sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Um começo irregular demais

Com a irregularidade dos grandes e dos pequenos, a disputa pelo título holandês pode ser tão dura quanto a dividida entre Toornstra e Zoet (feyenoord.nl)

Cinco rodadas ainda é pouco tempo para se definir um claro favorito ao título de qualquer campeonato. No entanto, também não é incomum notar que certos participantes já se insinuem nesse tempo como dispostos a quererem coisa mais séria dentro da competição. No Campeonato Holandês, isso é mais comum do que se pensa, a julgar pelas últimas temporadas – nelas, dois dos integrantes do Trio de Ferro já começavam a despontar para disputarem o título. Esta temporada 2017/18 traz uma tendência que, se confirmada, promete trazer mais emoções: os clubes grandes nunca estiveram tão vulneráveis ao avanço dos médios. Porém, estes também tropeçam perigosamente. E deixam no ar a pergunta: quem, afinal, vai pintar como campeão?

Na rodada passada (a quinta, por sinal), fizeram o primeiro clássico desta Eredivisie dois clubes que usariam uma eventual vitória para falar grosso. Visitante contra o PSV, o Feyenoord poderia fazer isso com mais propriedade: afinal, seria a quinta vitória em cinco jogos. Além do mais, o time de Eindhoven sofrera sua primeira derrota na quarta rodada: um péssimo começo contra o Heerenveen, fora de casa, causara o 2 a 0 em apenas sete minutos. Mas os Boeren, a princípio, deram a impressão de se refazer brilhantemente: abriram 1 a 0 para cima do Feyenoord em dois minutos, com Gastón Pereiro, e impuseram tamanha velocidade que a vitória por placar simples ficou parecendo enganosa. Com a expulsão de Steven Berghuis, uma goleada era previsível.

Mais surpresa: a goleada não só não veio no segundo tempo, como o Feyenoord apresentou até mais organização tática com um homem a menos. Com a entrada de Sofyan Amrabat para fortalecer a marcação no meio-campo, Jens Toornstra foi deslocado para o ataque, junto de Jean-Paul Boëtius. Com mais movimentação ofensiva na frente e mais proteção atrás, é possível dizer que o atual campeão holandês só não conseguiu o empate pela atuação imponente de Jeroen Zoet no gol dos Eindhovenaren. Com isso, o 1 a 0 ficou no placar. Mas o Feyenoord seguiu líder - o PSV igualou os 12 pontos, mas ficando em terceiro lugar, pelo saldo de gols menor. E a impressão era unânime: o Stadionclub havia sido inesperadamente firme em campo, mesmo em desvantagem numérica. Ou seja, o Feyenoord seguia favorito, mesmo com derrota. E o PSV não se afirmara em definitivo.

E o Ajax? Após o desastroso começo de temporada, os Ajacieden também tentam se ajeitar. Contra o ADO Den Haag, até conseguiam uma vitória fácil, por 1 a 0, diante de um inofensivo anfitrião. Aí veio o segundo tempo. E o domínio dos Amsterdammers era tamanho, tamanho... que relaxaram. Bastou para que o time de Haia se animasse, tentasse algumas vezes chegar ao gol, e enfim o conseguisse. Só aí, já na metade final do segundo tempo, o Ajax acelerou o ritmo de novo. Aí parou em outro goleiro: Robert Zwinkels, que salvou o ADO Den Haag com pelo menos quatro defesas respeitáveis. E o 1 a 1 deixou a equipe de Amsterdã dois pontos atrás de seus arquirrivais.

Um Feyenoord ainda favorito, mas que tropeçou (sem contar a fragilidade vista na Liga dos Campeões). Um PSV que vai se refazendo do vexame na Liga Europa, e que vence com sustos na Eredivisie – e até por isso, ainda mostra fragilidades. Um Ajax que também se reformula em campo, mostra até mais técnica, mas que tem desatenções inaceitáveis. Havia tempos que os três grandes holandeses não apresentavam tamanha vulnerabilidade, tendo em vista o que (não) conseguem fazer nas competições continentais. Então, a expectativa é clara e óbvia: nunca foi tão grande a chance de um clube médio, enfim, chegar para disputar seriamente o título holandês. Mas se há essa chance, é preciso dizer que os “médios” a estão desperdiçando.

