, Martens enfim teve o espaço que precisava para ser mais veloz com a bola e participar ativamente das jogadas. Foi o que aconteceu com apenas cinco minutos de jogo no Roazhon Park: Lieke cruzou, Vivianne Miedema tentou finalizar de primeira, e o gol só não se consumou pela aparição de Aya Sameshima, bloqueando a bola para um escanteio. De certa forma, seu bonito gol aos 17' - desvio com a parte externa do pé, após escanteio cobrado por Sherida Spitse - premiava as aparições mais constantes do maior destaque da seleção holandesa.

Com a atuação segura do meio-campo (Daniëlle van de Donk criando as jogadas, Jackie Groenen como o "carrapato" das japonesas e Sherida Spitse ajudando a defesa), a Laranja estava sossegada. Tão sossegada que perdeu o controle do jogo. Por vezes estabanada nas tentativas de carrinhos, Groenen começou a ser superada por Yui Hasegawa. Ainda apostando nos lançamentos longos, a defesa quase sempre mandava as bolas para a saída antecipada da goleira Yamashita. A posse da esférica foi ficando mais com o Japão. E as coisas se dificultaram: impondo velocidade na troca de passes, as nipônicas conseguiram o empate antes do intervalo, com bela triangulação entre Mana Iwabuchi, Yuika Sugasawa e Hasegawa, a autora do 1 a 1.

Tinha ficado difícil? Ficaria ainda mais no segundo tempo. A velocidade e a boa ocupação de espaços por parte do Japão ("Às vezes parecia que havia 20 japonesas em campo", se impressionou Vivianne Miedema) foi prensando a Holanda em seu campo de defesa. O meio-campo já não tinha a bola. O ataque "morria" de inanição. E as quatro da linha de trás sofriam cada vez mais com os avanços. As chances das japonesas demoraram, mas apareceram. Aos 64', em chute de Emi Nakajima rebatido no susto pela goleira Sari van Veenendaal; aos 71', em arremate de Hasegawa rente à trave; aos 76', quando Iwabuchi mandou a bola na rede pelo lado de fora; aos 79', quando Hina Sugita acertou o travessão; e aos 80', quando Van Veenendaal novamente apareceu com destaque, espalmando chute de Yuka Momiki (que entrou muito bem no jogo, melhorando as chegadas ao ataque).

Martens apareceu - e reapareceu para confirmar a dramática vitória (AP)

Sarina Wiegman fazia o que era possível: colocava Jill Roord para melhorar o meio-campo, devolvia Kika van Es ao time, tirava a cansada Van de Sanden para dar lugar a Lineth Beerensteyn. Pois foi justamente da atacante da camisa 21 que surgiu o lance salvador, aos 88' - ela cruzou, Miedema complementou, e a bola desviou no braço da zagueira Saki Kumagai. A juíza Melissa Borjas apitou o pênalti imediatamente, demorou em conversas com o VAR, mas confirmou sua marcação. Lieke Martens conseguiu manter alguma frieza: "Eu me sentia bem, aí perguntei a Sherida [Spitse, cobradora das bolas paradas] se eu poderia bater. Ela me deu a bola imediatamente". E a camisa 11 marcou o seu terceiro gol pela Holanda em Copas do Mundo, na mais apropriada das horas. Restava ao Japão aquela incômoda impressão do "quem não faz, toma". Faz parte.

Mas após o alívio, certamente virão críticas a novo sofrimento da Holanda na Copa do Mundo feminina. A defesa segue frágil - a não ser por Van Veenendaal, que mostrou firmeza quando exigida nesta terça. O meio-campo ainda perde muitas divididas. E o ataque segue tímido quando enfrenta um time com defesa forte e bem postada. É exatamente o caso da Itália, adversária do próximo sábado em Valenciennes. Além do mais, as Azzurre parecem viver o caso do time que se encaixa na hora certa. Há segurança na defesa, com Sara Gama comandando as ações. Velocidade no lado do meio, com Aurora Galli. E um ataque merecedor de respeito, com Valentina Giacinti, Cristiana Girelli e Barbara Bonansea entre as melhores atacantes da Copa.

Tudo isso, diante de uma Holanda que ainda não sabe encontrar variações satisfatórias para seu jogo. Será um grande desafio. Faz parte de uma Copa do Mundo. Até porque a Laranja conseguiu passar do seu desafio nas oitavas de final.

Copa do Mundo feminina - oitavas de final
Holanda 2x1 Japão
Data: 25 de junho de 2019
Local: Roazhon Park (Rennes)
Árbitra: Melissa Borjas (Honduras)
Gols: Lieke Martens, aos 17' e aos 90'; Yui Hasegawa, aos 43'.

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Stefanie van der Gragt e Merel van Dongen (Kika van Es); Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Jill Roord) e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Japão
Ayaka Yamashita; Risa Shimizu, Saki Kumagai, Nana Ichise e Aya Sameshima; Emi Nakajima (Yuka Momiki), Narumi Miura, Hina Sugita e Yui Hasegawa; Yuika Sugasawa e Mana Iwabuchi (Saori Takarada). Técnica: Asako Takakura Takemoto


Análise da temporada: Feyenoord

Junto a seus filhos, Van Persie se despede: um raro momento de honra, numa temporada decepcionante do Feyenoord (VI Images)

Colocação final: 3º colocado, com 65 pontos
No turno havia sido: 3º colocado, com 36 pontos
Time-base: Vermeer (Bijlow); St. Juste, Van Beek (Eric Botteghin), Van der Heijden e Malacia (Haps); Toornstra, Clasie e Vilhena; Berghuis, Van Persie (Jorgensen) e Larsson
Técnico: Giovanni van Bronckhorst
Maior vitória: Feyenoord 6x2 Ajax (19ª rodada)
Maior derrota: Ajax 3x0 Feyenoord (10ª rodada)
Principais jogadores: Steven Berghuis (atacante) e Robin van Persie (atacante)
Artilheiro: Robin van Persie (atacante), com 16 gols
Quem deu mais passes para gol: Steven Berghuis (atacante), com 12 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Tonny Vilhena (meio-campista) e Steven Berghuis (atacante), ambos com 33 partidas
Copa nacional: eliminado na semifinal, pelo Ajax 
Competição continental: Liga Europa (eliminado na terceira fase preliminar, pelo Trencín-ESQ)

Poucas ocasiões simbolizam melhor o que foi a temporada do Feyenoord do que a sequência entre a 19ª e a 20ª rodadas do Campeonato Holandês. Na 19ª, em 27 de janeiro, o Stadionclub viveu um de seus únicos pontos altos na Eredivisie. Com atuações estupendas de Robin van Persie e Tonny Vilhena, o time foi um rolo compressor, chegando a uma incrível goleada: 6 a 2 - desde 1964 o Ajax não levava tantos gols do Feyenoord, na maior rivalidade do futebol holandês. Os Feyenoorders já viam o arquirrival e o PSV com distância na disputa do título, mas uma vitória tão acachapante fazia acreditar que ainda era possível chegar para tentar conquistar o campeonato. Na 20ª rodada, o duelo era um pouco mais fácil: contra o Excelsior, em dificuldades na tabela, "fora" de casa (entre aspas: afinal, o jogo foi em Roterdã). O Feyenoord saiu na frente, mas foi displicente, e tomou o castigo: virada do Excelsior - 2 a 1, com o gol da vitória marcado pelos Kralingers nos acréscimos.

Pois é: sempre que o Feyenoord imaginou poder decolar rumo a coisas mais sérias na temporada, se enrolava. A defesa penou com várias lesões. No gol, o jovem Justin Bijlow teve momentos inconstantes, até falhou (como esquecer o frango no Klassieker do 1º turno?), mas ganhava ritmo de jogo - até quebrar o pé logo no começo do returno, contra o Zwolle (outra derrota, por 3 a 1, na 18ª rodada), dando lugar ao veterano Kenneth Vermeer. No miolo da zaga, só Jan-Arie van der Heijden se firmava: Sven van Beek teve atuações problemáticas, e Eric Botteghin sofreu com as contusões. O mesmo se passou na lateral esquerda: Ridgeciano Haps até começou como titular, mas se machucou muito, e quem ganhou espaço foi o jovem Tyrell Malacia.

