quarta-feira, 9 de julho de 2025

Caindo na real

A Inglaterra mostrou sua força na Eurocopa feminina. Azar da Holanda, cujas expectativas levemente positivas foram reduzidas a pó (Fran Santiago - UEFA/Getty Images)

Em qualquer momento entre os 5 e os 10 minutos do primeiro tempo, a bola ficou para uma dividida. Victoria Pelova, meio-campista da Holanda (Países Baixos), foi tentar dominá-la na disputa com a inglesa Georgia Stanway, e... foi facilmente superada por Stanway, fisicamente e tecnicamente. Stanway saiu com a bola, e a jogada seguiu. Foi um lance perdido, mas foi exemplar de como a seleção feminina da Inglaterra se impôs diante das Leoas Laranjas, no segundo jogo de ambas pela fase de grupos da Eurocopa de mulheres. A imposição foi técnica, foi tática, foi em gols: uma goleada por 4 a 0, que apagou qualquer boa impressão que se tivesse da equipe holandesa, após a estreia contra Gales.

Na verdade, a imposição inglesa já se fez notar com apenas 44 segundos de bola rolando em Zurique: com as inglesas pressionando as holandesas, Ella Toone (substituindo Beth Mead para começar o jogo) chegou perto de Wieke Kaptein a ponto de fazer com que a meio-campista precisasse recuar a bola para Daphne van Domselaar. Toone fez falta, mas já era um sinal. Fortalecido pelo tamanho do domínio da dupla Alex Greenwood-Lauren Hemp sobre Kerstin Casparij, na esquerda do ataque inglês, já iniciado aos 4': Greenwood cruzou, e quase Lauren James marcou o gol, cabeceando para fora. E seguido aos 9', quando Hemp foi quem cruzou, e Alessia Russo foi quem quase colocou a bola na rede.

Talvez a única vez em que jogadoras holandesas conseguiram escapar com a bola para o ataque tenha sido aos cinco minutos. Chasity Grant (substituta de Daniëlle van de Donk nas titulares) cruzou, e Vivianne Miedema dominou na área, mas a bola escapou do domínio, e a goleira Hannah Hampton pegou. No mais, a Inglaterra jogou as Leoas Laranjas num "círculo vicioso". Não conseguiam atacar, porque não tinham a bola. E não tinham a bola porque, nas divididas, quase sempre as inglesas ganhavam. Ao ganharem a bola, empurravam as holandesas para a defesa, e elas não conseguiam atacar. O primeiro gol das "Lionesses" até demorou - e nem teve tanta troca de passes assim. Foi mais eficiente: o tiro de meta de Hannah Hampton virou lançamento, Alessia Russo superou Dominique Janssen facilmente na corrida, veio pela direita com a bola, tocou para o meio, e Lauren James dominou na entrada da área antes de um belo chute, no ângulo esquerdo, indefensável para Van Domselaar.

Só um chute de Jill Roord, colocado, para fora, aos 26', interrompeu um pouco a ampla superioridade inglesa. Que teve até mais chances à medida que o primeiro tempo ficava perto do fim. Principalmente, em cruzamentos para a área. E agora, também da esquerda. Como aos 36', quando Keira Walsh cruzou e Lauren Hemp cabeceou para fora. Aos 38', Van Domselaar teve de trabalhar, rebatendo cabeceio de Russo - que voltou a tentar, aos 42', também mandando para fora. O segundo gol inglês ainda viria antes do intervalo, mas pelos pés. De Georgia Stanway, que aproveitou rebote de falta e chutou, no canto direito de Van Domselaar - que talvez pudesse ter defendido, não tivesse tantas holandesas (linha de cinco) acuadas à sua frente, impedindo visão melhor.

Das vindas a campo no intervalo para o time holandês, Spitse foi a "menos pior". Pelo menos, participou de algumas jogadas (Stan Oosterhof/Soccrates/Getty Images)

Restava fazer algo para evitar que o já ruim ficasse pior. E Andries Jonker até fez, colocando Sherida Spitse (para melhorar a saída de bola holandesa), Caitlin Dijkstra (para melhorar a marcação na lateral esquerda) e Lineth Beerensteyn (para, quem sabe, dar tanta velocidade na esquerda quanto Grant poderia dar na direita). A realidade? Já aos 51', Alessia Russo teve gol anulado, por impedimento. Spitse, de fato, entrou até bem, participando da primeira chance holandesa, lançando a bola para Grant completar, para fora. Porém, o lance do terceiro gol inglês, aos 60', foi exemplar da desorganização defensiva das Leoas Laranjas. Um lançamento longo, Keira Walsh dominou na esquerda, passou facilmente por Spitse na direita, cruzou, Ella Toone dominou a bola na esquerda da grande área e chutou, Van Domselaar ainda rebateu, mas Lauren James estava livre para fazer 3 a 0. 

Veio ainda a entrada de Van de Donk, para minorar o tamanho do domínio inglês no meio-campo. Era pouco. E ficou menos ainda com o quarto gol, em outro lançamento longo inglês aproveitado de jeito eficiente: Hemp dominou pela esquerda, cruzou, e Ella Toone teve todo o espaço para dominar e chutar em diagonal no quarto gol. Chances holandesas, só aos 79', quando Spitse aproveitou lançamento de Victoria Pelova mas chutou para fora, e aos 84', em outro arremate errado, de Wieke Kaptein. Mas a Inglaterra sempre deixava claro quem era melhor, em chances como aos 82', quando quase saiu belo gol em triangulação: de Lauren Hemp para Grace Clinton, desta para Alessia Russo, e só Van Domselaar, à queima-roupa, evitou o quinto gol.

Gols a mais ou a menos não fariam diferença, para uma Inglaterra que fez o que a torcida dela desejava: se impôs, mostrou que não está na Euro feminina a passeio. Deixou claro que é bem melhor do que a Holanda, ao fazê-la ser derrotada por mais de dois gols, pela primeira vez num grande torneio (e por mais de um gol, pela primeira vez em participações holandesas na Eurocopa). Às Leoas Laranjas, restam alguns dias para recuperação, antes de outro desafio, contra a França. Que precisa ser vencido, para que a eliminação na fase de grupos não venha. E não aumente a dureza da realidade que ficou clara nesta quarta-feira.

Euro feminina 2025 - Fase de grupos - Grupo D

Inglaterra 4x0 Holanda
Data: 9 de julho de 2025
Local: Letzigrund (Zurique)
Juíza: Edina Alves Batista (Brasil)
Gols: Lauren James, aos 22' e aos 60', Georgia Stanway, aos 45' + 2, e Ella Toone, aos 67'

INGLATERRA
Hannah Hampton; Lucy Bronze (Niamh Charles, aos 83'), Leah Williamson, Alex Greenwood e Jess Carter; Keira Walsh e Georgia Stanway; Ella Toone (Grace Clinton, aos 75'), Lauren James (Chloe Kelly, aos 69') e Lauren Hemp (Beth Mead, aos 75'); Alessia Russo (Agnes Beever-Jones, aos 83'). Técnica: Sarina Wiegman

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij, Veerle Buurman (Sherida Spitse, aos 46'), Dominique Janssen e Esmee Brugts (Caitlin Dijkstra, aos 46'); Victoria Pelova, Wieke Kaptein e Jackie Groenen (Damaris Egurrola Wienke, aos 85'); Chasity Grant, Vivianne Miedema (Daniëlle van de Donk, aos 66') e Jill Roord (Lineth Beerensteyn, aos 46'). Técnico: Andries Jonker

sábado, 5 de julho de 2025

A calma antes da tempestade

A estreia na Eurocopa feminina, contra o País de Gales, mostrava a Holanda (Países Baixos) sem espaço para os gols, embora superior. Aí veio Miedema, veio o recorde, veio a vitória (Aitor Alcalde - UEFA/Getty Images)

Sabe-se que o grupo da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) na Eurocopa feminina é exigente: a maioria de quem acompanha é unânime sobre o grupo D ser o "Grupo da Morte", incluindo a atual campeã Inglaterra e a França. Porém, também era unânime que o País de Gales, adversário restante da chave, é o time que pode oferecer "alívio" às seleções mais fortes. As galesas seriam as adversárias das Leoas Laranjas na estreia pela Euro - uma vitória era, pois, necessária, e quanto mais gols, melhor. Não chegou a ser uma goleada, mas a vitória por 3 a 0 aumentou um pouco o otimismo holandês rumo aos desafios dificílimos que virão nesta fase de grupos.

