quarta-feira, 3 de abril de 2024

Um pé em cada canoa

Nos treinos da Holanda para a estreia nas eliminatórias da Eurocopa, veteranas como Spitse (esquerda, à frente), Janssen (centro) e Van de Donk (esquerda) puxam a fila. Mas as novatas começaram a aparecer, até por necessidade (BSR Agency)

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) saiu dos jogos de fevereiro com uma grande ressaca: afinal, nas partidas decisivas da Liga das Nações, nenhum gol, duas derrotas, nada da sonhada vaga para o torneio olímpico feminino de futebol. E um grande questionamento: seria a decepção o ponto final para algumas veteranas nas Leoas Laranjas? Sem respostas definitivas, pelo menos nesta convocação para as duas primeiras partidas do grupo A das eliminatórias da Eurocopa de mulheres, em 2025, contra Itália - na cidade italiana de Cosenza, nesta sexta (5), às 13h15 de Brasília - e Noruega - em Breda, terça-feira (9), às 15h45 de Brasília. Porque a lista das 23 convocadas pelo técnico Andries Jonker indica que a seleção feminina neerlandesa estará equilibrada entre velhas conhecidas e algumas novidades.

Essas novidades apareceram até por força das circunstâncias. Antes mesmo da Liga das Nações, Jill Roord rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho. Durante ela, Vivianne Miedema até jogou a semifinal contra a Espanha, mas foi cortada depois, constatou-se que seu joelho esquerdo ainda causava problemas após a recuperação da grave lesão anterior (também ligamento cruzado anterior), e a atacante precisou de outra cirurgia no local, para remover o menisco. E depois, três jogadoras se machucaram no caminho: a goleira Daphne van Domselaar passou por cirurgia na região lombar (ficou fora da temporada), e a dupla holandesa do Paris Saint-Germain virou desfalque no mesmo jogo - tanto Jackie Groenen quanto Lieke Martens tiveram lesões musculares.

Com tantas titulares machucadas, Andries Jonker teve de abrir espaço para mais novatas na seleção principal. No gol, Daniëlle de Jong veio do Twente, muito perto do título holandês - habitual titular da seleção sub-21  (as "Jovens Leoas Laranjas"), De Jong até mesmo já se integrara a uma convocação, às pressas, no ano passado. Na defesa, uma estreante de fato: a zagueira Gwyneth Hendriks, 23 anos, capitã da seleção sub-21 e do PSV, terceiro colocado do Campeonato Holandês. E no meio-campo, outra jogadora do PSV - também preponderante na equipe de Eindhoven: Nina Nijstad, outra içada das convocações da seleção sub-21. No ataque, a estreante é Chasity Grant, mais um nome do Ajax que fez papel digno na Liga dos Campeões feminina, indo até às quartas de final - e tendo mais novatas cuja convocação é pedida: a goleira Regina van Eijk, a zagueira Kay-lee de Sanders, a lateral esquerda Isa Kardinaal, e a meio-campista Lily Yohannes (que, talvez, tenha escolhido defender os Estados Unidos, presente que está na convocação norte-americana para a She Believes Cup - como se trata de torneio amistoso, Yohannes ainda pode mudar sua escolha definitiva).

Obviamente, as estreantes exultaram com a chegada ao centro de treinamentos da federação, na cidade de Zeist. Falando à emissora NOS, Hendriks comemorou o que já esperava há muito tempo: "De vez em quando eu ainda me belisco, pensando 'é verdade, estou aqui'". Nijstad tambem celebrou: "Eu não esperava ser convocada, estou muito feliz. Preciso esperar pela minha vez". E se a zagueira ainda teve menos expectativa quanto a jogar ("Quero aproveitar"), a meio-campista já sinalizou que quer virar nome costumeiro nas convocações ("Espero ter algum tempo de jogo, não gosto de ficar no banco"). Todas essas palavras vão ao encontro do que mais foi pedido após as quedas da Holanda na Liga das Nações: começar a deixar de lado as veteranas que vêm há muito tempo entre as titulares. Até porque muitas jogadoras mais novas ainda não são titulares como, talvez, devessem (Damaris Egurrola Wienke, Romée Leuchter, Fenna Kalma sequer é convocada...). 

Hendriks (à esquerda) e Nijstad: a dupla do PSV, convocada pela primeira vez para a seleção principal. Quem sabe, tendo algum tempo de jogo... (BSR Agency)

Isso vai acontecer? Nem tanto. Primeiro, porque Andries Jonker indicou que a renovação na Holanda já ocorre paulatinamente, na semana passada, à mesa-redonda Studio Voetbal, da emissora NOS: "Já começou com [o antecessor] Mark Parsons, que precisou tornar Van Domselaar titular e também levou Esmee Brugts à Euro [2022]. Eu continuei: Van Domselaar virou titular, Brugts também, convoquei Kaptein, Dijkstra ocupou a lacuna aberta pela saída de Van der Gragt. É um processo que já acontece faz tempo (...) Já falavam na necessidade de renovação depois da Euro 2022. Aí a gente se classificou para a Copa, ninguém falou nada. A gente se classificou na Liga das Nações, nada. É tempestade em copo d'água".

Em segundo lugar, quem espera que o técnico vá prescindir rapidamente de conhecidas como Sherida Spitse, Dominique Janssen ou Daniëlle van de Donk deverá ter muita paciência. Jonker deixou isso claro em sua participação no debate matinal de domingo Goedemorgen Eredivisie ("Bom dia, Eredivisie"), da ESPN holandesa, há duas semanas: "Se é para rejuvenescer, é porque aparentemente quem vai entrar é melhor. Também há três jogadoras acima de trinta anos no banco, que tal? Ao invés de me perguntar se quem vai entrar é melhor, tenho de me perguntar se as três [titulares] realmente precisam sair".

Por isso, Spitse seguirá como "líbero" no trio de zagueiras. Van de Donk seguirá titular no meio-campo. Assim que puder voltar, Martens certamente terá a camisa 11 a lhe esperar - e enquanto não volta, Lineth Beerensteyn será a principal referência de ataque. No gol, sem Van Domselaar, Lize Kop deve ser a escolhida para os jogos contra Itália e Noruega, embora a goleira do Leicester City não se veja assim ("Tento me focar em mim mesma. Estou jogando bem na Inglaterra, e quero trazer isso para cá. (...) Mas quem decide é o titular, não ouvi nada sobre isso [ser titular]". 

E a seleção feminina da Holanda tentará se mostrar atenta ("Algumas jogadoras precisam aparecer", alertou Andries Jonker à NOS), contra uma Itália experiente e uma Noruega tão capacitada tecnicamente quanto a Holanda é (Maren Mjelde, Guro Reiten, Ada Hegerberg, Caroline Graham Hansen...), para conseguir uma das duas vagas do grupo A para a Euro feminina. Com o time tendo um pé na canoa das veteranas, e outro na das novidades.

As 23 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Lize Kop (Leicester City-ING), Barbara Lorsheyd (ADO Den Haag) e Daniëlle de Jong (Twente)

Laterais: Kerstin Casparij (Manchester City-ING), Lynn Wilms (Wolfsburg-ALE), Marisa Olislagers (Twente) e Merel van Dongen (Rayadas de Monterrey-MEX)

Zagueiras: Sherida Spitse (Ajax), Dominique Janssen (Wolfsburg-ALE), Caitlin Dijkstra (Twente) e Gwyneth Hendriks (PSV)

Meio-campistas: Daniëlle van de Donk (Lyon-FRA), Victoria Pelova (Arsenal-ING), Damaris Egurrola Wienke (Lyon-FRA), Jill Baijings (Bayern de Munique-ALE), Wieke Kaptein (Twente) e Nina Nijstad (PSV)

Atacantes: Lineth Beerensteyn (Juventus-ITA), Renate Jansen (Twente), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Katja Snoeijs (Everton-ING), Romée Leuchter (Ajax) e Chasity Grant (Ajax)

Nenhum comentário:

Postar um comentário