Claro, havia os nomes de confiança, aqueles que raramente desapontavam. No meio-campo, Vilhena seguiu como o "motor" do Feyenoord: firme na marcação, veloz nas chegadas ao ataque. Jens Toornstra também era opção válida para o avanço, quando era escalado por Van Bronckhorst. Apenas o velho conhecido Jordy Clasie decepcionou. E no ataque, Robin van Persie justificou por quê é um ídolo histórico em De Kuip: na última temporada de sua carreira, ainda mostrou talento e precisão para ser goleador do Feyenoord na Eredivisie, parando e deixando a torcida com gosto de "quero mais". Pelo menos, Van Persie teve ótimos coadjuvantes: pelas pontas, tanto Steven Berghuis quanto Sam Larsson mostraram velocidade, habilidade, poder de finalização. Mesmo ficando mais no banco de reservas, Nicolai Jorgensen ainda mostrou ser capaz de ajudar - e manifestou isso ao renovar contrato com o clube.

Ainda assim, as várias derrotas desnecessárias do Feyenoord para times menores (a citada queda para o Excelsior, o inquestionável 1 a 0 do Groningen na 22ª rodada, o 3 a 2 do Willem II em pleno De Kuip na 26ª rodada, o 3 a 2 do Utrecht nos acréscimos na 27ª rodada) fizeram o time temer até a perda da terceira posição. Pelo menos, a vitória no jogo direto contra o AZ (2 a 1, na 31ª rodada) e uma sequência de cinco vitórias mantiveram o lugar na tabela. Mas ficava claro: o Feyenoord decepcionara. Sentindo o clima de fim de ciclo, Giovanni van Bronckhorst decidiu encerrar uma passagem marcante como técnico do Stadionclub. E Jaap Stam ganha a maior chance de sua curta carreira como treinador. Para, junto de quem ficar (Jorgensen e Toornstra) e dos novatos promissores que vêm por aí (Malacia, Orkün Kökcü, Wouter Burger, Dylan Vente), tentar impulsionar o Feyenoord e fazer com que ele deixe de ser líder absoluto... do terceiro lugar.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Análise da temporada: AZ

Guus Til foi um símbolo do que foi a temporada do AZ no Campeonato Holandês: decepcionante no turno, de volta ao ritmo elogiável no returno (VI Images)

Colocação final: 4º colocado, com 58 pontos
No turno havia sido: 7º lugar, com 25 pontos
Time-base: Bizot; Svensson, Vlaar, Hatzidiakos e Ouwejan; Midtsjo, Til e Maher; Stengs, Seuntjens e Idrissi
Técnico: John van den Brom
Maior vitória: AZ 5x0 NAC Breda (1ª rodada) e AZ 5x0 Emmen (20ª rodada)
Maior derrota: Ajax 5x0 AZ (8ª rodada)
Principal jogador: Oussama Idrissi (atacante) 
Artilheiro: Guus Til (meio-campista), com 12 gols
Quem deu mais passes para gol: Thomas Ouwejan (lateral esquerdo) e Oussama Idrissi (atacante), ambos com 6 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Marco Bizot (goleiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado nas semifinais, pelo Willem II
Competição continental: Liga Europa (eliminado na segunda fase preliminar, pelo Kairat-CAZ)

Quando o primeiro turno do Campeonato Holandês se encerrou, a pergunta geral dos torcedores do AZ era: "Como assim?". Como um time que já se habitua a ser o "melhor do resto" na Eredivisie, ficando várias vezes logo abaixo dos três grandes nas últimas temporadas, fazia uma campanha tão apagada, abaixo de Utrecht, Vitesse, Heracles Almelo? A resposta era simples: o time de Alkmaar passava por uma readaptação - ou por um fim de ciclo. Demorou para achar substitutos no ataque à dupla Alireza Jahanbakhsh-Wout Weghorst, ambos destaques de 2017/18. Precisou fazer algumas mudanças na defesa, com lesões ocorridas. E finalmente, a sensação era de que... o time já dera o que tinha de dar sob o comando de John van den Brom. Até por isso, no começo deste ano, o técnico anunciou que sairia dos Alkmaarders quando a temporada acabasse.

Coincidência ou não, o fato é que bastou a pausa de inverno acabar e o returno começar para o AZ mostrar por que é um clube merecedor de respeito: enfileirou cinco vitórias seguidas, para superar todos os outros times de "classe média-alta" da Eredivisie e voltar à quarta posição. Começava a terceira melhor campanha das últimas 17 rodadas, só abaixo da dupla Ajax-PSV. O time enfim se assentava no ataque: à medida que ganhava ritmo de jogo após a grave lesão no joelho, Calvin Stengs era insinuante e ofensivo na ponta direita, como se nem tivesse se machucado. Do outro lado, Oussama Idrissi fazia a mesma coisa - e marcava até mais gols do que Stengs. No meio da área, já que Bjorn Johnsen desapontava, Mats Seuntjens virava um "falso 9", trocando de posições e possibilitando os avanços sempre perigosos e surpreendentes de Guus Til, que cresceu de produção no returno, se tornando o goleador da equipe na liga. No meio-campo, Adam Maher voltava a viver bons momentos na carreira. E na zaga, Ron Vlaar se livrou da sequência de novas lesões, enquanto Marco Bizot se confirmou como um ótimo goleiro.

E o AZ foi subindo. Recebeu o Ajax em Alkmaar (26ª rodada) e sufocou os futuros campeões holandeses até fazer 1 a 0. Recebeu o PSV, também em casa (penúltima rodada), e praticamente definiu o campeonato, com mais um triunfo por 1 a 0, deixando o título nacional "no colo" do Ajax. Chegou até a ser terceiro colocado, por duas rodadas, aproveitando a inconstância do Feyenoord. Aí, viveu seu pior momento no returno: uma sequência de três jogos sem vitória - incluindo aí um 2 a 1 sofrido de virada para os Feyenoorders, na 31ª rodada - acabou com o sonho do AZ. Mas, pelo menos, o respeito já havia sido recuperado.

Se a torcida perguntou "como assim?" no primeiro turno, o campeonato se encerrou com os adeptos do AZ dizendo um aliviado "ah, bom!". Foi como se, após o susto, o clube enfim provasse do que é capaz. Fica a dúvida se seguirá provando, com a promoção do auxiliar Arne Slot a técnico.

domingo, 23 de junho de 2019

Análise da temporada: Vitesse

O gesto e a expressão do destaque Odegaard descrevem bem a temporada do Vitesse no Campeonato Holandês: decepção, pela queda na repescagem pela Liga Europa, mas um campeonato merecedor de aplausos (VI Images)

Colocação final: 5º colocado, com 53 pontos (na frente pelo melhor saldo de gols) - derrotado pelo Utrecht na decisão dos play-offs por vaga na Liga Europa
No turno havia sido: 5º colocado, com 26 pontos
Time-base: Pasveer (Eduardo); Karavaev, Doekhi, Clarke-Salter (Van der Werff) e Clark; Odegaard, Serero, Foor (Bero) e Büttner; Linssen e Darfalou (Buitink/Dauda/Matavz)
Técnico: Leonid Slutsky
Maior vitória: Vitesse 6x1 De Graafschap (34ª rodada)
Maior derrota: Vitesse 0x4 Ajax (4ª rodada)
Principais jogadores: Martin Odegaard (meio-campista/atacante) e Bryan Linssen (atacante)
Artilheiro: Bryan Linssen (atacante), com 12 gols
Quem deu mais passes para gol: Martin Odegaard (meio-campista), com 12 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Viacheslav Karavaev (lateral direito), com 37 partidas - 33 pela temporada regular, quatro pela repescagem por vaga na Liga Europa
Copa nacional: eliminado nas quartas de final, pelo AZ
Competição continental: Liga Europa (eliminado na terceira fase preliminar, pelo Basel-SUI)

Quando o Campeonato Holandês da temporada passada começava, a goleada do Ajax sobre o Vitesse (4 a 0, na 4ª rodada) assustou. Não pela derrota em si: afinal, os Ajacieden são e sempre serão favoritos sobre os aurinegros de Arnhem, em qualquer circunstância. Mas pelo placar: por mais inferior que seja, o Vites não tinha time para sofrer derrota tão acachapante. E comprovou isso no decorrer da temporada: foi uma equipe firme. Dificultou as coisas para os times grandes - como esquecer o emocionante 3 a 3 contra o PSV, um dos melhores jogos do campeonato, colocando o Ajax na rota do título? Sobressaiu-se contra times do mesmo tamanho. E sobrepujou as equipes pequenas com facilidade. Mesmo com a decepção final, perdendo o lugar na Liga Europa, o Vitesse fez outra temporada para ser elogiada.

Até porque motivos para elogio sobraram. Em casa, o Vitesse foi soberano: o "melhor do resto", só tendo menos pontos do que os três grandes. No banco, Leonid Slutsky mostrou inteligência para acomodar o que tinha de melhor no grupo, se alternando entre um time com três atacantes (menos vezes) e um com dois (mais vezes), e também mostrou rapidez para mudar o que não dava certo. Claro, de nada adiantaria se os jogadores não justificassem a confiança. E o fizeram. O melhor exemplo disso foi no ataque. O esloveno Tim Matavz sofreu seríssima fratura na tíbia e na fíbula, contra o Feyenoord, na 7ª rodada? Pois bem: o argelino Oussama Darfalou entrou na posição e amenizou a falta que Matavz fazia, com sete gols. Mais rápido e de movimentação maior no ataque, Bryan Linssen foi ainda melhor, colocando a bola na rede por 12 vezes nesta Eredivisie. E até um novato promissor, Thomas Buitink, impôs respeito, marcando sete gols.

Havia ainda um ótimo meio-campo, muito equilibrado. Enquanto o sul-africano Thulani Serero se mostrava incansável na marcação, o eslovaco Matus Bero e o holandês Navarone Foor se esmeravam na criação de jogadas - sem contar Alexander Büttner, que de lateral frágil defensivamente virou um rápido ala, ao ser escalado no meio. As posições com falhas foram consertadas a tempo: no gol, tão logo começou a falhar, o português Eduardo deu lugar a Remko Pasveer. E acima de todos, houve Martin Odegaard. Longe da badalação do seu surgimento, o norueguês partiu da meia-direita para virar um dos melhores nomes do campeonato: fez gols (9), foi ofensivo, foi criativo, mostrou que tem seu talento (não é grande a ponto de torná-lo craque, mas pode salvá-lo da pecha de "foguete molhado).

Enfim, o Vitesse acabou tendo um fim de temporada mais desgastante, algo já lamentado por Leonid Slutsky. Isso cobrou seu preço na repescagem pela vaga na Liga Europa, quando o time ficou entregue no jogo de volta da decisão, diante do Utrecht, mesmo em casa. Mesmo perdendo a repescagem ganha em 2017/18, o Vites já conquistara o mais importante: mais um ótimo desempenho.

sábado, 22 de junho de 2019

Análise da temporada: Utrecht

O Utrecht começou mal. A chegada de Dick Advocaat o estabilizou taticamente. Os reforços e os destaques apareceram e possibilitaram mais variedade em campo. E o prêmio chegou: vaga na Liga Europa (VI Images)

Colocação final: 6º colocado, com 53 pontos (atrás pelo pior saldo de gols) - vencedor da repescagem por vaga na Liga Europa
No turno havia sido: 4º colocado, com 28 pontos
Time-base: Jensen; Klaiber, Letschert, Willem Janssen e Gavory; Van Overeem, Bazoer (Strieder), Gustafson e Van de Streek (Emanuelson); Kerk e Bahebeck (Boussaid/Dessers)
Técnico: Jean-Paul de Jong (até a 4ª rodada), Marinus Dijkhuizen (interino, na 5ª rodada) e Dick Advocaat (a partir da 6ª rodada)
Maior vitória: VVV-Venlo 2x6 Utrecht (28ª rodada)
Maior derrota: ADO Den Haag 5x0 Utrecht (29ª rodada)
Principais jogadores: Simon Gustafson (meio-campista) e Gyrano Kerk (atacante)
Artilheiro: Simon Gustafson (meio-campista), com 11 gols
Quem deu mais passes para gol: Simon Gustafson (meio-campista) e Gyrano Kerk (atacante), ambos com 9 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Sean Klaiber (lateral direito), Simon Gustafson (meio-campista) e Gyrano Kerk (atacante), todos com 37 partidas - 33 pela temporada regular, quatro pela repescagem por vaga na Liga Europa
Copa nacional: eliminado nas oitavas de final, pelo Feyenoord
Competição continental: nenhuma

Quando a temporada começou, com apenas uma vitória em quatro rodadas, o Utrecht se preocupou com um pensamento: se nada mudasse, talvez o time fizesse uma temporada abaixo do que normalmente está habituado a fazer. Ter caído para o Vitesse, na decisão da vaga na Liga Europa dentro da temporada passada, aumentava a impressão de fim de ciclo. E a ação foi rápida: demissão do técnico Jean-Paul de Jong, ainda na quarta rodada, para a contratação de Dick Advocaat, reconhecidamente mais cauteloso na montagem tática de suas equipes. Deu certo: com uma sequência de quatro vitórias - e cinco jogos sem perder - no primeiro turno, os Utregs embalaram rumo à quarta posição. Foram mudando, mas o embalo continuou. E resultou numa excelente temporada.

Para começo de conversa, o Utrecht mudou dentro de campo por ganhar mais fé no seu taco. Nos primeiros tempos sob o "bombeiro" Advocaat, a opção era uma só: jogar se segurando na defesa, apostando nos contragolpes puxados por Gyrano Kerk e sua velocidade espantosa. Temor do início da temporada afastado, a equipe mostrou mais gente capaz de chamar a responsabilidade. No meio-campo, o sueco Simon Gustafson enfim encontrou um clube com nível técnico para mostrar seu talento, tanto na criação de jogadas quanto na chegada ao ataque, para finalizar. Jogando mais atrás, Joris van Overeem justificou sua contratação, tornando-se mais versátil num papel de marcação. Finalmente, as contratações da pausa de inverno foram certeiras: tanto Riechedly Bazoer quanto Urby Emanuelson fortaleceram o poder ofensivo do Utrecht - e, ao se falar de Emanuelson, mais experiência. Sem contar outras qualidades, como a utilidade de Sean Klaiber na lateral/ala direita e a liderança inquestionável do zagueiro e capitão Willem Janssen.

A volta ruim para o returno (três derrotas nos três primeiros jogos de 2019) vitimou um pouco a equipe do estádio Galgenwaard. Mas a partir daí, seguiram-se oito jogos sem derrota, com cinco vitórias e três empates. Fazendo frente aos três grandes - empatando com o PSV e ganhando do Feyenoord, por exemplo -, o Utrecht se fortaleceu. Viu novas opções também ajudarem no ataque, como Jean-Christophe Bahebeck e Othman Boussaid. Resistiu a um final irregular de temporada, entre vitórias e derrotas. E chegou parecendo suficientemente calejado aos play-offs pelo lugar na Liga Europa, pela quarta vez seguida. Calejado e bem preparado: sobrou fisicamente e se sobressaiu tecnicamente quando necessário, tanto nas semifinais contra o Heracles Almelo quanto na final contra o Vitesse. E enfim, o Utrecht pôde comemorar novamente um lugar num torneio continental. Melhor: após Dick Advocaat estabilizar a equipe, o técnico John van den Brom chega ao clube e encontra um grupo pronto para sonhar com posição até melhor na próxima temporada.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Análise da temporada: Heracles Almelo

O Heracles Almelo teve certas inconstâncias e cansou no fim, mas fez temporada razoável - e a dupla formada por Dalmau (abraçando Peterson) e Kuwas (à direita) no ataque teve grande mérito nela (VI Images)