No começo do jogo, a Holanda já sinalizou que dominaria a posse de bola. Não com toques curtos, mas com lançamentos longos. De preferência, para as pontas, onde se poderia chegar ao ataque. Assim surgiu a primeira chance: aos 5', Jill Roord passou pela lateral direita Josephine Green e já chutou. A goleira Olivia Clark rebateu meio no susto, a bola ricocheteou e quase entrou. Assim surgiriam vários momentos perigosos holandeses no primeiro tempo em Lucerna.

O segundo foi com Vivianne Miedema: aos 16', pela esquerda da grande área (onde geralmente ficava, partindo do meio da área), ela arrematou e o chute foi bloqueado por Rhiannon Roberts. Na sequência, mais tentativas: Daniëlle van de Donk - despontando menos em campo do que nos amistosos recentes - cruzou, Wieke Kaptein (esta, sim, aparecendo bastante) finalizou, e outra vez a zaga bloqueou. A sobra foi pega por Jackie Groenen, que tentou e... de novo, bola em cima da zaga galesa.

Era perigoso? Nem tanto, porque o País de Gales não tinha a bola. E quando a tinha, não conseguia pressionar. O único momento merecedor de mais atenção foi um cruzamento de Esther Morgan, aos 20', pego sem problemas por Daphne van Domselaar, que ficou sem muita ação no jogo. Depois, aos 44', uma sequência de escanteios galeses, que terminou com um arremate de Lily Woodham, que passou muito acima do gol neerlandês. Em suma: a Holanda mais perdia chances do que sofria ataques. E o grande símbolo disso foi o chute com que Jill Roord acertou a bola na trave esquerda de Clark, aos 35'.

Sem conseguir entrar com troca de passes, já sem acelerar tanto com as bolas longas, a Holanda começava a depender demais de um lance individual para furar o bloqueio galês. Para a sorte das Leoas Laranjas, há uma jogadora plenamente capacitada para tais lances individuais. E ela fez um desses, brilhantes, para o 1 a 0 que desafogou a nacionalidade neerlandesa: já nos acréscimos do 1º tempo, Miedema dominou a bola na área, ajeitou-a (e nisso, já se livrou da marcação de Roberts) e arrematou, colocado, no ângulo esquerdo de Clark. Um golaço digno da marca histórica que alcançou: foi a 100ª vez que a camisa 9 das Leoas Laranjas acertou a bola na rede.

Um gol, passe para outro, e Pelova se destacou no triunfo (Leiting Gao/BSR Agency/Getty Images)

Prevendo que a situação ficaria difícil para as galesas, que precisariam ir mais ao ataque no segundo tempo, a técnica Rhian Wilkinson decidiu proteger mais a defesa das "Dragoas", com a entrada de Ella Powell. Porém, já aos 48', antes mesmo que tal alteração tivesse efeito, Buurman lançou a bola em profundidade pela direita, Van de Donk a alcançou e a cruzou para Victoria Pelova dominar, girar e fazer o segundo gol holandês. O domínio estava assegurado. Poderia ter sido ampliado aos 52', em bela jogada: Miedema deixou Roord na cara do gol, mas novamente a camisa 6 acertou a trave de Clark. Pelo menos, o terceiro gol não demorou: logo após outra bola na trave - Jackie Groenen, em um de seus chutes de fora -, a jogada seguiu, Pelova cruzou, e Esmee Brugts completou para as redes na pequena área.

A partir daí, o jogo estava decidido. Andries Jonker poderia levar a campo nomes como Chasity Grant - que teve sua chance, aos 70', chutando cruzado para fora. Poderia até dar alguns minutos à recuperada Lineth Beerensteyn, que teve possibilidades de marcar aos 75' (Olivia Clark defendeu). Ambas fizeram juntas a mesma jogada de ataque, aos 86': Beerensteyn passou, Grant concluiu, e Josephine Green tirou a bola na pequena área. Mesmo nos acréscimos, as Leoas Laranjas tiveram chances em dois chutes: Groenen (90' + 2, em sobra de escanteio, mandando de voleio para fora) e Pelova (também arrematando por cima, após passe de Grant, que aproveito erro de Olivia Clark na saída de bola).

Esperava-se domínio holandês nesta estreia na Euro. Ele veio. Com calma. A calma antes da "tempestade" dos duelos contra Inglaterra, na próxima quarta, e França, no dia 13.

Euro feminina 2025 - Fase de grupos - Grupo D

País de Gales 0x3 Holanda
Data: 5 de julho de 2025
Local: Allmend (Lucerna)
Juíza: Frida Klarlund (Dinamarca)
Gols: Vivianne Miedema, aos 45' + 3, Victoria Pelova, aos 48', e Esmee Brugts, aos 57'

PAÍS DE GALES
Olivia Clark; Josephine Green, Rhiannon Roberts, Gemma Evans e Lily Woodham; Ceri Holland (Carrie Jones, aos 79'), Angharad James-Turner, Hayley Ladd e Esther Morgan (Ella Powell, aos 46'); Jess Fishlock (Rachel Rowe, aos 64'); Hannah Cain (Ffion Morgan, aos 64'). Técnica: Rhian Wilkinson

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 64'), Veerle Buurman (Caitlin Dijkstra, aos 81'), Dominique Janssen e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 71'); Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Chasity Grant, aos 64') e Wieke Kaptein; Victoria Pelova, Vivianne Miedema (Lineth Beerensteyn, aos 71') e Jill Roord. Técnico: Andries Jonker

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Há uma (pequena) chance

 Se não foi perfeita, pelo menos a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) se despediu da torcida com vitória rumo à Eurocopa (Pieter van der Woude/Marcel ter Bals/DeFodi Images/Getty Images)

Diante do clima de pessimismo que as últimas rodadas da Liga das Nações deixaram, foi bom que a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) recuperasse um pouco da animação antes da Eurocopa de mulheres que vem aí, ao vencer o amistoso de despedida da torcida, contra a Finlândia, nesta quinta. É certo que ainda há trabalho a fazer nos dias restantes até o 5 de julho da estreia contra Gales, mas alguns lances do amistoso deixaram claro que há uma chance de que as Leoas Laranjas possam ostentar valor e passarem de fase no "Grupo da Morte" que ainda terá França e Inglaterra.

E esses lances tiveram, principalmente, a presença de duas experientes. A primeira delas, Vivianne Miedema. Se o objetivo manifesto do técnico Andries Jonker ao escalá-la era mostrar que o trabalho de recuperação de problemas musculares deu certo, ele foi alcançado. E isso foi mostrado a partir de bela jogada individual que a camisa 9 das Leoas Laranjas fez logo aos três minutos, driblando duas finlandesas na direita, chutando cruzado e vendo a zagueira Natalia Kuikka bloqueando a bola na pequena área. Não bastasse Miedema, Daniëlle van de Donk (escalada como principal criadora de jogadas no meio campo) também apareceu bem. Quase finalizou o cruzamento da atacante, aos 8'. E aos 11', enfim, ambas participaram do primeiro gol: Van de Donk pressionou a outra zagueira finlandesa, Eva Nyström, que errou na saída de bola - e a camisa 11 ficou com ela, passando para Miedema fazer seu 98º gol pela equipe feminina neerlandesa.

Atacando principalmente pelas pontas, com as jogadoras de ataque, a equipe da casa até jogou bem no primeiro tempo em Leeuwarden (no recém-aberto estádio Kooi). Tinha a posse de bola, e atacava. Às vezes acertava, sem valer, como aos 24', no gol impedido de Miedema - participou em posição ilegal da jogada em lançamento de Jackie Groenen. Às vezes, tentava com toque de bola: aos 26', Van de Donk deixou a bola com Wieke Kaptein, que ganhou a dividida, e arrematou cruzado para a defesa da goleira finlandesa, Anna Koivunen - que também impediu gol de Kerstin Casparij, aos 37'. O que não se imaginava é que o 2 a 0 viria de uma forma tão... pitoresca. Tentando finalizar após passe de Miedema, Van de Donk se desequilibrou com a bola, caiu (e até foi atingida na cabeça, pelo joelho de uma finlandesa, acidentalmente). Na incerteza se o lance seguiria, nem Koivunen agarrou a bola na pequena área, nem Nyström deu o chutão. A bola estava solta. Na frente de Miedema. E ela aproveitou: um toque, 2 a 0, seu 99º gol pelas Leoas Laranjas - "Prometi para minha mãe que não faria o centésimo gol aqui; ela não estava no estádio, e nem meu irmão", a goleadora brincou à ESPN holandesa.

