domingo, 17 de janeiro de 2016

Um duelo decisivo

Feyenoord até agradou na pré-temporada, mas precisa resolver certos problemas (Peter Mous/ANP/Pro Shots)
Pois bem: após 25 dias de interrupção, o Campeonato Holandês voltou na sexta-feira passada. E voltou depois de uma intertemporada relativamente calma. Não houve grandes surpresas, nem grandes viagens das equipes, nem mesmo a movimentação da janela de transferências atingiu em cheio a Eredivisie. A única exceção é o Heracles Almelo, que perdeu seu principal destaque: o atacante Oussama Tannane. Aliás, Tannane viu seu destino “mudar” muito ao longo desta janela. 

Primeiramente, boatos falaram no Galatasaray, mas nada se confirmou. Então, o presidente do clube de Almelo, Jan Smit, informou que estava tudo acertado entre o Heracles e a Atalanta, para que o atacante tomasse o caminho da Dea. Só que não houve acerto entre o clube italiano e o jogador. Aí, foi a vez do Málaga ser falado como destino de Tannane, mas o negócio com os Boquerones também não foi concluído. Só então surgiu o Saint-Étienne. E enfim o protagonista técnico dos Almelöers na temporada acertou a transferência: assinou contrato até 2020 com os Verdes.

Resta ao Heracles começar a viver sem seu melhor jogador a partir desta sexta, abrindo a 18ª rodada, primeira do returno, contra o Twente. Porém, o jogo mais esperado claramente é o que ocorrerá no domingo, às 11h30 de Brasília, em Roterdã. Afinal de contas, se a disputa do título holandês parece restrita ao trio de grandes (a distância do Feyenoord, terceiro colocado, já é de seis pontos para o Heracles, quarto), PSV e Feyenoord jogarão para começar a definir quem será o grande adversário do líder Ajax em busca da Eredivisieschaal. Pode ser um duelo decisivo.

E embora nenhuma dessas equipes tenha sofrido muito na intertemporada, certas ocorrências tornaram o período de recondicionamento físico mais turbulento do que o necessário, tanto nos Boeren quanto no Stadionclub. Principalmente no atual campeão holandês. Por mais que o clube estivesse apenas em treinos, o fim esplendoroso de 2015 que o PSV viveu não fazia supor uma derrota vexatória no único amistoso de janeiro. 

Mas foi o que aconteceu. Na semana que passou treinando em Malta, a equipe de Eindhoven perdeu para o Hibernians, campeão maltês na temporada passada (2 a 1, na terça retrasada). É verdade que as experiências foram amplas: duas equipes diferentes foram testadas nos dois tempos do amistoso, incluindo chance dada a gente que não tem ganho espaço, como o atacante Steven Bergwijn, o volante Rai Vloet e o zagueiro Jordy de Wijs. De mais a mais, o gol da vitória do Hibernians saiu nos minutos finais.

Ainda assim, o resultado foi muito criticado pelo técnico Phillip Cocu (“Não pode acontecer com a gente. Perdemos pelo menos oito chances claras de gol, não jogamos bem, mas ainda assim deveríamos ganhar um jogo assim”). E a chance de superar o resultado adverso foi perdida por acidente: outro amistoso estava marcado contra o FK Decic, de Montenegro, no sábado passado. Mas a delegação montenegrina não conseguiria chegar a Malta a tempo para o jogo. 

Restou a Cocu organizar um típico jogo-treino de “camisas de jogo” contra “camisas de treino”. E os “do treino” ganharam por 3 a 1. De todo modo, o treinador voltou a Eindhoven claramente preocupado com a eventual perda do embalo que levou os Eindhovenaren a terem bons resultados nas três competições em que estão. O que motivou seu alerta: “Nosso nível ainda precisa aumentar um pouco. Para podermos voltar bem à Liga dos Campeões e pressionar mais o Ajax [na Eredivisie], precisamos melhorar em relação à primeira metade da temporada. Se queremos atingir nossas metas, precisamos trazer algo extra”. 

