Desde a temporada 2008/09, a Holanda (Países Baixos) não tinha tantos clubes em fases introdutórias (então, fase de grupos; agora, fase de liga) de competições europeias. Agora, são seis. Além do mais, são boas as chances do país se manter à frente de Portugal e Bélgica no ranking de coeficientes da UEFA, tendo em vista que o português Santa Clara e o belga Charleroi já foram eliminados nos play-offs por lugar na fase de liga da Conference League. Caso algum clube neerlandês consiga uma boa campanha em Liga dos Campeões, Liga Europa ou Conference, já serviria para talvez, até, perturbar a França no ranking. Contudo, está aí o problema: algum holandês fazer uma campanha notável, ir longe.
É impossível? Claro que não. Afinal de contas, PSV e Feyenoord alcançaram as oitavas de final da Champions em 2024/25. Entretanto, também não puderam sonhar muito em passar delas - assim como Ajax e AZ, ambos despachados também nas oitavas da Liga Europa passada. E pelo modo como esta temporada começou, por incrível que possa parecer, só Utrecht e AZ mostram alguma consistência em campo. O Go Ahead Eagles tem um "caldeirão" em seu estádio, tem alguns jogadores, mas ficam fortes dúvidas sobre o que poderá fazer com a concorrência mais forte da Liga Europa. E os três grandes do país ainda oscilam demais dentro de campo, o que lhes pode prejudicar nas competições continentais. Se é bom ver tantos holandeses chegando a elas, melhor ainda seria voltar a ver um deles indo longe - o último foi o AZ, semifinalista da Conference em 2022/23. A ver quais são as perspectivas.
Liga dos Campeões
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O PSV pode até avançar na Liga dos Campeões, mas terá adversários mais difíceis (Getty Images) |
PSV (lista de inscritos e tabela de jogos)
O atual bicampeão da Eredivisie terá agora desafios maiores do que teve na fase de liga da Champions passada. Nela, inclusive, oscilou: se conseguiu algumas vitórias notáveis - como a virada sobre o Shakhtar Donetsk, na fase de liga (de 2 a 0 contra para 3 a 2, com o terceiro gol nos acréscimos do 2º tempo), ou a eliminação sobre a Juventus, na segunda fase, num Philips Stadion que carregou a equipe para a classificação -, amargou a maior derrota de sua história em torneios europeus, na ida das oitavas de final, com os marcantes 7 a 1 do Arsenal.
Contudo, agora, os adversários na fase inicial parecem um pouco mais exigentes para os Boeren do que em 2024/25: nada menos do que cinco campeões nacionais - Bayern de Munique, Liverpool, Napoli, Olympiacos e Union Saint-Gilloise (estes últimos, mais acessíveis, verdade) -, equipes exigentes em Newcastle e Bayer Leverkusen (este, mesmo com a turbulência da demissão de Erik ten Hag)... além disso, o time de Eindhoven teve perdas sensíveis: Olivier Boscagli, Johan Bakayoko, Malik Tillman, Luuk de Jong. E seu início de Eredivisie mostra algumas fragilidades, ainda. Pelo menos, há alguns destaques remanescentes: Sergiño Dest, Joey Veerman, Guus Til, Ismael Saibari, Ricardo Pepi. Eles precisarão aparecer, para que o PSV possa sonhar em entrar no "bolo" da segunda fase. Talvez, aparecer até mais do que na temporada passada.
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O Ajax começa a temporada oscilante, terá adversários difíceis no começo da fase de Liga dos Campeões... mas pode reagir para ir à segunda fase (Patrick Goosen/BSR Agency/Getty Images) |
Ajax (lista de inscritos e tabela de jogos)
Até que o Ajax teve bom desempenho na Liga Europa passada. Num certo momento, teve até chances de ir diretamente para as oitavas de final. Entretanto, o fim traumático da temporada passada no Campeonato Holandês - perder um título muito próximo para o PSV, após ter vantagem de nove pontos na frente, a cinco rodadas do fim - foi a gota d'água para o técnico Francesco Farioli sair, já em meio a muitas discordâncias com a direção de futebol do clube. Ainda assim, pelo menos, restava um minúsculo prêmio de consolação: voltar à fase de liga da Champions, após três anos. Já era um primeiro passo para sair do mau momento vivido pelo clube.