Miedema e Van de Donk: os destaques de um razoável primeiro tempo das Leoas Laranjas (Anne Waterlander/Marcel ter Bals/DeFodi Images/Getty Images)

Contudo, aos 38', um primeiro arremate de Linda Sällstrom, agarrado firmemente por Daphne van Domselaar, deixou claro: a Finlândia estava viva no jogo. Ficaria mais viva ainda no segundo tempo, com a diminuição do ritmo holandês. E algumas chances começaram a aparecer. Aos 54', novo chute de Linda Sällstrom, também pego por Van Domselaar; aos 60', a defesa deixou espaço, Sanni Franssi tentou driblar a goleira holandesa, mas ela impediu pegando a bola antes. A partir daí, com o começo das alterações nas formações, o ritmo diminuiu em geral - em que pese um gol anulado de Jill Roord (impedimento), aos 66'. Contudo, as preocupações da etapa final foram concretizadas com o gol finlandês, em jogada individual de Oona Siren, após mais um passe errado - no caso, de Roord.

O técnico Andries Jonker obviamente se irritou com o erro: "De novo, um erro de passe levou a um gol do adversário...". Mas pelo menos, viu uma vitória no fim da preparação para a Euro. E as boas atuações deixaram claro: sim, a Holanda tem uma chance de ir bem no torneio. Pequena, mas tem.

Amistosos

Holanda 2x1 Finlândia
Data: 26 de junho de 2025
Local: Kooi Stadion (Leeuwarden)
Árbitra: Elisabet Calvo Valentín (Espanha)
Gols: Vivianne Miedema, aos 11' e aos 30', e Oona Siren, aos 90' + 3

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Kerstin Casparij (Lynn Wilms, aos 89'), Veerle Buurman (Caitlin Dijkstra, aos 89'), Dominique Janssen e Esmee Brugts (Sherida Spitse, aos 62'); Wieke Kaptein (Renate Jansen, aos 89'), Daniëlle van de Donk (Damaris Egurrola Wienke, aos 89') e Jackie Groenen; Victoria Pelova, Vivianne Miedema (Chasity Grant, aos 62') e Jill Roord. Técnico: Andries Jonker

FINLÂNDIA
Anna Koivunen; Nea Lehtola, Natalia Kuikka, Eva Nyström e Emmi Siren; Oona Siren, Eveliina Summanen, Ria Öling (Koivisto, aos 76') e Katariina Kosola; Linda Sällström (Lilli Halttunen, aos 67') e Sanni Franssi (Aino Kröger, aos 85'). Técnico: Marko Saloranta


sábado, 21 de junho de 2025

O guia da Holanda na Euro feminina 2025: o futuro precisa começar

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) viveu uma montanha russa da Copa até a Eurocopa que vem aí. Agora, está em baixa. Mas tem jogadoras para reagir ao Grupo da Morte (KNVB Media/Divulgação)

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) teria tudo para chegar mais otimista à quinta vez em que disputa uma Eurocopa em sua história. Tudo bem, o grupo D é dificílimo. Principalmente pelas presenças de Inglaterra (a atual campeã da Euro, e vice-campeã mundial entre as mulheres) e França (sempre tradicional, e justamente a algoz das Leoas Laranjas na edição passada, nas quartas de final) - não se pode esquecer de citar o País de Gales, outro integrante da chave. Ainda assim, o grupo de 23 convocadas pelo técnico Andries Jonker tem técnica para entrar na disputa atraindo confiança. Porém, a delegação holandesa chegará à Suíça, país-sede, com mais desconfianças do que talvez devesse ter rumo à estreia contra as galesas, no sábado, 5 de julho, às 13h de Brasília, em Lucerna, além dos esperados duelos contra inglesas (quarta, 9 de julho, às 13h de Brasília, em Zurique) e francesas (domingo, 13 de julho, às 16h de Brasília, na Basileia) - no Brasil, transmissões pela Cazé TV.

Essa desconfiança maior em relação ao que os Países Baixos podem fazer no Campeonato Europeu de seleções de mulheres se deve, talvez, à excessiva cautela nas convocações que o técnico Andries Jonker tem mostrado, nesta reta final de seu trabalho. Ao longo de 2024, Jonker visivelmente dava mais espaço às jovens, até por tantas lesões (de Caitlin Dijkstra, na zaga, a Vivianne Miedema, no ataque, passando pelas ausências de Jill Roord e Victoria Pelova). Principalmente nos amistosos de fim de ano, foram vistas muitas jovens de talento: as zagueiras Lisa Doorn (Ajax) e Gwyneth Hendriks (PSV); as meio-campistas Nina Nijstad (PSV), Ella Peddemors (Ajax) e Danique Noordman (Ajax); e a atacante Chimera Ripa (PSV). Todas elas, testadas em algum momento do "jogo-exibição" que foram os 15 a 0 na Indonésia, em 25 de outubro de 2024; os 2 a 1 na Dinamarca, em 29 de outubro; os 4 a 1 na China, em 29 de novembro; e a única derrota, 2 a 1 para os Estados Unidos, em 3 de dezembro.

Em todos esses amistosos, a Holanda foi bem na mescla de veteranas conhecidas com novos talentos. Paralelamente, os resultados holandeses em torneios de base eram notáveis. Para começo de conversa, o vice-campeonato europeu sub-19, em julho do ano passado; depois, o quarto lugar no Mundial Sub-20 feminino, em setembro de 2024, na Colômbia - mesmo com um time considerado limitado, alcançar o mesmo resultado do Mundial Sub-20 feminino de 2022 foi considerado surpresa ótima; e já em 2025, a Holanda superou a Noruega para se tornar campeã europeia sub-17. Com esses resultados, seria até saudável ver algumas novatas mais capacitadas frequentarem cada vez mais as convocações da seleção principal. E era o que parecia que ocorreria na preparação para a Euro.

Quarta colocada no Mundial Sub-20 de mulheres em 2024, campeã europeia sub-17 há poucas semanas... a base da Holanda vem forte. Mas na seleção adulta, a renovação para (Shauna Clinton/UEFA/Getty Images)

Pois não aconteceu. Durante a Liga das Nações deste ano, na fase de grupos contra Alemanha, Escócia e Áustria, a base holandesa não só foi a já conhecida, como algumas veteranas há muito esquecidas retornaram às relações, casos de Merel van Dongen e Shanice van de Sanden. E as Leoas Laranjas acabaram decepcionando, no momento culminante. Se haviam começado bem a fase de grupos (em fevereiro, empate em 2 a 2 com a Alemanha e virada fora de casa sobre a Escócia - 2 a 1; em abril, dois 3 a 1 na Áustria, em casa e fora), a chance de voltar às semifinais da Nations League foi duramente encerrada com os 4 a 0 inapeláveis da Alemanha, no dia 30 de maio passado. Pior ainda foi ver a Escócia arrancar, em Tilburg, o único ponto que conseguiu no grupo, com o empate em 1 a 1 que acendeu o sinal de alerta rumo à preparação para a Eurocopa.

Esses dois maus resultados lembraram o caminho turbulento que a Holanda (Países Baixos) teve, da Copa de 2023 até agora. Na Liga das Nações 2023/24, contra a Bélgica, a esperança aumentou, na fase de grupos. Contra Inglaterra, Bélgica e Escócia, as Leoas Laranjas conseguiram passar às semifinais - e à disputa de uma vaga olímpica em Paris-2024 -, de modo empolgante, superando as inglesas no saldo de gols, no último lance da última rodada dos grupos, fazendo 4 a 0 na Bélgica, no fim de 2023. Mas bastou 2024 começar para a realidade se impor. Contra a Espanha, nas semifinais, um categórico 3 a 0 das campeãs mundiais; e na decisão do terceiro lugar, contra a Alemanha, que também valia uma vaga olímpica, nem mesmo jogar em casa (Heerenveen) impediu as alemãs de dominarem, fazerem 2 a 0 e frustrarem uma equipe que desejava muito ir a Paris.