Justo que o PSV precise comprovar sua boa fase, por vários fatores. Primeiro, a própria manutenção do elenco, reconhecidamente o mais coeso do futebol holandês na atualidade – e tendo, enfim, a volta de Jetro Willems, após lesões renitentes no joelho. Segundo, porque o próprio Frank de Boer considerou o time de Eindhoven “num nível mais alto” para uma disputa mais próxima com o Ajax. Terceiro, porque os próprios jogadores reconhecem qual é o objetivo mais real. Quem exemplificou foi o goleiro Jeroen Zoet, em entrevista ao diário De Telegraaf: “A Liga dos Campeões é incrivelmente legal, mas a liga é o mais importante. Ser [bi]campeão é a prioridade número um”.

Se ganhar novamente a liga holandesa é prioridade para o atual detentor da salva de prata, que dirá, então, para o Feyenoord, que já não a conquista há 17 anos. E o time não conseguiu resolver, na intertemporada, as fragilidades defensivas que trouxeram tropeços indesejados nas últimas rodadas do turno. Pelo menos, foi o que se viu no único amistoso feito nos treinamentos em Portugal, contra o Charleroi, da Bélgica. Dirk Kuyt segue confiabilíssimo: fez dois gols. Só que a defesa levou três do clube zebrado, e só um gol de Bilal Basaçikoglu salvou os Rotterdammers de uma derrota.

Essa incerteza já foi vista em momentos anteriores, de outras temporadas. E é justamente ela que impede o Feyenoord de ser visto como um time capacitado a, enfim, quebrar o seu tabu, por mais que o time esteja entrosado. Pelo menos, os defeitos foram bem vistos por Giovanni van Bronckhorst: “Foi ótimo ter revisto algumas coisas, nas quais treinamos durante essa semana [em Portugal]”. Também apropriadamente, o técnico elogiou alguns aspectos vistos contra o Charleroi, no site oficial do clube: “Enfatizamos a necessidade de sermos um time o mais compacto possível, com muita atenção lá atrás. Eu pude notar isso, principalmente na primeira meia hora de amistoso”.

Mas tal união dentro de campo não se viu fora. Pelo menos, em relação a um jogador: Colin Kazim-Richards. O atacante turco voltou da intertemporada transformado em bode expiatório. Isso ocorreu precisamente a partir de uma reportagem do diário Algemeen Dagblad, na qual havia várias queixas em relação ao comportamento de Kazim-Richards. "Deixe-me dizer: ele é irritante, às vezes muito irritante", reclamou um empregado do Feyenoord com acesso direto e constante ao jogador. Na mesma matéria, diretores das empresas patrocinadoras reclamaram do comportamento do atacante num jantar, no fim do ano passado. A queixa cresceu, e a diretoria do Stadionclub prometeu apurar os casos. Nem precisou: na última sexta, antes de uma entrevista coletiva de Van Bronckhorst, o autor da matéria, Mikos Gouka, foi encontrado por Kazim, que o ameaçou: "Você vai se ferrar". Só restou à diretoria afastar o jogador do elenco relacionado para o jogo em De Kuip. Não ajuda muito uma situação já periclitante, com o turco tendo perdido sua posição para Michiel Kramer.

Seja como for, jogando em casa, o Feyenoord já volta com a obrigação de diminuir a diferença de cinco pontos para o Ajax. E vencer o motivado, coeso e forte PSV talvez ajude a constituir a “cara de campeão” que o time ainda precisa. E não se pode esquecer: o Ajax (que enfrenta o ADO Den Haag no domingo) tem o que provar, mesmo com a boa intertemporada, ganhando do Hamburg em amistoso (3 a 1) e com Frank de Boer considerando que só falta “um atacante” para estar pronto na disputa do título. De quebra, Riechedly Bazoer, um dos destaques dos Ajacieden na temporada, decidiu ficar no clube, mesmo após oferta bem vantajosa do Napoli, que já estava acertado com o clube de Amsterdã.

O fato é que neste returno, o trio de ferro pode protagonizar uma disputa “empolgante”, como comentou Phillip Cocu. Será interessante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário