sexta-feira, 30 de junho de 2017

Azar, incompetência e brigas: a ausência da Holanda na Copa de 2002


A equipe escalada na derrota para a Irlanda, em Dublin, que praticamente sacramentou a queda holandesa nas eliminatórias para a Copa de 2002. Em pé: Van der Sar, Kluivert, Stam, Van Nistelrooy, Hofland e Van Bommel. Agachados: Numan, Melchiot, Overmars, Zenden e Cocu (Pics United)

Hoje, você sabe, é dia 30 de junho. Há exatos 15 anos, por volta das 10h20 de Brasília, quem lê este texto, se já fosse nascido(a) e tivesse ciência das coisas, provavelmente via Cafu subindo no pedestal onde estava a taça da Copa do Mundo, para fazer a bonita homenagem a Regina, sua companheira (até hoje, aliás), antes de erguer o troféu e coroar o quinto título mundial do Brasil – inesperado por muitos antes da Copa, inquestionável depois dela.

Pois bem: era justamente naquela final, no Estádio Nacional de Yokohama, que Louis van Gaal tinha em mente estar, junto do grupo de jogadores da seleção holandesa, quem sabe comemorando o primeiro título mundial da Laranja. Pela vontade de concretizar este gigante desejo pessoal, Van Gaal aceitou o cargo de técnico da equipe, em 2000. Entretanto, em 30 de novembro de 2001, num salão na sede da federação holandesa de futebol, em Zeist, a quimera terminava melancolicamente, com a entrevista coletiva em que anunciou sua saída do cargo. 

A decepção do treinador era tanta que, no evento, viu-se uma cena que não fora vista até então – e não seria vista depois, publicamente: Louis van Gaal, um dos comportamentos mais altivos e sérios do futebol mundial, com os olhos marejados. Era o capítulo final de um período conturbado na história da seleção holandesa, que até hoje deixa a dúvida em quem acompanha futebol mais proximamente: por que a Holanda ficou fora da Copa de 2002?! 

De fato, parece difícil entender. Afinal de contas, a Laranja tinha sido semifinalista na Copa de 1998 e na Euro 2000. Certo, não haveria mais Dennis Bergkamp: a aversão a viagens de avião (e os 31 anos) fizeram o atacante decidir deixar a seleção holandesa. Mas estava lá a maioria da geração surgida no meio dos anos 1990: Edwin van der Sar, Michael Reiziger, os irmãos Frank e Ronald de Boer, Edgar Davids, Clarence Seedorf e Patrick Kluivert. Os coadjuvantes também seguiam: Phillip Cocu, Boudewijn Zenden, Giovanni van Bronckhorst. E novatos como Mark van Bommel e Wilfred Bouma apareciam. 

Enfim: com algum exagero, era possível até considerar a seleção batava como a segunda melhor equipe nacional da Europa na época, talvez só abaixo da França, campeã europeia e mundial. Porém, alguns fatores foram enfraquecendo a Holanda, no decorrer daquele ciclo de eliminatórias para a Copa de 2002: azar ao pegar um grupo relativamente forte, incompetência para conseguir os resultados, atuações irregulares, brigas internas... 

Talvez o primeiro desses fatores tenha ocorrido até antes da chegada de Van Gaal: a eliminação na Euro 2000. Para um time que ainda tinha Dennis Bergkamp, fora vários dos supracitados, jogava o torneio continental em casa e era considerado um dos grandes favoritos, a eliminação foi pesadamente traumática: nas semifinais, numa Amsterdam Arena toda alaranjada, para a Itália – empate em 0 a 0 nos 120 minutos, 3 a 1 Azzurra nos pênaltis, cinco (!) cobranças perdidas (duas nos 90 minutos, três na série de chutes da marca fatal). Frank Rijkaard, que vivia na Oranje sua primeira experiência como treinador, prometera o título europeu – e demitiu-se logo após aquela semifinal perdida, em meio a lágrimas. 

Livre para o cargo, semanas após deixar o Barcelona, Van Gaal foi escolhido como substituto de Rijkaard, em julho de 2000, tão logo a Euro acabou. Parecia o casamento perfeito: vindo de marcante passagem (para o bem e para o mal) pelos Blaugranas, o treinador reencontraria vários dos jogadores com que formou o inesquecível time do Ajax campeão europeu em 1994/95. E reconhecido então como um técnico de ponta na Europa – por mais complicado que fosse seu temperamento -, Louis apresentou-se com motivação admirável. Assinou contrato por seis anos, e seu objetivo era tão simples quanto grande, conforme o treinador apregoou na entrevista de apresentação: “Eu quero ser campeão do mundo. Eu tentarei ser campeão do mundo”. Se conseguisse, provavelmente se uniria a Rinus Michels como o grande técnico holandês da história.