Tome-se o exemplo do AZ, atualmente o time mais capacitado, na aparência, para desafiar PSV e Feyenoord – até por estar empatado em pontos com ambos (nos critérios, é o segundo colocado). Na rodada passada, o time de Alkmaar mostrou poder de reação a adversidades – ou melhor, Wout Weghorst mostrou isso, ao fazer os dois gols da vitória sobre o Sparta Rotterdam, após perder dois pênaltis. Weghorst é o finalizador de um time que conta com a mobilidade de Alireza Jahanbakhsh e Dabney dos Santos pelas pontas, além da capacidade de Joris van Overeem e Marko Vejinovic na armação. Porém, os Alkmaarders já tiveram uma chance contra um dos grandes: enfrentaram o PSV, na primeira rodada. Começaram até bem, na frente do placar. Mas permitiram a virada, e foram derrotados por 3 a 2, mesmo fazendo jogo duríssimo.

Abaixo desses times, há o Heerenveen, em quarto lugar, com 11 pontos. É outro time promissor: conta com bons atacantes (Arber Zeneli, Reza “Gucci” Ghoochannejhad e Martin Odegaard – este enfim começa a ter algo parecido com uma ascensão), tem a firmeza de Stijn Schaars no meio-campo, já venceu o PSV, é o único time invicto na Eredivisie (três vitórias e dois empates). Todavia, a equipe da Frísia ainda exibe algumas irregularidades na defesa, como visto nos empates das duas primeiras rodadas. Precisa resolver isso, se quiser se consolidar como “o melhor do resto”.

Este posto foi ocupado pelo Utrecht, na temporada passada. E a impressão é de que a equipe de Erik ten Hag tem plenas condições de mantê-lo: mostra estilo ofensivo, as contratações já se entrosaram (principalmente Cyriel Dessers, no ataque, e Urby Emanuelson, no meio-campo), joga melhor até quando é derrotado (caso da terceira rodada, quando só atuação incrível do goleiro Sergio Padt segurou o 2 a 1 do Groningen). Porém, na semana passada, quando poderiam igualar o Feyenoord, os Utregs tomaram um daqueles golpes duros: além de permitirem a primeira vitória do Twente na temporada, tomaram um 4 a 0 desnorteador em Enschede.

É possível citar o Vitesse, já abordado pela coluna, que também se revela ofensivo e conta com Tim Matavz, artilheiro do campeonato (cinco gols nos cinco primeiros jogos!). Mas a equipe aurinegra de Arnhem também já tropeçou, permitindo o empate do VVV-Venlo no final do jogo, na rodada anterior. De mais a mais, como confiar numa equipe que dá o vexame que deu na quarta passada, ao cair para o AVV Swift (quinta divisão) logo na primeira fase da Copa da Holanda? O olhar cresce, então, para o Zwolle: novamente fazendo boa campanha, os “Dedos Azuis” têm 10 pontos, mesma pontuação do Ajax. Mas quando enfrentaram os Amsterdammers... tomaram categóricos 3 a 0.

Enfim, os grandes tropeçam, em meio a reformulações. Ainda não conseguiram desgarrar como o esperado. Nunca foi tão possível a um clube médio sonhar repetir as façanhas de AZ (campeão em 2008/09) e Twente (campeão em 2009/10). Mas... qual deles conseguirá regularidade e coragem contra o trio? Enquanto essas perguntas não são respondidas, o começo da Eredivisie segue irregular. Já que não dá para esperar muita qualidade técnica, pelo menos isso rende algum equilíbrio – e alguma emoção.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 23 de setembro de 2017)

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