Mas só um primeiro passo, porque o técnico John Heitinga voltou ao clube que tão bem conhece, para treinar um time de volta à estaca zero: muitos jogadores saindo (Jorrel Hato, Jordan Henderson, Bertrand Traoré, Brian Brobbey), a pressão por um Ajax mais ofensivo em campo, as inconstâncias que o time ainda mostra em campo (já são dois empates em cinco rodadas na Eredivisie), um começo complicado de fase de liga. Internazionale e Chelsea são adversários exigentes; Galatasaray e Benfica até trazem mais equilíbrio, mas entram por cima atualmente. Mas o fim de fase de liga oferece mais possibilidades: Qarabag-AZE, Villarreal-ESP... quem sabe, a essas alturas, o Ajax já esteja mais estabilizado em campo, para poder avançar ao mata-mata.
Liga Europa
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O Feyenoord sonhou em estar na Champions. Estará na Liga Europa. Não é de todo ruim, o time tem condições, mas precisa de alguma melhoria (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images) |
Feyenoord (lista de inscritos e tabela de jogos)
O Feyenoord sonhou com a Liga dos Campeões, na qual entrou na terceira fase preliminar. Mas este sonho já acabou contra o Fenerbahçe-TUR: mesmo vencendo o jogo de ida (2 a 1, com gol da vitória no último minuto), mesmo abrindo o placar na volta em Istambul, a má atuação defensiva foi prato cheio para o Fener aproveitar, virar, golear (5 a 2) e ir aos play-offs. Frustração? Mais ou menos: ir à Champions seria melhor, mas o Stadionclub já tinha uma vaga assegurada na Liga Europa - e logo na fase de liga. Certo, já não haverá Igor Paixão, o dínamo ofensivo do clube nos últimos anos. Nem Dávid Hancko, o principal nome da defesa. Nem mesmo revelações que poderiam ajudar, como Antoni Milambo.
Ainda assim, a impressão que ficou é de que a janela de transferências poderia trazer mais perdas do que trouxe - tanto que Quinten Timber, cotado para sair até o fim, ficou no Stadionclub. E vindas como as de Sem Steijn e Luciano Valente, que já ajudam num começo 100% no Campeonato Holandês, podem ajudar o time a passar pela maioria dos adversários na fase de liga (incluindo aí, contra o Celtic-ESC, um reencontro numa tradicional rivalidade). Há coisas a corrigir, sim, como a falta de um atacante confiável. Mas a impressão que a equipe treinada por Robin van Persie passa é que, dos três grandes neerlandeses, é a que começou mais sólida a temporada. Isso pode ajudar a seguir na Liga Europa.
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O Utrecht voltou a onde queria estar, após 15 anos: uma competição europeia. Se os adversários mais fortes vêm quentes, os Utregs estão fervendo (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images) |
Utrecht (lista de inscritos e tabela de jogos)
Enfim, o Utrecht está onde queria estar havia muito tempo. Mais precisamente, há 15 anos: a última participação dos Utregs num torneio europeu fora na temporada 2010/11, ainda num formato antigo da Liga Europa, com fase de grupos. Desde então, o clube virou habitué da repescagem da Holanda (Países Baixos) por lugar no torneio - depois, na Conference League. Às vezes, até vencia esta repescagem. Mas nunca chegava ao espaço mais visto, a fase de grupos/fase de liga: sempre ficava nas preliminares. Pois bem: a ótima campanha na liga holandesa em 2024/25, com a quarta posição, enfim levava o clube à Liga Europa sem precisar de repescagem.
Ah, seria nas fases preliminares? Sem problemas: dois jogos na segunda fase preliminares, duas vitórias (sobre o Sheriff Tiraspol moldavo). Na terceira fase preliminar, mais dois triunfos, diante do Servette-SUI. E nos play-offs que levavam à fase de liga, uma revanche: despachar com mais duas vitórias o Zrinjski Mostar, da Bósnia, justamente o algoz do Utrecht numa dessas fases preliminares (a segunda fase da Liga Europa, em 2018/19). Chegando 100% à fase de liga, agora a pergunta é outra: ah, a tabela dos Utregs não é difícil demais, contra clubes contra Porto, Betis e Nottingham Forest? Pode até ser. Mas o time tem uma mescla interessante de juventude (vale ver o lateral esquerdo Souffian El Karouani) e experiência (na zaga, com Mike van der Hoorn e Nick Viergever - este, ex-AZ, PSV e Ajax, pode virar o jogador holandês com mais partidas por torneios europeus na história; no ataque, com Sébastien Haller, de volta). Tem em Ron Jans um técnico holandês que sabe jogar pelo resultado. Se o Utrecht, enfim, está num torneio europeu a sério, sonhar não custa nada...