Porém, o revés na Euro não foi aceito facilmente pelos atletas, como reconheceu Frank de Boer, capitão da Oranje na época, ao documentário De bittere tranen van Louis van Gaal (“As lágrimas amargas de Louis van Gaal”, sobre a ausência em 2002, lançado pela emissora pública NOS em 2014): “Particularmente, eu fiquei traumatizado com os dois pênaltis que perdi no jogo, ainda mais por eles terem nos feito perder a chance de sermos campeões europeus. E dali a um mês e meio, já teríamos partidas importantes pelas eliminatórias para a Copa”. E o grupo 2, no qual a Holanda estava na qualificação europeia para o Mundial, não era tão fácil assim. 

Primeiro, porque havia Portugal: a “Geração de Ouro” campeã mundial sub-20 em 1991 (Figo, Rui Costa, João Pinto, Vitor Baía, Abel Xavier etc.) chegava ao seu auge na seleção principal – também fora semifinalista na Euro 2000 -, e seus personagens também viviam o apogeu técnico (vale lembrar: Figo foi o melhor jogador do mundo em 2001, para a Fifa). Depois, porque aos poucos ficou comprovado: a Irlanda vivia um dos raros momentos em que poderia perturbar pesadamente os dois favoritos do grupo. Não só o Exército Verde tinha veteranos capazes de conduzir os novatos (Steve Staunton, Jason McAteer, Niall Quinn – e, nas eliminatórias, Roy Keane), mas os próprios novatos exibiam certa técnica, incomum na seleção irlandesa. Claro, aqui se fala de Robbie Keane e Damien Duff, que começaram a despontar exatamente naquelas eliminatórias. 

Pegar um adversário forte (os lusos) e outro mais fraco, mas que começava a crescer (o Eire), eram desafios para os quais a Holanda não estava preparada, como Frank de Boer reconheceu no documentário: “Não estávamos mentalmente prontos para dois jogos importantes”. E o sinal amarelo já poderia ter sido aceso na primeira partida holandesa pelas eliminatórias da Copa, em 2 de setembro de 2000, na Amsterdam Arena: a Irlanda chegou a ter 2 a 0 de vantagem, com Robbie Keane e Jason McAteer marcando, e foi francamente superior. Só no final a Holanda despertou: com gols do reserva Jeffrey Talan e de Van Bronckhorst, conseguiu ainda garantir um ponto no 2 a 2. Mas já era um tropeço. E ficaria pior. 

Golear o Chipre (0 a 4, em Nicósia) não era mais do que a obrigação, antes do primeiro duelo decisivo contra os portugueses, em casa. Neste primeiro teste, em 10 de outubro de 2000, em Roterdã, a Laranja foi reprovada: com um time trazendo alguns jogadores improvisados (Cocu junto a Frank de Boer na zaga; Bouma no ataque), a lentidão e o desentrosamento foram um convite a Portugal. E a seleção das Quinas atendeu a ele: jogou bem e fez 2 a 0 em pleno De Kuip, com gols de Sérgio Conceição e Pauleta. Empate com os irlandeses, derrota para os portugueses... a vaga na Copa, que parecia certa antes do início das eliminatórias, já começava a não ficar tão perto da Laranja, com quatro pontos. Portugal já abria sete pontos no grupo; a Irlanda, cinco.


As coisas pioravam, dentro e fora de campo. Dentro, a Holanda tinha dificuldades: venceu um amistoso contra a Espanha (2 a 1, em 15 de novembro de 2000) somente virando no segundo tempo, e apenas empatou com a Turquia no primeiro amistoso de 2001 (0 a 0, em 28 de março, na Amsterdam Arena). Fora, Van Gaal encarava cada vez mais problemas: os garotos que ajudara a desenvolver no Ajax tinham se convertido em jogadores experientes, atuando em grandes clubes europeus – Van der Sar e Davids, na Juventus; os De Boer, Reiziger e Kluivert, no Barcelona; Seedorf, na Internazionale -, e não aceitavam muito a obsessão do técnico por controle. Nem os métodos de alguns integrantes da comissão técnica. Frank de Boer, por exemplo, confessou a oposição do grupo ao preparador físico Raymond Verheijen: “Ele não deixava claro que era quem mandava ali. Não é assim que o futebol funciona”. Pior ainda: não caiu bem entre o grupo a iniciativa de que um segurança, Bertus Holkema, acompanhasse a delegação nos hotéis, em jogos fora de casa. Iniciativa de Van Gaal.

De quebra, a primeira metade de 2001 viu os protagonistas laranjas apresentarem queda de produção. Van der Sar enfrentava má fase na Juventus; na Inter, as coisas também não andavam muito melhores para Seedorf; e a armada holandesa do Barcelona, embora não estivesse propriamente ruim, também não fazia nada notável. Dava para superar facilmente os adversários menos votados do grupo 2 – por exemplo, em 24 de março de 2001, no quarto jogo holandês pelas eliminatórias, 5 a 0 tranquilíssimos sobre Andorra. Mas contra os concorrentes diretos, Portugal e Irlanda, a máquina estava rateando. E algumas novidades que o técnico trazia para a seleção não emplacavam. Claro, havia quem desse certo: foi em 2001 que Ruud van Nistelrooy e Mark van Bommel começaram a se firmar na Oranje, por exemplo. Mas caíram no esquecimento nomes como Victor Sikora, Jeffrey Talan, Patrick Paauwe, Kevin Hofland... e havia também gente que nunca trouxe confiança suficiente (caso de Paul Bosvelt), ou que nunca foi pela seleção o que era em clubes (caso de Pierre van Hooijdonk, que vivia então grande fase no Feyenoord).

Em 28 de março, na primeira oportunidade que a Laranja teve para apagar a crise crescente e se recolocar no caminho da Copa, um erro até hoje criticado por imprensa e torcida holandesas pôs tudo a perder. Pegando Portugal fora de casa, no Estádio das Antas, a equipe dos Países Baixos fazia seu melhor jogo em muito tempo. Abrira 2 a 0, com Kluivert e Jimmy Hasselbaink, e controlava a partida, até a metade final do segundo tempo. Aí Van Gaal cometeu um erro praticamente fatal: investiu no ataque em suas alterações, colocando Roy Makaay e Van Hooijdonk, nos respectivos lugares de Zenden e Hasselbaink. As alterações abriram o time, e foram a isca que chamou Portugal para uma pressão irrespirável nos minutos finais de jogo. Pressão que deu resultado. Aos 39 minutos da etapa final, em chute rasteiro na área, Pauleta diminuiu. Claro, o ambiente no Estádio das Antas fervilhou. E explodiu de vez nos acréscimos, aos 46: Frank de Boer cometeu pênalti em Rui Costa, Figo cobrou e empatou. Uma vitória que seria vital transformou-se num empate lamentável, talvez o primeiro marco do fracasso holandês naquelas eliminatórias. Até porque portugueses e irlandeses, ambos liderando o grupo com 11 pontos, abriam três de vantagem na tabela.


Seguiu-se outra goleada contra um adversário fraco (4 a 0 no Chipre, em 25 de abril). Mas a crise continuava. E como desgraça pouca era bobagem, Van Gaal ainda viu dois dos titulares absolutos serem pegos pelo exame antidoping: em maio de 2001, Davids e Frank de Boer foram flagrados pelo uso de nandrolona – este, num jogo pela Copa Uefa, defendendo o Barcelona; aquele, jogando o Campeonato Italiano pela Juventus. Foram suspensos. Duas baixas nada recomendáveis, num momento em que a Holanda simplesmente não podia mais perder pontos nas eliminatórias.

Em junho, veio o que poderia ser a reação decisiva. No confronto direto, Portugal e Irlanda empataram (1 a 1, em Dublin). Caminho aberto, que a Holanda aproveitou. A duríssimas penas, é verdade: em 2 de junho, contra a Estônia, a equipe chegou a perder por 2 a 1, até os 38 minutos do segundo tempo. Aí veio o alívio momentâneo: Van Nistelrooy empatou, Kluivert virou para 3 a 2, e novamente Van Nistelrooy firmou o 4 a 2 que colocou a equipe no segundo lugar da tabela, com 14 pontos, um atrás dos surpreendentes irlandeses – e dois à frente de Portugal. De quebra, em 15 de junho, vitória sobre a Inglaterra, em Wembley, num amistoso: 2 a 0. Eram bons presságios, antes da segunda chance de salvar tudo: o jogo contra a Irlanda, em Dublin. Em datas de folga para a Holanda, Portugal goleara o Chipre, indo a 15 pontos, e o Eire abrira quatro pontos de vantagem ao superar a Estônia. Um tropeço era proibido, levando-se em conta que a vitória de Portugal sobre Andorra, sempre inofensiva, era quase uma certeza.

Naquele 1º de setembro de 2001, no Lansdowne Road, em Dublin, foram simbolizados todos os erros que a Holanda cometeu nas eliminatórias. Um time irregular, vivendo altos e baixos no gramado. Um time ineficaz: Kluivert e Zenden perderam grandes chances no primeiro tempo, enquanto Van Nistelrooy ficou com o gol vazio após passar pelo goleiro Shay Given e também desperdiçou a oportunidade, já no segundo tempo. Um time desorganizado: mesmo com um a mais (o zagueiro irlandês Gary Kelly recebera o segundo cartão amarelo, sendo expulso aos 13 minutos do segundo tempo), não conseguia aproveitar o maior espaço em campo. Com alguma técnica e dedicação tática implacável, a Irlanda ganhou o prêmio pela aplicação. Um prêmio que até hoje dói nos holandeses: aos 23 minutos da etapa final, Richard Dunne cruzou, Duff fez o corta-luz, e McAteer ficou livre para chutar forte, no ângulo oposto ao de Van der Sar, fazendo o 1 a 0 final da Irlanda.


Desesperado no banco, Van Gaal pedia que o time fosse à frente, com o auxiliar técnico Ruud Krol a lhe ajudar. Nas arquibancadas, Edgar Davids apenas via o jogo, quieto. Partida encerrada, a goleada de Portugal sobre Andorra (7 a 1) deixava assim a tabela: Irlanda com 21 pontos, Portugal com 18, Holanda com 14. Sem mais jogos diretos – e com vitórias previsíveis dos três sobre os adversários mais fracos -, aquela derrota em Dublin dizia: a Holanda não estaria na Copa de 2002. Talvez nem merecesse, já que o time escalado naquele jogo (Van der Sar; Melchiot, Hofland, Stam e Numan (Van Hooijdonk); Van Bommel, Kluivert e Cocu; Zenden (Hasselbaink), Van Nistelrooy e Overmars (Van Bronckhorst)) não tinha ninguém em ótima fase, embora fosse cheio de jogadores conhecidos. Em melhor fase, talvez houvesse superado Portugal ou Irlanda. Mas já não mostrava o nível visto na Copa de 1998 e na Euro 2000. Trocando em miúdos: a Holanda estava decadente.

As vitórias sobre Estônia (5 a 0, em 5 de setembro, no Philips Stadion de Eindhoven) e Andorra (4 a 0, em 6 de outubro, em Arnhem) foram apenas notas de pé de página naquela campanha melancólica - Portugal e Irlanda venceram seus jogos restantes, foram a 24 pontos e ficaram quatro pontos à frente. Pelo saldo de gols, os Tugas ficaram com a ponta e a vaga direta na Copa; a Irlanda venceria o Irã na repescagem intercontinental.

Em 10 de novembro de 2001, mais um amistoso com resultado apagado da Holanda: 1 a 1 contra a Dinamarca, em Copenhague. Fora do campo, a imprensa dinamarquesa criou mais uma dor de cabeça: reportagens contaram que Kira Eggers, atriz pornô do país, havia entrado no hotel da delegação holandesa, e passara a noite com Kluivert, Frank de Boer e Edgar Davids. Nada foi confirmado, e o segurança Bertus Holkema foi enfático no documentário: “Só vi Kluivert e o agente dele com algumas mulheres, num dos quartos, todos tomando café”. Mas a calúnia já fizera seu estrago. Perguntado sobre por que a federação não revelara a verdade na época, Holkema desconversou: “Pergunte à KNVB”. Depois daquela partida, depois de tudo o que vira, Louis van Gaal pensou se valia a pena continuar.

A resposta veio naquela entrevista coletiva do começo deste texto, em 30 de novembro de 2001: não, não valia. No concorrido evento – duas emissoras holandesas exibiram-no ao vivo, na íntegra -, Van Gaal começou lamentando: “Para mim, hoje é um dia muito triste. Há um ano e meio, eu estava muito feliz, dizendo que era uma honra ser técnico da seleção, e trazendo uma ambição: ser campeão mundial. É horrível e arrasador não ter alcançado isso. A federação holandesa tem como ambição sempre colocar a Holanda entre as oito melhores seleções de uma Copa. E nós falhamos nesse objetivo. Quando digo ‘nós’, me incluo nisso. E não me refiro à KNVB, à torcida ou aos patrocinadores: fomos ‘nós’, os jogadores e a comissão técnica”.

Os olhos marejados de Van Gaal, na coletiva em que anunciou sua demissão: o sonho virara pesadelo (Reprodução/NOS)
A partir de então, pôde dar vazão aos que considerou culpados pelo fracasso de seu trabalho. Primeiro, a imprensa: em um relatório feito, citou que o trabalho dos jornalistas fora “duplamente péssimo”. No documentário da NOS em 2014, vieram as justas réplicas. De Willem Vissers, do diário De Volkskrant, ouviu-se: “Se o time estivesse jogando bem, falaríamos. Mas não estava. As atuações eram irregulares”. Correto. Assim como foi correta a opinião de Valentijn Driessen, hoje editor-chefe do caderno de esportes do diário De Telegraaf: “Não fomos nós que perdemos de Portugal em casa, nem fomos nós que perdemos para a Irlanda”.

Depois, Van Gaal culpou os jogadores. Suas palavras são um bom exemplo do modus operandi que o fez tão famoso quanto irascível: “Para continuar, o importante seria a via de mão dupla entre jogadores e comissão técnica. Não perguntei a eles se queriam que eu continuasse, como saiu na imprensa, porque não faço esse tipo de pergunta. Perguntei sobre a visão que tinham em relação ao trabalho. E daí tomei minha decisão: [porque] eles tinham uma visão diferente da minha. No trabalho como técnico da seleção, minha função era mostrar aos jogadores que deveriam ter orgulho de jogarem por seu país, e mostrar isso à torcida. Mostrar esse sentimento de união, entre eles e entre time e torcida – ainda mais nos jogos em casa. Mas também alertei que esse sentimento tinha de vir deles”.

Van Gaal aprofundou: “Se não há vontade, o resultado pode até vir a curto prazo, mas jamais seguirá a longo prazo. E há jogadores que não conseguem ter 10%  dessa vontade. Por essa razão, eu seria como um professor de escola, como o ‘estraga-prazeres’, o cruel. E isso de ‘professor’ que falo a vocês, falei a eles por várias vezes. Mas eu seria ‘cruel’ apenas no aspecto futebolístico. No modo de ser, isso tem de partir do jogador”.

Por outro lado, Frank de Boer também foi preciso ao justificar, no documentário de 2014, o racha entre Van Gaal e os atletas: “Van Gaal é um técnico muito melhor do que Guus Hiddink. Não vejo, por exemplo, qualquer interferência tática fundamental de Hiddink no time que jogou a Copa de 1998. Porém, se é tecnicamente excepcional, Van Gaal precisava aprender um pouco mais com Hiddink sobre como conduzir um elenco”.

O azar de pegar um grupo mais forte do que se supunha nas eliminatórias. A incompetência para aproveitar as chances de obter bons resultados. A decadência técnica do grupo. E a discordância entre o técnico e alguns jogadores fundamentais, quanto ao comportamento. Se a ausência da Holanda na Copa de 2002 parece surpreendente, fica plenamente justificada ao serem vistos os detalhes da campanha nas eliminatórias.

Se serve de consolo, naquele mesmo 2001 do fracasso na seleção principal, Van Gaal treinou a seleção holandesa que disputou o Mundial Sub-20, na Argentina. E a Jong Oranje tinha gente como Maarten Stekelenburg, John Heitinga e Arjen Robben. Além do mais, na partida final da campanha nas eliminatórias europeias, contra Andorra, fez sua estreia na seleção adulta um jovem meio-campista que despontava no Ajax. Seu nome: Rafael van der Vaart. Seria com esta geração a reação da Holanda.

(Coluna originalmente publicada na Trivela, em 30 de junho de 2017)

3 comentários:

  1. Depois daquela campanha em 1998 eu tinha em mente que 2002 seria a copa da Holanda. Mas em 4 anos as coisas mudam muito. Naquela época fiquei bastante triste pela ausência da Holanda. Hoje vejo que a copa da Ásia perdeu muito de seu brilho por conta da ausência de craques como Van der Sar, Davids, Kluivert, Nistelrooy, Seedorf... A Holanda fez muita falta.

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  2. A seleção da Holanda é muito 8 ou 80.

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  3. Verdade!!


    Mas se náo houver união nem adianta brigar contra o destino.

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