Entre o pessimismo da reta final da Liga das Nações retrasada, o otimismo dos amistosos finais de 2024 e a cautela trazida pela queda nesta Nations League, havia as eliminatórias da Eurocopa no meio do caminho. E elas também tiveram muitas dificuldades. Para começo de conversa, as lesões seguiram perturbando. A começar por Jill Roord, fora de combate desde a lesão grave no joelho, sofrida em janeiro. E a continuar por Daphne van Domselaar, que ficou de fora na estreia, em 5 de abril de 2024, fora de casa, em que as Leoas Laranjas viram a Itália fazer 2 a 0 em cima de uma frágil defesa. Pelo menos, no jogo seguinte, no dia 9, uma vitória por 1 a 0 contra a Noruega contrabalançou as coisas. Aí, antes da terceira e quarta rodadas da qualificação, que trariam dois jogos contra a Finlândia, um anúncio que sobrepujou até as partidas: a despedida de Lieke Martens, tão simbólica para a seleção feminina. Em casa, pelo menos, em 31 de maio de 2024, não só Martens teve as homenagens que merecia da torcida presente a Roterdã, como a vitória veio (1 a 0); em 3 de junho, no último jogo da atacante para valer pelas Leoas Laranjas, porém, novamente o ataque teve dificuldades, e o empate por 1 a 1 contra as finlandesas manteve a pulga atrás da orelha. Sem contar que, neste empate, Victoria Pelova foi mais uma holandesa a sofrer a lesão mais temida: o rompimento do ligamento cruzado...

Seria necessário definir a vaga na Euro nas duas rodadas finais, em julho, contra Itália (casa) e Noruega (fora). E os dois jogos trouxeram muito nervosismo. Contra a Itália, em 12 de julho, bastaria uma vitória para se garantir no torneio continental. E a Holanda tentou, insistiu, mandou até uma bola na trave... mas o 0 a 0 não saiu do placar. Seria necessário ter um ponto, diante da Noruega, na cidade de Brann, em 16 de julho de 2024, para assegurar um lugar na Euro. E as Leoas Laranjas sofreram de novo. No ataque, com a falta de pontaria insistente; na defesa, com uma desatenção que fez as norueguesas abrirem o placar, com Caroline Graham Hansen. O perigo de precisar disputar a repescagem se apresentava... mas, se havia perigo, em quem as Leoas Laranjas poderiam confiar? Em Vivianne Miedema. As lesões intercorrentes do grave problema no joelho, sofrido em 2022, deram uma folga. Em julho, ela estava em campo. E a dez minutos do fim daquele jogo em Brann, coube a ela fazer o gol do empate, da vaga na Euro, do alívio. Um alívio tão grande que fez Miedema e a capitã Sherida Spitse chorarem, nas entrevistas pós-jogo. Não era para menos: com tantas machucadas, com tantas dificuldades ofensivas (foram só quatro gols em seis jogos nas eliminatórias)... mesmo com tudo isso, a Holanda estava na Eurocopa.


Entre marchas e contramarchas, as Leoas Laranjas viajarão para a Suíça, já sabendo que terão novo técnico quando a Euro acabar. Por sinal, um adversário de agora: Arjan Veurink, auxiliar de Sarina Wiegman desde os tempos em que ela era a treinadora das Leoas Laranjas, tendo seguido com ela para a Inglaterra (como se sabe, rival no grupo D da Euro), fará o caminho de volta para as Leoas Laranjas, como sucessor de Andries Jonker. Mas se Jonker se queixava das próprias jogadoras no começo do mês ("Parece que estamos tocando a bola sempre para gente de camiseta errada", alfinetou após o empate contra a Escócia, na Liga das Nações), agora o foco das alfinetadas do atual treinador são os críticos ("Eu nunca ouvi essas pessoas falarem nada sobre futebol feminino, mas basta um tropeço que elas sabem imediatamente qual é o motivo"). Durante os dias de treinos, desde a apresentação na quinta-feira passada, 19, Kerstin Casparij expressou otimismo à ESPN holandesa: "Todas neste time têm muitas qualidades. Eu não queria estar na pele do técnico".

O técnico, enfim, escolheu as 23 jogadoras. Elas têm condições de superar as desconfianças e fazerem papel até elogiável nesta Eurocopa que vem aí. Mas ainda segue a impressão de que o apego às veteranas é demasiado, e que o futuro está demorando para começar nas Leoas Laranjas. A ver se a estreia contra Gales ameniza as desconfianças de que, 12 anos após a queda na Eurocopa feminina de 2013, elas correm risco de voltarem a cair já nos grupos.

A provável escalação de Andries Jonker para a estreia da Holanda (Países Baixos) na Euro feminina, contra Gales (buildlineup.com)

Para saber mais sobre as convocadas, clique nas posições para ver descrições detalhadas delas

1-Daphne van Domselaar (Arsenal-ING)
16-Lize Kop (Tottenham Hotspur-ING)
23-Daniëlle de Jong (Juventus-ITA)

18-Kerstin Casparij (Manchester City-ING)
2-Lynn Wilms (sem clube)
22-Ilse van der Zanden (Fiorentina-ITA)

20-Dominique Janssen (Manchester United-ING)
4-Veerle Buurman (PSV)
3-Caitlin Dijkstra (Wolfsburg-ALE)
8-Sherida Spitse (Ajax) 

10-Daniëlle van de Donk (London City Lionesses-ING)
14-Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA)
21-Damaris Egurrola Wienke (OL Lyonnes-FRA)
19-Wieke Kaptein (Chelsea-ING)
17-Victoria Pelova (Arsenal-ING)

7-Lineth Beerensteyn (Wolfsburg-ALE)
9-Vivianne Miedema (Manchester City-ING)
6-Jill Roord (Twente)
5-Romée Leuchter (Paris Saint Germain-FRA)
11-Esmee Brugts (Barcelona-ESP)
15-Katja Snoeijs (Everton-ING)
13-Renate Jansen (PSV)
12-Chasity Grant (Aston Villa-ING)

Andries Jonker (técnico)
Janneke Bijl (auxiliar técnica)
Arvid Smit (auxiliar técnico)
Erskine Schoenmakers (treinador de goleiras)

O guia da Holanda na Euro feminina 2025: Comissão técnica

TÉCNICO
(KNVB Media/Divulgação)

Andries Jonker 

Ficha técnica
Nome: Andries Jonker
Data e local de nascimento: 22 de setembro de 1962, em Amsterdã (Holanda)
Carreira como treinador: ZFC (clube amador, 1987 a 1988), DRC (clube amador, 1989 a 1991), Volendam (1999 a 2000), seleção feminina da Holanda (2001, como interino, e 2022 a 2025 - saída já anunciada para depois da Euro), MVV Maastricht (2004 a 2006), Willem II (2007 a 2009, acumulando com o cargo de diretor técnico), Bayern de Munique-ALE (2011, interino, e 2011 a 2012, treinando o time B), Wolfsburg-ALE (2017) e Telstar (2019 a 2022, acumulando com o cargo de diretor técnico)
Carreira como auxiliar: Volendam (1997 e 1999), Barcelona-ESP (2002 a 2003), Willem II (2006 a 2007), Bayern de Munique (2009 a 2011) e Wolfsburg-ALE (2012 a 2014)
Carreira como diretor: Federação holandesa (1990 a 1997 e 2000 a 2003, como diretor de seleções regionais e categorias de base) e Arsenal-ING (2014 a 2017, como diretor das categorias de base)

Impossível dizer que Andries Jonker fez um trabalho ruim comandando a seleção feminina da Holanda (Países Baixos). Desde que chegou, em setembro de 2022, Jonker até conseguiu atender à intenção da federação - e das principais jogadoras do grupo: deixar a equipe um pouco mais ofensiva, mais livre das amarras vistas nos curtos tempos sob o comando de Mark Parsons. A prova disso foi a campanha razoável na Copa do Mundo de 2023: se as Leoas Laranjas não brilharam, tiveram um papel mais vistoso por mudanças táticas, como escalar nas laterais Victoria Pelova e Esmee Brugts, meio-campista e atacante de origem, ou fazer a seleção neerlandesa jogar com três zagueiras (uma delas, Sherida Spitse, que já perdia velocidade como meio-campista). Conseguir superar a Inglaterra na fase de grupos da Liga das Nações 2023/24, à custa de muito esforço, para ter a perspectiva de uma vaga no torneio olímpico de Paris-2024, também abria perspectivas para o trabalho de Jonker.

Porém, 2024 fez a seleção neerlandesa cair na real. Entre os "quatro finalistas" da Liga das Nações, duas derrotas, nenhum gol marcado, nada de vaga olímpica. As eliminatórias da Eurocopa, no primeiro semestre do ano passado, também indicaram a séria dificuldade laranja para marcar gols. Mais do que isso: indicavam que as soluções táticas encontradas no trabalho de Jonker estavam com o prazo de validade perto do fim. Se ensaiou saudável renovação nas convocações dos amistosos do fim de 2024, Jonker deixou tudo isso de lado quando 2025 chegou. Talvez por isso, talvez pelas limitações cada vez mais claras do trabalho, o anúncio de sua saída quando a Eurocopa acabasse (e seu contrato com a federação holandesa, também) foi compreensível. Jonker até lamentou nas primeiras datas FIFA ("Fiquei surpreso e triste", respondeu em fevereiro), mas agora já segue. Já pensa no que fará. E está otimista pelo que pode ser esta Euro, capítulo final de seu trabalho: "Elas [jogadoras] mostraram muita energia e entusiasmo, isso se viu já no primeiro treino para a Euro. Férias ajudam nisso". Que ajudem numa boa campanha, para que Andries Jonker se despeça da seleção de forma razoável como seu trabalho foi até agora.

(KNVB Media/Divulgação)

Janneke Bijl (auxiliar técnica)

Quando foi escolhida para ser auxiliar de Andries Jonker, em 2022, logo após Jessica Torny sair da federação holandesa para o Feyenoord (o qual ainda treina), Janneke Bijl parecia em formação: rumava para ser a quinta mulher nascida na Holanda/Países Baixos a ter o diploma da UEFA e estar apta a treinar equipes e seleções. Três anos depois, Bijl avançou. Não só pela capacidade tática - fala-se que a ideia de fazer a equipe holandesa jogar com três zagueiras partiu dela -, mas também por saber fazer o "meio-de-campo" com o grupo de jogadoras. Talvez por isso, também deixará a seleção holandesa depois da Eurocopa. Não exatamente para uma experiência como técnica principal, mas para aprender ainda mais com outra holandesa que já tem o diploma da UEFA: Bijl será auxiliar de Sarina Wiegman na Inglaterra. De certa forma, justifica o elogio de Andries Jonker, no podcast Vrouwen 1, do site NU Sport: "Já falei que Bijl, e Renée Slegers [técnica campeã europeia com o Arsenal], são as pérolas do futebol feminino holandês".

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Arvid Smit (auxiliar técnico)

Se sua carreira como jogador foi de circulação por vários clubes, principalmente dentro da Holanda/Países Baixos, Arvid Smit ficou mais restrito ao futebol feminino na sua faceta como treinador. Mais precisamente, desde que se tornou auxiliar fixo da seleção holandesa, em 2019, ainda nos tempos de Sarina Wiegman como técnica. Isso o fez conhecedor da modalidade, dentro das fronteiras nacionais, a ponto de muita gente considerar que ele poderia ser o treinador da Holanda (Países Baixos) algum dia. Talvez seja. Mas não agora, porque Smit é mais um nome da comissão técnica das Leoas Laranjas que deixará seu cargo quando a Eurocopa acabar - e como a colega Janneke Bijl, ele também rumará para auxiliar Sarina Wiegman na Inglaterra. Por sinal, o mesmo caminho que fez Arjan Veurink, o técnico que vem aí para os Países Baixos. Quem sabe Arvid repita o mesmo caminho, daqui a uns anos...

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Erskine Schoenmakers (treinador de goleiras)

Eis um nome que fará falta. Afinal de contas, Erskine é mais um que deixará a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) após a Euro que vem aí. E após oito anos de trabalho, o treinador de guarda-metas deixou sua marca. Num país que vem mostrando uma crescente criação de boas goleiras, coube a Schoenmakers aprimorar nomes como Loes Geurts, Sari van Veenendaal e Daphne van Domselaar assim que chegavam à equipe principal. Isso, sem contar goleiras menos conhecidas que também já passaram por suas mãos, como Lize Kop e Femke Liefting - esta, eleita a melhor goleira do Mundial Sub-20 de mulheres, no ano passado. Fica a curiosidade sobre como será a sequência de um trabalho tão bom com suas comandadas como Erskine desenvolveu com as goleiras holandesas.

O guia da Holanda na Euro feminina 2025: Atacantes

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Lineth Beerensteyn (Wolfsburg-ALE)

Ficha técnica
Nome: Lineth Enid Fabienne Beerensteyn
Data e local de nascimento: 11 de outubro de 1996, em Haia (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2012 a 2016), Twente (2016 a 2017), Bayern de Munique-ALE (2017 a 2022), Juventus-ITA (2022 a 2024) e Wolfsburg-ALE (desde 2024)
Desempenho na seleção: 114 jogos e 39 gols, desde 2016
Torneios pela seleção: Euro 2017 (3 jogos, nenhum gol), Copa de 2019 (7 jogos, 1 gol), torneio olímpico de 2020+1 (4 jogos, 3 gols), Euro 2022 (4 jogos, nenhum gol) e Copa de 2023 (3 jogos, 1 gol)

(Para saber mais sobre Beerensteyn, clique aqui e leia texto sobre ela no guia da Holanda na Copa de 2023)

Por muito tempo, ela foi a ignorada, a desprezada, a ofendida. Numa seleção que contou com o talento de Lieke Martens, e ainda conta com o de Jill Roord (e Vivianne Miedema, quando as lesões a deixam), Lineth Beerensteyn sempre foi a "patinha feia" para muitos. Mesmo que seja tão parte da vitoriosa "geração Euro 2017", mesmo que tenha tomado paulatinamente a titularidade que era de Shanice van de Sanden na virada de década... Beerensteyn é vista apenas como uma atacante esforçada e nada mais. Lances infelizes, como um gol perdido na prorrogação contra a Espanha, nas quartas de final da Copa do Mundo passada, imediatamente antes de um gol de Salma Paralluelo definir aquela parada, fez muita gente olhar para ela como alguém em quem não se podia confiar. Pois Beerensteyn vive, nestes dois anos pré-Euro, a melhor fase de sua carreira. Esta fase começou até mesmo em meio às sérias dificuldades que o ataque das Leoas Laranjas viveu em 2024: nas eliminatórias da Eurocopa, dos quatro gols marcados numa campanha difícil, Beerensteyn fez três, fazendo o papel de referência, ainda que improvisada. Um dos gols, meio na sorte, no empate contra a Finlândia (1 a 1, quarta rodada), mostrou a melhor qualidade da atacante: seu esforço inesgotável, sempre insistindo nas jogadas. 

Vaga na Euro garantida, Beerensteyn mudou de time para a temporada 2024/25, deixando a experiência na Juventus para trás (no clube italiano, ela até foi bem em 2022/23, mas caiu de produção em 2023/24) e voltando à Alemanha, para jogar no Wolfsburg. E nas Lobas, Beerensteyn brilhou na temporada recém-encerrada: migrando da ponta esquerda para o meio do ataque, ela foi a artilheira do Campeonato Alemão, com 17 gols em 20 jogos. Pela Holanda, a boa fase continuou: foram três gols na fase de grupos da Liga das Nações, sendo a holandesa a mais marcar gols. No fim da temporada, uma lesão não detalhada ("Não quero que isso seja muito falado, o que importa é dentro de campo", explicou ela à emissora NOS) assustou: ela ficou de fora dos últimos jogos pela Nations League, ficou de fora dos treinos antes da convocação, ainda há dúvidas se poderá entrar nos primeiros jogos da Euro. De todo modo, Beerensteyn está lá. Se recebeu a confiança mesmo quando era questionada, seria até uma injusta ironia não poder estar na terceira Eurocopa de sua carreira, justamente quando ela está no ponto alto.

(KNVB Media/Divulgação)

Vivianne Miedema (Manchester City-ING)

Ficha técnica
Nome: Anna "Vivianne" Margaretha Marina Astrid Miedema
Data e local de nascimento: 15 de julho de 1996, em Hoogeveen (Holanda)
Clubes na carreira: Heerenveen (2011 a 2014), Bayern de Munique-ALE (2014 a 2017), Arsenal (2017 a 2024) e Manchester City-ING (desde 2024) 
Desempenho na seleção: 124 jogos e 97 gols, desde 2013
Torneios pela seleção: Copa de 2015 (4 jogos, nenhum gol), Euro 2017 (6 jogos, 4 gols), Copa de 2019 (7 jogos, 3 gols), torneio olímpico de 2020+1 (4 jogos, 10 gols) e Euro 2022 (2 jogos, nenhum gol)

(Para saber mais sobre Miedema, clique aqui e leia texto sobre ela no guia da Holanda na Copa de 2019)

É possível dizer: tecnicamente, Vivianne Miedema ainda é a jogadora de quem mais imprensa e torcida esperam na seleção da Holanda (Países Baixos). Assim como é até mais possível dizer: a carreira de "Viv" se divide entre antes e depois de 15 de dezembro de 2022. Até ali, a atacante era das melhores jogadoras do mundo, um símbolo da equipe feminina do Arsenal, já estava na história do futebol de mulheres (a maior goleadora da história dos torneios olímpicos femininos em uma só edição, com os 10 gols marcados em Tóquio-2020+1) cada vez mais uma referência técnica e pessoal das Leoas Laranjas - a ponto de ser capitã dela, vez por outra, e de já ser a maior goleadora da história da equipe naquela época. É verdade que tivera participação apagada na Eurocopa feminina de 2022, vitimada que foi pela COVID-19 no decorrer do torneio. Mas Miedema ainda era soberana, prometia ser uma das caras da Copa de 2023. Até o dia citado de 2022, em que rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, defendendo o Arsenal contra o Lyon-FRA, pela fase de grupos da Liga dos Campeões feminina. Não haveria mais Miedema em campo naquela temporada. Nem na Copa de 2023. Desde então, Miedema sofre com as lesões. Mesmo após encerrar a recuperação do rompimento do ligamento cruzado, problemas musculares ainda atravancam o caminho da atacante. Que já manifestou, diversas vezes, pelos perfis nas mídias sociais e pela coluna mensal que escreve no jornal Algemeen Dagblad, o impacto que as idas e vindas lhe causam. No corpo e, principalmente, na mente, tão exigida a ter paciência.

Em sua passagem pelo Arsenal, ela ainda voltou (reestreou no minuto final da vitória por 2 a 1 sobre o Bristol City, na quarta rodada do Campeonato Inglês 2023/24). Ainda terminou a temporada indo e vindo do banco das Gunners, entre problemas musculares. Até tentou ajudar as Leoas Laranjas, jogando em duas partidas da Liga das Nações 2023/24. E por fim, deixou claro o valor que pode ter: foi dela, Miedema, o gol da vaga na Euro, empatando difícil partida contra a Noruega (1 a 1), na última rodada das eliminatórias, a dez minutos do fim. Só que mais um impacto veio: a decisão do Arsenal em dispensar Miedema, em julho de 2024, após sete anos de clube. E mesmo que o Manchester City tenha apostado em sua contratação, a atacante seguiu penando com lesões. Passou por mais uma cirurgia no joelho, em outubro de 2024, que a tirou dos campos na reta final do ano. Já em 2025, foram quatro jogos pela Holanda (Países Baixos), todos pela Liga das Nações. E o último deles simbolizou o que têm sido os três anos recentes de Miedema: ela entrou em campo aos 62' contra a Áustria, marcou belo gol aos 69', e uma lesão muscular a forçou a sair de campo aos 77'. Desde então, ela ficou fora dos campos. Foi convocada para as últimas rodadas na Liga das Nações, mas não entrou em campo: foi preservada para a preparação rumo à Euro. Fez exercícios fisioterapêuticos até nas miniférias que teve. Tanto esforço, afinal, deu certo. Miedema volta a disputar um torneio pela Holanda (Países Baixos), após três anos. Com as cicatrizes, físicas e psicológicas, de tantas lesões. Mas com sinais - como o gol contra a Áustria, ou mesmo o gol mais bonito do Campeonato Inglês passado - de que ela ainda pode ser a grande referência técnica. Quem sabe o centésimo gol pela seleção não venha na Euro. E quem sabe a Euro sirva para que ela lembre a todos que craque não esquece...

(KNVB Media/Divulgação)

Jill Roord (Twente)

Ficha técnica
Nome: Jill Jamie Roord
Data e local de nascimento: 22 de abril de 1997, em Oldenzaal (Holanda)
Clubes na carreira: Twente (2012 a 2017 e desde 2025 - já anunciado o retorno, após a Euro), Bayern de Munique-ALE (2017 a 2019), Arsenal-ING (2019 a 2021), Wolfsburg-ALE (2021 a 2023) e Manchester City-ING (2023 a 2025)
Desempenho na seleção: 105 jogos e 29 gols, desde 2015
Torneios pela seleção: Copa de 2015 (não jogou), Euro 2017 (3 jogos, nenhum gol), Copa de 2019 (7 jogos, 1 gol), torneio olímpico de 2020+1 (4 jogos, 1 gol), Euro 2022 (4 jogos, um gol), Copa de 2023 (5 jogos, 4 gols) e Liga das Nações (2023/24, 2025/26)

(Para saber mais sobre Roord, clique aqui e leia texto sobre ela no guia da Holanda na Copa de 2023)

Jill Roord já seria falada antes desta Eurocopa feminina, em condições normais da sua carreira. Em primeiro lugar, por suas condições técnicas: vinda de participação elogiável na Copa de 2023, é uma jogadora cada vez mais confiável no ataque, seja jogando como uma "ponta-de-lança", pouco mais avançada do que uma meio-campista, seja escalada como atacante mesmo (coisa que acontece vez por outra na seleção feminina da Holanda/Países Baixos, com a saída definitiva de Lieke Martens). Em segundo lugar, Roord mereceria atenção por ter superado um trauma físico pessoal, de 2023 para cá: em 24 de janeiro de 2024, ela foi outra holandesa a sofrer rompimento de ligamento cruzado anterior do joelho, defendendo o Manchester City no clássico contra o Manchester United, pela Copa da Liga Inglesa. Passou nove meses se recuperando, e quando voltou, rapidamente recuperou o nível técnico apresentado: foram 19 jogos, a maioria como titular, e cinco gols marcados no Campeonato Inglês feminino. Pela seleção holandesa feminina, voltou a ser titular já na reta final de 2024. E neste primeiro semestre de 2025, na fase de grupos da Liga das Nações, já parecia que nada ocorrera no ano passado: titular em cinco jogos, Roord marcou um gol e foi das mais constantes jogadoras.

Em tese, Roord não deixaria nada a dever a outros destaques do City, como Yui Hasegawa, Khadija Shaw ou a colega de clube e seleção Vivianne Miedema. Se quisesse ficar em Manchester, ficaria, e para ser titular. Mas... ela não quis, como deixou claro em entrevista ao diário The Guardian, há poucos dias: "Meu tempo no City foi ótimo. Mas já tenho jogado no exterior há oito anos, e fica difícil estar sozinha por tantos anos. Nos últimos tempos, perdi a diversão e a felicidade em jogar futebol, um pouco por estar fora, viajar muito e não poder estar com a família e os amigos". Por isso, ela decidiu por um retorno até surpreendente, que a faz ser ainda mais falada: ao final da temporada passada, anunciou a volta ao Twente em que começou a jogar, na Holanda (Países Baixos). Lá, terá um familiar até no próprio clube: o pai, René Roord, diretor do departamento feminino do atual bicampeão holandês. Lá, chega para tentar liderar o Twente a feitos maiores, até fora das fronteiras nacionais ("Nunca me senti com tantas responsabilidades num clube, então isso é bom para mim, é algo para eu trabalhar e melhorar", comentando ao Guardian). Mas antes disso, há a terceira Eurocopa da carreira para Roord. E nela, não só ela também tentará ostentar o valor que tem para o ataque desta seleção holandesa, como também poderá se credenciar como uma líder para os anos futuros. Condições técnicas e constância para tanto, Roord tem.