Colocação final: 7º colocado, com 48 pontos - eliminado nos play-offs por vaga na Liga Europa, pelo Utrecht
No turno havia sido: 6º colocado, com 26 pontos
Time-base: Blaswich; Breukers, Van den Buijs, Rossmann e Czyborra; Osman, Merkel e Duarte (Jesper Drost); Kuwas, Dalmau e Peterson
Técnico: Frank Wormuth
Maior vitória: Heracles Almelo 4x0 De Graafschap (6ª rodada)
Maior derrota: Vitesse 4x0 Heracles Almelo (8ª rodada)
Principais jogadores: Brandley Kuwas (atacante) e Adrián Dalmau (atacante)
Artilheiro: Adrián Dalmau (atacante), com 19 gols
Quem deu mais passes para gol: Brandley Kuwas (atacante), com 10 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Janis Blaswich (goleiro) e Brandley Kuwas (atacante), ambos com 35 partidas - 33 pela temporada regular, duas pela repescagem por vaga na Liga Europa
Copa nacional: eliminado na segunda fase, pelo Vitesse
Competição continental: nenhuma

Quando o Campeonato Holandês começou, o Heracles Almelo tinha uma intenção: voltar a brigar para entrar nos play-offs por vaga na Liga Europa. Em suma: ter de novo a oportunidade de participar de um torneio continental, ainda que nas fases preliminares. Por isso, os Heraclieden aproveitaram a reformulação após a discreta temporada passada para trazer um técnico capacitado (o alemão Frank Wormuth, nome com longos serviços prestados às seleções de base de seu país) e lhe dar carta branca para trabalhar com os reforços. Wormuth fez isso, os reforços deram certo, e o time de Almelo quase conseguiu o que desejava.

Se fosse apenas pelo primeiro turno, o Heracles talvez conseguisse. No gol, Janis Blaswich ocupou com segurança a lacuna deixada pelo belga Bram Castro, enquanto a defesa foi se entrosando ao longo das rodadas. No meio-campo, Alexander Merkel trazia alguma experiência, enquanto o sírio Mohammed Osman se revelava versátil. Nada mais útil para ajudar um ataque com velocidade e habilidade pelas pontas, com Kristoffer Peterson e, principalmente, Brandley Kuwas. Tudo para que Adrián Dalmau se consolidasse como o estrangeiro com mais gols marcados pelos Almelöers numa só temporada. Assim, o time alvinegro amealhou seis vitórias nas primeiras nove rodadas. Parecia, até, destinado a ser "o pequeno surpreendente" da vez - com resultados como o 1 a 1 com o Ajax, em plena Johan Cruyff Arena.

Mas ainda no primeiro turno, um mau final de 2018 (seis derrotas nas últimas sete rodadas do ano) fizeram com que o Heracles começasse a ser ameaçado por quem vinha atrás, no equilíbrio do meio da tabela. O returno começou no mesmo jeito: preocupante - três derrotas nas três primeiras rodadas de 2019. Pelo menos, ao vencer o Ajax (1 a 0, na 21ª rodada - único clube a não perder do campeão holandês na temporada), o Heracles se recompôs minimamente. Continuou perdendo algumas, mas às vezes a dupla Dalmau-Kuwas se encarregava de chamar a responsabilidade, e o Heracles se segurava na zona da repescagem pela vaga na Liga Europa. O final da temporada regular foi ruim - quatro derrotas seguidas, com destaque para a virada do Excelsior, de 4 a 2 contra para 5 a 4 a favor -, mas ancorado nos bons resultados do turno, o clube de Almelo conseguiu se manter entre os quatro que buscariam o lugar na Liga Europa. Mas, com os destaques neutralizados, fracassou contra o Utrecht, sem ameaçar muito. Pior: soube que perderia Brandley Kuwas, para o Al Nasr-EAU. Se serve de consolo, de certa forma, o Heracles fez uma temporada melhor do que a passada. Está no bom caminho.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Análise da temporada: Groningen

Os problemas do primeiro turno deram lugar a uma ascensão irresistível no returno: o Groningen foi das últimas posições à repescagem por vaga na Liga Europa, sem escalas (VI Images)

Colocação final: 8º colocado, com 45 pontos (na frente pelo melhor saldo de gols) - eliminado nos play-offs por vaga na Liga Europa, pelo Vitesse
No turno havia sido: 15º colocado, com 15 pontos
Time-base: Padt; Zeefuik, Te Wierik, Chabot e Handwerker; Doan, Reis, Memisevic e Bruns (Bel Hassani); Mahi e Sierhuis (Gladon)
Técnico: Danny Buijs
Maior vitória: Groningen 5x2 NAC Breda (14ª rodada)
Maior derrota: Heracles Almelo 4x1 Groningen (9ª rodada)
Principais jogadores: Ritsu Doan (meio-campista) e Mimoun Mahi (atacante) 
Artilheiro: Mimoun Mahi (atacante), com 8 gols
Quem deu mais passes para gol: Mimoun Mahi (atacante), com 6 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Sergio Padt (goleiro), que atuou em 36 partidas - 34 pela temporada regular, dois pela repescagem por vaga na Liga Europa
Copa nacional: eliminado na primeira fase, pelo Twente (segunda divisão)
Competição continental: nenhuma

É possível dizer: o Groningen teve o que merecia nesta temporada. Desde o primeiro turno, mesmo numa profunda crise, com sequência negativa (nove derrotas nas onze primeiras rodadas), notava-se que a equipe do norte holandês tinha capacidade para viver momentos mais seguros. A torcida apoiava e mantinha alguma paciência. O técnico Danny Buijs seguia tendo algum respaldo para continuar seu trabalho. E alguns jogadores mostravam capacidade técnica. Mesmo com problemas pessoais rapidamente resolvidos, o goleiro Sergio Padt seguia como um dos mais seguros da posição no campeonato. Ritsu Doan mostrava habilidade, partindo da meia-esquerda para finalizar jogadas, marcar gols, ser o "homem-surpresa" do meio-campo dos Groningers. Ludovit Reis, por sua vez, se exibia como um volante promissor. E Mimoun Mahi, novamente, era o destaque ofensivo, a garantia de gols.

No final do turno, sair da zona de repescagem/rebaixamento já era um sinal de que dias melhores viriam. E o Groningen aproveitou a pausa de inverno da melhor maneira possível: se acalmou, acertou algumas arestas e partiu para um começo notável de returno. Nas nove primeiras rodadas de 2019, seis vitórias dos Groningers - com algumas atuações que mereciam triunfos até mais enfáticos, como o 1 a 0 no Feyenoord, em casa, na 22ª rodada. Até mesmo as derrotas traziam algo de elogiável para o Groningen: foi o caso da vitória do PSV (2 a 1, na 19ª rodada), quando o Groningen trouxe muito perigo para os Boeren no segundo tempo. Ou então, a queda para o campeão Ajax, na 31ª rodada, quando a equipe alviverde só levou o gol da vitória Ajacied aos 83'. Não só os destaques se mantinham fortes (Doan, Reis, Mahi), como alguns coadjuvantes cresciam de produção no Groningen - caso de dois atacantes: Kaj Sierhuis e Paul Gladon, sendo que Gladon às vezes vinha da reserva para marcar gols valiosos, como na vitória por 1 a 0 sobre o Excelsior, na 29ª rodada.

E de um time ameaçado pelo rebaixamento, o Groningen foi quase sem escalas para a disputa por um lugar na repescagem por vaga na Liga Europa. Foi o quarto melhor time no returno, com 30 pontos, só abaixo dos três grandes da Holanda. Teve um mau final de temporada regular, perdendo três jogos nas últimas quatro rodadas. Só que ADO Den Haag e Willem II também tropeçaram. E os Groningers alcançaram os play-offs que pareciam tão distantes no fim do turno. Chegaram a sonhar com a decisão da vaga na Liga Europa, ao vencer o Vitesse no jogo de ida, mas uma excelente atuação de Tim Matavz pôs fim ao sonho no jogo de volta. Tudo bem, a torcida perdoou: o desempenho do Groningen na temporada do Campeonato Holandês já podia ser considerado honroso.