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Tabela difícil? O Go Ahead Eagles não se importa: já curte a experiência europeia na Liga Europa, inédita em sua história (Gerrit van Keulen/ANP/Getty Images) |
Go Ahead Eagles (lista de inscritos e tabela de jogos)
As estatísticas dizem: ao lado do SK Brann (Noruega), o Go Ahead Eagles é o clube mais frágil desta fase de liga da Liga Europa. Francamente, a torcida das Águias não está se importando muito com o que as estatísticas apontam. Sim, é verdade que o "Kowet" talvez seja o mais frágil representante dos Países Baixos nos torneios continentais. Mas para um clube que, há cinco anos, estava na segunda divisão, figurar numa competição europeia pela primeira vez em sua história é prova inequívoca de uma grande evolução. Dentro e fora de campo. Dentro de campo, isso já se via desde 2023/24, quando o clube da cidade de Deventer já conquistou a repescagem que leva a um lugar na Conference League. Falhou nela: já caiu para o supracitado SK Brann, na segunda fase preliminar.
Mas o temor de que aquilo fosse sorte de principiante foi superado com um 2024/25 brilhante, que seguiu com boa campanha na Eredivisie e terminou com o título da Copa da Holanda, inédito na história do clube. Por mais que alguns responsáveis pela façanha já tenham deixado o clube, como o técnico Paul Simonis (agora no Wolfsburg) e o meio-campo finlandês Oliver Antman (agora no Rangers-ESC), a lua-de-mel com a torcida segue. E mesmo que as perspectivas sejam pequenas, vale esperar para ver o que podem fazer nomes como o goleiro Jari de Busser, o lateral direito Mats Deijl e o meio-campo Jakob Breum, todos de nível técnico digno. Valerá esperar para ver clubes como o Aston Villa e o Stuttgart irem jogar no "caldeirão" tão acanhado quanto empolgado que é o estádio De Adelaarshorst. E os torcedores já devem estar ansiosos para viagens aventureiras fora de casa, contra Lyon, Panathinaikos, Red Bull Salzburg-AUT... pode até ser clichê, mas mesmo caindo na fase de liga, o Go Ahead Eagles já comemora a presença na Liga Europa. Um ponto alto em sua história.
Conference League
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Com um time bem entrosado e talentos como Kees Smit, o AZ pode sonhar na Conference (IconSport) |
AZ (lista de inscritos e tabela de jogos)
Pois é: se a fama da Champions League é justificável, se a Liga Europa oferece mais tradição, é o AZ, representante holandês na fase de liga da Conference League (novamente tendo um time dos Países Baixos, aliás), que está mais otimista sobre sua sequência na temporada 2025/26. Nem era para ser tão otimista assim: afinal de contas, chegar à Conference foi duro. Primeiro, um desempenho algo decepcionante na Eredivisie 2024/25, causando a necessidade de disputar os play-offs pela vaga europeia. Neles, conquistar a vaga foi difícil: na decisão, contra o Twente, o time de Alkmaar tomava 2 a 0 em casa, e só virou no segundo tempo, com o 3 a 2 da vitória marcado nos acréscimos do 2º tempo.
Sossego, então? Que nada: a estreia na segunda fase preliminar já teve uma surpresa ruim, com os 4 a 3 sofridos para o Ilves Tampere (Finlândia), no jogo de ida, fora de casa. Só assim o AZ tomou jeito: reverteu a vantagem do Ilves na volta (5 a 0); passou facilmente pelo FC Vaduz (Liechtenstein) na terceira fase preliminar, com duas vitórias; e despachou o Levski Sofia (Bulgária) nos play-offs. Na fase de liga, o sorteio só trouxe algumas dificuldades nas perspectivas sobre o jogo contra o Crystal Palace inglês. No mais, não só são boas as chances de ir às oitavas de final, diretamente, como o clube parece ter capacidade para isso em seu time. Principalmente, pelo crescimento dos jovens jogadores: Rome-Jayden Owusu-Oduro no gol, Kees Smit e Zico Buurmeester no meio-campo, Ibrahim Sadiq e Mexx Meerdink no ataque (onde também está o irlandês Troy Parrott e o recém-chegado brasileiro Weslley Patati). Se o time for mais constante, pode ser uma boa chance do AZ repetir a chegada à semifinal, como fez em 2022/23.