(KNVB Media/Divulgação)

Romée Leuchter (Paris Saint Germain-FRA)

Ficha técnica
Nome: Romée Elke Henk Leuchter
Data e local de nascimento: 12 de janeiro de 2001, em Heerlen (Holanda)
Clubes na carreira: PSV (2019 a 2021), Ajax (2021 a 2024) e Paris Saint-Germain-FRA (desde 2024)
Desempenho na seleção: 21 jogos e 4 gols, desde 2022
Torneios pela seleção: Euro 2022 (2 jogos, 2 gols)

Na Eurocopa passada, se Daphne van Domselaar foi a grande surpresa numa campanha discreta da Holanda (Países Baixos), Romée Leuchter não ficou muito atrás. Num momento difícil das Leoas Laranjas - o jogo contra a Suíça, último da fase de grupos, em que havia até risco de eliminação -, Leuchter saiu do banco aos 29 minutos do segundo tempo, fez dois gols e transformou um empate arriscado numa vitória mais elástica (4 a 1) do que o jogo mostrou. Mostrando técnica e alguma classe, jogando no meio da área, Leuchter se tornava ali, em meio à Euro 2022, uma candidata a símbolo de uma nova geração holandesa. Pelo menos em clubes, isso até se confirmou. No Ajax, onde já estava naquela Euro 2022, não só Leuchter foi uma das melhores jogadoras no título holandês de 2022/23, como mostrou ser a melhor atacante da escalação que fez campanha muito digna na Liga dos Campeões da temporada seguinte, 2023/24, indo às quartas de final, de modo surpreendente. Não à toa, logo que 2023/24 acabou, Leuchter tinha um contrato do Paris Saint-Germain pronto a lhe esperar - e assinou. Mas isso foi em clubes. Na seleção... o espaço que parecia se abrir para Leuchter demorou a ser conquistado. No final de 2022 e no começo de 2023, ela ainda participou de alguns amistosos, mas passou em branco neles, não chamou a atenção, e mesmo estando em boa fase no Ajax e na lista preliminar de convocadas para a Copa de 2023, ficou de fora da relação final holandesa para o torneio. Ainda em 2023, a atacante até "caiu" para a seleção sub-21. 

Ali se acendeu um sinal de alerta: menos para Leuchter, mais para o técnico Andries Jonker, que ouviu muitas questões sobre o porquê de não apostar na atacante. Esse alerta seguiu até dezembro de 2023: foi quando ela voltou a ser convocada para a seleção principal, saindo da reserva para colaborar num gol decisivo (cruzou a bola) nos 4 a 0 contra a Bélgica, placar que ajudou a Holanda a ir às semifinais da Liga das Nações. Já em 2024, pelas eliminatórias da Eurocopa, Leuchter recuperou mais espaço: jogou em quatro das seis partidas, e voltou a ser titular em uma delas (o 1 a 0 sobre a Noruega, na segunda rodada). Chegando ao Paris Saint-Germain, se a temporada do clube francês foi apagada - eliminação na fase preliminar da Liga dos Campeões, sem títulos em liga ou copa francesas -, Leuchter teve lá seu rendimento: foram 9 gols em 22 jogos pela D1 Arkema, a maioria das partidas (15) como titular. E a recuperação do espaço na seleção dos Países Baixos seguiu: titular em amistosos contra Dinamarca e Estados Unidos no fim de 2024, presença em três jogos na Liga das Nações no começo de 2025, dois deles como titular. Diante dos problemas físicos de Lineth Beerensteyn e da desconfiança sobre a propensão de Vivianne Miedema a sofrê-los, Leuchter pode começar a Eurocopa como titular. De certa forma, a expectativa positiva do surgimento dela na Euro 2022 se concretizou, mesmo por linhas tortas.

(KNVB Media/Divulgação)

Esmee Brugts (Barcelona-ESP)

Ficha técnica
Nome: Esmee Virginia Brugts
Data e local de nascimento: 28 de julho de 2003, em Heinenoord (Holanda)
Clubes na carreira: PSV (2020 a 2023) e Barcelona-ESP (desde 2023)
Desempenho na seleção: 43 jogos e 10 gols, desde 2022
Torneios pela seleção: Euro 2022 (3 jogos, nenhum gol) e Copa de 2023 (5 jogos, 2 gols)

(Para saber mais sobre Brugts, clique aqui e leia texto sobre ela no guia da Holanda na Copa de 2023)

Quando chegará o momento de Esmee Brugts brilhar? É a pergunta feita pela maioria dos que acompanham a carreira da atacante. Até porque este momento já ronda a carreira de "Esje" (apelido carinhoso das colegas de seleção a ela) faz alguns anos. Mais precisamente, também a partir da Eurocopa feminina de 2022, quando, a exemplo das colegas de geração Daphne van Domselaar e Romée Leuchter, Brugts saiu do banco para mostrar técnica na ponta esquerda - em geral, substituindo uma Lieke Martens atormentada por problemas físicos, que a fizeram até ser cortada no decorrer daquela Euro. Na temporada da sequência, 2022/23, Brugts foi um dos únicos pontos positivos num período de baixa do time feminino do PSV. Tanto que, contrato encerrado com o time de Eindhoven ao fim da temporada, ela já era candidata a ter chances em centros mais competitivos do futebol de mulheres. Para isso, bastaria fazer uma boa Copa do Mundo em 2023. Àquela altura, para ser titular, Brugts tirou vantagem de uma mudança tática feita por Andries Jonker: com a Holanda tendo três zagueiras, ela foi transformada numa ponta esquerda "disfarçada" de ala. Deu certo: com dois belíssimos gols de fora da área nos 7 a 0 sobre o Vietnã, na fase de grupos, Brugts mostrou o talento ofensivo que tinha. Titular em todas as partidas dos Países Baixos na Copa, bastou o torneio acabar para a chance esperada surgir: semanas depois, era anunciado seu contrato com o Barcelona.

De lá para cá, é inegável que Brugts tem seu espaço. No Barcelona, mais liberada para poder avançar ao ataque e jogar como a ponta esquerda que é, ela tem sua titularidade, principalmente no Campeonato Espanhol (tanto em 2023/24 quanto em 2024/25, foram 27 jogos, a maioria como titular em ambas as temporadas). Pela Liga dos Campeões, a atacante aparece até mais, mesmo sem tantos gols: se no título europeu barcelonista de 2023/24 foram 8 jogos (três saindo do banco, sem marcar gols), na campanha do vice em 2024/25 foram 11 jogos, seis começando em campo, e três gols. Ainda assim, Brugts fica abaixo de outras luminares do time catalão/espanhol - na final da Champions mais recente, por exemplo, saiu do banco só aos 33 minutos do segundo tempo. Coisa que já não acontece pela seleção da Holanda (Países Baixos) faz tempo: da Copa até agora, Brugts nunca mais deixou de ser titular das Leoas Laranjas. Na campanha de semifinalista da Liga das Nações 2023/24, foram dois gols; no ano passado, presença em todas as partidas, fossem pelas eliminatórias da Euro, fossem por amistosos - num dos quais, contra a China, em novembro, a "falsa ala" fez outro belo gol de fora da área. Em 2025, na fase de grupos da Liga das Nações, mesmo sem gols, dois passes para gol - sem contar a sequência da titularidade. Entretanto, segue a impressão de que ser uma "falsa lateral", tendo tarefas defensivas, acaba limitando um pouco o talento que a ponta esquerda de origem ainda pode demonstrar. Por isso, segue a pergunta que abriu este texto: quando chegará o momento de Esmee Brugts brilhar? Quem sabe seja nesta Euro.