Resultado ótimo. O desempenho, pode melhorar

A pressão sobre a seleção feminina estava forte, por causa do desempenho apenas razoável na Copa. Mas a Holanda conseguiu terminar a primeira fase com três vitórias, e tem a resposta: resultados excelentes (Zhizhao Wu/Getty Images)

Sabe-se que resultado e desempenho são coisas diferentes no futebol. Nem sempre um desempenho bom leva às vitórias, assim como nem sempre um campeão é um time irrepreensível. De certa forma, é o que tem acontecido com a seleção da Holanda nesta Copa do Mundo feminina. O que se viu nesta fase de grupos deixa claro que as Leoas Laranjas ainda têm coisas a melhorar nas atuações - agora, ainda mais, já que começará a fase eliminatória do torneio. No entanto, é justo dizer que os resultados conseguidos pela Laranja são irrepreensíveis. E a vitória por 2 a 1 no Canadá, primeira da história da seleção feminina holandesa sobre o país da América do Norte, mostrou: a Holanda está na Copa a sério.

No começo, parecia que as falhas se sobressairiam, pelo susto logo no primeiro minuto em Reims, quando uma desatenção fez com que Desiree van Lunteren derrubasse Janine Beckie, em jogada que teve pênalti inicialmente apontado pela juíza francesa Stéphanie Frappart - só cancelado quando Frappart foi chamada pelo VAR e notou que Van Lunteren derrubara Beckie ainda fora da área. Pior ainda aos 22', quando a linha de impedimento das holandesas quase foi iludida, com Jordyn Huitema fazendo o gol, no que seria falha da goleira Sari van Veenendaal. Mas a jogada foi anulada. E aos poucos, a Holanda se assentou em campo. Anouk Dekker mostrou imposição física valiosa no miolo de zaga, enquanto Merel van Dongen justificou plenamente a opção da técnica Sarina Wiegman por sua escalação na lateral esquerda, deixando Kika van Es no banco: mantendo bem a posse de bola e precisa nos desarmes, Van Dongen deu mais segurança à defesa.

A defesa da Holanda continuou com dificuldades - mas Van Dongen, com boa atuação, trouxe mais segurança (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

A partir dessa segurança, o time laranja cresceu. Após um momento de superioridade canadense, houve crescimento. Com mais espaço, Sherida Spitse e Jackie Groenen conseguiram avançar e ajudar o ataque - coisa que Daniëlle van de Donk continua fazendo, se consolidando como uma das melhores da Holanda na Copa (e quase tendo seu desempenho premiado com um gol de bicicleta, aos 34'). Shanice van de Sanden teve pouco espaço - mas quando teve, trouxe perigo. Como aos 30', num cruzamento rebatido com dificuldades pela goleira Stéphanie Labbé, antes que a zagueira Shelina Zadorsky impedisse o gol. E também aos 33', quando a camisa 7 da Holanda criou uma jogada que fez com que Vivianne Miedema mandasse a bola na trave. Mesmo que fosse vulnerável, a Holanda comprovou no primeiro tempo: quanto mais espaço tem para jogar, melhor joga. A única a destoar disso era justamente a jogadora de quem mais se esperava: Lieke Martens, outra vez submissa à marcação.

E o gol de Anouk Dekker, aos 54', premiou tudo isso: o crescimento de nível da seleção, a boa atuação de Dekker, a superioridade diante do Canadá. Mas sempre era bom lembrar: apesar de seu nível técnico elogiável, a seleção feminina mantém problemas a serem resolvidos. Dois deles são o espaço dado às adversárias no campo de defesa e a falta de firmeza nas divididas (raras vezes as jogadoras holandesas ficam com a sobra). O primeiro foi visível no gol de empate do Canadá, aos 60': as canadenses tiveram todo o espaço para trocarem passes, até Ashley Lawrence chegar pela direita, cruzar, e Christine Sinclair superar Van Lunteren para marcar gol na quinta Copa consecutiva de sua carreira.

Mas se as falhas ficaram claras, as qualidades holandesas também ficaram. A começar pela coragem de Sarina Wiegman nas substituições: já vista na troca de Van Es por Van Dongen, foi novamente exposta quando Martens deu lugar a Lineth Beerensteyn. E a atacante da camisa 21 mostrou pela esquerda a velocidade que Van de Sanden já não conseguia dar na direita. Outra qualidade: a técnica. Se o Canadá podia trocar passes com eficiência, a Holanda também podia. E fez isso no gol da vitória, somando individualidade e coletividade: Beerensteyn passou por duas canadenses e passou a Miedema, que fez o pivô para Groenen aparecer na direita, cruzar para Beerensteyn, e esta fazer o 2 a 1 que premiou sua excelente entrada.

Beerensteyn teve no gol da vitória que marcou um prêmio justo à sua boa entrada em campo (Reuters)

A Holanda seguiu sofrendo nos quinze minutos restantes: seguiu perdendo divididas, viu Adriana Leon trazer qualidade técnica ao ataque do Canadá, que quase empatou aos 83', com Beckie (talvez, a melhor canadense em campo). Mas, por fim, segurou a vitória, e tem resultados irrepreensíveis para poder conter as queixas em relação ao desempenho mediano. Se Sherida Spitse se dizia "de saco cheio" das críticas, na coletiva pré-jogo, Van de Donk pôde se gabar, dizendo que o triunfo "calou um pouco a boca dos críticos". Não é bem assim. Mas, pelo menos, ficou claro: a Holanda pode superar o Japão, rival das oitavas de final, como na Copa de 2015. E Lieke Martens já prometeu, na zona mista: "Não perderemos novamente das japonesas".

Motivação e capacidade técnica: dois fatores que ajudam um time a crescer. E a Holanda mostrou que pode crescer, nesta terça, com sua melhor atuação na Copa. Não veio à França a passeio.

Copa do Mundo feminina - fase de grupos - 3º jogo
Holanda 2x1 Canadá
Data: 20 de junho de 2019
Local: Auguste-Delaune (Reims)
Árbitra: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Anouk Dekker, aos 54', Christine Sinclair, aos 60', e Lineth Beerensteyn, aos 75'

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Anouk Dekker e Merel van Dongen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Renate Jansen) e Sherida Spitse (Jill Roord); Shanice van de Sanden, Vivianne Miedema e Lieke Martens (Lineth Beerensteyn). Técnica: Sarina Wiegman

Canadá
Stephanie Labbé; Ashley Lawrence, Kadeisha Buchanan, Shelina Zadorsky e Allysha Chapman (Jayde Rivière); Jessie Fleming, Desirée Scott (Rebecca Quinn) e Sophie Schmidt; Jordyn Huitema, Christine Sinclair (Adriana Leon) e Janine Beckie. Técnico: Kenneth Heiner-Moller

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Análise da temporada: ADO Den Haag

El Khayati foi o nome que sempre mereceu confiança do ADO Den Haag na temporada. Talvez, aliás, o time tenha sido individual demais... (VI Images)

Colocação final: 9º colocado, com 45 pontos (atrás pelo pior saldo de gols)
No turno havia sido: 11º colocado, com 20 pontos
Time-base: Zwinkels; Malone, Beugelsdijk, Kanon e Meijers; Danny Bakker, El Khayati e Immers; Becker (Hooi), Necid e Falkenburg
Técnico: Alfons "Fons" Groenendijk
Maior vitória: ADO Den Haag 6x2 Willem II (33ª rodada)
Maior derrota: ADO Den Haag 0x7 PSV (5ª rodada)
Principal jogador: Nasser El Khayati (meio-campista/atacante)
Artilheiro: Nasser El Khayati (meio-campista/atacante), com 17 gols
Quem deu mais passes para gol: Nasser El Khayati (meio-campista/atacante), com 12 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Lex Immers (meio-campista), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado na segunda fase, pelo Feyenoord
Competição continental: nenhuma

Você leu bem quem foi o goleador do ADO Den Haag: Nasser El Khayati. Viu quem deu mais passes para gol (assistências, se você prefere): El Khayati, de novo. Só esses dois dados já mostram o tamanho da dependência que o clube de Haia teve em relação ao meio-campista marroquino nascido em Roterdã - dependência que já dura há algumas temporadas, por sinal. Por mais que os coadjuvantes tenham sido úteis para o Den Haag no Campeonato Holandês, El Khayati era o nome sem o qual a equipe não embalava. E isso a prejudicou, num meio de tabela com equilíbrio entre os participantes, porque o ADO poderia ter sido um dos clubes na repescagem por vaga na Liga Europa.

Após um primeiro turno de mais sustos, o Den Haag mostrou regularidade no returno. A defesa se assentou, com as falhas sendo corrigidas. Se Indy Groothuizen tinha atuações inseguras no gol, logo Robert Zwinkels, experiente e ídolo da torcida, voltou a ser titular debaixo das três traves. Tom Beugelsdijk pode até ser um zagueiro violento por vezes (12 cartões amarelos na temporada!), mas a torcida o ama, seu esforço é inegável na zaga, e ele ficou entre os titulares - junto ao bom marfinense Wilfried Kanon. No meio-campo, o experiente Lex Immers foi um escudeiro valioso para El Khayati. E no ataque, havia opções que possibilitaram ao técnico "Fons" Groenendijk vários estilos: a bola aérea com Tomas Necid, a velocidade pelas pontas com Sheraldo Becker e Elson Hooi, a habilidade com Erik Falkenburg.

Só que a regularidade do ADO Den Haag foi até demasiada. O time demorou para embalar na segunda metade do campeonato: a vitória só veio na 20ª rodada, e as seis rodadas sem vencer (entre a 23ª e a 28ª rodadas, o que incluiu um 5 a 1 do Ajax sofrido em casa) diminuíram demais as esperanças de brigar seriamente por vaga no play-off valendo lugar na Liga Europa. Houve uma reação elogiável na reta final - cinco vitórias nas últimas seis rodadas, incluindo aí um 2 a 0 no Feyenoord em pleno De Kuip -, mas já era tarde. E o Den Haag foi mais um clube que ficará pensando: a temporada poderia ter sido melhor, se o time acompanhasse o ritmo de um jogador  - no caso, claro, El Khayati.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Análise da temporada: Willem II

Alexander Isak chegou e apagou qualquer temor de que o Willem II perdesse um homem-gol. Faltou ao time acompanhar o ritmo do ataque (VI Images) 

Colocação final: 10º colocado, com 44 pontos
No turno havia sido: 12º colocado, com 19 pontos
Time-base: Wellenreuther; Dankerlui (Lewis), Heerkens, Meissner e Palacios; Llonch (Anita), Tapia e Crowley; Vrousai, Isak e Pavlidis
Técnico: Adrie Koster
Maior vitória: Willem II 5x0 Heracles Almelo (3ª rodada)
Maior derrota: PSV 6x1 Willem II (4ª rodada)
Principais jogadores: Alexander Isak (atacante)
Artilheiro: Alexander Isak (atacante), com 13 gols - Fran Sol (atacante, que deixou o clube em janeiro), também fizera 13 gols pelo Campeonato Holandês
Quem deu mais passes para gol: Damil Dankerlui (lateral direito) e Daniel Crowley (meio-campista), ambos com 7 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Daniel Crowley (meio-campista), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: vice-campeão
Competição continental: nenhuma

Quando o primeiro turno do Campeonato Holandês terminou, o Willem II foi para os treinamentos da pausa de inverno com uma sensação incômoda: tinha um poderoso ataque, um desempenho ofensivo respeitável, um meio-campo razoável... e ainda assim, não decolava no campeonato. A má sensação ficou pior durante a pausa da Eredivisie: afinal, o espanhol Fran Sol, que vinha sendo a garantia de gols nos Tricolores até então, se foi para o Dynamo de Kiev. Aí houve a dúvida: quem poderia continuar balançando as redes pelo time de Tilburg, mantendo a campanha regular - que vinha evoluindo na Copa da Holanda? Foi então que o sueco Alexander Isak chegou por empréstimo, vindo do Borussia Dortmund. E disse: "Eu!".

O jovem de 19 anos e ascendência da Eritreia se encaixou como luva no meio do ataque. Vieram mais dois gregos, Marios Vrousai e Vangelis Pavlidis. E coube a esses três formarem o "ataque VIP", que manteve o ótimo rendimento do Willem II na frente. Principalmente Isak, claro: bastaram 16 jogos para o atacante fazer 13 gols, justificando os adjetivos promissores com que era qualificado nos tempos de Borussia Dortmund - e até rendendo um prêmio pessoal, com a transferência do sueco para a Real Sociedad. Mas de nada adiantaria ter um ataque hábil e entrosado se não fosse outra boa contratação na pausa de inverno: o volante peruano Renato Tapia, emprestado pelo Feyenoord, que fortaleceu o poder de marcação. E os Tricolores fizeram um returno até melhor do que o primeiro turno, com atuações notáveis fora de casa: foram o terceiro melhor time do campeonato fora de seu estádio, só abaixo de PSV e Ajax - com destaque para o 3 a 2 no Feyenoord, em pleno De Kuip.

Só que a inconstância na Eredivisie (três derrotas seguidas, entre a 19ª e a 21ª rodadas, e quatro vitórias em sequência, entre a 25º e a 28ª rodadas) fez com que o time se mirasse na Copa da Holanda, na qual vinha avançando. E os Tilburgers foram, foram, passaram pelo AZ nas semifinais via decisão de chutes da marca do pênalti, e conseguiram ir à decisão da KNVB Beker, sonhando com o que seria o título mais importante da história do clube na era moderna do futebol holandês. O Ajax acabou com o sonho, com a goleada inapelável na final da copa. E o Willem II ficou sem gás para a reta final da temporada: três derrotas nos últimos três jogos da liga. Num meio de tabela equilibrado, acabou-se o sonho de ir à repescagem por vaga na Liga Europa. Restou aos torcedores tricolores se contentarem com uma temporada elogiável - que poderia ter sido ainda melhor se o time acompanhasse o ritmo do ataque...

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Análise da temporada: Heerenveen

Lammers (de frente) e Vlap (camisa 10, de costas) foram os maiores responsáveis pelo Heerenveen não sucumbir às fragilidades defensivas, numa temporada apenas regular (VI Images)

Colocação final: 11º colocado, com 41 pontos (na frente pelo melhor saldo de gols)
No turno havia sido: 10º colocado, com 20 pontos
Time-base: Hahn; Floranus (Schmidt), Hoegh, Pierie e Woudenberg; Van Amersfoort, Kobayashi (Thorsby) e Rienstra; Van Bergen, Lammers e Vlap
Técnico: Jan Olde Riekerink (até a 29ª rodada) e Johnny Jansen (a partir da 30ª rodada)
Maior vitória: Willem 1x5 Heerenveen (15ª rodada)
Maior derrota: Heerenveen 0x4 Ajax (9ª rodada)
Principais jogadores: Michel Vlap (meio-campista/atacante) e Sam Lammers (atacante)
Artilheiro: Michel Vlap (meio-campista/atacante) e Sam Lammers (atacante), ambos com 16 gols
Quem deu mais passes para gol: Yuki Kobayashi (meio-campista), com 8 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Warner Hahn (goleiro) e Michel Vlap (meio-campista), que jogaram todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado nas quartas de final, pelo Ajax
Competição continental: nenhuma

De certa forma, nesta temporada o Heerenveen continuou onde costuma estar no Campeonato Holandês: seguro no meio da tabela, rondando a zona de vagas na repescagem por um lugar na Liga Europa. Entretanto, quase nunca o Fean conseguiu ser um concorrente real a tal vaga, por vários motivos. O primeiro, e talvez o mais grave, foi a fragilidade da defesa: se não chegou a ser a mais vazada desta Eredivisie, tomar 73 gols é um fator de forte desconfiança, por mais que o goleiro Warner Hahn tenha estado em todas as partidas e que o zagueiro Kik Pierie tenha acertado a transferência para o Ajax. No meio-campo, também faltou uma proteção maior à zaga: o veterano Stijn Schaars se lesionou muito (também por isso, anunciou o fim da carreira), e o norueguês Morten Thorsby entrou em rota de colisão com a diretoria: queria ter ido para a Sampdoria em janeiro, mas só irá para o clube italiano agora.

Alguns resultados deixaram clara a tendência incômoda do time da Frísia a ir buscar a bola nas redes: 5 a 3 para o Feyenoord (3ª rodada), 4 a 0 para o Ajax (9ª rodada), 2 a 0 para o AZ (18ª rodada - este, inclusive, teve falha risível da defesa). E estas derrotas tiveram outro fator que impediu o Heerenveen de decolar na temporada: foram todas em casa. Pois é: por incrível que pareça, jogar no Abe Lenstra, o seu estádio, foi garantia de problemas. Em 17 jogos em casa, foram apenas quatro vitórias. Os problemas da diretoria também interferiram, algumas vezes. Mas, é claro, nem tudo foi ruim. A começar pelo desempenho esplendoroso da dupla de destaque no clube alviazul. No meio e no ataque, Michel Vlap poderia até parecer desengonçado, mas sempre era técnico com a bola nos pés, criando jogadas. Emprestado pelo PSV para ganhar experiência, o atacante Sam Lammers chegou para ser o homem-gol do Heerenveen, e o foi, como goleador do clube no campeonato. Na ponta direita, se Arber Zeneli saiu antes do returno, Mitchell van Bergen o substituiu dignamente.

Todos esses destaques ofensivos renderam algumas boas partidas, como o empate em 2 a 2 com o PSV, quando o time de Eindhoven só igualou o placar nos acréscimos. E principalmente, o 4 a 4 com o Ajax, melhor exemplo das duas principais características do time na temporada (qualidade ofensiva e fragilidade defensiva). Com esses problemas, o técnico Jan Olde Riekerink foi a vítima, sendo demitido na reta final. Johnny Jansen assumiu interinamente, e o Heerenveen também tropeçou: só uma vitória nas últimas sete rodadas. Porém, como havia clubes piores e como não havia opções de qualidade, Jansen acabou sendo efetivado para esta temporada. Caberá a ele ajudar a manter o poder ofensivo. E melhorar a qualidade defensiva, é lógico.

domingo, 16 de junho de 2019

Análise da temporada: VVV-Venlo

Peniel Mlapa (centro) ajudou o VVV-Venlo com seus gols. Faltou a defesa ajudar mais no segundo turno (VI Images)

Colocação final: 12º colocado, com 41 pontos (atrás pelo pior saldo de gols)
No turno havia sido: 8º colocado, com 23 pontos
Time-base: Unnerstall; Rutten, Röseler, Kum e Janssen; Van Ooijen, Post e Susic; Grot (Opoku), Mlapa e Joosten
Técnico: Maurice Steijn
Maior vitória: VVV-Venlo 4x1 De Graafschap (31ª rodada)
Maior derrota: Ajax 6x0 VVV-Venlo (20ª rodada) 
Principais jogadores: Lars Unnerstall (goleiro) e Peniel Mlapa (atacante)
Artilheiro: Peniel Mlapa (atacante), com 15 gols
Quem deu mais passes para gol: Johnatan Opoku (meio-campista/atacante) e Patrick Joosten (atacante), ambos com 5 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Nils Röseler (zagueiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado na segunda fase, pelo AZ
Competição continental: nenhuma

É possível abordar de duas maneiras a temporada feita pelo clube aurinegro de Venlo no Campeonato Holandês. A primeira maneira é positiva: tratou-se de um time com firmeza elogiável, em algumas rodadas. Em casa (com gramado sintético, diga-se de passagem), várias vezes ofereceu dificuldade a rivais mais fortes - em De Koel, só perdeu de Ajax e PSV com gols nos últimos minutos. No ataque, tinha em Peniel Mlapa um atacante com força física e capacidade de finalização, além de parceiros como Jay-Roy Grot e Patrick Joosten, que traziam alguma velocidade pelas pontas. Enfim, foi mais uma temporada que mostrou o trabalho sólido do técnico Maurice Steijn à frente dos Venlonaren.

Mas há uma segunda maneira. E ela é negativa. Aliás, já pode ser exemplificada pelo fato de um dos destaques do VVV na temporada do Holandês ter sido, novamente, o goleiro: já comprado pelo PSV e emprestado para ficar em Venlo por mais uma temporada, o alemão Lars Unnerstall teve de trabalhar muito de novo. Se goleiros de times pequenos precisam trabalhar, em geral, isso se deve à fragilidade da defesa - e a zaga do VVV ficou mais frágil no returno, após a séria lesão de Jerold Promes. Além do mais, se vendia caro as derrotas para os clubes mais fortes, às vezes a equipe permitia que adversários lhe fizessem de gato e sapato em casa - como fez o Utrecht, que virou um 2 a 1 contrário para 6 a 2 a favor na 28ª rodada, e o Emmen, que venceu por 3 a 2 com gol nos acréscimos. Além do mais, determinadas sequências negativas - como três jogos sem vitória, entre a 22ª e a 25ª derrotas - impediram aspirações mais altas no campeonato.

Se não teve um returno tão ruim quanto em 2017/18, o VVV-Venlo caiu de produção novamente na reta final do campeonato - só duas vitórias nas últimas seis rodadas. E terá de passar por reformulação rumo à próxima temporada: afinal, figuras-chaves, como Unnerstall e o próprio treinador Maurice Steijn, deixaram o clube. Diante das quedas bruscas, fica a dúvida se isso acontecerá sem impactos pesados demais.

sábado, 15 de junho de 2019

Análise da temporada: Zwolle

O Zwolle precisava melhorar logo, se não quisesse se afundar na disputa contra o rebaixamento. Jaap Stam chegou, alguns reforços também, o time subiu e conseguiu ficar na Eredivisie (Klaas Jan van der Weij/de Volkskrant)

Colocação final: 13º colocado, com 39 pontos
No turno havia sido: 16º colocado, com 15 pontos
Time-base: Van der Hart; Lachman, Lam, Van Polen e Paal; Namli, Hamer e Flemming (Leemans/Clement); Ehizibue, Van Duinen e Van Crooij (Thy)
Técnicos: John van't Schip (até a 16ª rodada), Gert-Peter de Gunst (interino, na 17ª rodada) e Jaap Stam (a partir da 18ª rodada)
Maior vitória: Zwolle 5x0 Fortuna Sittard (29ª rodada)
Maior derrota: PSV 4x0 Zwolle (28ª rodada)
Principais jogadores: Younes Namli (meio-campista) e Vito van Crooij (atacante)
Artilheiro: Vito van Crooij (atacante) e Lennart Thy (meio-campista/atacante), ambos com 9 gols
Quem deu mais passes para gol: Younes Namli (meio-campista) e Kingsley Ehizibue (ala direito), ambos com 7 passes para gol
Quem mais partidas jogou: Younes Namli (meio-campista) e Mike van Duinen (atacante), ambos com 33 partidas
Copa nacional: eliminado nas oitavas de final, pelo AZ
Competição continental: nenhuma

Quando o primeiro turno terminou, a situação do Zwolle era ruim. Não chegava ao ponto de esperar quase inevitavelmente pelo rebaixamento, como NAC Breda ou De Graafschap, mas os problemas ofensivos e a inconstância deixavam os "Dedos Azuis" na 16ª posição do Campeonato Holandês. Mais do que problemas, havia a sensação de "fim de ciclo": parecia que o técnico John van't Schip já não conseguia rendimento do grupo. Parecia que os jogadores precisavam de um "chacoalhão" para melhorarem. Pois bem: os Zwollenaren trabalharam para isso na pausa de inverno da Eredivisie. E tiveram o crescimento desejado no returno: se a temporada continuou mediana, pelo menos o time garantiu manutenção na primeira divisão sem sofrimentos.

O "chacoalhão" supracitado veio com uma primeira contratação. Após começar sua carreira no banco como auxiliar técnico do Zwolle, Jaap Stam voltou ao clube - agora, como treinador principal, já com alguma experiência. Manteve o esquema com o qual os jogadores já estavam acostumados, mas conseguiu fazer o time ser mais intenso. Para isso, junto de Stam, vieram alguns jogadores emprestados, que seriam muito úteis para a equipe alviazul. No meio-campo, um reforço para o returno foi Pelle Clement, já conhecido de Stam dos tempos em que o ex-zagueiro treinou o Reading-ING. No ataque, Lennart Thy foi reforço ainda mais certeiro: após boa temporada pelo VVV-Venlo em 2018/19, o alemão estava sem ritmo de jogo no Erzurumspor-TUR, e lá foi buscado para ser titular. Já na primeira partida do returno, pela 18ª rodada, a sensação positiva tomou conta da torcida: um categórico 3 a 1 no Feyenoord.

Era a abertura de uma sequência de três vitórias - a última delas, na 21ª rodada, um palpitante 4 a 3 no Utrecht, após estar perdendo por 3 a 1 até os 75'. Os reforços entraram e se adequaram perfeitamente. Alguns jogadores foram prestigiados por Stam e trouxeram a intensidade desejada na marcação, como o volante Gustavo Hamer. E os destaques tiveram desempenho potencializado, como Younes Namli (cada vez mais hábil no meio-campo) e a dupla Van Crooij-Van Duinen, que rendeu os gols necessários. O bom trabalho que fez já rendeu a Jaap Stam uma chance muito mais impactante, no Feyenoord, a partir de 2019/20. E o Zwolle conseguiu o que lhe faltava para conseguir tranquilamente mais um ano na primeira divisão. Passou longe de ser perfeito - nas últimas cinco rodadas, foram três derrotas -, mas outros times foram piores. De todo modo, resolveu seus problemas em 2018/19. Nos seis anos de Eredivisie para os Zwollenaren, esta foi uma temporada de "baixos". Ficam as lições para o time tentar viver "altos", novamente.

Vitória com vulnerabilidades

Miedema fez dois gols, e pôde até dar cambalhota para comemorar. Mas Holanda passou perto dos sustos contra Camarões (Alex Caparros/FIFA/Getty Images)

A vitória sobre a Nova Zelândia já deixara claro: a seleção feminina da Holanda tem sérias dificuldades quando não consegue impor seu estilo de jogo ao adversário. Já era visível antes da Copa do Mundo começar, ficou mais visível contra as neozelandesas, e voltou a ser visível neste sábado, contra Camarões, na segunda partida das Leoas Laranjas. Entretanto, se têm problemas, as holandesas também possuem jogadoras capazes de minorarem as dificuldades. Uma delas, enfim, brilhou neste sábado, em Valenciennes: Vivianne Miedema. Com ela como grande destaque, a Laranja alcançou o triunfo por 3 a 1, que pelo menos já lhe garante nas oitavas de final da Copa. Ficaram as vulnerabilidades, que ainda podem ser corrigidas durante os treinos.

Nos primeiros momentos do jogo no Stade du Hainaut, duas coisas ficaram claras. A primeira: sim, a Holanda teria mais espaço para avançar, ser mais ofensiva, mais perigosa - tanto que, logo aos cinco minutos, Lieke Martens passou por duas marcadoras, e a bola sobrou para Shanice van de Sanden quase marcar. A segunda: Camarões podia até ser mais fraca tecnicamente, mas não se entregaria sem luta. Não só as Leoas Indomáveis mostravam força física nas divididas, como também tinham jogadoras capazes de trazerem problemas à defesa holandesa. Mais precisamente, duas: Gaëlle Enganamouit, enfim titular (que tentou pela primeira vez aos 12', num chute de fora) e, principalmente, Gabrielle Aboudi Onguené.

A atacante camaronesa da camisa 7 mostrava velocidade, imposição, alguma técnica, e deu trabalho nos contra-ataques. Principalmente aos 22 minutos, quando se valeu do escorregão de Desiree van Lunteren (hoje, um pouco pior do que contra a Nova Zelândia) para chutar perto do gol. Nas divididas, a atacante mostrava força - como, de resto, toda a seleção camaronesa. Às vezes, força até demais: como aos 37', quando Geneviève Ngo Mbeleck levantou o pé e atingiu a mão de Jackie Groenen, levando o cartão amarelo. No entanto, se o objetivo era truncar o jogo, Camarões conseguia. E a Holanda mostrava submissão a isso. Não só: mostrava lentidão na saída para o jogo, falta de atenção (foram muitas bolas perdidas no meio-campo), preocupava com os espaços na defesa, enfim, era até mais decepcionante do que fora contra a Nova Zelândia.

E não precisava ser assim, porque espaço havia no ataque. Nem tanto para Lieke Martens, outra vez sucumbindo à marcação, mas principalmente para Vivianne Miedema, mais perigosa e efetiva, e para Van de Sanden, sempre o principal desafogo das jogadas na direita. A camisa 7 sofreu no começo do jogo, com dois escorregões impedindo dois cruzamentos. Trocou a chuteira, e numa das primeiras jogadas em que recebeu a bola, foi precisa: mandou para o meio da área, e Miedema completou para as redes, fazendo o seu 59º gol pela seleção da Holanda e abrindo o placar. Só não foi o melhor fim de 1º tempo possível porque Camarões, enfim, aproveitou os excessivos avanços da defesa: um lançamento mandou a bola a Aboudi Onguené, a goleira Sari van Veenendaal saiu do gol e errou com o quicar da bola, e a atacante camaronesa ficou livre para fazer 1 a 1.

Camarões se esforçou mais na marcação, mas Aboudi Onguené deu algum trabalho no ataque (Robert Cianflone/Getty Images)


Poderia ter sido desastroso. Não foi, porque, no começo do segundo tempo, as individualidades holandesas se impuseram numa jogada ensaiada, logo aos 48'. Sherida Spitse cobrou uma falta mandando a bola para Groenen, esta cruzou, Michaella Abam fracassou ao tentar afastar, e Bloodworth pôde apagar as más lembranças do gol perdido contra a Nova Zelândia, fazendo seu primeiro gol pela seleção. A partir daquele momento, a Holanda ficou um pouco mais tranquila em campo. Principalmente, pela boa atuação das três meio-campistas. Cuidando do auxílio à defesa, Sherida Spitse foi mais segura; rápida no meio-campo, Daniëlle van de Donk se consolida como a melhor da Holanda na Copa até aqui; e Jackie Groenen, enfim, se apresentou como opção real de jogadas na direita, ajudando bastante no ataque.

Com isso, era possível manter mais a posse de bola, impedindo que Camarões assustasse, mesmo que tivesse mais atacantes com as entradas de Henriette Akaba e Ajara Nchout. Só houve uma chance, e quase a seleção africana a aproveitou: aos 81', Aboudi Onguené passou por Bloodworth, cruzou, Akaba completou de primeira, e o 2 a 2 só não aconteceu porque a bola desviou em Anouk Dekker e saiu. Mas a Holanda também tentava acelerar o ataque, com as entradas de Lineth Beerensteyn e Jill Roord. Teve a sua chance, aos 85'. E conseguiu o 3 a 1 da tranquilidade, com Miedema se isolando como maior goleadora da história da seleção feminina.

Valeu pelo triunfo, valeu pela classificação. Mas as declarações de várias jogadoras holandesas, como Miedema e Van de Donk, foram unânimes: a seleção da Holanda ainda não foi boa o bastante. Não foi mesmo. Pelo menos, poderá entrar sem pressão contra o Canadá, na próxima quinta. Mas das oitavas em diante, qualquer erro terá de ser minimizado ao máximo. E as Leoas Laranjas ainda estão errando muito.

Copa do Mundo feminina - fase de grupos - 2º jogo
Holanda 3x1 Camarões
Data: 15 de junho de 2019
Local: Stade du Hainaut (Valenciennes)
Árbitro: Casey Reibelt (Austrália)
Gols: Vivianne Miedema, aos 41' e aos 85', e Gabrielle Aboudi Onguené, aos 43'; Dominique Bloodworth, aos 48'

Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Dominique Bloodworth, Anouk Dekker e Kika van Es (Merel van Dongen); Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Jill Roord) e Sherida Spitse; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Camarões
Annette Ngo Ndom; Raïssa Feudjio, Yvonne Leuko, Christine Manie, Estelle Johnson e Claudine Meffometou; Michaella Abam (Charlene Meyong), Jeannette Yango, Geneviève Ngo Mbeleck (Ajara Nchout) e Gabrielle Aboudi Onguené; Gaëlle Enganamouit (Henriette Akaba). Técnico: Alain Djeumfa