(KNVB Media/Divulgação)

Renate Jansen (PSV)

Ficha técnica
Nome: Renate Jansen
Data e local de nascimento: 7 de dezembro de 1990, em Abbenes (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2008 a 2015), Twente (2015 a 2024) e PSV (desde 2024)
Desempenho na seleção: 70 jogos e 8 gols, desde 2010
Torneios pela seleção: Euro 2017 (4 jogos, nenhum gol), Copa de 2019 (1 jogo, nenhum gol), torneio olímpico de 2020+1 (2 jogos, nenhum gol), Euro 2022 (não jogou), Copa de 2023 (1 jogo, nenhum gol) e Liga das Nações (2023/24, 2025)

(Para saber mais sobre Renate Jansen, clique aqui e leia texto sobre ela no guia da Holanda na Copa de 2023)

Durante a maior parte de sua carreira, Renate Jansen sempre foi uma coadjuvante absoluta, mesmo presente nos momentos importantes da seleção holandesa de mulheres ao longo dos anos recentes. Ainda assim, jamais se discutiu sobre a utilidade e a experiência da atacante versátil (pode jogar nas duas pontas e no meio do ataque). E da Copa de 2023 até agora, Renate enfim parece ter suas qualidades reconhecidas como merecem. Um marco disso, inclusive, foi visto na própria seleção feminina da Holanda (Países Baixos): na fase de grupos da Liga das Nações 2023/24, a atacante saiu do banco em quatro das seis partidas. Mas numa delas, aos 44 minutos do segundo tempo, fez o gol de uma vitória muito comemorada: os 2 a 1 sobre a Inglaterra, na segunda rodada. Se prosseguia apenas como opção na seleção, porém, no Twente Jansen era soberana. Era a capitã a guiar os caminhos das colegas mais novas (Jaimy Ravensbergen, Liz Rijsbergen, Charlotte Hulst). Era um dos símbolos do time campeão holandês em 2023/24. Que foi o capítulo final de sua passagem pelas Tukkers: pensando inicialmente numa experiência no exterior, Renate Jansen decidiu deixar o Twente, ao fim da temporada 2023/24. 

A própria explicou a mudança à ESPN holandesa: "Eu marcava poucos gols, meu rendimento estava caindo, foi melhor eu sair". O que não se imaginava é que, com a demora das ofertas de países fora da Holanda (Países Baixos), a atacante aceitasse a oferta de um... adversário do Twente na liga holandesa: o PSV. Daria errado? Nem um pouco: num time fortalecido, que disputou até o fim o título nacional na Vrouwen Eredivisie e alcançou ainda a final da Copa da Holanda, Renate também foi a capitã. Também foi uma referência para jogadoras mais novas. E fez por merecer esse papel, em termos técnicos: na liga, marcou 13 gols em 22 partidas, sendo colocada principalmente na ponta esquerda, mas podendo cair para o meio do ataque. Comando tão notável no time de Eindhoven valeu para Renate receber um grande prêmio (até como reconhecimento à carreira): foi ela a melhor jogadora do Campeonato Holandês feminino em 2024/25. E valeu também para manter sua posição inalterada nas convocações de Andries Jonker: ela figurou em três partidas das eliminatórias da Eurocopa, no ano passado, apareceu em mais três partidas da fase de grupos da Liga das Nações neste 2025... e se a Holanda precisar de uma opção experiente e confiável para o ataque ao longo da Euro, especialmente se for necessário "esfriar" o jogo, Renate Jansen estará pronta no banco. Mesmo como a coadjuvante que foi, a atacante veterana terminará relativamente reconhecida sua trajetória de quinze anos pelas Leoas Laranjas nesta Euro. E começará a encerrar sua trajetória nos campos em geral, como já antecipou em abril, ao site "Sportnieuws.nl": "Ainda tenho contrato por um ano, mas vou pensar sobre isso. Às vezes é hora de parar. Depois de 2026, de qualquer modo, penduro as chuteiras".

(KNVB Media/Divulgação)

Chasity Grant (Aston Villa-ING)

Ficha técnica
Nome: Chasity Shivonia Charissa Grant
Data e local de nascimento: 19 de abril de 2001, em Schiedam (Holanda)
Clubes na carreira: ADO Den Haag (2017 a 2020), Ajax (2020 a 2024) e Aston Villa-ING (desde 2024)
Desempenho na seleção: 14 jogos e 1 gol, desde 2022
Torneios pela seleção: nenhum

A ponta direita de 24 anos de idade pode ser considerada a grande "vencedora" das mudanças graduais que o técnico Andries Jonker tentou fazer, aqui e ali, em algumas posições da seleção feminina da Holanda (Países Baixos), desde a Copa de 2023. Afinal de contas, a atacante tivera uma única chance pelas Leoas Laranjas - estreia em 19 de fevereiro de 2022, nos 3 a 0 contra a Finlândia, no amistoso Torneio da França -, e nunca mais, depois dali. O que não quer dizer que tivesse caído de produção no Ajax, em que jogava. Longe disso: no time de Amsterdã, Grant viveu uma grande temporada em 2023/24. Mostrou muita velocidade, ajudou em algumas finalizações (foram três gols pela Liga dos Campeões, na qual o Ajax chegou às quartas de final, e seis pelo Campeonato Holandês feminino) e pelo menos um título (a Copa da Holanda). Tudo isso foi o suficiente para Grant dar o salto com que muitas jogadoras holandesas sonham: partir para um centro mais competitivo - no caso, a Inglaterra, com Grant se transferindo ao Aston Villa na metade do ano passado ("Estou pronta para o próximo passo", celebrou a atacante ao site do clube inglês). 

Foi suficiente até para mais: para Grant voltar a ser lembrada para a seleção feminina neerlandesa logo que 2024 começou. Ela ainda ficou no banco nas fases finais da Liga das Nações, mas a partir de abril, no início das eliminatórias da Eurocopa, ela começou a jogar. Esteve em todas as seis partidas, começando como titular em quatro delas. E em uma, participou de lance importante, justamente como rende melhor: foi de Grant o cruzamento para o gol salvador de Vivianne Miedema, na última rodada da qualificação, garantindo o 1 a 1 com a Noruega e a vaga na Euro. Na primeira temporada de Aston Villa, a sequência que a ponta direita conseguiu (foram 21 jogos e quatro gols, sendo titular das Villans) fez com que ela ganhasse de Andries Jonker a confiança que outras novatas testadas - as meias Nina Nijstad e Lotte Keukelaar, a ponta Chimera Ripa - não conseguiram. Ela ficou para jogar na fase de grupos da Liga das Nações, já neste 2025: esteve em todas as seis partidas, começou três como titular, fez seu primeiro gol pelas Leoas Laranjas (na vitória por 2 a 1 na Escócia, na segunda rodada). E tem tudo para começar a Euro como titular. Ou seja: Grant já sai na frente, na reformulação que deverá vir sob o comando de Arjan Veurink, futuro técnico dos Países Baixos.

(KNVB Media/Divulgação)

Katja Snoeijs (Everton-ING)

Ficha técnica
Nome: Katja Snoeijs
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 31 de agosto de 1996, em Amstelveen (Holanda)
Clubes na carreira: Telstar (2015 a 2017), VV Alkmaar (2017 a 2018), PSV (2018 a 2020), Bordeaux-FRA (2020 a 2022) e Everton-ING (desde 2022)
Desempenho na seleção: 38 jogos e 9 gols, desde 2019
Torneios pela seleção: Copa de 2023 (5 jogos, 1 gol) e Liga das Nações (2023/24, 2024/25)

(Para saber mais sobre Snoeijs, clique aqui e leia texto sobre ela no guia da Holanda na Copa de 2023)

Se Renate Jansen está para encerrar sua trajetória na seleção feminina da Holanda (Países Baixos), Katja Snoeijs parece a postos para ocupar rapidamente a lacuna. Afinal, Snoeijs é uma atacante que será predominantemente reserva nas Leoas Laranjas, mas sempre será uma opção utilizada. Já foi assim na Copa de 2023: com Vivianne Miedema fora do torneio pela lesão no joelho, Snoeijs saiu do banco para jogar em todas as cinco partidas holandesas no Mundial. Numa delas, inclusive, até marcou gol, nos 7 a 0 sobre o Vietnã (fase de grupos). Bastaria seguir com ritmo de jogo no Everton para manter seu espaço nas convocações.

E Snoeijs manteve. Mesmo jogando mais recuada nas Toffees, o que diminui sua participação nas finalizações (três gols em 2023/24, quatro em 2024/25), a atacante seguiu titular absoluta da equipe de Liverpool no Campeonato Inglês. E de fato, isso foi suficiente para que ela seguisse como uma das opções de ataque da Holanda (Países Baixos). Esteve em cinco jogos da Liga das Nações 2023/24, em todos os jogos das eliminatórias da Eurocopa, em quatro partidas da Liga das Nações mais recente. Porém, em nenhum deles, saindo como titular, somente vindo para os minutos finais. Deve ser assim na Eurocopa. Até com menos tempo de jogo para Snoeijs, vistas as presenças de nomes como Vivianne Miedema e Jill Roord, mais propensas a tempo de jogo. Contudo, ela segue na seleção. E deverá ser uma opção de relativa experiência para os anos que vêm.